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Valor da Produção Agropecuária Paulista 2024
Considerando os 50 principais produtos agropecuários,
selecionados conforme sua relevância na composição da produção total estadual,
compõe-se o cálculo do Valor da Produção Agropecuária (VPA), classificando-os,
ainda, em cinco grupos conforme o destino da produção, a saber: para a
agroindústria, produtos animais, grãos e fibras, frutas frescas e olerícolas – in natura. Os dados de preço e produção
utilizados foram extraídos do banco de dados levantados pelo Instituto de
Economia Agrícola (IEA)2, 3, sendo as variações do VPA de cada um
dos grupos de produtos, entre 2023 e 2024, calculadas com base em índices de
preços e de quantidades construídos pela fórmula de Fisher (base 2023 = 100)4. Em 2022, ocorreram alterações metodológicas no cálculo de
produção de carne bovina, suína e de frango5, tendo sido o
levantamento de 2024 amparado nessa mesma metodologia já implantada.
Comparações com outros anos, excetuando-se resultados obtidos em 2023, não
poderão ser efetuadas sem as devidas adequações junto à fonte das informações. Em 2024, em termos reais (corrigidos pelo
Índice Nacional de Preços ao Consumidor - IPCA)6, o valor da produção
agropecuária (VPA) do estado de São Paulo foi estimado em R$164,84 bilhões
(contra R$165,54 bilhões registrados em 2023), representando queda de 0,43% ao
obtido no ano anterior (decréscimo de R$703,90 milhões)7 (Tabela 1). Liderado pela cana-de-açúcar, o somatório
dos valores da produção obtidos pelos dez mais relevantes cultivos e criações
do estado de São Paulo (VPA 10+) contabilizou R$138,98 bilhões, ou seja, 84,31%
do total registrado pelo conjunto dos itens considerados (Figura 1). Considerando os dez principais produtos na geração de VPA 10+,
cinco exibiram incremento no valor: laranja para indústria, carne bovina, café
beneficiado, laranja para mesa e batata. Esses cinco produtos com elevação no
VPA aportaram juntos incremento de R$14,18 bilhões ao valor total de 2024,
sendo 58,88% desse total advindo da laranja para a indústria (R$8,35 bilhões)
que, somando-se ao incremento de 18,03% relativos à variação do VPA da laranja para
mesa (R$2,56 bilhão), praticamente forma o total dos aportes positivos do VPA
10+. Os demais, ao contrário, exibiram retração: cana-de-açúcar, carne de
frango, soja, ovos e leite, o que significou uma diminuição de R$10,80 bilhões
no VPA de 2024 (cana-de-açúcar e soja tiveram 51,08% e 36,96% da queda real
registrada, respectivamente). No balanço desses dez produtos, o acréscimo
contabilizado foi de R$3,39 bilhões (Figura 2). As laranjas (indústria e mesa) foram destaque no valor da
produção agropecuária paulista. Muito significativas foram as variações de
98,72% e de 84,10%, respectivamente, para a de mesa e a destinada à indústria.
O somatório de laranjas angariou R$23,43 bilhões na formação do VPA. A alta
pressão da demanda, tanto interna como externa, baixo estoque de suco,
associada aos distúrbios climáticos e à crescente incidência de pragas e
doenças sobre os pomares, especialmente o greening, levaram à acentuada
alta dos preços recebidos, principal responsável pela elevação do VPA. No caso
da laranja para mesa, a majoração dos preços foi também reflexo da baixa
qualidade dos frutos e da concorrência da indústria para obtenção de matéria-prima. Em 2024, houve incremento na produção estadual de carne bovina
(6,45%) com redução do preço recebido pela arroba pelos pecuaristas (-3,45%),
tendo, assim, acréscimo no VPA (2,78%). Os produtos cárneos substitutos na
dieta dos consumidores, como a carne de frango e a suína, exibiram
comportamentos díspares em relação aos preços e VPAs. No caso do frango houve
aumento de produção (4,55%), diminuição nos preços (-5,21%) e queda no VPA
(-0,89%). A suína exibiu aumento de preços (11,53%) e de produção (1,06%),
resultando em elevação do VPA em 12,71%. A produção de grãos paulista, mais especificamente da soja e do
milho, exibiu significativas quedas tanto na oferta como nos preços. Entre 2023
e 2024, o VPA da soja apresentou queda de R$3,99 bilhões que, somada à
registrada na produção de milho (R$1,57 bilhão), totalizaram R$5,57 bilhões. A elevação das cotações do café nas bolsas internacionais, levou
ao acréscimo de 36,30% no preço, apesar da queda da produção das lavouras
paulistas (-12,79%), o que permitiu avanço no VPA desse produto, contabilizando
R$6,50 bilhões, em 2024, ante R$5,47 bilhões registrados no ano anterior. Em
âmbito global há desencontro entre a oferta (relativamente estagnada) e a
trajetória do consumo, especialmente entre asiáticos. Ademais, a crescente
concentração da produção em poucos países, associada às repercussões das mudanças
climáticas sobre as lavouras, responde pela expressiva majoração dos preços recebidos. Ainda entre os VPA10+ temos os ovos de galinha. Apesar da forte
elevação dos preços no varejo ao longo do primeiro trimestre de 2025, em 2024
houve queda no VPA desse produto, impactado pela queda dos preços (-17,25%),
apesar do ligeiro crescimento da produção (1,42%). Assim, contabilizando R$6,13
