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Valor da Produção Agropecuária do Estado de São Paulo: resultado preliminar 2024
A primeira
estimativa para o ano de 2024 do valor da produção agropecuária (VPA) paulista resultou
em R$147,9 bilhões, que corrigido pela inflação acumulada entre agosto/2023 a julho/2024
de 1,98% alcançou R$150,8 bilhões. Esse resultado
equivale a uma redução no VPA de 7,16% em termos reais frente ao obtido em 2023
(Tabela 1)1, exibindo continuidade ao movimento de queda em relação a
2022. Como no período anterior, o resultado reflete queda nos preços (24 produtos),
mas também na produção (33 produtos) de inúmeros gêneros agropecuários. Considerando-se
os dez produtos que mais contribuem para o VPA paulista (84,5% do VPA) ,o declínio
acumulado foi de R$5,6 bilhões. Para a estimativa
de cálculo foram utilizados os dados relativos ao preço recebido pela agropecuária
paulista de 50 cadeias selecionadas de origem vegetal e animal, em um comparativo
dos intervalos de janeiro a dezembro de 2023 e a contabilizada para o período de
janeiro a julho de 2024. Para a atual
estimativa, foram realizados ajustes metodológicos na origem de dados primários
(cadeia das proteínas animais)2 com revisão na sistemática de obtenção
dos valores atualizados para as séries nominais3. Para a comparação de
preços entre os períodos, os valores nominais mensais provenientes da estatística
Preços Médios Mensais Recebidos Pelos Agricultores Paulistas (PMR) publicados mensalmente
pelo Instituto de Economia Agrícola (IEA) estão corrigidos para o julho de 2024
por meio do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatísticas (IBGE). Após a correção foi calculada a média simples
dos preços de cada produto para a estimativa do VPA de 2024. Para estimar os preços
reais para o VPA 2024, consideraram-se os valores nominais, com igual fator de correção,
de agosto de 2023 a julho de 2024. Os dados de
produção foram obtidos através dos cinco levantamentos anuais de previsão e estimativas
de safra efetuados pelo IEA em conjunto com a Coordenadoria de Assistência Técnica
Integral (CATI)4, 5, 6 e 7 e também agrupados em: Produtos para a Indústria;
Produtos de origem animal; Grãos e fibras; Frutas frescas; e Produtos Olerícolas.
O cálculo das variações do VPA conforma os índices de preços e quantidades construídos
pela fórmula de Fisher (base 2020 = 100)8. A análise das
50 principais cadeias de produção no estado de São Paulo mostra pouca alteração
no ranking de contribuição para o VPA. Cana-de-açúcar, carne bovina e carne
de frango permanecem na mesma posição, todos, porém, com queda no valor produzido.
No caso da cana-de-açúcar, o VPA foi de R$56,9 bilhões, uma redução de 6,49% devida a quedas no preço e mais acentuada
ainda na produção. Apesar desse cenário, manteve
sua participação quase inalterada no total do VPA preliminarmente apurado (37,8%).
No segmento
da carne bovina (segundo no ranking), houve queda nos preços (11,55%), mas
elevação na produção (7,52%), repetindo as condições observadas no mesmo período
de 2023, resultando em R$16,5 bilhões, ou declínio de 4,90%. Esse montante representou 10,94% da estimativa do VPA
total. No grupo de
produtos animais, a carne de frango manteve o terceiro lugar no ranking do
VPA preliminar 2024, ampliando sua participação no valor total para 8,71%, com relação
a 2023. A pequena elevação na quantidade produzida (0,97%) somada à queda nos preços
(3,35%), implicou na redução de 2,41% (R$0,30 bilhão) no VPA do segmento. A laranja para
indústria ocupou a quarta colocação do ranking, contabilizando VPA preliminar
de R$11,96 bilhões, 22,77% maior que o anterior. A forte elevação do preço médio
corrigido, alta de 38,20%, ou R$66,06/cx. 40,8 kg, mais que compensou a redução
na produção de 11,17%. Com isso, a contribuição para o VPA estadual passou de 6,00%
para 7,93%, aportando R$2,22 bilhões ao total. Entre as culturas
de grãos produzidas no estado, a soja manteve a liderança, apesar da queda significativa
no VPA, estimada em 32,63%. Tal resultado deveu-se às variações negativas tanto
no preço (11,62%) como na produção (23,77%, equivalente a redução de 18,5 milhões
de sacas), frente a estimativa final de 2023. O impacto negativo no VPA paulista
foi de R$3,68 bilhões, e levou a cultura a cair no ranking estadual, passando
do quarto para o quinto lugar. A contribuição
da cana-de-açúcar, carne bovina, carne de frango, laranja para indústria e soja
responderam por 69,84% da estimativa do VPA paulista para 2024, mantendo praticamente
inalterada a situação observada em 2023 (68,89%). Os demais 45 itens representaram
30,16% do valor da produção frente a 31,11% no ano anterior. Nas posições
de 6ª a 10ª no ranking dos produtos que
compõem VPA preliminar de 2023, destacam-se as produções de ovos (R$6,46 bilhões),
café beneficiado (R$4,75 bilhões) e leite (R$3,92 bilhões), que apesar de registrarem
diminuição no valor da produção, seja pela redução no preço (ovos e leite) ou na
produção (café), geraram juntos 10,26% do VPA. Entre as olerícolas, a batata surpreendeu
ao subir da 15ª (2023) para a 9ª posição. Em 2024, seu VPA chegou a R$3,72 bilhões,
praticamente o dobro do contabilizado em 2023, impulsionado por um elevado aumento nos preços, de 55,00%,
e na produção, que cresceu 23,18%. A laranja para mesa ocupou a 10a posição no ranking
e obteve VPA de R$3,28 bilhões, 28,88% maior relativamente ao ano anterior. A expressiva
valorização de 45,08% nos preços foi suficiente para contrabalançar a diminuição
de 11,17% na quantidade de produtos. Considerando o grupo dos dez produtos de maior relevância na formação do
VPA, que correspondem a 84,52% do total, verificou-se que sete acusaram redução,
somando R$10,32 bilhões. O maior impacto foi proveniente dos resultados da cultura
da cana-de-açúcar (redução de 1,99% e 4,60%) e da soja (11,62%
e 23,77%), que registraram queda nas quantidades produzidas e também nos preços.
Juntas, retiraram do VPA estadual R$7,63 bilhões. Em contrapartida, a laranja para
indústria, a batata e laranja para mesa contribuíram positivamente com R$4,72 bilhões,
levando a um saldo negativo de R$2,91 bilhões. No VPA
paulista preliminar 2024, frente ao resultado final de 2023, foi constatada
variação negativa na participação de 33 produtos (R$17,02 bilhões) e positiva
em 17 produtos (R$5,40 bilhões), levando a previsão de redução de R$11,63
bilhões para o presente ano. Quanto à
colocação dos produtos no ranking
estadual, 22 segmentos ascenderam, enquanto outros 14 mantiveram-se estáveis em
suas posições e outros 14 exibiram queda. O pêssego para mesa e a cebola foram os
produtos que mais recuaram no ranking,
o primeiro caindo da 33a posição para a 43a e
o segundo desceu seis posições, ambos muito afetados pela queda de produção. O VPA
paulista, quando analisado a partir dos cinco principais agregados
agropecuários, indicou reduções nos valores reais apurados para a maioria dos
grupos, com destaque para grãos e fibras (R$6,82 bilhões), produtos para indústria (R$3,02
bilhões), produtos animais (R$2,10 bilhões) e olerícolas (R$0,35 bilhão). Apenas o grupo frutas frescas
