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Café: alta das commodities não-agrícolas deixa mercado instável
                                A alta expressiva das commodities não-agrícolas (petróleo e os metais), em abril, gerou forte instabilidades nos mercados das commodities agrícolas, especialmente do café. Assim, o mercado de café permanece andando de lado (no jargão dos especuladores), com tendência de baixa devido à colheita, já iniciada, de expressiva safra brasileira. Isso mesmo com mais de seis meses de queda nas exportações mundiais de café, informações da Organização Internacional do Café (OIC)1 sobre a forte redução dos estoques internacionais e tendência de déficit no abastecimento do produto. 
            Na Bolsa de Nova Iorque, as cotações do arábica subiram 2,07%, em relação à cotação média de março de 2006 (Contrato C, segunda posição). Na Bolsa de Londres, o robusta registrou alta de 3,09% (igualmente para a segunda posição). No mercado de futuros da BM&F, o preço do arábica teve baixa de 0,40% (segunda posição). O indicador OIC-Composto diário apresentou leve alta de 1,55% em relação à média do índice de março (gráfico 1). 
Gráfico 1 - Cotações médias mensais do café em diferentes mercados de futuros (segunda posição) e do OIC-Composto diário, 2004 a 2006

Fonte: Gazeta Mercantil 
  
O diferencial entre as cotações observadas na BM&F e em Nova Iorque cresceu para US$ 14,16 a saca, cerca de 32,83% superior à média do mês anterior, devido à maior oferta brasileira no mercado de Nova Iorque. Esse diferencial nos últimos doze meses pode ser verificado no gráfico 2.
Gráfico 2 – Cotações do café arábica, segunda posição, nos mercados de Nova Iorque e BM&F (São Paulo), 2005-06

Fonte: Gazeta Mercantil 
  
As cotações do arábica, contrato C, segunda posição, na Bolsa de Nova Iorque, exibiram forte tendência de queda nos primeiros dez dias do mês de março e em seguida ocorreu forte alta que não se sustentou (gráfico 3).
Gráfico 3 - Cotações diárias em março de 2006 na Bolsa de Nova Iorque, para café arábica, Contrato C, segunda posição

Fonte: Gazeta Mercantil 
  
            Já no mercado de robusta, na Bolsa de Londres, as cotações apresentaram alta contínua durante todo o mês de abril. O comportamento dessas cotações no mercado de Londres em fevereiro, segunda posição, pode ser verificado no gráfico 4. 
  
Gráfico 4 - Cotações diárias para o café robusta, segunda posição, na Bolsa de Londres, no mês de março de 2006

Fonte: Gazeta Mercantil 
  
            Na BM&F, a evolução dos preços do arábica, segunda posição, cotados em dólar por saca em abril, indica variação positiva acumulada de 5,80% no ano de 2006 e queda de 12,09% em doze meses. No mercado de Nova Iorque, os preços do arábica, contrato C, segunda posição, tiveram alta de 10,00% no ano de 2006 e queda de 14,45% no acumulado dos últimos doze meses. 
            Por sua vez, as cotações do robusta no mercado de Londres, segunda posição, tiveram variação acumulada de 14,29%, nos últimos doze meses, e de 3,12% em 2006. Enquanto isso, a estimativa do OIC-Composto apresentou crescimento acumulado de 8,81% em 2006 e queda de 4,07% no acumulado dos últimos doze meses. 
            Na cafeicultura paulista, as cotações médias em abril do café arábica caíram 1,33% em relação à média de fevereiro de 2006, em função da baixa do dólar de 3,83% no mês. Houve, portanto queda acumulada nos últimos doze meses de 27,65%, enquanto em 2006 observou-se alta acumulada de 2,72% (gráfico 5). 
  
Gráfico 5 - Preços médios mensais recebidos pelos produtores de café arábica, Estado de São Paulo, 2002 a 2006

Fonte: Instituto de Economia Agrícola 
  
Nova queda nas exportações mundiais
            O mais recente relatório estatístico da OIC aponta para acentuada queda nas exportações mundiais nos últimos seis meses, um declínio de 10,66% nos embarques. Entre outubro de 2005 e março de 2006, as exportações de café somaram cerca de 40,5 milhões de sacas, enquanto em igual período do ano anterior esse montante alcançou 45,3 milhões de sacas. A comparação entre março de 2006 e de 2005 também evidencia queda nos embarques, com diminuição de 7,67% (Tabela 1). 
  
TABELA 1 – Exportações mundiais de café, por tipo, para períodos selecionados 
  
| TOTAL |        |            |            |            mar.06  |            |            | |
|        7.994.084  |            8.658.116  |            -7,67  |            40.490.705  |            45.319.897  |            -10,66  | ||
| Suaves colombianos |        1.013.731  |            1.130.954  |            -10,36  |            6.140.967  |            6.974.563  |            -11,95  | |
| Outros suaves |        1.978.666  |            1.918.911  |            3,11  |            8.513.998  |            9.275.322  |            -8,21  | |
| Naturais brasileiros |        2.297.581  |            2.881.996  |            -20,28  |            12.222.230  |            14.812.334  |            -17,49  | |
| Robustas |        2.704.106  |            2.726.255  |            -0,81  |            13.613.510  |            14.257.678  |            -4,52  | |
Fonte: Elaborado com base nos dados básicos de www.ico.org 
  
            Para os dois períodos, a diminuição da oferta brasileira foi a maior responsável pela queda global. É que se somaram declínios de 17,49% para o semestre e de 20,28% para o mês de março. Nesse último período, por exemplo, a queda acumulada alcançou aproximadamente 600 mil sacas de redução nos embarques totais. 
            Os demais tipos comercializados no mercado mundial também apresentaram quedas, ainda que menos expressivas do que a evidenciada pelo produto brasileiro. Destacam-se as exportações de robusta, cujo declínio nos seis meses encerrados em março somou apenas 4,52%. 
  
Lavado brasileiro na Bolsa de Nova Iorque?
             Vigorosa mobilização do segmento exportador tem buscado a chancela da Bolsa de Nova Iorque para a comercialização de contratos futuros de café lavado brasileiro naquele mercado. Todavia, ingerências políticas, patrocinadas pelos nossos concorrentes e encampadas pelo Senado estadunidense, ainda bloqueiam o pleito brasileiro que superou todas as barreiras técnicas interposta à empreita. 
            O segmento entende que, diante da impossibilidade de transacionar esse tipo de produto em Nova Iorque, o caminho mais eficaz seria a constituição de contrato na BM&F. Esta demonstra interesse e percebe a oportunidade de criação desse novo derivativo para aplicadores tanto residentes quanto não-residentes. 
  
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1 OIC: www.ico.org 
2 Artigo registrado no CCTC-IEA sob número HP-42/2006.
Data de Publicação: 09/05/2006
                Autor(es): 
                Nelson Batista Martin (nbmartin@uol.com.br) Consulte outros textos deste autor
Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor              

                    
                        