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Questões sobre Emprego na Agricultura do Estado de São Paulo
                    
             O 
crescimento econômico, observado na última década, pode ser atribuído ao papel 
relevante do desempenho do setor exportador, concomitante à significativa 
participação do mercado interno.              Os 
resultados obtidos revelam um acréscimo nos principais indicadores do mercado 
de trabalho: crescimento da ocupação, queda do desemprego, aumento da 
formalização e redução da informalidade, além do aumento significativo da massa 
salarial e discreta recuperação do salário médio, crescimento do valor real do 
salário mínimo e resultados positivos nas negociações salariais. Pela primeira 
vez, em 10 anos, as estatísticas exibem número de trabalhadores formais superior 
ao dos que não têm registro em carteira (DIEESE, abril/2010).              
Apesar da evolução positiva da empregabilidade com o 
aquecimento do mercado de trabalho como um todo, mantém-se ainda um dos 
principais problemas do emprego brasileiro que é a rotatividade. Existe 
uma intensa movimentação entre admitidos e desligados. Impõe-se como superação 
deste desafio a expansão do investimento na qualidade da educação básica e na 
ampliação da oferta da educação profissional dos trabalhadores, que em abril de 
2010 representava apenas 10,6%, dos matriculados no ensino médio, segundo o 
Ministério da Educação (Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais MEC-Inep) 
(DIEESE, 2010).              Outra 
constatação corrente é a de que nas últimas décadas a produtividade agrícola 
aumentou consideravelmente em quase todo o mundo, dando continuidade ao processo 
anteriormente verificado nos anos 80 e 90. Na mesma proporção, vem se observando 
um avanço de novas atividades no setor agropecuário brasileiro - incluindo-se a 
agricultura de fronteira - que experimenta grande evolução também na 
produtividade do trabalho agrícola, onde as tarefas antes coletivas, pensando-se 
principalmente na produção familiar, tornam-se mais individualizadas. Essa 
elevação da produtividade do trabalho nas tarefas agropecuárias tem, em sua 
contrapartida, a liberação de mão de obra.              A 
causa desse processo, tanto da individualização quanto da liberação da mão de 
obra do sistema produtivo agrícola, pode ser atribuída à elevação tecnológica 
aplicada ao setor, associada à integração da unidade produtiva às redes de 
produção cada vez mais especializadas e direcionadas1. 
             Nessa 
esteira proliferam-se também, no setor agropecuário, as agências prestadoras de 
serviços especializados: preparo do solo, colheita, pulverizações, inseminações, 
entre outras.              Essas 
novas atividades produtivas agropecuárias promovem uma nova divisão do trabalho 
no interior das unidades familiares, além de liberar parte da mão de obra 
familiar para outras atividades externas, fora da unidade produtiva - uma forma 
de complementar seu tempo, agora reduzido e outrora necessário à produção. Pode 
o indivíduo, então, desempenhar não apenas uma, mas diversas atividades 
econômicas2 As famílias que exercem atividades agrícolas e não 
agrícolas são denominadas pluriativas3. 
             Essas 
transformações que contribuem para a complexificação da classificação das 
categorias profissionais e sociais, em que a um mesmo indivíduo pode-se atribuir 
duas categorias ao mesmo tempo, proprietário e empregado, podem, 
igualmente, contribuir para o incremento da informalização do trabalho. 
Contribuem, ao mesmo tempo, para amenizar as migrações e fortalecer a 
permanência do homem no campo.              
Importante apontar que essas novas configurações desenham um novo "território", 
um novo rural, constituído por um "imbricamento" entre o antigo rural, o 
novo rural, o agrícola, o não agrícola e o urbano. Nesse processo, a produção 
agrícola passa a ocupar cada vez menos o tempo total de trabalho das famílias 
rurais, passando a agricultura a responder apenas por parte do tempo da ocupação 
e da renda dessas famílias. Ou seja, "as atividades agropecuárias já não 
respondem mais pela maior parte da renda da população 
rural"4.              
Vislumbra-se, desta forma, um cenário complexo, inteiramente novo e que requer 
inúmeras adequações na avaliação de suas características para fins de elaboração 
de políticas públicas. Não existe mais a possibilidade de lidar com as antigas 
categorias e instrumentos sem correr o risco de deixar de lado inúmeros sujeitos 
ocultos que emergem com grande força a cada dia. Isto diz respeito, 
principalmente, aos novos levantamentos estatísticos, base fundamental para que 
se tenha uma dimensão quantitativa a fim de subsidiar políticas públicas com 
maior aderência à realidade do mercado de trabalho.              
Pensar a questão socioeconômica no meio agrário hoje é afogar-se em números que 
na maioria das vezes não explicam a realidade do mercado de trabalho 
agropecuário. Atualmente, várias fontes de informações subsidiam em muitos 
estudos sobre mercado de trabalho em cadeias produtivas consolidadas 
(cana-de-açúcar, laranja etc), mas deixam de lado outras atividades 
agropecuárias nas quais a mão de obra ocupada é predominante informal e 
familiar. Como tratá-las? Como entendê-las? As fontes de informações disponíveis 
(diga-se aqui oficiais) tratam todas essas atividades agropecuárias, com todas 
as suas diferenças, como se fossem simplesmente similares. 
             Há 
diferenças, e muitas. Há diferenças nos aspectos do tipo de ocupação da mão de 
obra da família envolvida , como também no aspecto da informalidade, uma vez que 
muitas dessas atividades agropecuárias não estão ainda devidamente contempladas 
nas bases de informações.              
Existe, no Estado de São Paulo, especificidades do agro que requerem uma 
estrutura de funcionamento e capilaridade institucional no sentido de obter e 
agregar informações quantitativas e qualitativas para uma maior consistência de 
dados. Essas especificidades incluem informações de "campo" levantadas no 
acompanhamento dos produtos de forma mais específica, por meio do trabalho dos 
profissionais da extensão e pesquisadores no que se refere a custos, setor, 
cultura, locais e regionais, nem sempre visíveis nas estatísticas mais 
amplas.              Desta 
forma, procura-se obter maior proximidade com a realidade agrícola do Estado de 
São Paulo, obtida por meio da confrontação de dados de fontes diversificadas e 
de dados mais específicos, que permitam contribuir para a definição das demandas 
existentes e emergentes, assim como oferecer subsídios aos programas de gestão 
para o setor.              Não é 
por acaso que existe o Sistema Estatístico Nacional (SEN), no qual vários órgãos 
institucionais Federais, Estaduais e Municipais - responsáveis pelas 
estatísticas do país - se reúnem para aprimorar o sistema de produção de 
dados.              Aos 
que não integram o SEN, mas são instituições importantes espalhadas pelo país 
que produzem e disseminam informações estatísticas sobre os mais diferentes 
temas, muitos deles relacionados ao setor rural e também mercado de trabalho, 
cabe também a participação, a discussão e o fomento ao debate a fim de se buscar 
novos horizontes para o melhor entendimento desse mercado de trabalho 
rural.  2Op. cit. nota 
1. 
 3Sintetizando os 
fenômenos promotores da pluriatividade, Graziano da Silva e Del Grossi (1998) 
apontam: a. "desmonte das unidades produtivas, b. crescimento do emprego 
qualificado no meio rural (profissões técnicas agropecuárias, administradores, 
motoristas, contadores e outro profissionais não vinculados às atividades não 
agrícolas"; c.especialização produtiva crescente das unidades agropecuárias; d. 
formação de redes de fornecedores de insumos, prestadores de serviços, 
agricultores, agroindustrais e empresas de distribuição; e. melhoria de infra 
estrutura social e de lazer rurais; facilidade de transportes e meios de 
comunicação; acesso aos bens públicos (previdência, saneamento básico, assist. 
médica e educação). 
 4Op. cit. nota 
1. 
 Palavras-chave: emprego, 
fontes de informação, agropecuária.   
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
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1GRAZIANO DA SILVA, 
J.; DEL GROSSI, M. E. O novo rural brasileiro. Campinas: UNICAMP, 1998. 
Disponível em: <http://www.eco.unicamp.br>. Acesso em: nov. 
2012. 
Data de Publicação: 18/12/2012
                Autor(es): 
                Nilce da Penha Migueles Panzutti (panzutti@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Carlos Eduardo Fredo (cfredo@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor              

                    
                        