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Ocupação de Mão de Obra na Cafeicultura Paulista
                     1             A 
cultura do café há muito não é o principal cultivo no Estado de São Paulo e é 
uma das lavouras que exibem encolhimento em termos de área ocupada. Contudo, a 
cultura é muito importante quanto ao aspecto social, pois estava presente em 
"21.742 UPAs ocupando uma área de 211.533,65 ha no Estado em 2008. A redução de 
área é compensada pelo incremento no número de plantas que saltou de 380 milhões 
em 1996 para 512 milhões em 2008, ou seja, incremento de 34,6% no parque 
cafeeiro sem prejuízo à produção, que apresentou taxa de crescimento de 1,04% 
a.a."2 Embora existam diferentes tipos de colheita, a manual ainda é 
adotada em muitas regiões, em especial nas que possuem terrenos 
irregulares. 
             Dadas 
as diferentes características tecnológicas e estruturais das regiões cafeeiras 
paulista, onde se destaca o uso intensivo e sazonal de trabalho, este estudo 
visa atualizar os dados estatísticos sobre a ocupação de mão de obra na 
cultura. 
             A 
metodologia para obtenção dos dados primários foi baseada em desenho de amostra 
probabilística estratificada dos informantes do Levantamento Censitário de 
Unidades de Produção Agropecuária 2007/08 (Projeto LUPA). A estratificação 
seguiu dois critérios: 
 b) dimensional - segundo tamanho do parque 
cafeeiro medido em hectares, a saber: 
 2) entre 2 e 5 ha; 
 3) entre 5 e 10 ha; 
 4) entre 10 e 20 ha; 
 5) entre 20 e 50 ha; 
 6) entre 50 e 100 ha; 
 7) entre 100 e 180 ha; e 
 8) estrato censitário com unidades de 
produção agropecuárias que continham área cultivada com café superior a 180 
ha.  Figura 1 – Localização Geográfica dos 
Eixos Cafeeiros, Estado de São Paulo, 2010.              As 
informações têm como referência a safra 2009/10 e o período de coleta dos dados 
ocorreu em julho e agosto de 2010, mediante aplicação de questionário 
estruturado nas áreas que compõem a unidade de produção 
agrícola. 
             Para 
a safra de 2010, espera-se produção3 de 4.560,0 mil sacas de café 
beneficiado para o Estado de São Paulo, com incremento de 35,1% frente às 
3.375,2 mil sacas obtidas na safra 2009. A área de café foi de 175.679,0 ha e a 
produtividade das lavouras paulistas alcançou a média de 27 sc./ha (Tabela 
1). 
 Tabela 1 - Estimativa de Área, Produção e 
Número de Pessoas Ocupadas na Cafeicultura, Estado de São Paulo, 
2010 
 Ourinhos-Avaré             O 
total de plantas foi estimado em 499,5 milhões, ocupando 175.679,0 ha, resultado 
do incremento da densidade de cultivo que evoluiu para 2.844 pl/ha atuais, 
frente às 2.420 pl/ha (LUPA 2007/08), ou seja, expansão de 17,5% no estande 
médio das lavouras paulistas4. 
             De 
acordo com informações do levantamento especial realizado entre julho e agosto 
de 2010, a cafeicultura paulista ocupou 76,7 mil pessoas distribuídas nas 
categorias de proprietário, arrendatário, parceiro (e seus respectivos 
familiares) e de trabalhadores assalariados, considerando-se residentes e não 
residentes nas UPAs. Deste total, a categoria proprietário (e familiares) 
participou com 37,9%, os parceiros com 5,5%, a categoria arrendatário com 0,5% 
e, em maior proporção, os assalariados com 56,1% (Tabela 2). 
 Tabela 2 - Estimativa da População 
Residente e Não Residente na UPA, por Categoria de Ocupação nas Regiões 
Cafeeiras, Estado de São Paulo, 2010 
 e São João da Boa 
      Vista sudoeste de 
      Ourinhos-Avaré e São João da Boa 
      Vista sudoeste de 
      Ourinhos-Avaré             O 
número de arrendatários e familiares (residentes e não residentes nas UPAs) tem 
diminuído na cafeicultura paulista. No levantamento de 2006, a participação 
desta categoria era de 7,0% do Estado, ou seja, com 2.475 pessoas com 24,0% 
destes residindo nas unidades produtivas5. Em 2010, foram totalizadas 
384 pessoas nesta categoria, com 105 arrendatários residentes na 
UPA. 
             A 
categoria assalariado (residente e não residente na UPA) apresentou maior 
representatividade na ocupação de mão de obra no cultivo de café no Estado de 
São Paulo (43.035 pessoas), notadamente os não residentes na UPA, que 
totalizaram 28.728 pessoas. Esses informes sinalizam mudança estrutural na 
ocupação de mão de obra na cafeicultura em relação a períodos anteriores, pois 
este cultivo sempre priorizou a mão de obra residente nas fazendas, com destaque 
para proprietários, arrendatários, parceiros e seus 
familiares. 
             O 
principal eixo produtor paulista, Alta Mogiana de Franca, espera colher a 
quantidade de 1.545,9 mil sacas de café beneficiado na safra 2010, com 
incremento de 36,4%, em relação à safra de 2009, que obteve 1.133,5 mil desse 
produto. O grande volume de precipitações ao longo de 2009 e o adequado manejo 
agronômico adotado pelos cafeicultores da região são fatores responsáveis pela 
elevada produtividade dos talhões, calculada em 33 sc./ha. Com a colheita 
praticamente encerrada, os cafeicultores ainda mantêm mobilizadas suas máquinas 
na realização do trabalho de varreção que deverá ser utilizado em, 
aproximadamente, 30% da quantidade total colhida. Esse eixo produtor ocupou 
11.551 pessoas e a principal categoria arregimentada foi a assalariada, que 
representou 65,6%, enquanto a categoria proprietário e seus familiares obteve 
27,3%. 
             Na 
região Montanhas da Mantiqueira, que compreende os municípios dos EDRs de 
Bragança Paulista, Mogi-Mirim e São João da Boa Vista, a produção esperada para 
a safra 2010 será de 1.226,7 mil sc. beneficiadas. Comparando com o ciclo 
anterior, em que foram colhidas 883.295 sacas, constatou-se expansão de 38,9% na 
oferta regional, com produtividade de 23 sc./ha. A condição de montanha alonga o 
ciclo produtivo das plantas. Assim, em torno de 30% das lavouras ainda 
permanecem à espera da colheita, especialmente, nas grandes propriedades. O alto 
custo da mão de obra rural para prestação do serviço de colheita do café e a 
concorrência por trabalhadores pelas outras culturas, como batata, cebola e 
morango, são fatores responsáveis pelo atraso na apanha dos grãos. A 
diversificada indústria regional e os serviços conexos a ela também imprimem 
forte concorrência pela mão de obra de menor capacitação, usualmente empregada 
na cafeicultura. Nesta região, a participação das categorias que mantêm relação 
de produção foi maior em comparação às outras regiões, ou seja, foram ocupados 
11.557 proprietários e seus familiares e 2.033 parceiros e familiares. Mesmo não 
tendo finalizada a colheita, o número de assalariados (residentes e não 
residentes), até julho, foi de 13.641 pessoas. Esta região tem ocupado o maior 
número de trabalhadores no Estado. 
             É 
nesta região, também, que se constatou desânimo muito acentuado com o futuro da 
lavoura. Por se tratar de uma cafeicultura de montanha, há uma pressão sobre os 
custos para os quais as cotações vigentes, nos últimos anos, não foram capazes 
de suportar. Ademais, percebe-se nessa cafeicultura a prevalência de produtores 
familiares já mais idosos e com dificuldades de sucessão para a condução das 
lavouras. Na ausência de mão de obra familiar para realizar os tratos culturais 
e colheita, e dado o alto custo de contratação para esses serviços no mercado de 
trabalho local, muitos cafeicultores erradicaram seus talhões. A conversão para 
pastagens tem sido a alternativa mais frequente. 
             O 
espigão de Garça-Marília e sudoeste de Ourinhos-Avaré caracterizam-se pela 
preponderância de lavouras novas e do emprego mais frequente da irrigação, 
especialmente na primeira localidade citada. Esses fatores explicam o incremento 
da atual safra, estimada em 1.176,5 mil sacas de café beneficiado. Na safra 
anterior, o volume obtido foi de 837,5 mil sacas. Isto significa que a expansão 
da oferta no atual ciclo alcançará 40,5% de incremento. Observou-se elevado 
percentual de varreção também nessa região. Entre 20% e 30% do total do café 
colhido será proveniente dessa técnica. Nessa região, os cafeicultores 
familiares encerraram a colheita, enquanto os empresariais ainda possuem 40% dos 
talhões a serem colhidos. É a segunda região na arregimentação de mão de obra e 
destaca-se quanto à ocupação da categoria arrendatário e seus familiares, tanto 
residentes quanto não residentes. A penetração das variedades de maturação mais 
tardia é grande nessa região. Assim, provavelmente, ao longo de todo o mês de 
setembro ainda ocorrerá colheita nessa região. 
 ______________________ 
 2FRANCISCO, V. L. F. et al. 
Estrutura produtiva da cafeicultura paulista. Informações Econômicas, São 
Paulo, v. 39, n. 8, p. 42-48, ago. 2009. 
 3A estimativa apresenta um 
coeficiente de variação de 4,4%. O valor varia entre 4.560 mil e 4.979 mil 
sc./60 kg, com média de 4.770 mil sc./60 kg. 
 4TORRES, A. J. et al. 
Relatório estimativa de safra cafeeira paulista, 2010 - Agosto de 2010. 
Governo do Estado de São Paulo, 2010. 14 p. (mimeografado). 
 5 VEIGA, J. E. R.; BAPTISTELLA, 
C. S. L. O emprego na cafeicultura paulista: situação atual. Análises e 
Indicadores do Agronegócio, São Paulo, v. 2, n. 3, mar. 
2007. 
 Palavras-chave: cafeicultura, regiões cafeeiras, trabalho 
rural. 
  
 
 
Fonte: Elaborada pelos 
autores. 
  
  
Fonte: Dados elaborados pelos autores com base em 
CONAB/CATI/IEA. 
     
   . 
    
       
    
(ha)
       
    
       
    
(sc. 60 kg)
       
    
       
    
(n.)
       
     
  Alta Mogiana de Franca 
    
       
    
       
    
       
    
       
    
       
    
       
     
  Montanhas da Mantiqueira de Bragança Paulista, 
    
       
    
       
    
       
    
       
    
       
    
       
     
  Mogi-Mirim e São João da Boa Vista 
    
     
     
     
     
     
     
  Espigão Garça-Marília e sudoeste de  
       
    
       
    
       
    
       
    
       
    
       
    
       
     
  Demais regiões 
    
       
    
       
    
       
    
       
    
       
    
       
     Estado 
    
       
    
       
    
       
    
       
    
       
    
       
  
  
Fonte: Elaborada pelos autores com base em 
CONAB/CATI/IEA. 
     
  UPA 
    
       
    
       
    
       
     
  
       
    
       
    
       
    
residente
       
    
       
    
       
    
       
    
       
     
  Alta Mogiana de Franca 
    
       
    
       
    
       
    
       
    
     
       
    
       
    
       
    
       
     
  Montanhas da Mantiqueira de Bragança Paulista, 
      Mogi-Mirim  
       
    
       
    
       
    
       
    
       
    
     
       
    
       
    
       
    
       
     
  Espigão Garça-Marília e  
       
    
       
    
       
    
       
    
       
    
     
       
    
       
    
       
    
       
     
  Demais regiões 
    
       
    
       
    
       
    
       
    
     
       
    
       
    
       
    
       
     
  Estado 
    
       
    
       
    
       
    
       
    
       
    
       
    
       
    
       
    
       
     
  UPA 
    
       
    
     
       
     
  
       
    
       
    
       
    
residente
       
    
       
    
       
    
       
    
       
     
  Alta Mogiana de Franca 
    
       
    
       
    
       
    
       
    
     
       
    
       
    
       
    
       
     
  Montanhas da Mantiqueira de Bragança Paulista, 
      Mogi-Mirim  
       
    
       
    
       
    
       
    
       
    
     
       
    
       
    
       
    
       
     
  Espigão Garça-Marília e  
       
    
       
    
       
    
       
    
       
    
     
       
    
       
    
       
    
       
     
  Demais regiões 
    
       
    
       
    
       
    
       
    
     
       
    
       
    
       
    
       
     Estado 
    
       
    
       
    
       
    
       
    
       
    
       
    
       
    
       
    
       
1As autoras agradecem a CONAB e 
a estagiária Natalia Cruz de Sousa. Estudo integrante do projeto CONAB/CATI/IEA, 
Carta Acordo n.10.971/2010. 
Data de Publicação: 21/09/2010
                Autor(es): 
                Celma Da Silva Lago Baptistella (csbaptistella@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
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