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Custo de Implantação e Formação da Cultura da Seringueira no Estado de São Paulo
A implantação de um seringal, ou seja, o plantio de
seringueiras para produção de borracha natural, envolve diversas etapas,
desde a escolha do local e preparação do solo até o manejo e a exploração do
látex ou do coágulo. Dessa forma, é fundamental selecionar um terreno com bom
solo, com boa profundidade e drenagem, e que seja favorável ao crescimento da
seringueira. O solo deve ser preparado com adubação orgânica e mineral, de
acordo com as necessidades do solo e da planta, e com a análise do solo. A
época ideal para o plantio é no início das estações chuvosas, utilizando mudas
de boa qualidade, com espaçamento adequado para o desenvolvimento das
plantas. O seringal requer cuidados com a desbrota, controle de pragas e
doenças, irrigação e adubação, além de outras práticas que garantem o bom
desenvolvimento das plantas. A exploração do látex ou do coágulo se inicia
após o período de formação da cultura (aproximadamente 7 anos), com a sangria,
que é o corte da casca da seringueira para coletar o látex2. Além disso, a implantação não é apenas o plantio,
mas também a manutenção e melhoria contínuas do seringal, incluindo o controle
de pragas, o manejo da terra e o investimento em tecnologias para aumentar a
produtividade e a sustentabilidade da atividade. Com a finalidade de
contribuir no planejamento de safra agrícola da seringueira, este artigo
apresenta estimativas do custo de implantação e formação da atividade. Por
tratar-se de cultura perene, o cultivo da seringueira exige elevado
investimento nos anos iniciais de implantação, apresentando uma fase juvenil
entre seis a sete anos, momento em que se inicia a produção de forma gradativa
do seringal. Sendo assim, somente após esse período se inicia o período de
amortização do investimento inicial. Calculou-se o custo de
produção para a cultura da seringueira utilizando a metodologia de Custo
Operacional do Instituto de Economia Agrícola3, que preconiza a
concepção de curto prazo, sendo que as remunerações do capital, terra e
empresário não são computadas, supondo-se que isso se fará pela renda líquida4.
A estrutura de custos do sistema é composta de: a) custo operacional efetivo
(COE): despesas efetuadas com mão de obra, encargos sociais (40% sobre o valor
da despesa com mão de obra), operações de máquinas/equipamentos, veículos e
materiais consumidos ao longo do ciclo da cultura; e b) custo operacional total
(COT): o COE acrescido da depreciação de máquinas e do seringal, encargos
financeiros que se referem aos juros de custeio à taxa de 8,0% a.a. sobre o
COE, e despesas com serviços de assistência técnica. A partir do sétimo ano são
incorporados os gastos com contribuição à seguridade social rural CSSR (1,5% do
valor da renda bruta) e a depreciação do seringal. As matrizes de coeficientes técnicos de
fatores de produção calculados referem-se a uma propriedade padrão composta
por: área plantada de 50ha, clone RRIM 600, espaçamento de 2,5m2 x
8m2, 20m2/planta, totalizando 500 pés plantados por
hectare, no sistema de sangria D4. Para formação do seringal, foi
considerado o sistema convencional de preparo do solo e plantio. O período de
formação considerado vai do plantio (implantação ou 1º ano) ao 6º ano da
cultura. A explotação do seringal se inicia no 7º ano da implantação da cultura,
quando pelo menos 50% das plantas atingem diâmetro de 45cm de circunferência a
uma altura de 1,30m do solo e 6mm de espessura de casca. Neste trabalho,
considerou-se que 50% das plantas entraram em produção no 7º ano, mais 25%
entraram em produção no 8º ano, 20% no 9º e o restante após o 10º ano. Para a
sangria, considerou-se o sistema D4/S2 que consiste em uma intervenção na casca
com formato de meia espiral, no qual a sangria é efetuada a cada quatro dias,
num total de 63 sangrias efetivas por planta/ano, no período de outubro a
julho. Nesse sistema, o produtor necessitará de um sangrador para cada 7,0
hectares5. Os preços dos fatores de produção que compões as matrizes
foram coletados na região produtora e referem-se ao mês de outubro de 2024. O custo de implantação
de um seringal (1º ano), com as características descritas e analisadas nesse
estudo (Tabela 1) apresentou valor de COT de R$38.353,49 e COE de R$44.304,69 por hectare. Analisando a participação percentual
dos itens componentes (Tabela 2), observa-se que a maior despesa foi com o item
operação de máquinas, tanto no COE quanto no COT, com valor de 59,7% e 51,7%
respectivamente. Pelo fato de serem realizadas, nessa fase, todas as operações
mecanizadas de preparo de solo convencional com um valor alto de horas máquinas
observou-se que os valores das máquinas e equipamentos como os de óleo
combustível foram as variáveis que mais oneraram tais custos. O segundo maior
item de despesa foram os gastos com mudas, e esse fato (15,6% e 13,5%) ocorreu por
dois fatores: o preço relativo da muda e a quantidade utilizadas para compor o
seringal adicionado ainda o replantio, necessário para garantir o stand ideal da cultura. As despesas com
mão de obra oneraram os custos em 9,5% e 8,2% para COE e COT, respectivamente.
