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Custo de Produção: uma importante ferramenta gerencial na agropecuária
Na
definição de um empreendimento agrícola, é importante que se faça um
planejamento para obter sucesso. Para isso, deve-se considerar uma gama de
fatores ao escolher o quê, como, onde e para quem produzir, e ainda de forma
específica para cada talhão de sua propriedade. Dentre as várias ferramentas de
planejamento e gestão disponíveis, o custo de produção é muito importante para
subsidiar o planejamento. Cada
vez mais o produtor deve estar atento à maneira pela qual está produzindo,
mensurando o custo e receita realizada com a produção. Parece redundância falar
em mensurar custo quando o produtor já vem realizando sua atividade há um bom
tempo e de certa forma tem ideia do quanto gasta. Mesmo assim, é importante
relembrar para que possa avaliar periodicamente como vem produzindo e o impacto
das operações, uso de máquinas e implementos e insumos utilizados para que tenha
controle da produção e de seus resultados. Para tanto, é necessário que enxergue
a propriedade rural como uma empresa de fato. Nesta empresa há pessoas,
equipamentos, terras, insumos para transformação e recursos financeiros para
tocar o negócio. A adoção de um sistema de planejamento tem por finalidade
utilizar técnicas de gestão a fim de maximizar o rendimento das culturas e,
consequentemente, os lucros, além de minimizar os custos de produção, visto que
esta técnica é baseada na identificação e eliminação das possíveis causas de
redução da produtividade. As
macrotendências mundiais nos negócios têm-se dado em função das mudanças nos
padrões de competitividade com incorporação rápida e crescente do conhecimento,
da tecnologia, da inovação e da qualidade dos recursos humanos, como fatores
decisivos de diferenciação competitiva, além da introdução dos valores
ambientais e da qualidade dos serviços e produtos nas disputas comerciais. A
revolução científica e tecnológica, com os grandes avanços da informática e da
biotecnologia, além das inovações gerenciais e institucionais, base da chamada
nova economia, vem gerando mudanças importantes.
Observa-se uma grande disparidade entre os perfis dos produtores em relação aos
sistemas de produção; a cada dia novos produtos e tecnologias surgem no mercado
e muitas vezes o produtor não tem condições de adquirir toda esta tecnologia. No
dia a dia, realiza o serviço com os equipamentos que possui (muitas vezes
inadequados) e, se necessário, faz algumas adequações ou negocia o empréstimo de
algum equipamento específico com algum conhecido ou vizinho tendo que aguardar a
disponibilidade deste. Além disso, deve considerar as tendências de inovação no
setor do agronegócio com novas técnicas, variedades, fertilizantes e outros
itens a ser utilizados pelo produtor com o objetivo de tornar mais eficiente a
produção e satisfatório seu rendimento. Outro aspecto importante é que os
mercados de produtos agrícolas, via de regra, tendem ao de competição perfeita.
Em tais mercados, os preços são definidos pelas forças de oferta e demanda pelo
produto, sendo que cada agente – individualmente – não tem influência sobre esse
preço. Em outras palavras, os preços são "dados" aos agricultores, tornando--se
ainda mais relevante o controle dos custos como instrumento de obtenção de
rentabilidade. Nesse
sentido, a utilização de estimativas de custos de produção na administração de
empresas agrícolas assume importância crescente, quer na análise da eficiência
da produção de determinada atividade, quer na análise de processos específicos
de produção, os quais indicam o sucesso de determinada empresa no esforço de
produzir. Ao mesmo tempo, à medida que a agricultura vem se tornando mais
competitiva e com a redução da intervenção governamental no setor, o custo de
produção transforma-se em um importante instrumento do processo de decisão.
Assim, se por um lado os custos de produção vêm aumentando a sua importância na
administração rural, na determinação de eficiência na produção e no planejamento
de empresas, por outro as dificuldades de estimá-los só recentemente começaram a
ser reduzidas, à medida que aumentou a adoção da informática na gestão das
empresas agropecuárias. Mas
apesar da importância do custo de produção na administração do negócio, a sua
determinação não é uma tarefa fácil. Pois, para se determinar (ou estimar) o
custo de produção, é necessário enfrentar várias questões.
Inicialmente, deve-se considerar como o ideal para um determinado produto de uma
atividade agropecuária aquele cujo preço de mercado permita cobrir os custos de
produção e de comercialização, contendo ainda o percentual de lucro esperado, o
que permite que a empresa se mantenha competitiva no mercado.