bilhões, os ovos de galinha ocuparam a sétima posição no VPA 2024. O leite e a batata ocupam a nona e a décima posição no ranking VPA10+. No primeiro caso, a
queda do preço anulou a alta da produção, fazendo o VPA manter-se praticamente
estável, declinando apenas 0,08%. Entretanto, para o segundo, houve forte
avanço de produção (58,08%) e de preços (19,05%). Assim, a batata, que ocupou a
15ª posição no ranking de 2023,
saltou para a 10ª posição no de 2024, contribuindo com R$3,74 bilhões para o
VPA paulista. Outros 40 produtos da pauta pesquisada pelo IEA/CATI somaram, em
2024, R$25,86 bilhões. Dentre eles são destaques: milho, tomate para mesa,
amendoim em casca, banana e carne suína, que apresentaram VPA compreendidos
entre R$2,30 bilhões a R$3,1 bilhões (Tabela 1). Em 2024, o amendoim, cultivo praticamente exclusivo do território
paulista, contabilizou R$2,48 bilhões de VPA, representando baixa de 26,17% frente
ao ano anterior, reflexo da redução na produção da ordem de 9 milhões de
toneladas ocasionada por chuvas irregulares e altas temperaturas durante a
safra 2023/24, e que implicou queda na produtividade9. O tomate para
mesa e a banana também apresentaram queda no VPA, de 17,27% e 1,37%,
respectivamente. A participação da cana-de-açúcar no VPA recuou para 34,31%,
frente aos 37,49% do VPA apurados em 2023 (Figura 3). Contrariando tal
tendência de queda dos preços médios recebidos pelos canavicultores (R$138,05/t
em comparação com R$143,97/t), o resultado da balança comercial paulista do
complexo sucroenergético exibiu incremento de 11,6% frente ao valor dos
embarques ocorridos em 2023 (US$12,30 bilhões)10. Os produtos destinados a agroindústria
constituem a maior fatia na formação do VPA paulista, contabilizando R$83,16
bilhões (50,45%), em razão da expressão que a lavoura de cana-de-açúcar exibe
no estado. Nos demais grupos, enquanto frutas e olerícolas tiveram variação
positiva no VPA, produtos animais e grãos e fibras oscilaram em sentido
contrário (Figura 4). Com base nos índices de preços e de produção, é possível
aprofundar a análise dos indicadores por grupo de produtos, destacando os
efeitos específicos das variáveis sobre o VPA. Essa abordagem permite avaliar
separadamente os impactos das variações de volume e de preço, além de
possibilitar comparações multitemporais e multissetoriais com maior precisão. O grupo formado pelos produtos para indústria apresentou uma
variação positiva no índice de preços (8,50%), mas negativa no índice de
produção (-3,97%), resultando em uma queda de 4,19% no VPA contabilizado.
Portanto, o aumento nos preços não foi suficiente para compensar a redução na
produção (Tabela 1). No caso dos produtos animais, o índice de preços caiu 5,60% e o
de produção cresceu 4,64%, levando a um resultado negativo do VPA (-1,22%),
reflexo da participação da carne bovina na composição do VPA desse grupo. Para os grãos e fibras, os índices apresentaram quedas
acentuadas, de 8,94% no índice de preços e 26,09% no índice de produção. Essa
situação resultou em uma retração de 32,70% no VPA do grupo, muito próximo ao
observado em 2023 (redução de 31,59%), evidenciando desaquecimento substancial
desse mercado, especialmente para soja e milho que, apesar da forte redução na
produção, apresentaram também reduções de preço. No grupo das frutas frescas houve aumento de 28,50% no índice de
preços, que compensou a queda de 4,80% no índice de produção, garantindo
crescimento expressivo para o VPA do grupo (22,33%). Finalmente, as olerícolas apresentaram crescimento positivo
tanto em preços (12,13%) como em produção (1,88%), distinguindo-se de todos os
demais, elevando o VPA em 14,23%, em 2024, na comparação com o ano anterior. No total geral, houve crescimento no índice de preços (4,03%) e
uma redução no índice de produção (-4,28%), culminando em uma leve retração de
0,43% no VPA do estado, refletindo um cenário de estabilidade geral com perdas
localizadas. Ao se excluir a lavoura de cana-de-açúcar do cálculo geral dos
índices, constata-se variação positiva para preços (8,90%) e redução na
produção (3,90%), resultando em acréscimo de 4,65% no VPA sem cana-de-açúcar. Pelo terceiro ano consecutivo, o VPA paulista (considerando-se
os 50 produtos relacionados), exibe redução no montante apurado pelo setor. Problemas
decorrentes das mudanças climáticas, da elevação dos custos de produção
(especialmente dos fertilizantes e combustíveis) e a intrínseca volatilidade de
preços nos mercados das commodities
não têm favorecido a produção de valor no setor. A queda concomitante dos preços
e da produção da cana-de-açúcar e dos grãos alcançou tal magnitude que as
variações positivas nas laranjas, no café e na batata (principiais altas nos
preços) não foram suficientes para compensar, ocasionando o ligeiro declínio do
VPA contabilizado em 2024. 1Os autores agradecem o apoio recebido de Leonardo Massao Nakama, Assessor
Técnico III do IEA. 2INSTITUTO DE ECONOMIA AGRÍCOLA. Banco
de dados: estatísticas da produção paulista. São Paulo: IEA,
2023. Disponível em: http://ciagri.iea.sp.gov.br/nia1/subjetiva.aspx?cod_sis=1&idioma=1
Acesso em: 4 jun. 2024. 3INSTITUTO DE ECONOMIA AGRÍCOLA. Banco
de dados: estatísticas de preços médios. São Paulo: IEA, 2023.
