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Florestas: novas opções de investimentos (investir no não-uso)
                                 A 
atividade florestal em São Paulo está  ingressando na etapa de sua 
maioridade. O Agronegócio Florestal Paulista - a cadeia produtiva que vai 
da semente ao consumidor final - tem um peso expressivo no emprego (quase 150 
mil postos de trabalho); no produto e na renda (mais de R$ 7 bilhões anuais) da 
economia paulista1.  Novos papéis das 
florestas 
             A 
partir da Agenda 21 3 aprovada na Eco-92 4, o setor passou 
a ser considerado um componente fundamental do desenvolvimento sustentável, o 
que sem dúvida é um apelo de repercussões mundiais, notadamente nos mercados dos 
países da OCDE5. Produtos como filtro de água; seqüestro de 
CO2 atmosférico; proteção de hábitat; guardião de biodiversidade; 
fonte de combustível renovável e natural; e embelezamento de paisagens colocam 
as florestas como opções novas de investimentos no panorama da economia mundial, 
construindo uma imagem positiva para seus investidores.  Parceiros potenciais 
 Os novos mercados 
florestais 
             
Existem atualmente excelentes condições, particularmente no Estado de São Paulo, 
para o desenvolvimento de uma atividade florestal vigorosa e inovadora do ponto 
de vista de oportunidades de investimentos e de adequação ambiental. O quadro 
desenhado revela com clareza que estão dadas as condições para uma verdadeira 
explosão de inversões nesse setor, que conjuga variáveis econômicas, sociais e 
ambientais coincidentes, com boas possibilidades de investimentos de longo prazo 
para redução do efeito estufa e geração de novas oportunidades em atividades 
relacionadas à floresta.  Uma política de 
incentivos 
             A 
situação colocada até agora - produtores receptivos, com condições materiais 
propícias; consumidores querendo se garantir quanto ao fornecimento de longo 
prazo, aliado a capitais procurando um nicho para se alocar; profissionais e 
organizações disponíveis com conhecimento técnico e vontade e, ainda, 
comunidades abertas a novas oportunidades - cria condições propícias para 
investimentos florestais em São Paulo.  O suporte institucional 
             Nesse 
quadro é que se coloca a necessidade de um instrumento regulador dessas 
atividades e indutor de um processo de longo prazo. A idéia-força de um plano 
nesse sentido é a da parceria que, ao permitir a criação de condições de 
potencializar ações, reduzindo custos e tempos, multiplica a geração de novas 
oportunidades de investimentos.  _________________________ 
            Os 
segmentos mais organizados do setor (celulose/papel e chapas) possuem visão 
gerencial moderna e utilizam tecnologias de ponta. Mais de 16% do território 
estadual é ocupado por florestas - a segunda maior área ocupada do Estado, só 
perdendo para as pastagens -, podendo chegar a 25% ou 30%2 sem 
comprometer qualquer setor produtivo agropecuário; pelo contrário, 
reforçando-o. 
            Esta 
visão está  intimamente ligada a conceitos atuais sobre qualidade e padrões 
de vida, que derivam dos chamados valores intangíveis da floresta, dentre os 
quais o seu não-uso. A par disso, as atividades florestais continuam com 
seus papéis clássicos de fornecedores de matéria-prima de inúmeros empregos e 
funções. 
            Tais 
atividades, assentadas em longos ciclos de produção, geram postos de trabalho 
permanentes, colaborando para minimizar a crise estrutural do emprego, pois 
contribuem para fixar contingentes populacionais no meio rural. Assim, podem se 
constituir também numa alternativa à marginalidade que se sedimenta nas 
populações periféricas das grandes cidades. 
            Em 
termos de geração de empregos, cada 10 hectares de florestas empregam um 
trabalhador, considerando as atividades de plantio, manutenção, exploração e 
utilização industrial (na fase de implantação, cada 4 hectares geram um emprego 
direto)1. Isto além de diversificar atividades que podem ser 
terceirizadas como viveiros, projetos, corte, transporte e 
classificação. 
            Além 
do mais, utilizando rendimentos anuais sem consumir o estoque, a floresta 
garante fornecimento de matéria-prima indefinidamente. Isto interessa 
sobremaneira aos consumidores externos, que dependem de contratos de longo prazo 
e não possuem espaços para plantios em seus países. 
  
