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Trigo: produção paulista deverá aumentar em 2007
                                 A 
produção mundial de trigo de 2006/07 está projetada pelo Departamento de 
Agricultura dos Estados Unidos (USDA) em 593,1 milhões de toneladas, 4,5% menor 
que o resultado do ano anterior. Os menores volumes previstos para a União 
Européia e também de países da antiga União Soviética serão parcialmente 
compensados por maior produção na Índia. Estão projetados aumentos de consumo na 
União Européia, Índia e Austrália. De acordo com o USDA as exportações globais 
serão menores. Os estoques finais mundiais, projetados em 121,2 milhões de 
toneladas, são 18% inferiores aos registrados na temporada 
anterior. 
            Na 
Argentina, depois das 16,0 milhões de toneladas obtidas em 2004/05, o volume 
estimado de 14,2 milhões de toneladas para 2006/07 é ainda 2,0% inferior ao do 
ano anterior. Esse menor nível de produção provoca apreensão por parte dos 
importadores brasileiros quanto à política de exportação do Governo argentino, 
cuja tendência é a de diversificar seus mercados, aproveitando a menor 
disponibilidade do produto no mercado internacional, prevista para essa 
temporada. 
            Desde 
2006 a Argentina vem adotando medidas desestimuladoras de exportação de trigo em 
grão, em benefício de farinha e pré-misturas, por meio de diversas medidas, tais 
como: elevação da pauta de exportação, de US$ 156/toneladas para US$ 
182/toneladas, aumentando assim a base de cálculo para o imposto de 20% sobre as 
exportações de trigo, pressionando os preços do trigo exportado; outra medida 
restritiva às importações brasileiras de trigo argentino foi a redução da tarifa 
de exportação da farinha de trigo, de 20% para 10%, mantendo os 20% para o grão 
de trigo. Essas medidas são especialmente nocivas para o Brasil, considerando 
que por força dos acordos do Mercosul algo em torno de 90% das nossas 
necessidades de importação de trigo são satisfeitas pela Argentina. Importações 
brasileiras de trigo de outras origens, provavelmente mais dos Estados Unidos e 
do Canadá, significarão adquirir produtos de cotações mais elevadas que as do 
trigo argentino, além de custos de transporte maiores bem como incorrer no 
pagamento de tarifa de importação, incidentes em produtos de fora do Mercosul, 
que no caso do trigo é de 10%. 
            Os 
dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior permitem 
verificar algumas alterações de comportamento. Considerando os dados do primeiro 
bimestre, na série histórica de 2002 a 2007 nota-se que o volume de trigo 
importado no primeiro bimestre de 2007 é o maior da série. No caso das 
importações de farinha de trigo o volume é muito maior do que vinha ocorrendo, 
foram importadas 82,7 mil toneladas de farinha, contra 3,6 mil a 7,2 mil 
toneladas que foram as quantidades mínima e máxima verificadas nos primeiros 
bimestres de 2003 a 2006. Só o primeiro bimestre de 2002 que atingiu um volume 
de cinco dígitos, 31,2 mil toneladas, mas ainda assim bem inferior ao de 
2007. 
            Essa 
conjuntura, aliada à frustração da safra brasileira, fez com que houvesse reação 
nos preços recebidos pelos produtores brasileiros que seguiram a tendência do 
mercado mundial e argentino. Em São Paulo, os preços recebidos pelos produtores, 
de R$29,50/60kg em março corrente, é 35% superior ao vigente em março do ano 
passado (Figura 1). 
Figura 1 - Preços Reais1 de Trigo Recebidos pelos Produtores Paulistas, 2002-07.

1Valor de março de 2007, atualizado pelo IGP-DI da FGV. Base agosto/94.
Fonte: http://www.dinheirovivo.com.br/Index.aspx?Id=39
Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) situam a produção brasileira de 2006 em 2,4 milhões de toneladas, o que significa uma quebra de produção de 49% em relação ao volume obtido na safra anterior. No Paraná e no Rio Grande do Sul, que juntos respondem por cerca de 90% da produção nacional, a quebra foi de 59% e 41%, respectivamente. Em São Paulo, de acordo com o mesmo levantamento, a quebra foi de 25%.
            O 
plantio de trigo inicia-se em março nas regiões onde se planta mais cedo, de 
forma que até meados do mês existe competição entre o plantio do trigo e o de 
milho safrinha cujos riscos de perda por problemas de natureza climática 
aumentam a partir daí, portanto de março para frente até julho, conforme a 
região do país, as perspectivas do mercado de trigo é praticamente o único 
parâmetro para a tomada de decisão do triticultor. No Paraná, de acordo com 
informações do Departamento de Economia Rural (DERAL), a estimativa é de 
expansão de 5% na área, relativamente à do ano anterior, mas como o plantio no 
Estado se dá até 20 de julho ainda há tempo para alteração dessa estimativa, já 
que o trigo passa a ser a cultura de inverno mais viável. 
            Como 
o balanço de oferta e demanda mundial de trigo está apertado, os preços estão 
firmes no mercado internacional. Na Bolsa de Kansas, os preços futuros são 
crescentes: US$162,50/tonelada em maio, US$167,18/t em setembro e US$172,51/t em 
dezembro. Essa conjuntura, aliada às restrições impostas pela Argentina, reforça 
a possibilidade de preços promissores para o triticultor brasileiro por ocasião 
da safra, a partir de setembro, apesar da baixa taxa de câmbio 
vigente. 
            Em 
São Paulo o plantio de milho safrinha já se encerrou e o de trigo deverá se 
iniciar assim que as chuvas forem suficientes. As perspectivas também são de 
expansão de área cujo limite deverá se dar pela oferta de semente. A oferta de 
semente produzida no estado está baixa em função da quebra na produção passada e 
portanto em grande parte será utilizada semente importada do 
Paraná. 
Data de Publicação: 12/04/2007
Autor(es): José Roberto Da Silva (josersilva@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor

                    
                        