Artigos
Análise dos Preços e Dispêndio Familiar da Cesta de Mercado de Produtos Alimentícios no Município de São Paulo em Maio de 2018
O levantamento mensal de preços de alimentos no município de São
Paulo é estruturado na forma de cesta de mercado, em que, dos 145 itens
alimentícios acompanhados sistematicamente (sem considerar as diferentes
unidades e marcas), há uma composição de tipos e variedades dos produtos,
totalizando 88 itens distribuídos em sete subgrupos, três de origem animal e
quatro de origem vegetal. Para obter o preço final do produto no mês, levanta-se diariamente
um número suficiente de amostras para se alcançar um erro amostral de até 5%,
em um modelo amostral estratificado que considera os aspectos socioeconômicos
dos 96 distritos paulistanos. Por fim, os preços são ponderados pelo tipo e ou
variedade dos produtos, equipamento de compra e faixa de renda. A partir dos preços ponderados é calculada uma cesta de mercado
que considera a quantidade consumida do produto. Com base nesta composição, são
derivados os índices de acompanhamento do dispêndio: Índice de Preços da Cesta
de Mercado Total (IPCMT), Índice de Preços da Cesta de Mercado Animal (IPCMA) e
Índice de Preços da Cesta de Mercado Vegetal (IPCMV). O mês de maio foi marcado pela paralisação do transporte
rodoviário de cargas no Brasil a partir do dia 21 e seguindo até o final do
mês, esse movimento ocasionou sérias dificuldades no abastecimento de
alimentos, influenciando sua comercialização e resultando em variações
significativas de preços em certos alimentos. Este trabalho objetiva apresentar
o impacto nos preços e por consequência no dispêndio das famílias paulistanas
durante este mês. Primeiramente, serão discutidas as mais relevantes variações
de alimentos por subgrupo do levantamento, em seguida serão apresentados os
resultados em termos percentuais e, por último, os índices gerados no período
em estudo. Embora os resultados do levantamento no mercado varejista do IEA
sejam divulgados por mês completo, a pesquisa segue um cronograma semanal de
coleta (Quadro 1). Esse método permite o cálculo dos preços médios ponderados a
cada semana. No subgrupo
“Carnes” destacam-se os preços médios dos produtos carne bovina (preço médio de
todos os cortes bovinos), carne suína (preço médio dos cortes suínos) e frango
inteiro. As figuras 1, 2 e 3 apresentam os preços médios finais dos meses de
abril e maio, além dos valores das quatro semanas do mês em análise.
Verifica-se que os preços finais de maio de todos os três produtos são
inferiores aos nominais de abril. O pico de preços no mês foi observado na 4ª semana,
período de intensificação da paralisação. O preço médio da carne bovina na 2ª
semana de coleta, que foi finalizada antes do início da paralisação apontava o
valor de R$22,15/kg, na última semana o preço subiu para R$24,79/kg, uma
variação de 11,92%. O frango inteiro foi o que sofreu a maior variação do
subgrupo entre a 2ª e a 4ª semana (28,34%). O preço da carne suína se manteve mais estável no período. Em
relação ao frango é importante ressaltar a perda de muitas aves nas granjas
paulistas em virtude da falta de ração e dos produtos retidos nos bloqueios,
devido à paralisação. Nas figuras 4 e 5 estão dispostos os resultados semanais dos
produtos ovos (subgrupo “Ovos”) e leite longa vida (subgrupo “Leites e
Derivados”). Segundo informações do segmento de ovos2, o plantel
produtor foi severamente afetado pelo movimento dos caminhoneiros e nas últimas
semanas do mês de maio o produto ficou apenas com referência nominal de preços
no mercado atacadista, influenciando as poucas negociações realizadas no
período. Observa-se na figura 4 que o preço final dos ovos em maio foi de
R$5,80/dz. ante R$6,39/dz. em abril, redução de 9,23%, entretanto, na 4ª semana
de coleta, foi apurado um valor médio de R$6,58 a dúzia, bem superior à média
do mês. Em relação ao leite longa vida, observa-se que o produto manteve a
tendência de aumento já verificada no mês anterior, a variação entre a 2ª
semana e a 4ª semana foi de 13,58%. No subgrupo “Frutas”, destacam-se o comportamento semanal dos
preços médios dos produtos, banana nanica, laranja e mamão. A banana nanica e o
mamão são frutas que estão no período de safra, ou seja, espera-se redução de
preços nesta época, e de fato ocorreu queda de preços no mês de maio comparado
a abril, contudo, mesmo em período favorável ocorreram aumentos significativos
entre a 2ª e a 4ª semana do levantamento, para a banana nanica o preço médio
passou de R$6,06/dz. para R$7,22/dz. O preço médio da 2ª semana do mamão foi de
R$4,89/kg, subindo na 4ª semana para R$6,84 o quilograma. A laranja-pera,
variedade de maior peso entre as laranjas, está em entressafra, a variação
positiva entre maio e abril de 6,57% era esperada, entretanto, a variação de
25,16% da 2ª para a 4ª semana foi muito grande, possivelmente, a paralisação