            O 
potencial econômico da atividade fica ainda mais evidente ao poder ser 
estendido, diretamente, no processo agroflorestal a quase 250 mil unidades 
produtivas agrícolas só no Estado de São Paulo. Esse verdadeiro exército de 
fazendeiros e sitiantes possui um estoque de terras de mais de 3,5 milhões de 
hectares2, constituído em sua grande maioria por solos com aptidão 
para uso florestal, cujos melhores rendimentos estão na 
silvicultura. 
            As 
condições ecológicas do Estado favorecem uma alta produtividade florestal nessas 
terras: 30 toneladas por hectare/ano (50 estéreos por hectare/ano, no plantio de 
eucalipto), a baixos custos de plantio, exploração, transporte e mesmo de 
operações portuárias. O custo de produção pode ser estimado em US$ 9.00/m3, 
incluindo remuneração da terra e seguro, para um ciclo de produção de 10/12 
anos. 
            A 
adoção da atividade florestal por esses produtores, todavia, ainda encerra uma 
série de limitações, como falta de capital para aplicações de longo prazo; 
necessidade de obtenção de uma renda extra nos anos iniciais; e garantias de 
preço e de mercado, além de confiança no Governo e facilidades de pagamento de 
eventuais financiamentos. Essas limitações, no entanto, poderão ser 
perfeitamente contornadas em um processo integrado como proposto no transcurso 
desta reflexão. 
  
            O 
consumidor de produtos e serviços florestais, por seu turno, forma um 
contingente muito maior que o dos potenciais produtores. Esses agentes, internos 
e externos, estão envolvidos com uma gama de mercadorias e de serviços bastante 
ampla e vêm incorporando, paulatinamente à sua demanda, os valores intangíveis 
das florestas, criando-lhes um mercado globalizado. 
            
Assim, o abastecimento irregular das matérias-primas; a incerteza do seu 
fornecimento no longo prazo; os custos de transporte; as condicionantes legais 
como reserva florestal obrigatória, reposição florestal e  áreas de 
preservação permanente, aliadas às questões do excesso de carbono; mudanças 
climáticas; destruição da biodiversidade e novas formas de turismo acabam se 
constituindo em fatores indutores a investimentos na área florestal. Esses 
segmentos, entretanto, carecem de capitais para imobilizar em terras para 
florestas "vis a vis" aplicá-los no setor industrial e comercial. 
  
            Ainda 
como agentes desse processo existem os profissionais ligados ao setor, que, com 
seu conhecimento técnico e sua capacidade de deslocamento, são elementos 
fundamentais como propulsores da terceirização da atividade. Movimentos da 
sociedade civil, cristalizados em associações, por exemplo, garantem um 
arcabouço técnico e agilidade de atuação que podem facilmente se associar a 
setores fornecedores de insumos e equipamentos, inclusive 
veículos. 
            O 
envolvimento de órgãos públicos e universidades, de qualquer esfera e nível, 
através do seu potencial técnico, sua produção supletiva e até mesmo de 
eventuais condições operacionais é uma garantia de avanços tecnológicos 
consistentes no longo prazo. 
  
            Por 
último, mas não menos importante, existe por parte das comunidades um desejo de 
melhoria que se manifesta pelo engajamento de Prefeituras no processo de busca 
de alternativas de desenvolvimento para seus municípios. 
            A 
criação de um mercado supra-nacional caminha no sentido da complementaridade, 
consciente da interdependência que a questão ambiental tornou possível e 
presente. Assim, a queima de carbono excessiva no hemisfério norte pode vir a 
ser compensada pela captura desse superávit no sul, onde as condições de 
crescimento vegetativo das florestas são tais que nem mesmo vinte vezes mais 
superfícies boreais seriam suficientes para realizar tal tarefa. 
            
