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Amendoim: qualidade é o grande desafio
                                 A 
qualidade do produto foi o grande destaque do III Encontro sobre a Cultura do 
Amendoim1, realizado em Jaboticabal (SP) nos dias 24 e 25 de agosto 
de 2006. Participaram do evento cerca de 200 pessoas, entre produtores, 
técnicos, docentes, pesquisadores, estudantes e representantes da indústria 
confeiteira e de cooperativas de produtores.  _____________________________ 

            Os 
trabalhos foram iniciados com a apresentação dos conceitos da produção integrada 
que tem por objetivo garantir ao consumidor alimento seguro e de qualidade. No 
seu cerne estão o manejo integrado de pragas e doenças, a saúde do consumidor e 
a proteção ao meio ambiente. 
            No 
Brasil, a produção integrada começou com trabalhos direcionados às frutas. É gerenciada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e 
Abastecimento (MAPA)2 e procura garantir a origem do produto através 
de selo de qualidade. Atesta, assim, que o produto foi produzido de acordo com 
as normas técnicas estabelecidas a partir do Marco Legal da Produção 
Integrada3. Este prevê a rastreabilidade de todo o sistema de 
produção até o consumidor final mediante certificação do produto. 
            Os 
resultados brasileiros com a Produção Integrada de Frutas, relativos por exemplo 
a maçã, uva, melão e caju, apontam para uma melhor gestão do negócio agrícola e 
um controle sistemático de toda a produção. 
            Em 
seqüência à programação do evento, apresentou-se em linhas gerais o projeto de 
Produção Integrada do Amendoim (PIA), composto por um grupo de trabalho para 
condução das atividades. O objetivo é estabelecer normas técnicas para a 
produção integrada do amendoim. 
            O 
projeto, executado em âmbito nacional4, conta com um comitê gestor e 
14 áreas temáticas5, lideradas por representantes de várias 
organizações que atuam no segmento do amendoim. Os trabalhos foram iniciados 
neste ano e serão executados no decorrer dos próximos dois anos, com a 
prioridade de estabelecer uma relação de confiança entre produtores, 
processadores e consumidores finais de produtos a base de 
amendoim. 
            No 
decorrer do encontro, foram abordados outros temas, como custo de produção e 
relações de troca. Nesse caso, destacou-se a saca de amendoim como moeda de 
compra para o produtor e que defensivos e operações de máquinas estão entre os 
itens que mais pesam no custeio da produção. Considerando variedades rasteiras e 
área própria para plantio, as estimativas indicaram 27% do custo total para os 
defensivos e 26% para as operações com máquinas. Quanto ao plantio em área 
arrendada, os defensivos representam 26% e as operações de máquinas, 
15%. 
            
Também foram abordados e apresentados resultados de pesquisas relacionadas com o 
manejo da produção, como o uso de bioestimulantes e o manejo integrado de pragas 
e doenças. Além disso, mostrou-se a importância do uso correto de equipamentos 
destinados à aplicação de defensivos agrícolas, apontando para o uso eficiente 
dos defensivos e a sua importância na qualidade do produto final e na melhor 
gestão dos custos de produção. 
            Outro 
assunto destacado foi a interferência das plantas daninhas, bem como a adequação 
de população de plantas. Considerou-se determinado tipo de espaçamento na 
produtividade, assim como a fenologia da cultura e suas implicações no potencial 
de novos cultivares em estudo. 
            
