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Exportações Brasileiras de Mercadorias no Mercado Mundial e o Setor Agrícola, Anos 2000
                      
             
A evolução das taxas anuais de crescimento das exportações de mercadorias, em 
termos de valor, mostra que nos anos 2000, de modo geral, o comportamento foi 
positivo, apresentando expansão até 2004, seguida de relativo equilíbrio de 2006 
até 2008, quando teve início a crise financeira mundial. Seu reflexo sobre o 
comércio global ocorreu em 2009, sendo registrada forte retração no montante 
total exportado, seguida de recuperação em 2010, com a taxa anual de crescimento 
tendo recuperado o patamar registrado em 2004 (Figura 1). Cabe destacar, no 
entanto, que se comparado ao valor comercializado em 2008, constata-se que os 
efeitos da crise ainda se fizeram presentes em 2010, com queda relativa de 5,5% 
nas exportações mundiais. 
   Figura 1 – Taxa Anual de Crescimento, 
Exportações de Mercadorias, Brasil e Mundo, 2001-2010.              
Outro desempenho relevante para avaliação da intensidade do comércio mundial diz 
respeito aos resultados das trocas medidos em volume, que também apresentaram 
evolução positiva durante a primeira década dos anos 2000, conforme avaliação 
realizada pela Organização Mundial do Comércio (OMC). Em termos de setores, o 
destaque foi o de manufaturas que cresceu a taxa média anual de 4,8%, ainda que 
inferior a registrada para a década anterior que foi de 7,2%. Para os produtos 
agrícolas, embora a taxa média anual tenha sido menor, esta se igualou à 
registrada entre 1990 e 2000, isto é, foi de 3,7% a.a., indicando um 
comportamento firme de mercado para esses produtos.1              
Especificamente com relação ao desempenho brasileiro, a figura 1 mostra que as 
taxas anuais registradas acompanharam os movimentos de expansão e retração 
ocorridos no comércio mundial, porém com resultados mais favoráveis na maior 
parte do período considerado. O maior dinamismo relativo do país também é 
constatado quando se compara o montante transacionado em 2010 com o registrado 
em 2008, que aponta ligeira recuperação (expansão relativa de 2%). 
             
Esse maior dinamismo se refletiu no comportamento da participação do Brasil no 
mercado global, que ocorreu de forma crescente e sustentada durante todo o 
período considerado, passando de 0,85% em 2000 para 1,32% em 2010. Se 
considerado o resultado para 2011, constata-se que foi mantida essa evolução 
positiva com a participação registrada de 1,40%, a despeito do cenário econômico 
mundial que continua bastante instável (Figura 2). Do lado das importações o 
comportamento foi similar, favorecidas pelo fato do real ter se mantido 
valorizado durante a maior parte dessa década, mas também associado aos 
resultados econômicos favoráveis ocorridos nesse período.    Figura 2 – Participação Brasileira no Comércio 
Mundial, Exportação e Importação, 2000–2011.              
O detalhamento setorial dessa participação do Brasil mostra que essa evolução 
foi positiva e sustentada para as mercadorias enquadradas como produtos 
primários, isto é, os setores de produtos agrícolas e de combustíveis e 
mineração (Figura 3)2. Vale registrar que, de acordo com a OMC, a 
partir de 2009 as exportações mundiais de produtos agrícolas ultrapassaram as de 
produtos da indústria automobilística e que a participação dos produtos 
primários passou de 22% em 2000 para 30% em 2010.    Figura 3 - Participação Brasileira no Mercado 
Mundial de Mercadorias, por Setores, 2000-2011.              
Quanto ao setor de produtos manufaturados, o desempenho brasileiro mostrou-se 
irregular, com o pico de participação em 2005 e 2006. Ou seja, a queda na 
participação brasileira nesse mercado tem início antes mesmo da eclosão da crise 
financeira internacional, que certamente influenciou os resultados nos anos 
subsequentes (dificuldade para expansão) e, conforme apontado anteriormente, em 
um ambiente de crescimento das trocas internacionais para esses produtos. 
             
Esse perfil primário-agroexportador como determinante da inserção brasileira no 
mercado mundial de mercadorias, se por um lado expressa as aptidões naturais do 
país nesses segmentos produtivos, por outro, se considerado principalmente o 
protecionismo comercial que persiste no mercado agrícola mundial, a despeito das 
rodadas de negociações empreendidas no âmbito da OMC, denota que o padrão de 
competitividade adquirido pelo país nos anos 1990, tanto para produção de 
alimentos como para a produção de combustíveis renováveis, foi consistente e 
estável. Essa competitividade também é reforçada quando se considera a 
valorização da moeda brasileira ocorrida durante essa década, visto que, do 
ponto de vista da balança comercial, atuou no sentido de favorecer as 
importações, ao mesmo tempo em que agiu como força contrária para um melhor 
desempenho do lado das exportações.              
Em resumo, o comércio mundial de mercadorias apresentou evolução positiva na 
primeira década dos anos 2000, comportamento acompanhado pelas exportações 
brasileiras, notadamente na pauta de produtos primários. Os efeitos negativos da 
crise financeira iniciada em 2008 ainda devem influenciar o desempenho de 2012. 
Contudo, dentre os setores em que o país apresenta competitividade, 
principalmente o de produtos agrícolas deverá continuar com trajetória estável, 
se não crescente, em função de sua importância intrínseca (uso na alimentação 
humana e de criações) e, especificamente para o Brasil, em decorrência de sua 
competitividade. Também deverá contribuir para esse cenário a adequação do 
câmbio que teve início nesse ano.  __________________  2Pelo STANDARD INTERNATIONAL TRADE 
CLASSIFICATION - SITC, os produtos primários incluem as seções 0, 1, 2, 3 e 4 e 
divisão 68, isto é, os produtos agrícolas (alimentos e matérias-primas) e 
combustíveis e produtos de indústrias extrativas.  Palavras-chave: exportações de mercadorias, 
setor agrícola, desempenho brasileiro. 
Fonte: ORGANISATION MONDIALE DU COMMERCE - OMC. 
Statistiques du commerce international 2011. Geneva, 2012. Disponível em: 
<http://www.wto.org/french/res_f/statis_f/its2011_f/its11_toc_f.htm>. 
Acesso em: set. 2012. 
 
  
  
  
Fonte: ORGANISATION MONDIALE DU COMMERCE - OMC. 
Statistiques du commerce international 2011. Geneva, 2012. Disponível em: 
<http://www.wto.org/french/res_f/statis_f/its2011_f/its11_toc_f.htm>. 
Acesso em: set. 2012. 
  
  
Fonte: ORGANISATION MONDIALE DU COMMERCE - OMC. 
Statistiques du commerce international 2011. Geneva, 2012. Disponível em: 
<http://www.wto.org/french/res_f/statis_f/its2011_f/its11_toc_f.htm>. 
Acesso em: set. 2012. 
  
  
  
  
  
1ORGANISATION MONDIALE DU COMMERCE – OMC. 
Statisques du commerce international. Geneva 2012. Disponível em: < http://www.wto.org/french/res_f/statis_f/its2011_f/its11_toc_f.htm>. 
Acesso em: set. 2012. 
  
  
Data de Publicação: 05/11/2012
Autor(es): Valquiria da Silva Consulte outros textos deste autor

                    
                        