Estas despesas representam os gastos com o maior número de horas de todos os
insumos na implantação da cultura, onde se destacam as operações de irrigação,
desbrota e plantio. Numa combinação entre o número de horas de utilização e o
preço da maquinaria nova encontra-se o custo de depreciação de máquinas que
onera o COT em 11,2%. No 2º ano, o COT somou
R$5.661,63/ha, enquanto o valor do COE foi de R$4.225,67/ha (Tabela 1),
apontando que o item de maior despesa foi o de operações de máquinas,
evidenciando que o preço relativo dos fatores que compõem o custo das horas
máquina influenciam com muita importância os custos de produção (preço do óleo
diesel, por exemplo). O item mudas apresenta-se em segundo lugar com 14,0% de
participação no COE e de 10,4% no COT, seguido dos gastos com mão de obra
comum, tratorista e os encargos sociais, este último associado ao uso da mão de
obra (Tabela 2). No 3º ano, o COT foi de
R$6.989,81 por hectare, e o
item operação de máquinas foi o item mais oneroso com percentuais de 50,1% no
COE e 39,4% no COT seguido dos gastos com adubos. O 4º ano apresenta COT de R$5.002,25 e o maior item de participação aindam é o item
operação de máquinas, pois nesse estágio de desenvolvimento ainda permitem o
trânsito de máquinas no manejo do seringal. À medida que as árvores crescem,
aumenta a necessidade de se fornecer nutrientes e de realizar o combate às
pragas e doenças, assim, no 5º e no 6º ano da cultura, os gastos com adubos
assumiram as maiores despesas no custo de formação do seringal. No COT do 5º
ano de R$6.218,48
os adubos oneram em 46,0% e os defensivos em 4,8%. A partir do 6º ano, devido
ao crescimento das árvores, diminui o número das operações de roçada e
aplicação de herbicidas. Nessa fase, os maiores gastos se referem ao uso de
adubos, relativos a 31,2% e de defensivos com 5,4% de um COT de R$3.786,68
(Tabelas 1 e 2). A
partir do 7º ano inicia-se a produção, por meio da operação de sangria. Nesta
fase entram em explotação 50% das plantas do seringal e para isso é necessária
mão de obra de sangria, aquisição de equipamentos de proteção individual (EPI),
equipamentos utilizados nas árvores e gastos com mão de obra para selecionar e
preparar as plantas que serão exploradas. No 7º ano, o COT é de R$22.024,44/ha e o COE é de R$18.517,36/ha. Nessa
fase o gasto com a mão de obra para efetuar a sangria tem participação
percentual de 41,7% no COE e 35,0% no COT. No 8º ano, com maior número de
árvores em sangria, eleva-se a participação percentual do item para 37,5% do
COT, que tem valor de R$20.325,18 por
hectare. No 9° e no 10° anos, o comportamento dos custos é semelhante, no 9º
ano a maior participação no custo de produção total (COT) é da mão de obra para
a sangria (35,6%), seguidas dos encargos sociais, e adubos, com 16,5%, e 9,4%,
respectivamente. O 10º ano de produção da cultura da seringueira obteve COE por
hectare, de R$19.226,77 e COT de R$22.899,55. O item mão de obra para a
sangria (38,6%) e os encargos sociais (17,7%) são os itens de maior impacto nos
custos de produção (Tabelas 1 e 3).
A tabela 3 apresenta
também os valores do custo por quilograma de coágulo por hectare obtidos na
produção a partir do 7º ano, quando foi realizada a sangria em 250 árvores, com
produção média de 3,5kg de coágulo por planta, totalizando 875kg de coágulo por
hectare com valor de COT de R$25,17/kg de coágulo. Esse aumento nos custos de
produção é impactado principalmente devido ao preparo das árvores para início
de sangria, e aquisição dos materiais e insumos necessários para exploração do
seringal, além do uso de mão de obra especializada (sangradores) e dos custos
associados à mão de obra de sangria. No 8º ano sangraram-se 350 árvores, que
produziram 4,5kg de coágulo por planta, somando 1.575kg por hectare e o COT
atingiu R$12,21/kg. No 9º ano o custo do kg do coágulo é de R$11,35/kg com
sangria de 400 árvores que produziram 5,0kg por planta ou 2.000kg por hectare.
