Artigos
Custos de Produção da Cana-de-açúcar:subsídios para análise
                                   O 
conceito clássico de custo de produção é a soma dos valores de todos os serviços 
produtivos dos fatores utilizados na obtenção de um bem qualquer, sendo que o 
valor global equivale ao sacrifício monetário da firma que o 
produz.              Na 
prática, isto implica que todos os fatores utilizados para produzir determinado 
bem devem ser remunerados. O custo total é constituído pelos custos fixos e 
variáveis, compreendendo, inclusive, os relativos a terra, capital e 
empresário.              Ao 
nível da propriedade agrícola é possível se chegar com razoável precisão a uma 
estimativa de custo total de produção, pois mesmo para itens cuja mensuração é 
subjetiva, o próprio empresário determinará os valores referentes ao seu caso 
particular. O problema reside quando o objetivo é o cálculo de estimativa de 
custos de um produto - determinada atividade agrícola - onde se tem de chegar a 
um dado médio que represente o segmento produtivo.              A 
percepção dessa dificuldade fez com que o Instituto de Economia Agrícola 
(IEA),desenvolvesse a partir de 1972, metodologia própria de cálculo de custos: 
CUSTO OPERACIONAL DE PRODUÇÃO1, alternativamente a de Custo Total de 
Produção, que realizava desde a década de 50.              O 
Custo Operacional de Produção compõe-se de itens de despesas diretas e 
indiretas. As despesas diretas formam o Custo Operacional Efetivo (COE) e 
incluem desembolsos com: mão de obra, sementes, fertilizantes/corretivos, 
pesticidas, combustíveis/lubrificantes, reparos do maquinário e medicamentos, 
este último, no caso de criações. Das despesas indiretas a metodologia considera 
os juros bancários de custeio e a depreciação dos bens duráveis envolvidos no 
processo produtivo.              
Ressalta-se, todavia, que o IEA não elimina a necessidade da remuneração de 
todos os fatores de produção envolvidos no processo produtivo agrícola, para a 
sustentabilidade do negócio. Ou seja, as remunerações não consideradas na 
estrutura de Custo Operacional de Produção, poderão e devem ser estimadas, 
individualmente, pelo produtor agrícola e, uma vez computado o custo total de 
produção, é este parâmetro que deve balizar a sua decisão de continuar, ou não, 
na atividade, no médio e longo prazo.              Sobre 
as estimativas de custos de produção propriamente ditos, e relativos aos 
levantamentos de coeficientes técnicos de utilização de fatores e insumos - 
parâmetros básicos para o cálculo dos custos - o IEA retomou essa linha de 
trabalho, novamente de forma sistemática, em fins de 2009, por perceber a grande 
lacuna na disponibilização desse tipo de informação e pela grande demanda do 
setor. Desde a criação da metodologia de Custo Operacional pelo IEA, ela vem 
sendo aperfeiçoada, para internalizar as mudanças ocorridas no campo, 
decorrentes de alterações dos pacotes tecnológicos e da legislação 
brasileira2,3. Tem sido referência para outras instituições de 
pesquisa e entidades de classe.              Neste 
sentido, para a obtenção dos resultados obtidos em 2010, para o cultivo da 
cana-de-açúcar de fornecedores nas diferentes regiões do Estado de São Paulo, 
foi revista a estrutura de desembolsos, adequando-a às condições atuais da 
legislação trabalhista na agricultura, referentes aos encargos sociais, que não 
vinham sendo contabilizados como despesa efetiva na produção, sendo agora 
incorporadas ao COE (Custo Operacional Efetivo), ao ser considerado um 
desembolso direto do produtor4.              A 
atividade de cana-de-açúcar, constituída da cana em fase de preparação do solo, 
cana planta e cana soca (no geral de quatro a cinco cortes), é gerenciada como 
uma atividade única, guardando as especificidades na condução dos talhões e 
respectivos anos da produção. O custo de produção por hectare foi calculado como 
o custo médio de 5 cortes, considerando-se que um canavial, em geral, possui 20% 
da área em fase de preparo do solo e plantio, 16% em cana planta, mais 16% em 
