Amendoim: ano difícil, 2024 registra queda nas exportações


O ano de 2024 interrompe a evolução crescente das exportações da cadeia de produção do amendoim, registrada nos últimos anos. Quando comparadas as informações consolidadas no ano de 2023 com as de 2024, os resultados apontam retração de 25% para os valores exportados e de 27% nos volumes1. Dessa forma, em 2024, as exportações brasileiras de mercadorias vinculadas ao amendoim somaram em torno de 289 mil toneladas, que contabilizaram US$468 milhões, em contraponto aos US$625 milhões alcançados em 2023.

A conjuntura difícil foi moldada por condições climáticas adversas, pautadas por chuvas irregulares e altas temperaturas registradas durante a safra 2023/24, especialmente no estado de São Paulo. Essa realidade, conforme aponta a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), tem seus contornos no aumento de 16% na área plantada e na queda de 18% na produção brasileira de amendoim. No estado de São Paulo, que em 2024 respondeu por 81% da produção nacional, houve aumento da área plantada em torno de 19% e retração de 25% na produção, resultado da perda de 32% na produtividade média das lavouras paulistas de amendoim2.

A limitação na oferta de amendoim comprometeu o desempenho das exportações brasileiras de grão e de óleo, as duas principais mercadorias exportadas pelo Brasil, que constituem o canal central de comercialização do amendoim brasileiro. Além do volume produzido, os desafios da safra 2023/24 também envolveram a qualidade do produto, com desdobramentos para atendimento dos mercados mais exigentes.

Para o amendoim em grão, o ano de 2024, em comparação a 2023, registra queda de 24% no volume exportado, somando quase 227 mil toneladas, total inferior às 259 mil toneladas exportadas em 2020, a menor quantidade compilada nos últimos cinco anos. Quando comparados os valores exportados, a redução ficou em 19%, atingindo em torno de US$360 milhões, valor superior aos registrados nos anos de 2022, 2021 e 2020, demonstrando cotações acima da média praticada no período de 2020 a 2024 (Figura 1).

 

O principal destino das exportações brasileiras continua sendo a Rússia, com 27% do total, seguida a Argélia com 18% e da Holanda com 9%. Juntos, em 2024, esses países responderam por pouco mais de 54% das exportações de amendoim em grão, o que corresponde a 123 mil toneladas, 32% a menos que os volumes exportados para esses três países no ano de 2023, quando somaram 182 mil toneladas ou 61% do total.

Ainda considerando as exportações de amendoim em grão em 2024, a África do Sul, com 8% do total, ocupou o quarto principal destino, seguida de Colômbia (6%), Ucrânia (5%) e Polônia com 4%. Esses países são parte de um conjunto composto por outros 80 países3.

A queda na produção também impactou as importações de amendoim em grão. O ano de 2024 registrou mais de 8 mil toneladas, frente às 825 toneladas importadas em 2023. A Argentina foi a origem de 85% das importações, que somaram em torno de US$13 milhões, 117% superior ao ano de 2021, quando o Brasil importou pouco mais de 4 mil toneladas de amendoim em grão (Figura 2).


As exportações brasileiras de amendoim em grão têm como origem principal o município paulista de Tupã que, em 2024, respondeu por 28% das vendas externas do produto. Já Borborema ficou com 13%, Dumont com 11%, e Sertãozinho e Jaboticabal com 7% e 6%, respectivamente. Juntos, esses cinco municípios representaram mais de 65% do volume exportado de amendoim em grão. Configuração diferente da registrada em 2023, quando o município de Parapuã estava entre os cinco principais municípios, e Sertãozinho ocupava a sétima posição4 (Figura 3).

 

Para o óleo de amendoim, o ano de 2024 registrou retração de 41% nos volumes exportados, enquanto para os valores a redução ficou em 45%, evidenciando cotações inferiores às registradas em 2023 e em menor diferença quando comparadas às praticadas em 2022. Dessa forma, conforme apresenta a figura 4, foram exportadas 51 mil toneladas de óleo de amendoim, totalizando em torno de US$ 89 milhões.



A China, tradicionalmente, é o principal país comprador do óleo de amendoim brasileiro. Em 2024, ela foi o destino de 49% das exportações, seguida da Itália com 30%, da Holanda com 12%, e dos Estados Unidos com 9%5. Essa configuração de países reflete o posicionamento em novos mercados com resultados diferentes dos alcançados nas últimas décadas em que China e Itália eram o destino de, praticamente, 100% das exportações de óleo de amendoim do Brasil6.

Os municípios paulistas são os principais exportadores de óleo de amendoim, com destaque para Catanduva, com 33% do total das exportações, Itaju com 31% e Jaboticabal com 17%. Também são importantes nesse segmento, as exportações de Parapuã, Petrópolis (RJ), Borborema e Tupã, com participações entre 5% e 2% do total exportado (Figura 5). 





A travessia do ano de 2024 impôs resultados muito distantes das expectativas iniciais da safra 2023/24, conduzida em condições climáticas adversas à produção. A queda nos volumes ofertados condicionou as exportações, especialmente, para o grão com cotações aquecidas. Da mesma forma, é observada retração no valor da produção agropecuária do amendoim no estado de São Paulo, conforme demonstram os resultados preliminares para 2024. Apesar da alta em torno de 8% nos preços médios recebidos pelos produtores, a queda no volume produzido, confere-se redução de 25% nesse indicador quando comparado ao alcançado no ano de 20237, refletindo impacto significativo na renda do produtor.

A safra atual 2024/25 é permeada por estimativas de safra, posicionadas pela Conab, que indicam o incremento de 10% na área plantada no Brasil, com destaque para o estado do Mato Grosso do Sul, que, praticamente, dobrou a área plantada, estimada em 42 mil hectares. As previsões para a produção indicam aumento de 47% na produção em comparação à safra 2023/24 e de 21% em relação à safra 2022/238.

Apesar de as estimativas apontarem para a recuperação da produção no ano de 2025, permanecem as preocupações dos produtores com as condições do clima, principalmente relacionadas às chuvas irregulares e em distintas condições nas principais regiões produtoras, e suas consequências para o período de colheita em curso e para o desenvolvimento da produção dos plantios tardios.


1Os percentuais foram calculados a partir do somatório das mercadorias 1202, 1508 e 2305, conforme sistema harmonizado (SH), posição (SH4), do sistema oficial para extração das estatísticas do comércio exterior brasileiro de bens (Comexstat).


2CONAB. Companhia Nacional de Abastecimento. Safras, séries históricas, amendoim. Brasília: Conab, 2024. Disponível em: https://www.conab.gov.br/info-agro/safras/serie-historica-das-safras/itemlist/category/899-amendoim. Acesso em: 24 jan. 2025.


3COMEXSTAT. Sistema oficial para extração das estatísticas do comércio exterior brasileiro de bens. Dados gerais. Brasília: Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, 2025. Disponível em: https://comexstat.mdic.gov.br/pt/geral. Acesso em: 22 fev. 2025.

 

4SAMPAIO, R. M. et al. Amendoim: 2023 mantém cenário de expansão com exportações do grão em alta e retração para o óleo. Análises e Indicadores do Agronegócio, São Paulo, v. 19, n. 1, p. 1-7, jan. 2024. Disponível em: https://iea.agricultura.sp.gov.br/out/TerTexto.php?codTexto=16190. Acesso em: 30 jan. 2025.

 

5Op. cit. nota 3.

 

6Op. cit. nota 4.

 

7FRANCA, T. J. F. et al. Valor da Produção Agropecuária do Estado de São Paulo: resultado preliminar 2024. Análises e Indicadores do Agronegócio, São Paulo, v. 19, n. 12, p. 1-9, dez. 2024. Disponível em: https://iea.agricultura.sp.gov.br/out/TerTexto.php?codTexto=16244. Acesso em: 30 jan. 2025.

 

8Op. cit. nota 2.


Palavras-chave: comércio exterior, balança comercial, grãos.




COMO CITAR ESTE ARTIGO

SAMPAIO, R. M.; NERES, A. S. Amendoim: ano difícil, 2024 registra queda nas exportações. Análises e Indicadores do Agronegócio, São Paulo, v. 20, n. 2, p. 1-6, fev. 2025. Disponível em: colocar o link do artigo. Acesso em: dd mmm. aaaa.

Data de Publicação: 12/02/2025

Autor(es): Renata Martins (rmsampaio@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Ana Suele Neres (ana.nere.engenharia@gmail.com) Consulte outros textos deste autor