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O novo salário mínimo pode elevar os custos de produção do café?
                                 
Produtores de café consideram que o aumento real dos salários, a partir do novo 
salário mínimo, seja repassado para os custos de produção, haja vista o 
contingente enorme de trabalhadores empregados em todas as etapas do ciclo 
produtivo, incluindo o pós colheita – operação fundamental para o salto de 
qualidade do produto.  Tabela 1 - Massas salariais e salários 
médios de admitidos e desligados no cultivo de café, 
2005/2006* 
             Ao 
comparar os valores de 2006 com os de 2005, observa-se que em abril, quando 
deveria estar vigorando o referido aumento, ainda não se detectou qualquer 
diferença, o que pode indicar um mês de atraso na aplicação do novo salário. Já 
os valores em maio e junho dos anos em comparação apontam, respectivamente, 
aumentos salariais de 16,15% e 16,16%, bem próximos ao aumento estabelecido de 
16, 67 % (ganho real de 13,04 % mais a inflação).  _____________________________ 

            O 
reajuste do salário mínimo, aplicado a partir de 1o de abril deste 
ano, saltou de R$300,00 para R$350,00, o que resultou em aumento de 16,67%, com 
estimativa de ganho real de 13,04%. Foi considerada a inflação medida pelo 
Índice Nacional de Preços (INPC), calculada pelo IBGE para o período de 01.05.05 
a 31.03.06, com variação de 3,21%. 
            A 
averiguação do provável impacto pressupõe estudar o processo produtivo (a 
começar do preparo do terreno para plantio) e todas as relações de trabalho 
estabelecidas. Incluem-se aí as atividades pertinentes aos trabalhadores 
mensalistas e aos volantes (responsáveis pela colheita). 
            
Ressalte-se que a operação da colheita do café ainda não está completa, o que à 
primeira vista poderia reduzir a precisão da análise. Do total de dias-homem 
ocupados nas várias operações agrícolas, a colheita absorve em torno de 72,6% do 
total, segundo informações relativas à safra 1997/98 no Estado de São 
Paulo1. Tais informações efetivamente não requerem atualização por 
conta das poucas alterações sofridas desde então. 
            Para 
se ter uma idéia da importância da operação da colheita para o mercado de 
trabalho agrícola, acrescenta-se que, em 1997/98, foram ocupados cerca de 8,98 
milhões de dias-homem no estado, o que totalizou 50 mil pessoas ocupadas. São 
números expressivos que, no entanto, dizem mais do contingente de trabalhadores 
envolvidos nesta árdua tarefa do que da influência do ganho real do salário 
mínimo no encarecimento da produção do café. É que o preço do trabalho dos 
volantes está de fato associado a oferta e demanda consubstanciadas no período 
em que se dá a operação. 
            A 
falta de sindicatos mais fortes e atuantes nas regiões produtoras também impede 
que o aumento do salário mínimo repercuta diretamente sobre o valor do pagamento 
da colheita aos volantes do café. A exemplo do que acontece com os colhedores da 
cana e da laranja, poderiam promover o dissídio coletivo, que respeitaria o 
aumento real do salário mínimo como um ganho de fato dos trabalhadores. Isto é, 
não há dissídio com significativa abrangência para os colhedores de 
café. 
            Além 
disso, ocorrem casos como o da região de São José do Rio Preto que, em linhas 
gerais, se caracterizam por áreas reduzidas e produções familiares, em que há 
mudança efetiva da relação de produção. O colhedor muitas vezes torna-se 
parceiro do produtor, o qual além da terra plantada lhe fornece insumos, de 
forma que ao trabalhador-parceiro caberá o trabalho embutido no total das 
operações do ciclo produtivo. 
            Vale 
dizer que o pagamento aos volantes se diferencia, também, conforme o tipo de 
colheita, se rasa ou seletiva. No caso desta última, a exigência quanto ao 
esforço e à atenção é redobrada, de modo a ocorrer até redução da produtividade 
e dos ganhos dos trabalhadores. Na colheita seletiva, a tênue tendência de que a 
remuneração do trabalho supere à da colheita rasa explica em parte sua 
aceitação. 
            As 
demais utilizações de mão-de-obra durante o ano na cultura do café são atendidas 
pelos trabalhadores mensalistas, comprovadamente celetistas. São eles os 
responsáveis pelas demais operações – preparo do terreno, plantio, capinas, 
adubação no plantio e em cobertura, tratamentos fito-sanitários e as tarefas do 
pós-colheita. 
            A 
operação de preparo do terreno para o plantio de novos cafezais (aração e 
gradeação) em 1997/98 havia empregado 0,6% do total de dias-homem (estes 
números, reafirma-se, são válidos até os dias de hoje); o plantio e a adubação 
demandaram 1,6%; dentre os tratos culturais, destacam-se as capinas, cuja 
mão-de-obra (que atendia estas tarefas e que correspondia a 40 % do seu total) 
retraiu para 22,4% com a utilização crescente de herbicidas, enquanto a adubação 
em cobertura exigiu uma ocupação na safra de 2,8 % de dias-homem. 
1 
            Ao 
total de mão-de-obra mensalista (permanente) devem ser acrescidos os trabalhos 
relativos à poda dos cafeeiros – recepa, decote e esqueletamento -, prática esta 
associada ao plantio adensado e/ou fechamento da lavoura. 
            O 
pós-colheita, por seu lado, absorve um número de trabalhadores com vínculo 
permanente ou familiar e que participa desta fase final, a começar da secagem 
manual – quando se destaca a figura do terrereiro ou terreirista. São 
responsáveis por expor os frutos ao sol para secar, tomando o cuidado para que 
não ocorra a quebra dos grãos. O terreirista também tem a função de medir pela 
segunda vez a produção dos colhedores. De fato, é sobre a quantidade de sacos de 
café indicada por ele que é feito o pagamento. 
            
Depois da secagem, vem o descascamento, atividade mecânica para a obtenção dos 
grãos e que é exercida pelo maquinista. Apenas os produtores mais capitalizados 
possuem a máquina, caso contrário, neste preciso momento é efetuada a venda do 
produto, quando se dá, então, início à longa cadeia de intermediação comercial 
do café. 
            Os 
terreiristas e maquinistas estão entre os que percebem maiores salários. O mesmo 
acontece com os fiscais, cuja remuneração tem uma característica diferente, pois 
não só recebem em torno de dois salários mínimos/mês, como também têm acréscimo 
de 1,5% sobre a produção dos trabalhadores. 
            
Enfim, mesmo com o avanço da mecanização e do uso de herbicidas, o café é uma 
cultura que emprega muito: cada grupo de 6.661 pés de café ocupa um trabalhador 
fixo. Do total de pessoas que trabalham nos imóveis, 57% são assalariados, dos 
quais os mensalistas são a categoria mais numerosa. Outras categorias entre os 
assalariados são os gerentes, administradores, fiscais e 
tratoristas. 
            É o 
total dessas pessoas que pode, em função do aumento real do salário mínimo, ter 
descarregado alguma influência sobre os custos de produção. Nada, porém, 
significa tanto em termos de emprego quanto o trabalho temporário, que totalizou 
7.112.623 diárias pagas na safra de 1999/2000, remunerados pela produção e muito 
distantes da pequena distribuição de renda ora ocorrida no meio 
rural1. 
            Dados 
do Cadastro Geral de Emprego e Desemprego do Ministério do Trabalho (CAGED) 
(tabela 1) permitem constatar a valorização salarial, que pesará nas 
planilhas, conforme a ponderação discutida no texto. 
  
  
*Deflacionados pelo IPCA (base 
julho/2006) 
     
  Período 
    
       
    
       
    
       
     
  
       
    
       
    
       
    
       
    
       
    
       
     
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Fonte: CAGED, 
MET
 
            Em 
suma, se dependesse exclusivamente desses assalariados celetistas, o repasse aos 
custos de produção seguiria os mesmos valores. E, mesmo que fosse essa a 
realidade, valeria ainda o argumento de que, em que pesem sempre as alterações 
conjunturais, o importante é estabelecer como meta uma cafeicultura que dependa 
mais, e principalmente, da solidez de sua estrutura produtiva do que das 
circunstâncias. 
            
Afinal, em regiões produtoras de café nos estados de Minas Gerais e São Paulo, 
com variações positivas em suas produtividades de 3,78 % e 3,52 %, ocorreram 
variações negativas nos custos unitários da ordem de 4,25 % e 4,5 %, 
respectivamente.2 Constatou-se, portanto, que os custos decresceram à 
medida que as produtividades aumentaram, indicando, por exemplo, que o impacto 
do aumento real do salário mínimo nos custos de produção pode ser absorvido 
sempre, e continuamente, pelos ganhos de 
produtividade.3 
1 Veiga, José Eduardo R.; 
Vicente, Maria C.,M; Baptistella, Celma S. L; Otani, M.N. Relações de 
Trabalho na Cafeicultura Paulista. Informações Econômicas, SP, v.31, n.5, 
maio de 2001. 
2 
Gomes & Rosado. 
Mudança na Produtividade dos Fatores de Produção da Cafeicultura nas 
Principais Regiões produtoras do Brasil. Revista de Economia e Sociologia 
Rural v.43, n.4, Brasília, 2005. 
3 Artigo registrado no CCTC-IEA sob número 
HP-87/2006. 
Data de Publicação: 30/08/2006
                Autor(es): 
                José Eduardo Rodrigues Veiga (zeveiga@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Carlos Eduardo Fredo (cfredo@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor              

                    
                        