A produção paulista de amendoim em 2009 atingiu 223,47 mil toneladas, numa área de 78 mil hectares plantados em duas safras. Esse resultado aponta ganhos em produtividade em comparação ao ano de 2008, quando foram produzidas 217 mil toneladas de amendoim em casca, praticamente na mesma área.

            A safra 2008/09 encontrou condições ideais - clima favorável à cultura e bons preços na época do plantio das águas¹ - que garantiram investimento e produtividade. Porém, as mesmas expectativas não estavam presentes na época de plantio da seca que registrou queda de 25% na área plantada em comparação a safra 2008², situação que acompanha o comportamento dos preços médios recebidos pelos produtores: os valores nominais da saca de 25 kg de amendoim em casca variaram entre R$31,25 e R$32,37 nos meses de agosto a outubro de 2008, época do plantio das águas³. Os mesmos patamares não foram acompanhados em 2009, pois o preço médio da saca era de R$22,50 em janeiro e R$19,69 em março, justamente o período que antecede os preparativos do plantio da seca.

            A queda brusca de preços pode encontrar explicação no aumento da oferta de amendoim ocorrido pela soma do volume produzido na safra 2008/09 e dos estoques de passagem da safra anterior. Também pode estar na conjuntura econômica mundial presente nos meses finais de 2008 até meados de 2009, que influenciaram as condições de exportação de amendoim e das cotações do produto no mercado interno. Além disso, em 28 de janeiro de 2009, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) publica a Instrução Normativa n. 3 que estabelece critérios e procedimentos de controle higiênico-sanitário na cadeia de produção do amendoim e seus subprodutos destinados ao consumo humano no mercado interno, na importação e na exportação. Dentre os critérios está o sistema de rastreabilidade e das boas práticas, a certificação (CSH), o controle das exportações e importações, bem como a definição das normas amostrais para detecção e controle de aflatoxina.

            As novas regras exigiram adaptações e ajustes dos estabelecimentos beneficiadores e exportadores em suas rotinas de trabalho. Porém, uma vez que os volumes exportados foram ampliados, as novas regras pouco influenciaram o ritmo das exportações. Em 2009, o destaque fica para o amendoim descascado que respondeu por 58% do volume total exportado das mercadorias da cadeia de produção do amendoim, em torno de 86 mil toneladas e, também, para o óleo bruto com 40% desse total.

            A tabela 1 apresenta a evolução das exportações de amendoim descascado nos anos de 2007, 2008 e 2009, com informações agrupadas em trimestres para cada ano. É possível notar que os volumes exportados se ampliam ano a ano, mas ao considerar valores, os anos de 2007 e 2009 apresentam cotações próximas. Já para o terceiro trimestre de 2008, a relação valor e volume exportado é a mais alta da série. Em comparação ao segundo trimestre, são 63% a mais em valores e um aumento de 50% no volume exportado. Essa situação trouxe reflexos no mercado interno, já que a alta dos preços médios recebidos pelos produtores, justamente nos meses de plantio da safra das águas, impulsionou o aumento da área plantada e, no final do ciclo de plantio, as boas expectativas de retorno do investimento na produção refletem o incremento em produtividade e em produção. Essa condição de mercado pouco durou, visto que no primeiro trimestre de 2009 há retração nos valores e novos patamares são estabelecidos nos trimestres seguintes. No mercado interno, é forte a queda nos preços médios recebidos pelos produtores, encerrando o mês de junho de 2009 com a saca custando R$16,36, em torno de 50% a menos que os preços médios praticados em junho de 2008, resultado das condições externas de mercado e da grande oferta interna de produto. A recuperação dos preços inicia-se em julho de 2009, mês que encerra o trimestre em que são intensificadas as exportações de óleo bruto de amendoim.

Tabela 1 - Exportações Brasileiras de Amendoim Descascado, em Trimestres, 2007-2009

            A tabela 2 mostra o gradual aumento nos volumes exportados de óleo bruto de amendoim. No segundo trimestre de 2009 foram exportados volumes muito próximos aos registrados na soma dos três primeiros trimestres de 2008 e um aumento de mais de 200% em comparação ao primeiro de trimestre de 2009. Em relação aos valores, o comportamento é bastante próximo ao observado nas exportações do amendoim descascado, embora o óleo bruto mostre-se um produto de maior valor agregado em comparação ao amendoim descascado.

