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O emprego na cafeicultura paulista: situação atual
                    
             No 
decorrer da década de noventa, principalmente em sua segunda metade, a 
cafeicultura retoma sua importância na ocupação de mão-de-obra com nova 
configuração. Ou seja, as regiões que já eram produtoras se especializam e 
passam a requerer grande número de trabalhadores comuns, bem como começam a dar 
sinais de maiores necessidades de mão-de-obra qualificada, resultando em 
ocupação considerável de pessoas no Estado de São 
Paulo.1  
             A 
parceria foi mais encontrada nos EDRs de Franca (75%) e São João da Boa Vista 
(43%), bem como a residência nas UPAs destas regiões, com 100% e 42%, 
respectivamente. Em todo o Estado, esta categoria de trabalho possui 51.465 
pessoas (das quais 19.149 residiam nas UPAs, de acordo com os informes do IEA) e 
deste total 13% estão ocupadas na cafeicultura. O trabalho feminino na parceria 
destaca-se no EDR de Franca com 75%. Este informe evidencia o importante grau de 
integração da mulher com o sistema de parceria (tabela 2). 
             A 
utilização desta categoria dá-se, principalmente, nas pequenas e médias unidades 
produtivas, pois permite aos proprietários rurais solucionarem a falta de 
mão-de-obra nos tratos culturais e na colheita, como também se livrarem dos 
custos trabalhistas, caso haja necessidade de contratar pessoas para trabalharem 
mensalmente.  ___________________________________________________ 
  
            O 
café é uma das culturas de maior absorção de mão-de-obra rural. Alterações na 
produção e/ou a erradicação drástica de cafezais acarretam efeitos negativos na 
ocupação de trabalhadores rurais. Nesse sentido, pesquisas sócio-econômicas na 
cafeicultura têm como uma das suas principais finalidades inserir a questão 
social entre os estudos que visam o crescimento dos investimentos na lavoura e, 
conseqüentemente, interferem no mercado de trabalho. 
            Em 
junho de 2006, dados obtidos por meio do levantamento amostral realizado pelo 
Instituto de Economia Agrícola (IEA) e pela Coordenadoria de Assistência Técnica 
Integral (CATI) levaram à constatação de que o Estado de São Paulo ocupou cerca 
de 472.989 pessoas2. A cultura do café, segundo o levantamento 
especial, safra 2004/053, participou com a ocupação de 36.014 pessoas 
distribuídas entre as categorias proprietário, arrendatário, parceiro e seus 
familiares, residentes e não-residentes, trabalhando permanentemente nas UPAs 
(Unidades de Produção Agrícola) - exceto as categorias assalariado e volante. 
Deste total, a categoria proprietário e seus familiares participaram com 74%; a 
parceria, com 19%; e a categoria arrendatário, com 7%. 
            O 
principal EDR (Escritório de Desenvolvimento Rural) na utilização de mão-de-obra 
foi de São João da Boa Vista, com 21% do total ocupado. Os EDRs de Franca, 
Ourinhos e Marília participaram desta ocupação com 8%, 5% e 4%, respectivamente. 
Embora a mão-de-obra masculina ainda seja predominante nas diferentes 
categorias, ao redor de 70%, o trabalho feminino destacou-se na categoria 
parceiro (39%). A categoria de trabalho parceiro e familiares é a que possui a 
maior participação no quesito residência nas UPAs, com 84%; em seguida, está a 
categoria proprietário e familiares, com 55% no total do Estado (tabela 
1). 
  
  
  
     
  Tabela 1 - População Ocupada na Cultura do Café, por Categoria e 
      por Sexo, Estado de São Paulo, julho de 2006 
     
  Categorias 
    
       
    
       
    
       
    
       
    
       
    
       
    
       
    
       
     
  Proprietário e Familiares 
    
       
    
       
    
       
    
       
    
       
    
       
    
       
    
       
     
  Arrendatário e Familiares 
    
       
    
       
    
       
    
       
    
       
    
       
    
       
    
       
     
  Parceiro e Familiares 
    
       
    
       
    
       
    
       
    
       
    
       
    
       
    
       
     Fonte: Dados básicos da 
  pesquisa  
  
  
  
     
  Tabela 2 - População ocupada na cultura do café, por categoria e 
      por sexo, EDRs Marília, São João da Boa Vista, Franca e Ourinhos, julho de 
      2006 
     
  EDR 
      de Marília 
     
  Categorias 
    
       
    
       
    
       
    
       
    
       
    
       
    
       
     
  Proprietário e Familiares 
    
       
    
       
    
       
    
       
    
       
    
       
    
       
     
  Arrendatário e Familiares 
    
       
    
       
    
       
    
       
    
       
    
       
    
       
     
  Parceiro e Familiares 
    
       
    
       
    
       
    
       
    
       
    
       
    
       
     
  EDR 
      São João da Boa Vista  
     
  Categorias 
    
       
    
       
    
       
    
       
    
       
    
       
    
       
     
  Proprietário e Familiares 
    
       
    
       
    
       
    
       
    
       
    
       
    
       
     
  Arrendatário e Familiares 
    
       
    
       
    
       
    
       
    
       
    
       
    
       
     
  Parceiro e Familiares 
    
       
    
       
    
       
    
       
    
       
    
       
    
       
     
  EDR 
      de Franca 
     
  Categorias 
    
       
    
       
    
       
    
       
    
       
    
       
    
       
     
  Proprietário e Familiares 
    
       
    
       
    
       
    
       
    
       
    
       
    
       
     
  Arrendatário e Familiares 
    
       
    
       
    
       
    
       
    
       
    
       
    
       
     
  Parceiro e Familiares 
    
       
    
       
    
       
    
       
    
       
    
       
    
       
     
  EDR 
      Ourinhos  
     
  Categorias 
    
       
    
       
    
       
    
       
    
       
    
       
    
       
     
  Proprietário e Familiares 
    
       
    
       
    
       
    
       
    
       
    
       
    
       
     
  Arrendatário e Familiares 
    
       
    
       
    
       
    
       
    
       
    
       
    
       
     
  Parceiro e Familiares 
    
       
    
       
    
       
    
       
    
       
    
       
    
       
     Fonte: Dados básicos da 
  pesquisa  
            O 
número de arrendatários e familiares tem aumentado na cafeicultura paulista. Em 
1999/2000, a categoria totalizava 890 produtores, que correspondiam a 2% das 
categorias de trabalho que mantinham relação de produção4. No 
levantamento de 2006, a participação desta categoria passou a 7% do Estado, com 
2.475 pessoas, dos quais 24% residindo nas unidades produtivas. O EDR de São 
João da Boa Vista é o mais importante com 1.304 pessoas. Contudo, esta é a 
categoria que tem ocupado o menor número de pessoas na atividade 
cafeeira. 
            Ao 
contrário da categoria arrendatário, a ocupação do proprietário e familiares na 
cultura do café é muito comum em todo o Estado de São Paulo, e a mão-de-obra 
mais utilizada é a masculina (72%). Nos EDRs de Ourinhos e Franca, a ocupação 
masculina chega a ser de 94% e 86%, respectivamente. É significativa a parcela 
de proprietários e familiares que residem nas UPAs, tanto no Estado de São Paulo 
(55%) quanto nos EDRs de Marília (70%) e de São João da Boa Vista (48%) 
(tabelas 1 e 2). 
            A 
residência nas unidades produtivas é bem comum por ser a cultura cafeeira 
demandante de muitos cuidados, devido à grande exigência de trabalho nas 
operações intermediárias do ciclo produtivo. Os cuidados intensificam-se quando 
as propriedades produzem o café adensado ou especial, pois as práticas que dizem 
respeito a este tipo de café se adequam às unidades produtivas de menor extensão 
e com disponibilidade de braços. 
            O 
trabalho volante arregimentado nas unidades produtivas de café foi 
significativo, pois foram pagas 3,006 milhões de diárias na colheita em 2004/05. 
Estes trabalhadores foram mais numerosos nos EDRs de São João da Boa Vista 
(24%), Franca (23%), Marília (15%), Tupã (6%) e Ourinhos (5%), que são ocupados 
quase que exclusivamente na colheita. 
            A 
colheita do café constitui-se na operação de maior peso no custo total da 
produção justamente pelo emprego de grande contingente de mão-de-obra volante - 
cujos preços tendem a ser mais elevados em função das dificuldades de 
arregimentação de pessoas, considerando-se que o momento de contratação coincide 
com o período de pico de demanda por mão-de-obra temporária também em outras 
atividades agrícolas. Para solucionar este gargalo, alguns cafeicultores mais 
capitalizados reestruturaram seus cafezais e introduziram a colheita mecânica, o 
que, de certa forma, reduz tanto o custo de produção quanto o número de volantes 
contratados e, conseqüentemente, o número de conflitos 
trabalhistas. 
            
Embora a mecanização demande pessoas mais qualificadas como tratorista e 
mecânico, as operações complementares (finalização de colheita, repasse e 
varrição) são efetuadas, em sua maioria, por trabalhadores volantes. Outros 
produtores que possuem suas unidades produtivas em terrenos acidentados têm 
realizado a colheita com derriçadeira manual. Vale acrescentar, no entanto, e a 
favor do emprego do trabalho-vivo, que o café de qualidade requer um maior e 
mais apurado senso de distinção quanto aos frutos a serem colhidos. A colheita 
mecânica, por motivos óbvios, não distingue o fruto vermelho do verde, e esta 
observação faz grande diferença na qualidade final do produto. 
            No 
EDR de Franca, os maiores produtores arregimentam braços no sul do Estado da 
Bahia e no norte de Minas Gerais. Estes são alojados nas próprias unidades 
produtivas e, por serem oriundos de regiões produtoras de café, possuem 
familiaridade com a cultura. Em 1997, o custo da mão-de-obra na colheita 
oscilava entre 8% e 10% do custo do café comercializado, atingindo a marca de 
30% e 35% em 2006. 
            No 
EDR de Bragança Paulista, a derriçadeira manual é muito utilizada dada a 
declividade do terreno. Para se ter idéia, uma pessoa colhe de cinco a seis 
alqueires, em média, de café por dia. Uma derriçadeira manual faz 30 alqueires, 
em média, por dia; ou seja, a derriçadeira manual faz o serviço de seis 
trabalhadores. 
            Nas 
visitas realizadas nas regiões cafeeiras, infere-se que a mecanização da 
colheita, última etapa do processo produtivo que ainda necessitava de muitos 
braços, não é mais incipiente nas áreas tecnicamente possíveis no Estado. Esta 
prática de colheita semimecanizada ou mecanizada tem reduzido tanto o custo da 
operação quanto o número de volantes ocupados. Na safra 1999/00, foram pagas 
5,619 milhões de diárias4 na operação de colheita e, após cinco anos, 
foram pagas 3,006 milhões de diárias, ou seja, queda de 46,5% no número de 
serviços oferecidos do setor cafeeiro aos trabalhadores 
volantes.5 
1 Este artigo é parte do Projeto 
Estratégias Comerciais e Caracterização Sócio-Econômica da Cafeicultura 
Paulista, integrante do Programa Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento do Café 
PNP&D/CAFÉ. 
2 
BAPTISTELLA, C.S.L., FREDO, C.E.; VICENTE, M.C.M.; FRANCISCO, V.L.F.S. Ocupação 
no Rural Paulista Cresce 0,4% em 2006, para 1,056 milhões de pessoas. Publicado 
no site:https://iea.agricultura.sp.gov.br/out/verTexto.php?codTexto=8679 em 16 de 
fevereiro de 2007. 
3 Os informes tiveram como período de referência o ano 
agrícola 2004/05. Os questionários foram preenchidos por técnicos da 
Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI) mediante entrevistas com os 
responsáveis das Unidades de Produção Agrícola (UPAs), sorteadas em julho de 
2006. Foram obtidos dados sobre a população ocupada na cultura - por categoria 
de trabalho e por sexo. Para obtenção das estimativas foi utilizada amostra 
probabilística estratificada segundo dois critérios de classificação: tamanho e 
localização geográfica da cultura. Quanto à estratificação por tamanho 
utilizou-se a área com café na UPA. As unidades com mais de 200 ha foram 
reunidas num só estrato censitário. Quanto à estratificação geográfica levou-se 
em conta os principais municípios e regiões produtoras. Para a expansão dos 
dados utilizou-se o método descrito em PINO, F. A.; FRANCISCO, V. L. F. S.; 
LORENA NETO, B. Previsão e estimativa de safras cafeeiras no estado de São 
Paulo. Agricultura em São Paulo, São Paulo, v. 48, n. 1, p. 57-68, 
2001. 
4 VEIGA, 
J.E.R; VICENTE, M.C.M; BAPTISTELLA, C.S.L; OTANI, N.M. Relações de Trabalho na 
Cafeicultura Paulista. Informações Econômicas, SP, v.31, n.5, p.61-89. 
2001. 
5 Artigo 
registrado no CCTC-IEA sob número HP-22/2007. 
Data de Publicação: 26/03/2007
                Autor(es): 
                José Eduardo Rodrigues Veiga (zeveiga@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
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