fase de soca com 2, 3, 4 e 5 anos de idade. A média ponderada das despesas com 
estas operações mais os custos com colheita, carregamento e transporte 
constituem os custos de produção estimados nesse trabalho. As produtividades 
consideradas representam a média dos cinco cortes e foram obtidas junto aos 
produtores e, ratificados pelas associações municipais de fornecedores de 
cana.              Os 
valores de custos de colheita, empreitas e arrendamento foram levantados em cada 
região. Nota-se que em casos de arrendamento, os custos relativos à remuneração 
da terra são mais fáceis de serem calculados. Porém, o valor do arrendamento não 
foi adicionado ao COT, deixando ao produtor a opção de incorporá-lo ao seu 
custo, quando for o caso. Nos custos de colheitas, estão incorporados os gastos 
com carregamento e transporte, considerando uma distância média de 40 km (ida e 
volta) até a usina.              Desse 
modo os itens considerados no cálculo das estimativas de custo de produção de 
cana-de-açúcar para as diferentes regiões e sistemas de produção no estado de 
São Paulo foram:              a) 
Custo Operacional Efetivo (COE) que representa as despesas anuais, efetuadas 
com insumos, operações de máquinas, veículos e equipamentos, mão de obra, 
encargos sociais (adotou-se como sendo 95% para mão de obra comum e 70,5% para 
tratorista e motorista, sobre os gastos com mão de obra) e empreitas, 
relacionadas com as operações de preparo do solo, plantio, cana planta, cana 
soca e colheita;              b) 
Custo Operacional Total (COT): é o custo operacional efetivo adicionado de 
juros de custeio (6,75% a. a. em metade do COE anual); Contribuição à Seguridade 
Social Rural (CSSR) (2,30% do valor do rendimento ao preço de venda de R$46,36/t 
de cana); e as depreciações das máquinas, veículos e equipamentos. 
             Uma 
vez que os custos operacionais aqui mensurados servem como remuneração da 
atividade no curto prazo, os preços recebidos pelos produtores devem remunerar 
os custos aqui considerados e apresentar margem suficiente para remunerar os 
demais custos incorridos na produção que não foram contemplados no 
estudo.              
Finalmente, é importante destacar que há décadas o IEA vem utilizando 
metodologia para mensuração do custo de produção agrícola, aplicando-a às mais 
diversas culturas e criações. Tal processo resultou na construção e contínuo 
aprimoramento de um método que, quando corretamente aplicado, é capaz de 
evidenciar os principais pontos de estrangulamento do processo produtivo, em 
termos técnicos e econômicos, os quais o administrador deve focar com vistas a 
incrementar a competitividade de seu esforço produtivo. 
 ______________________________________________________________________________________________________ 
 2MELLO, N. T. C. et 
al.Proposta de nova metodologia de custo de produção do Instituto de Economia 
Agrícola. São Paulo: IEA, 1978. 13 p. (Relatório de Pesquisa). 
 3CÉZAR, S. A. G. et al. 
Sistemas de produção dentro de uma abordagem metodológica de custos agrícolas. 
Agricultura em São Paulo, São Paulo, v. 38, n. 2, p. 117-149, 
1991.  4OLIVEIRA, M.D. O. 
NACHILUK, K. Custo de produção de cana-de-açúcar nos diferentes sistemas de 
produção nas regiões do Estado de São Paulo Informações Econômicas, SP, 
v.41, n.1, jan. 2011  Palavras-chave: custo de produção, 
custo operacional, metodologia de custo de produção.   
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
1MATSUNAGA, M. et al. 
Metodologia de custo utilizada pelo IEA. Agricultura em São Paulo, São 
Paulo, v. 23, t. 1, p.123-139, 1976. 
  
  
  
  
Data de Publicação: 04/02/2011
                Autor(es): 
                Marli Dias Mascarenhas Oliveira (marlimascarenhasoliveira@gmail.com) Consulte outros textos deste autor
Katia Nachiluk  (katia.nachiluk@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Nilda Tereza Cardoso De Mello (nilmello@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor              

                    
                        