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LUPA 2007/2008 e a Cultura da Seringueira no Estado de São Paulo
                     1 - Introdução 
             A 
heveicultura paulista cresceu nos últimos 12 anos1 a uma taxa de 6,6% 
em produção e de 5,9% no número de pés como consequência de medidas de estímulo 
a P&D, melhoria tecnológica, treinamento de mão-de-obra e encorajamento à 
produção consorciada. 
             
Aspectos indiretos, porém não menos importantes, atuam como fatores de incentivo 
para que o crescimento da atividade se acentue. Características próprias do 
cultivo florestal, como proteção ao solo e aos mananciais, e a capacidade do 
sequestro de carbono (que evita o acúmulo dos gases do efeito estufa) conferem a 
esta atividade importância estratégica. Além dos fatores ambientais, outras 
características da heveicultura atuam como fatores de estimulo à atividade: sua 
madeira pode ser comercialmente explorada e, durante a formação das áreas, mesmo 
quando as árvores estão em produção, outras atividades agrícolas podem ser 
implantadas: milho, amendoim, feijão, cacau, café e também apicultura. Assim, 
verdadeiros sistemas agroflorestais são formados e, além de maximizar o uso da 
área, minimizam os custos de implantação do seringal. O período de formação da 
cultura é de sete a dez anos, quando se considera o plantio até o início da 
produção por volta dos oito anos, e pode chegar aos 12 anos quando se contempla 
a produção no seu maior potencial. 
             O 
consumo brasileiro de borracha natural está em torno de 300 mil t/ano e a 
produção é de, aproximadamente, 100 mil t/ano. Portanto, o descompasso entre 
consumo e produção tende a se ampliar pois o percentual de crescimento da 
produção é menor que o do consumo. Do total de borracha natural utilizado pela 
indústria nacional, 82,0% tem como destino a indústria pesada (representada pela 
indústria de pneus) e 18,0% a indústria leve de artefatos de 
borracha. 
             O 
suprimento do mercado interno do produto fica a cargo dos grandes produtores 
mundiais localizados na Ásia (principalmente Indonésia, Tailândia e Malásia) 
onde se avizinha o limite de suas produções. 
             O 
Brasil desponta como o país com maior potencial no panorama mundial para atender 
a demanda crescente, principalmente dos países em desenvolvimento como a Índia e 
a China, que apresentam ritmos de crescimento acelerado. Por apresentar ainda 
áreas disponíveis e condições edafoclimáticas favoráveis à cultura sem 
comprometer suas áreas de mata natural, o país tem como aumentar 
significativamente sua produção de látex apenas com a utilização de áreas com 
pastagens degradadas ou subutilizadas por culturas de menor expressão 
comercial. 
             Por 
representar o Estado brasileiro com maior participação na produção de borracha e 
para verificar com mais detalhes as características do setor, pretende-se 
utilizar o projeto LUPA 2007/2008 como meio de observação. 
 2 - Resultados Recentes para São 
Paulo 
             A 
renda bruta na agricultura do Estado de São Paulo em 2008 foi de R$38,5 bilhões, 
conforme Tsunechiro et al. (2009)2, na qual a borracha ocupa o 21° 
lugar, com R$246,6 milhões. O total alcançado em 2008 é 45,8% acima do valor 
obtido em 2007. Esta variação está muito além da atingida para o Estado que foi 
de 21,4% e se justifica pela alta no preço do látex (12,4%) e pelo acréscimo na 
produção (27,8%), comparando-se as duas safras. 
             Os 
números obtidos no Levantamento Censitário de Unidades de Produção Agrícola do 
Estado de São Paulo (LUPA) de 1995/1996 acusavam 2,4 mil unidades de produção 
(UPA) que se dedicavam à seringueira, em uma área de 40 mil hectares, 
correspondendo a 17 milhões de pés. 
             Os 
resultados do LUPA (2007/2008) mostram que o número de UPAs quase que dobrou em 
relação ao levantamento anterior, passando a 4.402 unidades em uma área de 
77.370,4ha. A densidade média de plantio passou de 425pés/ha, em 1996, para 
468pés/ha, em 2007/2008, em aproximadamente 36 milhões de 
pés. 
             São 
26 municípios em São Paulo que totalizam quase 50% da área com seringueira 
(Tabela 1), concentrada principalmente na região noroeste do Estado (Figura 1). 
O tamanho do seringal, em sua maior parte, tem de 10 a 100ha, sendo que 
pouquíssimas UPAs aparecem com seringais entre 500 e 1.000ha (apenas 2% das 
áreas com seringueira têm essa dimensão). 
             Nas 
unidades de produção onde há a seringueira, também se explora culturas 
temporárias (anuais e semiperenes), seguida das perenes e de reflorestamento 
(eucalipto e pinus). Também aparece, em maior escala, bovinocultura de corte, 
suinocultura, ovinocultura e, com menor expressão, avicultura de corte e 
postura. 
             Com 
relação aos indicadores socioeconômicos, constatou-se que em cerca de 80% das 
UPAs, equivalendo a 87% do total da área com seringueira, os proprietários não 
residem na unidade produtiva. Quanto à escolaridade, o seu alto nível parece ser 
um traço da cultura, pois mais da metade dos produtores possuem até o superior 
completo, e respondem por mais de 70% da área plantada (Figura 2). Por outro 
lado, ainda é relativamente baixo o uso do computador na atividade agropecuária 
e no acesso à internet (12%). Quanto à assistência técnica, os heveicultores 
procuram tanto a oficial quanto a privada, mas a busca ainda é maior pela 
assistência técnica oficial, justificando o importante papel do extensionista 
para esse grupo de produtores (35%) que correspondem a 24% da área total 
cultivada com seringueira (Figura 3).  Tabela 1 – Percentual de Área Plantada 
com Seringueira, Principais Municípios, Estado de São Paulo, 
2007/2008  Fonte: Projeto LUPA 2007/2008 (SAA/CATI/IEA, 
2009)3. 
  