dos caminhoneiros teve grande participação nessa variação (Figuras 6 a 8). No subgrupo “Hortaliças” foram observadas as maiores variações
positivas de preços do mês. A cebola fechou o mês de abril a R$4,02/kg e em
maio o preço médio foi de R$6,06, uma variação de 50,75%. Entretanto, essa
variação não foi totalmente influencia- No subgrupo de “Produtos Básicos” destaca-se o comportamento
semanal semelhante dos produtos arroz e feijão, comprovando que são produtos
complementares, entretanto, quando se comparam os meses de abril e maio,
observa-se tendência negativa dos preços do arroz e positiva no feijão. Também
nesse agrupamento ressalta-se a variação de preços médios do pão francês entre
a 2ª e a 4ª semana do mês de maio (20,69%). Além do efeito da paralisação,
também se deve considerar o efeito do dólar, dado que, boa parte da farinha de
trigo usada na panificação é importada (Figuras 12 a 14). A tabela 1
mostra a variação dos produtos citados neste artigo. Ela é composta pelo preço
médio final do mês de abril, a variação semanal durante o mês de maio e o valor
médio ponderado no próprio mês de maio. Exemplificando, tem-se que o preço
médio da carne bovina em abril foi de R$22,49, na 1ª semana o preço variou
-1,51%, na 2ª não houve variação, na 3ª semana, em relação a anterior, houve um
aumento de 2,75%, por fim, o preço médio obtido na 4ª semana foi 8,92% superior
ao da 3ª. O preço médio de R$22,33 do mês de maio é obtido calculando-se todos
os preços do mês. Destaca-se na tabela a variação da cebola na 1ª semana
(58,86%) e a batata, que mesmo apresentando variação de 100,77% na 4ª semana,
apresentou aumento de 3,54%, quando se comparam os preços dos meses de abril e
maio. A figura 15 mostra as variações da cesta de mercado no mês de
maio, o IPCMT, que indica a variação do dispêndio familiar, foi de 0,50% no
período, sendo que os produtos de origem vegetal contribuíram em 1,60% e os de
origem animal em -0,57% para a composição do índice. Nesta figura o principal
destaque é a variação de 11,98% no dispêndio com hortaliças. Com esses
resultados, conclui-se que, pela primeira vez no ano, a cesta de mercado sofreu
variação positiva, com isso, os consumidores tiveram que desembolsar um valor
0,50% maior em relação a abril para adquirir os mesmos produtos e quantidades. COMO INTERPRETAR A FIGURA 15 Na figura estão dispostos os seguintes resultados: 1) Índice total, que equivale ao Índice de Preços da
Cesta de Mercado Total (IPCMT), divulgado mensalmente pelo Instituto de
Economia Agrícola (IEA), é obtido pelo cálculo de variação de preços no mês
atual em relação ao anterior, ponderados pela sua importância na cesta de
mercado das famílias paulistanas; 2) Índice por grupos,
que equivale ao Índice de Preços da Cesta de Mercado de Produtos de Origem
Animal (IPCMA) para os produtos de origem animal, e ao Índice de Preços da
Cesta de Mercado de Produtos de Origem Vegetal (IPCMV) para os produtos de
origem vegetal. É calculado de forma análoga ao índice total; a diferença é que
é composta por produtos conforme a origem, animal ou vegetal; 3) Indicadores por
subgrupos, que são calculados seguindo a mesma regra dos anteriores. O objetivo
é indicar a contribuição do subgrupo na formação dos índices por grupos e
total; e 4) Variação por produtos,
cujo objetivo é mostrar quais produtos tiveram maior influência na formação do
índice no mês. ---------------------------------------------------------------------- 1O autor
agradece as contribuições na confecção das figuras e no cálculo das variações
semanais de Daniel Kiyoyudi Komesu. ²OVOSITE. Desempenho do ovo em maio e nos 5 primeiros meses de 2018. Campinas: Ovosite. Disponível em: <http://www.ovosite.com.br/noticias/index.php?codnoticia=16038>.
Acesso em: 4 jun. 2018. Palavras-chave: mercado
varejista, alimentos, preços, índices, São Paulo.
da pela paralisação, dado que, já na 1ª semana, a cebola alcançou preço médio
de R$6,31, essa grande variação pode ser explicada pela entressafra do produto
nacional e pelo aumento da cotação do dólar que influenciou a importação da
cebola estrangeira. Na 2ª e 3ª semanas do mês, a cebola ficou um pouco abaixo
de R$6,00 e na última semana, aí sim influenciada pela paralisação, o preço
médio foi de R$7,27. A batata foi o produto de maior aumento entre a 2ª e a 4ª
semana (131,83%), essa variação foi influenciada pela alta perecibilidade do
produto e pelos bloqueios da estrada, dado que, nesta época do ano, a maior
parte da batata vem do Estado do Paraná. Em relação à alface, não foram
observadas variações significativas de preços, possivelmente, esse cenário ocorreu
devido à proximidade da produção do produto em relação ao município de São
Paulo e à possibilidade de uso de veículos menores no seu transporte (Figuras 9
a 11).
Data de Publicação: 13/06/2018
Autor(es): Vagner Azarias Martins (vagnermartins@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor