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Retrato da comercialização de morango em São Paulo no ano de 2006
                                 
Durante as primeiras décadas do século passado, a cultura do morango recebeu 
grande incentivo para a produção no Rio Grande do Sul. Introduzido em São Paulo, 
alcançou grande desenvolvimento comercial há aproximadamente 50 
anos1. 
             Hoje 
o morangueiro é cultivado com sucesso em vários estados brasileiros como Rio 
Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Minas Gerais e Distrito 
Federal, tornando-se uma excelente opção de renda em diversas regiões do 
país. 
             O 
morango é uma das frutas mais apreciadas, sendo amplamente consumido em todos os 
estados brasileiros, mesmo existindo resistência de alguns nichos de mercado 
quanto à sanidade dessa fruta devido ao grande uso de defensivos agrícolas, 
principalmente fungicidas2; 3 durante o cultivo. 
             A 
solução encontrada por alguns produtores para garantir as vendas do produto, e 
obter confiança do consumidor foi à rotulagem adequada inserindo o nome do 
produtor e endereço da propriedade. Sendo assim, coube ao produtor garantir a 
qualidade e sanidade do morango que está comercializando. 
             Nos 
últimos anos, o morango superou sua forte característica de fruta sazonal, ou 
seja, a safra que ocorria uma vez ao ano, durante o inverno, sofreu mudanças com 
a introdução de novas variedades aliada à evolução da tecnologia de produção da 
fruta (túneis, adubação, entre outros). Hoje se pode consumir morango durante 
todo o ano, em quase todos os estados brasileiros. 
             Para 
retratar as mudanças no perfil da comercialização do morango foram analisados 
dados de comercialização de morango no ano de 2006, disponibilizados pelo 
Entreposto Terminal de São Paulo (ETSP) da Companhia de Entrepostos e Armazéns 
Gerais de São Paulo (CEAGESP). A escolha deste centro atacadista foi por 
representar um grande centro nacional de comercialização de morangos, receber a 
fruta de várias regiões produtoras, além de ser responsável pelo abastecimento 
de frutas, verduras e legumes de São Paulo. 
             
Segundo Gutierrez (2005)4, durante a comercialização de produtos é 
recolhida uma via de toda nota fiscal que entra no ETSP e esta é encaminhada ao 
setor de codificação da Seção de Economia e Desenvolvimento (SEDES) da CEAGESP 
onde os seguintes dados são codificados, digitados e registrados em seu sistema 
de informática: o produto, sua cultivar, município e unidade da federação de 
origem, embalagem e o atacadista de destino. A base de dados consolidada dessas 
informações é denominada "Sistema de Informação de Mercado da CEAGESP" ou SIM 
CEAGESP 5. 
             
Segundo o SIM CEAGESP (2006)6, foram comercializados no ETSP da 
CEAGESP, durante o ano de 2006, 9,7 mil toneladas de morango. Minas Gerais foi o 
Estado com a maior participação, já que 50,42% do morango vendido no ETSP teve 
origem em terras mineiras. São Paulo foi à segunda origem com 28,54%, seguido do 
Rio Grande do Sul com 10%, Paraná com 6,34% e Santa Catarina com 4,01% do total. 
Estes dados sugerem para uma mudança no abastecimento do mercado paulista, nos 
últimos anos, que tinha municípios paulistas como principais fornecedores de 
morangos para o mercado atacadista. 
             
Oficialmente 62 municípios enviaram morango para ser comercializado no ETSP em 
2006, porém apenas 6 deles representavam 73,26% do volume total comercializado: 
os municípios mineiros de Pouso Alegre (21,77%); Estiva (18,46%); os paulistas 
de Jarinu (13,94%) e Atibaia (10,10%); o paranaense de São José dos Pinhais 
(5,08%) e o gaúcho de Caxias do Sul (3,91%), o que parece demonstrar a 
especialização dos atacadistas em municípios produtores. 
             Os 
dados do SIM CEAGESP (2006) mostram que Minas Gerais teve seu pico de produção 
de morango juntamente com a oferta paulista entre julho e agosto. O Paraná e o 
Rio Grande do Sul tiveram seu pico em novembro. Fato interessante é que o Rio 
Grande do Sul oferta grande quantidade em uma janela de mercado entre janeiro e 
abril, quando este Estado abastece praticamente sozinho o mercado nacional, 
sendo altamente competitivo. O morango gaúcho tem boa aceitação no mercado 
paulista e os produtores gaúchos estão apostando na produção de morangos na 
entressafra (Figura1). 
             O SIM 
CEAGESP (2006) possui em sua base de dados apenas seis cultivares de morango: 
Comum, Estrangeiro, Lasse, Reico, Oso Grande e Toyonoka. Vários cultivares de 
morango de maior importância atualmente ainda não foram adicionadas ao sistema 
de informação, fazendo com que algumas informações sobre o mercado dessa fruta 
não possam ser analisadas. 
             Em 
2006, vinte atacadistas comercializaram morango no ETSP da CEAGESP, sendo cinco 
deles responsáveis por 27,3% do total de morango comercializado, o que parece 
indicar concentração da comercialização de morango em poucos atacadistas, assim 
como a presença de atacadistas especializados. 
Figura 1 - Sazonalidade dos Estados na Comercialização de Morango no ETSP da CEAGESP, 2006.

Fonte: CQH/ CEAGESP (2006).
O morango é uma fruta altamente perecível, exigente em cuidados pós-colheita em sua comercialização; seu tempo de prateleira é baixo o que muitas vezes ocasiona grandes perdas aos comerciantes da fruta, para evitar perdas e consequentemente prejuízos, os atacadistas incentivaram o plantio de cultivares mais resistentes em pós-colheita, mas que não atendiam às exigências de sabor do consumidor, no início dos anos 2000, o que retraiu o consumo de morango. Hoje nota-se a preocupação em comercializar cultivares que sejam mais apreciadas pelos consumidores, e não apenas resistentes ao manuseio e à armazenagem.
Ótimos retornos estão sendo obtidos por produtores, atacadistas e varejistas que oferecem aos seus clientes cultivares com melhores características de sabor e qualidade como Oso Grande; Toyonoka; Sweet Charlie, entre outras.
A tomada de preço do morango não segue apenas oferta e demanda do produto no mercado; mas, principalmente, são considerados os atributos de qualidade, como coloração, sabor, cultivar comercializada, entre outras, pois cultivares como Oso Grande e Sweet Charlie são mais valorizadas que a cultivar Campinas por exemplo.
Segundo Martinho et al. (2006)7, as características desejáveis para que um morango seja mais valorizado no mercado atacadista são principalmente coloração vermelha, sabor e doçura. Enquanto que as características indesejáveis são: morango sobre maduro ou passado, imaturo ou verde, deformações e presença de podridões ou doenças pós-colheita.
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1RONQUE, E. R. V. A cultura 
do morangueiro. Curitiba: EMATER, 1998, 205 p. 
2Entre 2002 e 2004 a Agência Nacional de 
Vigilância Sanitária (ANVISA) analisou amostras de morangos comercializados no 
Brasil e foram encontrados os seguintes valores em percentagem de resíduos de 
defensivos agrícolas: em 2002, 46,03%; 2003, 54,55%; e em 2004, 
39,07%. 
3AGÊNCIA 
NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA – ANVISA. Disponível em: <http://www.anvisa.gov.br/toxicologia/ 
residuos/index.htm>. Acesso: 04 jan. 2008. 
4GUTIERREZ, A. S. D. Danos mecânicos 
pós-colheita em pêssego fresco, 2005. 124 p. Tese (Doutorado em Produção 
Vegetal) - Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz", Universidade de São 
Paulo, 2005. 
5SIM 
CEAGESP: Sistema de Informação de Mercado da Companhia de Entrepostos e Armazéns 
Gerais de São Paulo (CEAGESP). São Paulo: CEAGESP, Seção de Economia e 
Desenvolvimento, 2006. [Não publicado.] 
6Foram utilizados os dados de 2006, pois 
os dados de 2007 ainda não estão disponibilizados. 
7MARTINHO, D. Q. et al. Levantamento 
preliminar das características qualitativas observadas pelos compradores de 
morango, durante a safra 2006, no mercado atacadista de São Paulo. In: SIMPÓSIO 
NACIONAL DE MORANGO, 2., Anais... Pelotas: EMBRAPA Clima Temperado, 
2006. 
Palavras-chave: mercado, fruticultura, morangueiro.
Data de Publicação: 24/01/2008
Autor(es): Priscilla Rocha Silva Fagundes (prsfagundes@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor

                    
                        