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Uma visão sobre a pupunheira no contexto do mercado de palmito
                                 A 
partir da maior conscientização ambiental tem havido pressão crescente junto aos 
principais países produtores de palmito para que este não seja obtido de forma 
predatória, a partir da exploração de palmeiras nas matas nativas. Esse 
movimento tem se fortalecido principalmente em países consumidores mais 
exigentes tanto na padronização da qualidade e aparência do produto, quanto no 
aprimoramento dos processos produtivos, que incluem a preservação do meio 
ambiente e o respeito às leis trabalhistas. 
             O 
palmito, produto considerado como hortaliça não convencional, pode ser obtido de 
várias espécies de palmeiras. No Brasil, as mais exploradas são aquelas do 
gênero Euterpe, em que estão inseridos o palmiteiro juçara (E. edulis), 
nativo da Mata Atlântica, e o açaízeiro (E. oleracea), nativo da 
Amazônia. Dentre as palmeiras cultivadas destacam-se a pupunheira (Bactris 
gasipaes), também nativa da Amazônia, porém em região mais abrangente, 
englobando as Américas Central e do Sul, e a palmeira real australiana 
(Archontophoenix spp), nativa do leste da Austrália. 
             Desde 
a década de 1970 o interesse de pesquisadores e produtores voltou-se para a 
pupunheira, que se apresenta como alternativa sustentável de cultivo para a 
produção de palmito. Essa palmeira apresenta todas as características desejáveis 
quando comparada àquelas exploradas predatoriamente e ainda vantagens 
adicionais, tais como, crescimento acelerado, precocidade para o corte (2 anos) 
e farto perfilhamento. O palmito de pupunha não escurece rapidamente após o 
corte, o que constitui grande vantagem em relação às demais palmeiras produtoras 
de palmito, além de consumo in natura na forma de 
saladas1. 
             De 
maneira geral, a partir do fim da década de 1990 tem havido tendência crescente 
de aumento da área cultivada com a pupunheira no Brasil. Esse comportamento é 
justificado pelo aumento da demanda desse produto e, principalmente, pela 
redução significativa do palmito extraído de palmeiras nativas. Houve diminuição 
de 71% na extração desse produto em 2005, em relação a 1990, conforme mostra a 
figura 1. Vale ressaltar que os dados de produção englobam todas as espécies de 
palmeiras produtoras de palmito (açaízeiro, juçara, pupunheira e real 
australiana). Um outro ponto importante a ser considerado é que, a partir de 
1988, houve no Brasil expansão do cultivo de pupunheiras para produção de 
palmito, competindo com as demais palmeiras tradicionalmente 
cultivadas2. 
Figura 1 - Área e Quantidade Produzida de Palmito no Brasil, Lavoura Permanente e Extração Vegetal, 1990 a 2005.

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e 
Estatística -IBGE. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br>. Acesso em: 
2007.
De acordo com dados do IBGE, o Estado de São Paulo destaca-se como um dos maiores produtores brasileiros de palmito3. Ao se comparar esses dados com as informações levantadas pelo IEA/CATI sobre pupunha, observa-se que há tendência bastante elevada de crescimento da área do palmito nos últimos anos (Tabela 1). Em 2006 a área total de pupunha no Estado de São Paulo foi de aproximadamente 3.900ha. De acordo com informações do setor, ratificadas pelos dados do IEA/CATI, esse aumento de área é atribuído principalmente à expansão da área do cultivo de pupunha no Estado de São Paulo, em substituição ao palmito extraído de palmeiras tradicionais da região (juçara) e, também, como alternativa para outras atividades agropecuárias, como é o caso de pastagem natural e banana4. Essa expansão do cultivo vem ocorrendo principalmente devido às características peculiares da pupunheira, tais como, precocidade, uma vez que o primeiro corte para palmito ocorre, em média, a partir de dois anos de cultivo (contrastando com 6 a 8 anos nas palmeiras do gênero Euterpe) e o farto perfilhamento, o que possibilita, em média, a produção de uma haste de palmito a cada 10 meses, caracterizando a cultura como um cultivo perene.
Tabela 1 - Comparação entre Crescimento de Área de Palmito e Pupunha no Estado de São Paulo, 1994 a 2006
(em %)
| Período | 
       Área cultivada com 
      pupunha (IEA/CATI)  | 
    
       Área plantada com 
      palmeiras produtoras de palmito (IBGE)1  | 
    
       Área colhida com 
      palmeiras produtoras de palmito (IBGE)  | 
| 2002/2006 | 
       204,0  | 
    
       -  | 
    
       -  | 
| 2002/2005 | 
       165,8  | 
    
       93,9  | 
    
       176,6  | 
| 1994/2005 | 
       -  | 
    
       18166,7  | 
    
       26266,7  | 
¹ A partir de 2000, em média, 98% de toda produção de palmito do Estado de São Paulo origina-se de culturas permanentes e não de extrativismo vegetal, de acordo com Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística -IBGE. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br>. Acesso em: 2007.
Fonte: Instituto de Economia Agrícola/Coordenadoria de Assistência Técnica Integra (IEA/CATI) e Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O crescimento mais acentuado da área de pupunha no Estado de São Paulo concentra-se no Vale do Ribeira, especialmente nos municípios de Registro, Juquiá, Cajati, Eldorado, Peruíbe, Itanhaém e Pariquera-Açú (Figura 2). Ao longo dos anos tem havido incremento de novas culturas no Vale do Ribeira, propiciando maior diversificação agrícola na produção, principalmente em estabelecimentos de pequenos e médios produtores. Dentre as culturas que ampliaram significativamente a sua participação entre 2002 e 2006, além da pupunheira, pode-se destacar café e milho.
            A 
nova oportunidade de negócios relacionados à pupunha, que ainda está se 
fortalecendo, abre portas para o mercado internacional de palmito em conserva, 
em mercados consumidores sensíveis à qualidade do produto, preservação ambiental 
e observação das leis trabalhistas adequadas à sua produção e processamento. 
Além desse mercado já existente, as características peculiares do palmito 
pupunha, principalmente o não escurecimento do produto, fazem vislumbrar novas 
possibilidades de comercialização em todo o território nacional, como a de 
palmito in natura ou minimamente processado. No entanto, se não forem 
adotados critérios ou normas previamente estabelecidas, visando eliminar os 
riscos de contaminação do palmito processado, pode-se comprometer a inserção e 
consolidação desse produto no exterior, repercutindo negativamente, inclusive, 
no mercado interno. 
  
Figura 2 - Evolução da Área Cultivada de Pupunha no Estado de São Paulo, 2002 e 2006.

Até 1994 havia tendência de crescimento das exportações brasileiras, que só foi retomada a partir de 2002, conforme mostra a figura 3. A partir desse ano os preços médios anuais de palmito em conserva exportado aumentaram a taxas crescentes, atingindo, em 2006, média de US$1.94 a lata de 400g (ou US$4.84/kg FOB).
Figura 3 - Exportações de Palmito em Conserva, 1989 a 2006.
Fonte: Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento (SECEX/MDIC).
A despeito dessa valorização do produto no exterior, deve-se considerar também, dentre outros fatores, os preços obtidos no mercado interno, para que se possa optar pela melhor alternativa de negócio. Por exemplo, de acordo com dados coletados pelo IEA/CATI, de 2002 a 2005, houve valorização do preço médio anual da lata de 400g palmito no varejo da cidade de São Paulo (Figura 4).
Figura 4 - Comparação entre Preços Médios Anuais no Varejo da Cidade de São Paulo e na Exportação, 2002 a 2006.
Fonte: Instituto de Economia Agrícola/Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (IEA/CATI).
            Para 
que haja inserção contínua do palmito no mercado externo há necessidade de maior 
profissionalização do setor a fim de garantir a qualidade e a regularidade de 
oferta desse produto, considerado sofisticado no exterior, destacando-o das 
demais iguarias disponíveis para consumo. A introdução de palmitos de melhor 
qualidade pode, inclusive, favorecer a criação de novos nichos de mercado no 
Brasil, podendo-se constituir em alternativas mais rentáveis para o 
setor. 
___________________________________________________________ 
1BOVI, M. L. A. O agronegócio 
palmito de pupunha. Horticultura Brasileira, v.21, n.1, p. 2, 
2003. 
2BOVI, M. L. 
A. Palmito pupunha: informações básicas para cultivo. Campinas: Instituto 
Agronômico, 1998. 50 p. (Boletim Técnico, 173). 
3A partir de dados de 2005, a maior área 
cultivada de palmito está no Estado de Goiás (São Paulo ocupa a segunda maior 
área de palmito do Brasil). Goiás, Bahia e São Paulo estão entre os três maiores 
Estados brasileiros em quantidade produzida de palmito cultivado (em ordem 
decrescente). Em relação à quantidade produzida na extração vegetal, o Estado do 
Pará é o maior produtor, seguido de Santa Catarina e São Paulo. 
4ANEFALOS, L. C., MODOLO, V. A., 
TUCCI, M. L. S. Influência do palmito pupunha no sistema agropecuário do Vale do 
Ribeira-SP, 2002-2006. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE OLERICULTURA, 47., 2007, 
Porto Seguro, BA. Anais... (no prelo). 
Palavras-chave: pupunha, Bactris 
gasipaes, área cultivada, agronegócio, exportação. 
Data de Publicação: 11/07/2007
                Autor(es): 
                Lilian Cristina Anefalos (lcanefal@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
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