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A Queda da Salvaguarda e as Cotas no Varejo para os Vinhos Brasileiros
                    
             Em 
março de 2012 foi encaminhado ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e 
Comércio Exterior (MDIC), pelos produtores gaúchos, uma solicitação de medida de 
Salvaguarda para os vinhos nacionais contra a entrada de vinhos importados no 
mercado brasileiro.                O 
Instituto Brasileiro do Vinho (IBRAVIN), sediado no Rio Grande do Sul, a União 
Brasileira de Vitivinicultura (UVIBRA), a Federação das Cooperativas do Vinho e 
o Sindicato da Indústria do Vinho do Rio Grande do Sul, representando os 
produtores, fizeram a petição da salvaguarda ao MDIC, preocupados com o aumento 
significativo das importações de vinhos estrangeiros.              
A primeira reação foi o boicote aos rótulos nacionais pelos restaurantes e lojas 
de vinhos com apoio de chefs de restaurantes, sommeliers e 
importadores.              
Frente à reação negativa do varejo, dos restaurantes e dos 
importadores e diante do impacto na mídia e jornais questionando se a 
Salvaguarda tornaria o vinho brasileiro mais competitivo, em 22 de outubro de 
2012 a petição da Salvaguarda foi retirada.               
Em contrapartida, firmou-se um acordo que, em primeira 
instância, ampliará a presença do vinho brasileiro por meio de cotas de 25% nas 
redes de supermercados e 15% nas demais lojas varejistas, para atingir uma meta 
de consumo de 40 milhões de litros de vinhos finos brasileiros até 2016 e 2,5 
litros per capita, contra os 1,9 litro per capita atual³.               
O Jornal Folha de S. Paulo, de 28 de março de 2012, 
apresenta um gráfico denominado Impostômetro, do vinho nacional e importado. O 
vinho nacional que chega ao consumidor tem, no seu preço final, cerca de 55% de 
impostos, podendo variar conforme o estado onde é comercializado (Tabela 
1). 
  
  
            
Realmente, dados oficiais indicavam que no período de 2009 a 2011, a importação 
de vinhos cresceu 30,7% em volume, chegando a um consumo de 77,3 milhões de 
litros em 2011². 
 
Tabela 1 – Impostômetro do Vinho Nacional e Importado, 2012
(em %)
| 
       Item  | 
    
       ICMS  | 
    
       IPI  | 
    
       COFINS  | 
    
       PIS  | 
    
       Outros1  | 
    
       Importação  | 
    
       Total  | 
| 
       Nacional  | 
    
       25  | 
    
       20  | 
    
       7,6  | 
    
       1,65  | 
    
       0,48  | 
    
       -  | 
    
       54,73  | 
| 
       Importado  | 
    
       25  | 
    
       20  | 
    
       7,6  | 
    
       1,65  | 
    
       0,48  | 
    
       20%  | 
    
       74,73  | 
¹Tributos sobre salários, INSS, FGTS e outros.
Fonte: Folha de SP, com base no Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário, 2012.
            Sobre 
o vinho importado também incidem impostos, podendo alcançar um acumulado de 
aproximadamente 75%, dependendo do país de origem. Porém, devem ser considerados 
os subsídios que os países externos oferecem aos produtores para incentivar as 
exportações e a isenção de impostos para países do MERCOSUL. 
  
            Em 
reuniões da Câmara Setorial da Uva e Vinho, da Secretaria de Agricultura e 
Abastecimento do Estado de São Paulo, os produtores da região leste do Estado 
têm repetidamente reivindicado a redução do ICMS no Estado de São Paulo que é de 
25% para vinhos, enquanto no Estado do Rio Grande do Sul é de 17% e, para a 
cerveja, principal competidora dos vinhos, a alíquota de ICMS é de 
18%. 
  
            O 
vinho, como o suco de uva, tem características nutricionais diferenciadas de 
outras bebidas alcoólicas e, portanto, os produtores de uva e vinho alegam que o 
ICMS deveria ser também diferenciado. 
  
            Esses 
arranjos institucionais para tomadas de medidas estratégicas no mercado de 
vinhos, como a Salvaguarda, foram de alguma forma benéficos para o setor que vem 
tentando há muito tempo reduzir os impostos e encargos que incidem sobre o vinho 
brasileiro, o que tornaria o produto nacional mais competitivo frente aos 
importados e, principalmente, frente aos vinhos chilenos e argentinos, que são 
favorecidos pelo Acordo do MERCOSUL. 
  
            A 
exposição na mídia também foi positiva, pois levou ao conhecimento da população 
o percentual de impostos que está presente nos preços dos vinhos 
brasileiros. 
  
            A 
redução de impostos, com certeza, tornaria os preços mais atrativos ao 
consumidor, favorecendo a competitividade do produto e a permanência e a 
manutenção da atividade vitivinícola no Brasil e no Estado de São 
Paulo. 
_________________________________________________________________________ 
1MINISTÉRIO DO 
DESENVOLVIMENTO, INDÚSTRIA E COMÉRCIO EXTERIOR - MDIC. As medidas de 
salvaguarda. Brasília: MDIC, 2012. Disponível em: <http://www.desenvolvimento.gov.br/sitio/interna/interna.php?area= 
5&menu=231>. Acesso em 23 nov. 
2012. 
2 SATO, G. S. Importação de Vinhos no Brasil Cresceu 30,7% de 2009 a 2011. Análises e Indicadores do Agronegócio, São Paulo, v. 7, n. 3, mar. 2012. Disponível em: <https://iea.agricultura.sp.gov.br/out/TerTexto.php?cod Texto=12311>. Acesso em: nov. 2012.
3ANDRADE JUNIOR, O. de. Setor vitivinícola faz acordo de cooperação com importadores e retira pedido de Salvaguarda. Bento Gonçalves: IBRAVIN, 2012. Disponível em: <http://www.ibravin.org.br/int_noticias. php?id=983&tipo=N>. Acesso em: 22 nov. 2012.
Palavras-chave: vinhos, importação, salvaguarda.
Data de Publicação: 19/12/2012
                Autor(es): 
                Geni Satiko Sato (sato@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Rocco Lence (vinicola.lucano@gmail.com) Consulte outros textos deste autor              

                    
                        