contribuiu positivamente para o VPA (R$0,66 bilhão) (Figura 2). A participação dos grupos no VPA total manteve relativa estabilidade,
exceto a de grãos e fibras que em
2023 representava 13,29% do VPA estadual, e nos cálculos preliminares para 2024
passou a representar 9,79%. Foi o único grupo com redução na participação. No grupo grãos e fibras, a queda
nos preços e na produção afetou generalizadamente todos os produtos, levando a
resultados negativos para oito dos nove analisados. Apenas no caso do arroz em
casca, a elevação dos preços compensou a redução na produção, levando a um VPA
positivo. Já no caso do amendoim em casca, a variação positiva nos preços não
foi suficiente para compensar a forte queda na produção (30,15%). As questões
climáticas, que acentuaram a seca, as enchentes e os incêndios, somados à
pressão sobre os preços, foram determinantes para o resultado negativo do VPA
do grupo (31,59%) (Figura 2). No caso da
soja, a maior produção estadunidense frente às previsões iniciais somada ao
retorno das chuvas no Brasil e a uma menor demanda chinesa pela oleaginosa
foram os fatores responsáveis pela queda das cotações do grão. A mesma
conjuntura de fatores se aplica ao caso das cotações do milho. O
levantamento preliminar de 2024 revelou variação negativa do VPA de 4,84% para
o grupo produtos animais. Entre os
produtos levantados, apenas casulo obteve VPA positivo dada a valorização do
preço. Todos os demais apresentaram variações negativas no VPA, como resultado
de reduções na produção. No grupo
das olerícolas, quatro itens apresentaram expressiva elevação do VPA, em
resposta a variações positivas tanto no preço como na quantidade, com destaque
para batata, cenoura e beterraba. Em contrapartida, os demais apresentaram VPA
em queda, com realce para a acentuada redução no VPA de tomate, cebola e alface
em função do forte declínio do volume produzido, resultando em um VPA do grupo
4,26% menor (preliminar 2024) frente ao ano anterior. O valor da
produção do grupo destinado à indústria, que representa quase 50% do VPA
estadual (49,94% em 2024 frente a 48,22% em 2023), caiu 3,85%. A laranja para
indústria e o tomate apresentaram variação positiva no VPA, respectivamente em
função da elevação no preço (38,20%) e na produção (13,46%). No entanto, não
foi suficiente para contrabalançar o efeito negativo causado pela redução no
VPA da cana-de-açúcar (6,49%) e do café (11,51%), visto que juntos representam
81,93% do VPA do grupo e 40,92% do estado, confirmando a elevada
interdependência do valor gerado na agropecuária estadual ao VPA dessas
mercadorias. Os bons preços para laranja e suco de laranja se devem a forte redução
dos estoques brasileiros combinado com problemas climáticos no cinturão
citricultor paulista (estiagem), avanço das doenças que prejudicam a produção
dos pomares (greening) e competição
com o mercado interno pela fruta fresca. Os EUA, que antes posicionavam-se no
segundo lugar na produção de suco cítrico (atrás do Brasil), foram
ultrapassados pelo México, intensificando processo de constante queda na oferta
de laranja naquele território. A
perspectiva para o valor da produção agropecuária paulista em 2024 é de
retração com relação ao ano anterior, assim como vem sendo observado nas
projeções em nível nacional9. Para os
próximos levantamentos não são esperadas mudanças significativas, excetuando-se
o café que no segundo semestre teve majoração expressiva. Nas carnes estão
previstas mudanças favoráveis aos pecuaristas, pois a seca reduziu a oferta de
bovinos para abate, pressionando os preços com reflexos sobre os produtos
congêneres, como vem mostrando o levantado dos preços do mercado varejista na
cidade de São Paulo, para carnes e derivados, nos meses de agosto e setembro10. 1SISTEMA IBGE DE RECUPERAÇÃO AUTOMÁTICA. Tabela
7060: IPCA: Variação mensal, acumulada no ano, acumulada em 12 meses e peso
mensal, para o índice geral, grupos, subgrupos, itens e subitens de produtos e
serviços (a partir de janeiro/2020). Rio de Janeiro: SIDRA, 2024. Disponível
em:
https://sidra.ibge.gov.br/tabela/7060#/n1/all/n7/all/n6/all/v/69/p/202307/c315/all/d/v69%202/l/,p+t+v,c315/resultado.