Disponível em: http://ciagri.iea.sp.gov.br/nia1/precos_medios.aspx?cod_sis=2.
Acesso em: 4 jun. 2024. 4HOFFMANN, R. Estatística para economistas. 2. ed. São Paulo: Pioneira, 1991. 426 p. 5Para as carnes (bovina, suína e de frango), a produção foi calculada a partir
dos dados constantes nas Guias de Trânsito Animal (GTAs) (número de animais enviados
ao abate) emitidas via Coordenadoria de Defesa Animal (CDA) da Secretaria da Agricultura
e Abastecimento do Estado de São Paulo. Destaca-se que somente os animais criados
em solo paulista são contabilizados. Com essa nova metodologia, busca-se obter uma
maior precisão na informação de produção desses produtos e a uniformização dos dados
do governo paulista. Os preços médios das carnes (bovina, suína e de frango) foram
calculados a partir dos dados levantados pela rotina dos preços mensais recebidos
(PMR) pelos produtores e ajustados para rendimento-peso de carcaça (carne) para
os suínos e frango. O cálculo do preço das carnes foi ponderado pela produção mensal
calculada a partir das GTAs emitidas. 6INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Sistema IBGE de Recuperação
Automática – SIDRA. Índice Nacional
de Preços ao Consumidor Amplo, Tabela 7060 – IPCA: variação mensal, acumulada no ano, acumulada em 12 meses, 2022. Rio de Janeiro:
IBGE, 2023. Disponível em: https://sidra.ibge.gov.br/tabela/7060. Acesso em: maio
2023. 7Apesar dessa queda contabilizada, tal percentual é insuficiente para arrefecer
a expressiva expansão contabilizada, em 2022, quando o VPA paulista registrou aumento
real de 13,11%. Ver: INSTITUTO DE ECONOMIA
AGRÍCOLA. Valor da Produção Agropecuária Paulista (VPA), 2022. São Paulo: IEA, 2024. Disponível em: http://www.iea.agricultura.sp.gov.br/out/TerTexto.php?codTexto=16142.
Acesso em: 4 jun. 2024. 8SAMPAIO, R. M.; NERES, A. S. Amendoim: ano difícil, 2024 registra queda nas
exportações. Análises e Indicadores
do Agronegócio, São Paulo, v. 20, n. 2, p. 1-6, fev. 2025. Disponível
em: http://www.iea.sp.gov.br/out/TerTexto.php?codTexto=16255#:~:text=A%20conjuntura%20dif%C3%ADcil%20foi%20moldada,no%20estado%20de%20S%C3%A3o%20Paulo.
Acesso em: 25 abr. 2025. 9GHOBRIL, C. N.; ANGELO, J. A.; OLIVEIRA, M. D. M. Balança comercial dos agronegócios
paulista e brasileiro, ano de 2024, recordes para exportação e saldo comercial em
São Paulo. Análises e Indicadores
do Agronegócio, São Paulo, v. 20, n. 1, p. 1-19, jan. 2025. Disponível
em: https://iea.agricultura.sp.gov.br/out/TerTexto.php?codTexto=16250.
Acesso em: 22 abr. 2024. Palavras-chave:
valor da produção agropecuária, preços
médios recebidos, estimativa de produção. COMO CITAR ESTE ARTIGO VEGRO, C. L. R. et al. Valor da
Produção Agropecuária Paulista 2024. Análises e Indicadores do Agronegócio,
São Paulo, v. 20, n. 5, p. 1-10, maio 2025. Disponível em: colocar o link do
artigo. Acesso em: dd mmm. aaaa.
Data de Publicação: 14/05/2025
Autor(es):
Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Eder Pinatti (pinatti@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Maximiliano Miura (maximiliano.miura@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
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Terezinha Joyce Fernandes Franca (terezinha.franca@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
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