A produção por planta no décimo ano atingiu 5,5kg de coágulo e o custo foi de
R$9,25/kg, com 450 árvores em sangria e produção por hectare de 2.475kg de
coágulo. A partir desse ano, a
produção eleva-se ainda até se estabilizar em torno do 13° ano. A produtividade
média do seringal pode atingir, nesse sistema de sangria, 2.800kg de coágulo
por hectare em média, e pode entrar em declínio a partir do 30º ano. Diante dos resultados
apresentados de alto custos de implantação e longo período de formação para
atingir a plena produtividade, várias ações devem ser tomadas pelos produtores
que, submetidos a condições adversas de mercado, devem aprimorar a gestão
profissional de custos e buscar eficiência na exploração do seringal a fim de
mitigar perdas e riscos. O bom gerenciamento do seringal, bem como o aumento no
rendimento da sangria, podem oferecer condições favoráveis, uma vez em que a
mão de obra é o item de maior ônus no custo de produção, especialmente a
demandada pela sangria. Por isso, o acompanhamento diário das atividades
desenvolvidas dentro do seringal, bem como a correta gestão dos fatores de
produção, são ferramentas fundamentais para sucesso. Como
visto, a implantação do seringal demanda recursos financeiros de alta monta e,
por ser uma cultura perene, a decisão de implantação deve ser acompanhada de
estudos e de previsão de gastos muito realistas. Para que um investimento traga resultados positivos
aos negócios é preciso que esse seja elaborado com precaução, tomando atitudes
corretas e dentro de um planejamento pré-estabelecido. 1Este trabalho contém similaridades
textuais com artigos anteriores de mesma metodologia, pois é necessário que
determinados trechos sejam descritos novamente para manter a consistência e a
comparabilidade das informações ao longo do tempo. 2GONÇALVES,
E. C. P.; MARTINS, A. L. M.; OLIVEIRA, M. D. M.; BÁRBARO-TORNELI, I. M.; SILVA,
J. A. S.; SCHMIDEK, A.; MIGUEL, F. B.; FARIA, M. H.; GRIZOTTO, R. K. Good
practices in hyveculture implementation and conducting of the rubber tree
plantation. Journal of Agricultural Sciences Research, v. 2, p. 1–12,
2022. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/359179982. Acesso em: 20 maio 2025. 3MATSUNAGA,
M.; BEMELMANS, P. F.; TOLEDO, P. E. N. de; DULLEY, R. D.; OKAWA, H.; PEDROSO,
I. A. Metodologia de custo utilizada pelo IEA. Agricultura em São Paulo,
São Paulo, v. 23, p. 123–139, 1976. Disponível em:
https://www.iea.sp.gov.br/out/verTexto.php?codTexto=11566. Acesso em: 20 maio
2025. 4MARTIN,
N. B.; OLIVEIRA, M. D. M.; ÂNGELO, J. A.; OKAWA, H.; SERRA, R. Sistema
integrado de custos agropecuários – CUSTAGRI. Informações Econômicas,
São Paulo, v. 28, n. 1, p. 7–28, jan. 1998. Disponível em:
https://www.iea.sp.gov.br/ftpiea/ie/1998/tec1-0198.pdf. Acesso em: 20 maio
2025. 5OLIVEIRA,
M. D. M.; GONÇALVES, E. C. P.; DELLA NINA, L. C.; JACINTHO SOBRINHO, J.; PUTZ,
P. Custo de implantação, produção e rentabilidade do cultivo da seringueira no
Estado de São Paulo, 2016. Informações Econômicas, São Paulo, v. 47, n.
1, p. 31–49, jan./mar. 2017. Disponível em:
https://www.iea.sp.gov.br/ftpiea/ie/2017/tec3-0117.pdf. Acesso em: 20 maio
2025. Palavras-chave:
custo de implantação, formação de seringal,
custo heveicultura, implantação seringueira. COMO CITAR ESTE ARTIGO OLIVEIRA, M. D. M.; GONÇALVES, E. C. P. Custo de
Implantação e Formação da Cultura da Seringueira no Estado de São Paulo. Análises
e Indicadores do Agronegócio, São Paulo, v. 20, n. 5, p. 1-7, maio 2025.
Disponível em: colocar o link do artigo. Acesso em: dd mmm. aaaa.
Data de Publicação: 26/05/2025
Autor(es):
Marli Dias Mascarenhas Oliveira (marlimascarenhasoliveira@gmail.com) Consulte outros textos deste autor
Elaine Cristine Piffer Gonçalves (elaine.piffer@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor