Artigos
Proposta para o encaminhamento das demandas das Câmaras Setoriais do Agronegócio paulista
                                         
As Câmaras Setoriais têm exercido um papel importante na construção e 
aperfeiçoamento das políticas públicas da Secretaria de Agricultura e 
Abastecimento (SAA), apesar das falhas na condução dos debates ocorridos nas 
mesmas, que muitas vezes se atêm a temas conjunturais em detrimento aos 
estruturais, que são os que realmente podem gerar mudanças para as cadeias 
produtivas. Somado a isso ocorrem também em alguns momentos, falhas nos 
encaminhamentos dados às propostas elaboradas pelas câmaras, dentro da própria 
secretaria, que muitas vezes interfere na concretização de uma ação importante 
para os setores envolvidos ou mesmo leva a decisões que não atentam 
completamente à realidade e, portanto, dificultam sua execução.              
Um dos entraves que corroboram para essas dificuldades ocorre pelo fato de não 
haver um fluxograma objetivo e prioritário que viabilize os encaminhamentos das 
propostas das câmaras e as internalize na SAA, visando um atendimento, com 
respostas técnicas, às preocupações dos setores do agronegócio paulista que, em 
última análise, são os "clientes" das SAA.              
Tendo em conta essa questão, o projeto "O papel institucional das Câmaras 
Setoriais no desenvolvimento do agronegócio paulista: processos, 
especificidades, limites e perspectivas", do Instituto de Economia Agrícola, 
após estudos e avaliação do desenvolvimento dos trabalhos das Câmaras Setoriais, 
a partir de considerações das opiniões de técnicos que estão ou estiveram 
envolvidos na condução dos seus trabalhos, teve como resultado a elaboração de 
um fluxograma que propõe um encaminhamento mais organizado e racional das 
propostas apresentadas pelas diferentes cadeias de produção, que priorizam a 
avaliação dessas por setores competentes da SAA, assim como de agentes externos 
que tenham envolvimento com os temas apresentados.              
A elaboração de um fluxograma pode possibilitar uma dinâmica mais eficiente, 
permitindo que haja um fluxo contínuo, dinâmico e padronizado dos 
encaminhamentos elaborados pelas câmaras com respostas mais ágeis aos setores. 
Esse fluxo representaria um aperfeiçoamento do sistema atual, facilitando e 
democratizando a relação público-privado1.              
Atualmente as proposições, após a decisão das câmaras, são redigidas pela 
Secretaria Geral das Câmaras Setoriais que as encaminham para o coordenador da 
Coordenadoria dos Agronegócios (CODEAGRO) que faz suas considerações e 
posteriormente as repassa ao Gabinete do Secretário Estadual de Agricultura e 
Abastecimento (SAA).              
A partir daí, as propostas não têm caminho definido. São muitas vezes debatidas 
diretamente com os presidentes das Câmaras Setoriais, ou mesmo com 
representantes dessas, ou são encaminhadas a algum órgão competente da SAA, como 
Coordenadoria ou Instituto de Pesquisa, que as envia a um ou mais técnicos para 
que deem seu parecer sobre o tema abordado. Após isso, o documento é 
reencaminhado ao Gabinete que o devolve à CODEAGRO para que seja repassado à 
Câmara interessada que então retoma o tema e avalia o próximo passo a ser 
dado.              
Nesse sistema o que ocorre é que nem sempre as propostas estão ao alcance ou na 
alçada de uma decisão imediata da SAA. No entanto, é ainda o melhor sistema de 
consulta, implantação ou alteração de uma política pública. Em algumas 
situações, isso acontece por falha de entendimento ou de acionamento correto dos 
mecanismos internos da SAA ou mesmo de órgãos externos que tenham competência 
para abordar o tema de forma objetiva e que possam avaliar a proposta da Câmara 
sob um ponto de vista amplo que leve em conta vários aspectos do problema. Isso 
porque não foi previsto, na implantação das Câmaras Setoriais, uma forma 
coerente de encaminhamento.              
No organograma proposto (Figura 1), a idéia é que após o recebimento da 
proposição pelo gabinete da SAA, ela seja estudada com o objetivo de 
encaminhá-la ao órgão competente, ou seja, ou à Comissão Técnica pertinente ou 
ao Fundo de Expansão do Agronegócio Paulista, o Banco do Agronegócio Familiar 
(FEAP/BANAGRO), ou às Coordenadorias ou Institutos de Pesquisa, ou ainda às 
Instituições Externas que avaliariam e responderiam à Chefia de Gabinete. 
Eventualmente, dependendo da matéria a ser avaliada, a própria Assessoria 
Técnica poderá responder à demanda.              
As Comissões Técnicas são instrumentos internos da SAA compostas por 
especialistas das várias unidades da secretaria e têm entre seus objetivos: 
"formular propostas de políticas públicas e as estratégias para atuação das 
unidades da SAA; compatibilizar as recomendações técnicas promovendo sua 
atualização periódica; encaminhar propostas para solução de problemas que 
surgirem no âmbito de sua competência; elaborar pareceres técnicos a respeito de 
matérias pertinentes a elas encaminhadas"2. No total são 35 
comissões, podendo ser instituídas mais se houver demanda e necessidade de 
pareceres especializados. 
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
Figura 1 - Fluxograma para os 
Encaminhamentos das Câmaras Setoriais do Agronegócio na SAA. 
  