  
  
  
     
  Município 
    
       
     
  Monte Aprazível 
    
       
     
  Tanabi 
    
       
     
  Barretos 
    
       
     
  Balsamo 
    
       
     
  Nhandeara 
    
       
     
  Olímpia 
    
       
     
  Palestina 
    
       
     
  Colina 
    
       
     
  Votuporanga 
    
       
     
  José Bonifácio 
    
       
     
  Tupã 
    
       
     
  Tabapuã 
    
       
     
  Macaubal 
    
       
     
  Garça 
    
       
     
  Neves Paulista 
    
       
     
  Buritama 
    
       
     
  Guararapes 
    
       
     
  Estrela D'oeste 
    
       
     
  Poloni 
    
       
     
  Nova Granada 
    
       
     
  Guapiaçu 
    
       
     
  Planalto 
    
       
     
  Mirassol 
    
       
     
  Mirassolândia 
    
       
     
  Parapuã 
    
       
     
  Colômbia 
    
       
     Demais municípios  
    
       
  



Fonte: Projeto LUPA 2007/2008 (SAA/CATI/IEA, 2009), dados refinados pelos autores.
Embora o proprietário, na maior parte das vezes, não more no imóvel, foram encontrados familiares deste trabalhando em 77% das UPAs produtoras de borracha natural, apresentando uma média de 1,7 familiares por UPA. A ocupação de trabalhadores permanentes apareceu em 56% delas, com média de 5,3 pessoas por UPA.
Outro informe resultante do projeto LUPA 2007/2008 mostra que, para quase a metade dos produtores (48%) que cultivam a seringueira, 80% da renda familiar são oriundas da produção agropecuária (Figura 4).
Figura 4 – Percentual de Área Plantada com Seringueira e Número de Produtores por Participação Percentual da Agropecuária na Renda Familiar (RA), Estado de São Paulo, 2007/2008.
Fonte: Projeto LUPA 2007/2008 (SAA/CATI/IEA, 2009), dados refinados pelos autores.
Quanto aos postos de trabalho formais4 na atividade, os últimos números indicam aproximadamente 7.540 pessoas, com crescimento de 6,5% a.a. em relação ao início dos anos de 1990. Essa massa trabalhadora é composta por pessoas com idade entre 30 e 39 anos (31%) e, na sua maioria, por homens (77%).
3 - Comentários Finais
Frente aos números apresentados, constata-se que a heveicultura paulista está crescendo em área, produção e número de produtores. Porém, está ainda muito longe das metas do setor que previa a autossuficiência do país em relação à importação de látex a médio prazo e a retomada do mercado externo para pouco tempo depois. Estas expectativas não se concretizaram em função da competição entre culturas por área e rentabilidade e por fatores relacionados às características intrínsecas da cultura que conferem a este tipo de exploração um tempo de maturação de projeto muito longo, além do fato de que o crescimento da demanda é muito superior ao da produção.
            Em 
relação aos fatores socioeconômicos, não se verificou muita diferença entre o 
primeiro levantamento censitário em 1995/1996 e o segundo em 2007/2008, o que 
indica que, em linhas gerais, o perfil do heveicultor paulista não se alterou 
significativamente nestes últimos quinze anos. 
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1INSTITUTO DE ECONOMIA AGRÍCOLA 
– IEA. Banco de dados IEA. Disponível em: 
<http://www.iea.sp.gov.br>. Acesso em: 2009. 
2TSUNECHIRO, A. et al. Valor da produção agropecuária e florestal do Estado de São Paulo em 2008. Informações Econômicas, São Paulo, v. 39, n. 4, p. 76-87, abr. 2009.
3SÃO PAULO (Estado). Projeto LUPA 2007/2008: Censo Agropecuário do Estado de São Paulo. São Paulo: CATI/IEA/SAA, 2009. Disponível em: <http://www.cati.sp.gov.br/projetolupa>. Acesso em: 2009.
4BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego – MTE. Relação Anual de Informações Sociais (RAIS). Disponível em: <http://www.mte.gov.br/rais/default.asp>. Acesso em: 2009.
Palavras-chave: LUPA 2007/2008, censo paulista, seringueira, Estado de São Paulo.
Data de Publicação: 09/10/2009
                Autor(es): 
                Vera Lucia Ferraz dos Santos Francisco Consulte outros textos deste autor
Denise Viani Caser (dcaser@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Carlos Roberto Ferreira Bueno Consulte outros textos deste autor
Carlos Eduardo Fredo (cfredo@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor              

                    
                        