Tabela 2 - Exportações Brasileiras de Óleo Bruto de Amendoim, em Trimestres, 2007-2009

            Essa dinâmica revela que, há pelo menos 40 anos, o mercado de óleo era o foco do amendoim brasileiro. Hoje, o amendoim em grão de alta qualidade permanece como o principal produto da cadeia de produção, embora o mercado de óleo também apresente atrativos que em 2009 se colocaram como uma opção na tentativa de amenizar os resultados econômicos da volumosa safra 2008/09 com preços magros, dinâmica que também não é nova na trajetória de produção do amendoim paulista, marcada por safras grandes com preços altos seguidas de preços em queda e de uma safra menor e menos eufórica.

            Nessa tendência, o Estado de São Paulo, responsável por 80% da produção nacional de amendoim e por praticamente o total das exportações, tem estimativas que apontam redução de 13% na área plantada para o plantio das águas na safra 2009/10⁶. As regionais agrícolas da Alta Mogiana, onde a concorrência com a soja e com a renovação de canaviais é importante na definição das áreas de plantio, apresentam as maiores quedas. O levantamento de intenção de plantio da região da Alta Paulista aponta informações próximas às registradas no mesmo levantamento do ano anterior.

            Outro ponto importante no contexto de plantio e colheita da safra está no investimento na produção. Para 2009/10 o custo de produção foi estimado em R$2.712,00 para as variedades rasteiras e R$2.442,00 para as eretas⁷, ficando abaixo do registrado na safra anterior, reflexo da redução de preços dos insumos. Quanto aos preços médios recebidos pelos produtores, o saco encerra 2009 em R$23,80 e inicia 2010 em R$21,90⁸. Embora registrada a queda, os preços ainda são maiores que os praticados nos meses de agosto (R$19,48) e de setembro (R$19,63) de 2009, o que pode expressar a tendência de alta e a redução dos estoques de passagem em comparação a 2008/09. Assim, desde que as condições climáticas favoreçam a cultura, a nova safra paulista de amendoim, ainda que caminhe em condições distintas da safra anterior, poderá manter-se próxima da média de produção e produtividade alcançada nos últimos quatro anos.

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¹Na safra 2008/09, o plantio das águas respondeu por mais 90% da produção total de amendoim em casca no Estado de São Paulo.

²CASER, D. V. et al. Previsões e estimativas das safras agrícolas do Estado de São Paulo, ano agrícola 2008/09, junho de 2009. Informações Econômicas, São Paulo, v. 39, n. 8, p. 81-99, ago. 2009.

³Quadrissemana, Instituto de Economia Agrícola (IEA). Disponível em: <https://iea.agricultura.sp.gov.br/out/arquivo AN.php?codTipo=1>. Acesso em: 08 dez. 2009.

⁴MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO, INDÚSTRIA E COMÉRCIO EXTERIOR - MDIC/SECRETARIA DE COMÉRCIO EXTERIOR - SECEX. Sistema ALICEWEB. Disponível em: <http://aliceweb.desenvolvimento.gov.br>. Acesso em: 20 jan. 2010.

⁵Ibidem.

⁶CASER, D. V. et al. Previsões e estimativas das safras agrícolas do Estado de São Paulo, ano agrícola 2009/10, intenção e plantio, e levantamento final, ano agrícola 2008/09, setembro de 2009. Informações Econômicas, São Paulo, v. 39, n. 11, p. 69-88, nov. 2009.

⁷Estimativa baseada na metodologia de custos de produção do IEA. Coeficientes técnicos fornecidos pela Coplana e pela Copercana e preços de insumos praticados em agosto de 2009.

⁸PINATTI, E. et al. Preços Agropecuários: alta de 0,08% na segunda quadrissemana de janeiro. Disponível em: <https://iea.agricultura.sp.gov.br/out/verTexto.php?codTexto=11829>. Acesso em: 25 dez. 2009.

Palavras-chave: amendoim; safra 2008/09; safra 2009/10; exportações.