Acesso em: 18 nov. 2024. 2SILVA, J. R. da et al. Valor da
Produção Agropecuária Paulista: resultado final 2023. Análises e Indicadores
do Agronegócio, São Paulo, v. 18, n. 5, p. 1-10, maio 2023. Disponível em: http://www.iea.agricultura.sp.gov.br/out/TerTexto.php?codTexto=16214.
Acesso em: 18 nov. 2024. 3Detalhamento estatístico e procedimentos
econométricos empregados neste cálculo preliminar, em fase de elaboração. 4CAMARGO, F. P. de et
al. Previsões
e Estimativas das Safras Agrícolas do Estado de São Paulo, Levantamento Parcial
do Ano Agrícola 2023/24, e Levantamento Final do Ano Agrícola 2022/23, Novembro
de 2023. Análises e Indicadores do Agronegócio, São Paulo, v. 19, n. 3, mar.
2024, p. 1-16. Disponível em: http://www.iea.agricultura.sp.gov.br/out/TerTexto.php?codTexto=16214.
Acesso em: 18 nov. 2024. 5MIURA, M. et
al. Previsões e Estimativas das Safras Agrícolas do Estado de São Paulo,
Ano Agrícola 2023/24, Fevereiro de 2024. Análises
e Indicadores do Agronegócio, São Paulo, v. 19, n. 8, ago. 2024, p. 1-12.Disponível
em: http://www.iea.sp.gov.br/out/TerTexto.php?codTexto=16228. Acesso em: 18
nov. 2024. 6MIURA, M. et al. Previsões e Estimativas das
Safras Agrícolas do Estado de São Paulo, Ano Agrícola 2023/24, Abril de 2024. Análises e Indicadores do Agronegócio,
São Paulo, v. 19, n. 8, ago. 2024, p. 1-15. Disponível em: http://www.iea.sp.gov.br/out/TerTexto.php?codTexto=16231.
Acesso em: 18 nov. 2024. 7MARTINS, V. A. et al. Previsões e Estimativas
das Safras Agrícolas do Estado de São Paulo, Ano Agrícola 2023/24, Junho de
2024. Análises e Indicadores do
Agronegócio, São Paulo, v. 19, n. 9, set. 2024, p. 1-12. Disponível em: http://www.iea.sp.gov.br/out/TerTexto.php?codTexto=16234.
Acesso em: 18 nov. 2024. 8HOFFMANN, R. Estatística para economistas.
2. ed. São Paulo: Pioneira, 1991. 426 p. (Biblioteca Pioneira de Ciências
Sociais: Economia). 9CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA AGRICULTURA. Valor Bruto da Produção (VBP) - Revisão
na produção pecuária melhora a previsão do VBP, mas ainda é
insuficiente para reverter a queda de 2,2%. Brasília: CNA, 17 out. 2024. Disponível
em: https://www.cnabrasil.org.br/publicacoes/revisao-na-producao-pecuaria-melhora-a-previsao-do-vbp-mas-ainda-e-insuficiente-para-reverter-a-queda-de-2-2. Acesso em: 14 nov. 2024. 10INSTITUTO
DE ECONOMIA AGRÍCOLA. Banco de dados: Portal do varejo.
São Paulo: IEA, 2024. Disponível em: http://www.iea.agricultura.sp.gov.br/out/varejo.php
Acesso em: 14 nov. 2024. Palavras-chave: mercado futuro de café, Bolsa de Valores, contratos do café. COMO CITAR ESTE ARTIGO FRANCA,
T. J. F. et al. Valor da Produção
Agropecuária do Estado de São Paulo: resultado preliminar 2024. Análises e Indicadores
do Agronegócio, São Paulo, v. 19, n. 12, p. 1-9, dez. 2024. Disponível em: colocar o link do
artigo. Acesso em: dd mmm. aaaa.
Data de Publicação: 03/12/2024
Autor(es):
Terezinha Joyce Fernandes Franca (terezinha.franca@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
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