Fonte: Elaborada pelos autores.
           
No caso do encaminhamento do material das Câmaras às Comissões, o documento 
seria estudado na comissão específica, por todos os seus componentes, oriundos 
dos vários órgãos da SAA, que fariam considerações sobre sua viabilidade ou não, 
podendo até aperfeiçoá-la ou mesmo sugerir outra proposta, considerando os 
motivos que levaram a isso. Têm como opção "convidar representantes de órgãos e 
entidades públicas e privadas para participar de discussões afetas as 
respectivas comissões"3, que poderiam auxiliar na avaliação. 
  
            
Se o tema for relacionado a crédito ou seguro rural, o encaminhamento seria para 
o FEAP/BANAGRO, órgão competente da SAA para avaliar e viabilizar mudanças na 
política da área, se for da alçada do Estado de São Paulo, e ainda poderia 
atuar, quando necessário, como intermediário nos contatos com órgãos federais 
relacionados ao assunto. 
  
            
Quando a matéria for de competência específica de umas das instituições da SAA, 
o documento deve ser enviado diretamente à Coordenadoria ou Instituto de 
Pesquisa afim para que essa convoque os técnicos competentes da área para 
avaliá-lo, podendo esses simplesmente validar a sugestão ou fazer considerações 
que levem a alterações no material examinado, como ainda sugerir nova 
possibilidade para a resolução da questão proposta. 
  
            
Outra possibilidade é encaminhar a proposição da Câmara Setorial a algum órgão 
externo como Ministérios, outras Secretarias de Estado ou Organizações 
representativas que tenham competência ou saber notório sobre o ponto abordado 
para fazer ponderações sobre o assunto. Nesse caso, o encaminhamento será feito 
diretamente pela Chefia de Gabinete. 
  
            
Nos casos internos, em caso de dúvidas, poderiam ser feitas consultas diretas às 
Câmaras Setoriais envolvidas no processo. Obtidos os esclarecimentos, seria 
feita a avaliação e consideração e posterior devolução ao Gabinete da SAA que a 
reconduziria, pelos trâmites normais, à câmara competente que poderá ponderar 
sobre a resposta recebida e devolver ao órgão avaliador ou, se achar necessário, 
pedir uma reunião com esse. 
  
            
Essa sugestão tem como mérito possibilitar uma tomada de decisão consistente, 
fundamentada em parecer técnico elaborado por órgãos e pessoas competentes nos 
temas abordados e garantir um debate profícuo que esgote o tema, a fim de quando 
se aceitar ou descartar uma proposta essa tenha fundamentação e não seja 
definida sem considerações consistentes. 
  
            
A implantação desse fluxograma fortaleceria as políticas públicas da SAA já que 
as demandas das Câmaras Setoriais seriam implantadas ou alteradas após sua 
validação técnica o que daria um caráter mais democrático às decisões, além de 
diminuir a necessidade de constantes mudanças na condução de políticas para a 
agricultura paulista, fazendo com que as definições sejam mais consistentes e 
fundamentadas. 
  
            
Pode possibilitar uma dinâmica mais eficiente, permitindo que haja um fluxo 
contínuo, dinâmico e padronizado dos encaminhamentos elaborados pelas câmaras 
com respostas mais ágeis aos setores. Esse fluxo representaria um 
aperfeiçoamento do sistema atual, facilitando e democratizando a relação 
público-privado. 
  
            
O fluxograma proposto respeita a hierarquia da SAA, mas garante uma relação 
forte e eficiente com os órgãos da SAA (Comissões Técnicas, FEAP/BANAGRO e 
Coordenadorias e Institutos de Pesquisa) nas quais há técnicos especializados 
das diferentes cadeias produtivas, sendo por isso espaços adequados para se 
avaliar e debater as reivindicações dos diferentes setores. Com isso se obteria 
uma maior credibilidade nas modificações ou implantações de políticas públicas 
para a agricultura do Estado de São Paulo, com vistas à sua maior 
competitividade. 
  
1SILVA, R. O. P.; STAUDT, N. P.; VERDI, A. R. Câmaras setoriais do agronegócio paulista: o novo papel do estado junto à sociedade civil. Informações Econômicas, São Paulo, v. 39, n. 4, abr. 2009.
2Op. cit. nota 1. 
  
3SÃO PAULO (Estado). Secretaria de Agricultura e Abastecimento. Resolução n. 11, de 26 de fevereiro de 2010. Institui Comissões Técnicas. Diário Oficial do Estado de São Paulo, 02 mar. 2010.
Palavras-chave: câmaras setoriais, demandas, fluxograma.
Data de Publicação: 27/04/2011
                Autor(es): 
                Rosana de Oliveira Pithan e Silva (rosana.pithan@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Nelson Pedro Staudt  (nelson@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Adriana Renata Verdi (averdi@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor              

                    
                        