Está  brotando um mercado totalmente novo, no qual o principal produto é a 
melhoria do ambiente através da floresta e do seu crescimento. Este é um 
conceito que vai além dos princípios "poluidor-pagador" ou 
"consumidor-repositor", criando uma dinâmica de longo prazo que traduz, na 
prática, pressupostos do desenvolvimento sustentável, dado que se baseia num 
material renovável e que utiliza quase que apenas a energia solar. 
            Nesse 
ambiente de transformações, existe uma busca incessante de oportunidades para 
investir capitais que necessitam prazos longos em face de exigências e 
características próprias. Aí se encontram os fundos de previdência, as carteiras 
de resseguros, os pecúlios privados e os títulos de dívidas, além de pequenos 
investidores em busca de solidez para o futuro. 
            
Existem também nessas condições aqueles investimentos oriundos das obrigações 
internacionais decorrentes dos acordos firmados no bojo da Agenda 21 
3. Entre eles, o Tratado da Biodiversidade6 e a Convenção 
Climática7 têm papel preponderante, sem desconsiderar o Acordo sobre 
as Florestas8 que, mesmo pendente, tem peso significativo na opinião 
pública dos países desenvolvidos e pode definir aplicações. 
            
Existe uma conjugação de prazos, capitais, mercados, segurança e promoção 
institucional inusitada que pode envolver desde o aplicador externo, passando 
pela intermediação da rede bancária nacional e das bolsas de valores e 
mercadorias, até os produtores rurais espalhados por todo o território 
estadual. 
            O 
esquema geral de funcionamento dessa verdadeira revolução produtiva no espaço 
rural do Estado pressupõe, portanto, quatro agentes principais: o produtor 
rural; o consumidor de matéria-prima florestal; o investidor e o técnico. As 
relações entre eles passam, necessariamente, pelas suas respectivas 
organizações, que em São Paulo atingiram um grau de complexidade e sofisticação 
elevado. Isto permite o estabelecimento de contratos bem elaborados entre as 
partes e garantia de perenidade nesses relacionamentos. 
            A 
floresta, ao vender um produto que é o seu próprio crescimento e a sua 
conservação, ou seja, sua existência, passa a ser um conceito que não pode ser 
negligenciado neste momento de redefinições das relações econômicas 
internacionais. Essa opção é particularmente atraente para empresas que buscam 
aliar sua imagem à da contemporaneidade, traduzida por preocupações 
ambientalistas, atitudes participativas em termos comunitários e gestão 
descentralizadora; enfim, uma postura moderna. 
            Os 
setores que possuem maior potencial de engajamento se situam na esfera 
industrial (celulose/papel/embalagens, químico, petróleo, álcool, borracha, 
automobilístico e mineração/metalurgia/siderurgia, além de têxtil, moveleiro, 
alimentos e construção civil), bem como na esfera de serviços 
(bancário/financeiro, seguros, fundos de pensão e previdência, mercados 
acionário e de "commodities"). Dentre eles, alguns têm interesse direto na 
matéria-prima a ser produzida e, portanto, um envolvimento maior em 
investimentos próprios. Outros aplicariam institucionalmente com o propósito de 
retorno de longo prazo, aliando suas empresas àquelas imagens contemporâneas 
como estratégia de "marketing". 
            
Enfim, aglutinação de objetivos existe; basta saber direcioná-la e torná-la 
realidade.9 
1 
Agronegócio florestal em São Paulo e o mercado de carbono. Disponível em: 
https://iea.agricultura.sp.gov.br/out/verTexto.php?codTexto=7264 
2 Plano de Desenvolvimento 
Florestal Sustentável, Fundação Florestal de São Paulo /1993 
3 Documento produzido e aprovado 
na Rio 92 que propõe balizamentos para o desenvolvimento no próximo 
século 
4 Reunião 
das Nações Unidas para o Desenvolvimento e o Meio Ambiente, Rio de Janeiro, 
1992 
5 Organização 
que reúne os sete principais países desenvolvidos do Mundo 
6 Tratado da Biodiversidade, 
Rio–92 
7 Convenção 
sobre o Clima Protocolo de Kyoto 
8 Tratado sobre as Florestas, Rio–92 
9 Artigo registrado sob número 
HP-103/2006.
Data de Publicação: 11/10/2006
Autor(es): Eduardo Pires Castanho Filho (castanho@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor

                    
                        