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Panorama do Feijão de Inverno sem Irrigação no Estado de São Paulo
                                 
Importante fonte de proteína na dieta alimentar da população brasileira de baixa 
renda, o feijão é considerado prato típico do povo brasileiro, juntamente com o 
arroz1. A cultura do feijoeiro faz parte da maioria dos sistemas 
produtivos de pequenos e médios produtores. Porém, nos últimos anos, o interesse 
por parte de grandes agricultores tem crescido. 
             O 
Brasil é o segundo produtor mundial de feijoeiros do gênero Phaseolus e o 
primeiro na espécie Phaseolus vulgaris (feijão comum), destacando-se como 
seu maior consumidor. O País apresenta uma produtividade média em torno de 1.000 
kg/ha e um consumo médio de 16kg por habitante por ano. Esse tipo de feijão pode 
apresentar classificações comerciais, devido à cor e ao tipo do grão: carioca, 
preto, mulatinho, roxo e rosinha. O consumo de determinado tipo de grão depende 
do hábito da população da região considerada. De modo geral, o grão do tipo 
carioca é o preferido nacional; mas em alguns Estados como Rio Grande do Sul, 
Santa Catarina, parte do Paraná, Rio de Janeiro e Espírito Santo, o consumo 
maior é de feijão preto. 
             O 
feijoeiro encontra em todo o Estado de São Paulo condições climáticas favoráveis 
a seu desenvolvimento e produção. Há possibilidade de mais de um cultivo no 
mesmo ano agrícola. Assim, há três épocas de plantio: feijão das águas, feijão 
da seca (safrinha) e feijão de inverno (terceira safra). Os produtores paulistas 
plantam o feijão de inverno a partir de abril, podendo utilizar ou não a 
irrigação mecanizada. Na safra 2007/08, o cultivo de feijão de inverno sem 
irrigação produziu um total de 271 mil sacas de grãos, o que correspondeu a 6% 
do total produzido. Cerca de 64 mil sacas, ou seja, 23% foram produzidas pelo 
Escritório de Desenvolvimento Rural (EDR)2 de Andradina, região 
Oeste, destacando-se como o primeiro do Estado nesta modalidade de cultivo 
(Tabela 1). Nesta época, a região apresenta ausência de geadas e temperaturas 
amenas, dificultando a ocorrência de pragas e doenças, o que favorece a 
qualidade do grão e boas produções. Os municípios mais representativos do EDR 
são: Ilha Solteira com 41,97%, Andradina com 19,43%, Pereira Barreto com 10,40%, 
Murutinga do Sul com 9,32% e Guaraçaí com 6,21%, além de outros municípios que 
contribuem com percentuais menores, como Nova Independência, Lavínia e 
Mirandópolis. 
Tabela 1 - Produção de Feijão de Inverno sem Irrigação e Área Plantada dos Principais Escritórios de Desenvolvimento Rural do Estado de São Paulo, Safra 2006/07
| EDR | 
       Área 
      (ha)  | 
    
       Produção 
      (sc.60kg)  | 
| Andradina | 
       4.177  | 
    
       64.324  | 
| Dracena | 
       1.993  | 
    
       24.190  | 
| Itapetininga | 
       800  | 
    
       24.000  | 
| São João da Boa Vista | 
       1.540  | 
    
       23.300  | 
| Presidente Prudente | 
       2.080  | 
    
       23.170  | 
| Franca | 
       1.804  | 
    
       22.662  | 
| Presidente Venceslau | 
       1.770  | 
    
       19.980  | 
| Araçatuba | 
       980  | 
    
       18.600  | 
| General Salgado | 
       733  | 
    
       10.530  | 
| Bragança Paulista | 
       337,3  | 
    
       9.450  | 
| São Paulo | 
       17.309  | 
    
       271.390  | 
Fonte: IEA/CATI.
Nos últimos cinco anos, o EDR de Andradina manteve as maiores áreas plantadas na safra de inverno sem irrigação, apesar de haver diminuição da área plantada em todas as regionais, coincidindo com a diminuição no consumo do produto pela população (Figura 1).
Figura 1 - Área Plantada de Feijão de Inverno sem Irrigação, por Escritório de Desenvolvimento Rural (EDR), Estado de São Paulo, 2002 a 2007.
 
Fonte IEA/CATI.
A produtividade do feijão no inverno sem irrigação é de 940 kg/ha, considerada baixa quando comparada à obtida com o uso de irrigação que pode alcançar mais de 2.400 kg/ha no Estado. Alguns dos fatores que podem contribuir para o baixo desempenho da cultura em pequenas propriedades são: descapitalização do produtor, baixo nível tecnológico, empobrecimento do solo, cultura de risco devido às adversidades climáticas, como ausência de chuvas na época do florescimento.
O mercado de feijão é muito instável, sofrendo grande interferência de atuações informais de atravessadores na sua comercialização. O produto não deve ser armazenado por mais de dois meses, pois perde seu valor comercial, devendo ser colocado no mercado interno logo após a colheita.
A produção de feijão proveniente da safra de inverno é oferecida geralmente entre os meses de agosto e outubro, o que diminui a sazonalidade da produção e melhora o abastecimento do mercado interno de feijão. O Estado de São Paulo, um dos principais centros consumidores, influencia diretamente a formação dos preços do resto do País. Por ser produzido o ano todo, o feijão é um dos poucos produtos agrícolas transportados através de vários estados, desde o produtor até o consumidor final3.
            O 
consumo de feijão vem caindo a cada ano, pois a cadeia do produto é afetada pelo 
gosto do consumidor por determinado tipo de grão e pela preferência por 
alimentos de rápido preparo, favorecendo mais o consumo de alimentos 
industrializados. Estão previstas campanhas das câmaras setoriais do arroz e do 
feijão e governamentais para reverter a diminuição do consumo desses grãos. 
Assim, pretende-se mostrar o valor protéico do feijão, que forma, principalmente 
com o arroz, rico em carboidrato, a combinação perfeita para a alimentação do 
povo brasileiro. 
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1Clube do feijão Carioca. 
Agroclubes. Disponível em: <http://www.agroclubes.com.br 
/ficha_tecnica/fichas.asp?ficha=337&codigo_produto=337> Acesso em 12 
set. 2008. 
2Escritório de Desenvolvimento Rural (EDR) é uma Unidade Administrativa da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, sendo ao todo 40 EDRs.
3Yokoyama, L.P.; Banno, K.; Kluthcouski, J. Aspectos econômicos da cultura. In: ARAUJO, R.S. et al. (Coords.). Cultura do feijoeiro comum no Brasil. Piracicaba: Potafós, 1996. p.1-20.
Palavras-chave: feijão, safra de inverno, sem irrigação.
Data de Publicação: 22/10/2008
                Autor(es): 
                Neli Cristina Belmiro dos Santos  Consulte outros textos deste autor
Katia Nachiluk  (katia.nachiluk@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor              

                    
                        