Posteriormente, apresentaram-se algumas considerações sobre o potencial da 
cultura do amendoim para o biodiesel, comparando o teor de óleo, o volume de 
produção, a produtividade e a área plantada com amendoim, em relação a outras 
culturas como soja, mamona e babaçu. No caso do amendoim, um dos principais 
limitantes é o preço do óleo, que atinge valores bastante atraentes em virtude 
das suas características, além da necessidade de maior escala de 
produção. 
            As 
duas últimas palestras discutiram o panorama para a cultura do amendoim, a 
partir de considerações sobre os mercados interno e externo. Mais uma vez foi 
ressaltada a preocupação com a qualidade do produto, uma vez que o mercado 
europeu - o de maior potencial para as exportações do amendoim em grão e de 
produtos a base de amendoim - demanda rígidos padrões sanitários, ambientais e 
sociais que envolvem a produção agrícola, o beneficiamento, o armazenamento e as 
práticas de processamento industrial. Da mesma maneira, essas exigências também 
estão presentes no mercado brasileiro, cujos consumidores dos produtos finais 
buscam qualidade e alimento seguro. 
            Por 
ocasião do encerramento do evento, comentou-se sobre as perspectivas para a 
safra 2006/2007. Apontou-se para um possível aumento da produção como reflexo do 
patamar de preços da saca de amendoim atingido nos últimos meses, em 
conseqüência de queda na produção da safra anterior e da boa qualidade alcançada 
devido às condições climáticas favoráveis. Ressaltou-se, ainda, que apesar da 
relação cambial desfavorável os contratos de exportação de amendoim em grão, 
acordados com antecedência de 6 meses a 1 ano, deverão ser 
cumpridos. 
            Por 
fim, a comissão organizadora anunciou o início dos preparativos para a quarta 
edição do encontro sobre a cultura do amendoim, pré-agendada para o mês de 
agosto de 2007.6 
1 Evento organizado por Fundação de Apoio à Pesquisa, 
Ensino e Extensão (FUNEP-UNESP), UNESP Jaboticabal, Cooperativa dos Plantadores 
de Cana da Zona de Guariba (COPLANA) e HERBAE, patrocinado por Basf, Bayer, 
MIAC, Syngenta, Stoller e Stéfani e realizado no 
Centro de Convenções da FCAV/UNESP. O conteúdo das palestras está disponível em 
CD-rom; maiores informações pelo e-mail tpsalgado@herbae.com.br. 
2 Através do Sistema 
Agropecuário de Produção Integrada (SAPI) que tem por objetivo estabelecer 
Normas Reguladoras de Produção Integrada no Brasil. MAPA: www.agricultura.gov.br 
3 O Marco Legal da Produção 
Integrada de Frutas (PIF) é composto por Diretrizes Gerais, Normas Técnicas 
Gerais, Regimento Interno da Comissão Técnica, Definições e Conceitos, 
Formulário de Cadastro Nacional de Produtores e Empacotadores e Regulamento de 
Avaliação da Conformidade (RAC). Disponível em: 
www.agricultura.gov.br 
4 Projeto financiado pelo CNPq, com coordenação nacional da 
EMBRAPA e, na região sudeste (São Paulo), da COPLANA. 
5 As áreas temáticas são: Capacitação de 
Recursos Humanos (CAMAP); Organização de Produtores (COPLANA); Recursos Naturais 
(EMBRAPA Meio Ambiente); Sementes e Variedades (IAC-APTA/SAA); Sistemas de 
Cultivo e Manejo (APTA Regional-Centro Leste/SAA); Fertilidade e Nutrição de 
Plantas (IAC-APTA/SAA); Manejo e Conservação do Solo (CATI/SAA); Proteção 
Integrada da Planta (UNESP-Jaboticabal); Análise de Resíduos e Pesticidas 
(EMBRAPA Meio Ambiente); Sistema de Rastreabilidade e Cadernos de Campo 
(COPLANA); Assistência Técnica (COPLANA); Pós-colheita e Armazenamento 
(COPLANA); Viabilidade Econômica (IEA-APTA/SAA); e Prevenção e Monitoramento de 
Aflatoxina (ESALQ-USP). 
6 Artigo registrado 
no CCTC-IEA sob número HP-88/2006. 
Data de Publicação: 04/09/2006
Autor(es): Renata Martins (rmsampaio@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor

                    
                        