Assim, desconsiderando-se os impostos, entre outros, visando uma simplificação,
pode-se dizer que o preço de venda é constituído do custo de produção mais o
lucro, de tal forma que, considerando na agricultura que os produtores são
tomadores de preço, o lucro será maior ou menor dependendo do custo, item sobre
o qual o empresário tem condições de atuar. O
custo de produção é composto pelos custos diretos (mão de obra, materiais,
operações de máquinas), que podem ser calculados com exatidão, não havendo com
relação a eles qualquer restrição; e os custos indiretos, que não se associam
diretamente à atividade (mão de obra indireta, depreciação de máquinas e
construções, administração, serviços, etc.). O cálculo dos custos indiretos, ao
contrário da exatidão dos custos diretos, pode em muitos casos estar longe da
realidade, por ter despesas que muitas vezes não são computadas, porque se
negligencia a necessidade de se ratear determinados custos entre mais produtos.
Sempre que se estimar determinados custos de produção, vão surgir questões a
serem respondidas, do tipo: como considerar custos de mão de obra familiar,
juros sobre o capital próprio utilizado na produção, etc. Essas questões terão
de ser abordadas em cada caso específico, sempre visando alocar os custos de
todas as subatividades envolvidas na produção de um determinado
produto. O
Instituto de Economia Agrícola (IEA) desenvolveu e utiliza a estrutura de custo
operacional1: conceituado como despesas efetivamente desembolsadas
pelo agricultor mais a depreciação de máquinas e benfeitorias específicas da
atividade, incorporando-se outros componentes de custos, que visam obter o custo
operacional total de produção e viabilizar a análise de rentabilidade no curto
prazo (Figura 1). Para
dar início a análise do processo de produção, é importante primeiramente
elaborar uma matriz de dados da atividade elencando as principais operações para
a produção da cultura: preparo de solo, plantio, tratos culturais e colheita, ou
seja, o sistema de produção. Este é definido como o conjunto de manejos,
práticas ou técnicas agrícolas realizadas na condução de uma
cultura2. Além
de elencar minuciosamente as operações, outras variáveis devem ser consideradas,
como a potência das máquinas e capacidade dos implementos, uso de mão de obra,
quantidade e produtos a serem aplicados como inseticida, herbicida e adubo
(Tabela 1). Alguns itens, como a contratação de prestação de serviço para uma
operação ou parte dela, devem ser levados em consideração, além das obrigações
sociais. Com
as informações da tabela 1 é possível, alocando-se os respectivos preços,
calcular a parcela referente ao custo operacional efetivo (COE).
Para
chegar ao custo operacional total, alocam-se os gastos com os componentes de
custos indiretos da produção: seguro, encargos financeiros para capital de
custeio, contribuição a seguridade social rural, formação da cultura perene,
quando for o caso, e outras despesas quando pertinentes. Os
dados levantados servirão de base para realizar o custo de produção, que é a
soma dos valores de todos os serviços produtivos dos fatores utilizados na
obtenção de um bem qualquer. A
implementação do custo de produção na propriedade possibilitará quantificar seu
dispêndio, avaliar se está realizando operações desnecessárias na lavoura e o
desembolso realizado ao comprar insumos (adubo, defensivos, inseticidas,
nematicidas, controle biológico, etc.). Este detalhamento permitirá uma visão
global da situação e possibilitará uma intervenção nos custos por meio da
avaliação do impacto do item no custo de produção pela sua participação
percentual (Figura 2).
Normalmente, os administradores elaboram seus custos de produção em reais e não
detalham cada operação, equipamento e tempo gasto. Os elementos apresentados na
figura 2 podem ajudar o produtor a responder estes questionamentos e avaliar os
impactos no custo. Pode-se perguntar: as operações que realiza e a quantidade de
adubo podem interferir na produtividade? E a mão de obra? Como fazer para
contratá-la dentro da legislação trabalhista? Utilizar o condomínio de mão de
obra ou prestação de serviço? De que forma diminuir o custo e quais os melhores
mecanismos para alcançar o objetivo desejado? O
trator utilizado muitas vezes pode ter uma potência maior do que a requerida
pelo implemento na realização daquela operação. Ao mesmo tempo, o implemento
utilizado pode estar sendo tracionado por um trator de potência inferior ao
ideal. Esses questionamentos servem para adequar a parcela de operações de
máquinas e avaliar de acordo com a renda a possibilidade de um futuro
investimento em máquinas. Cada produtor deve viabilizar da melhor forma possível
a realização das operações em sua propriedade com equipamentos adequados por
meio de parcerias, consórcios, mutirão e outras formas existentes.
Tabela 1 - Modelo de
Matriz com Descrição de Algumas Operações, Utilização de Horas de Máquinas,
Equipamentos, Mão de Obra, Insumos para Cálculo do Custo de
Produção No
caso da mão de obra, em muitas regiões o produtor tem a opção pela contratação
do condomínio, que consiste em um modelo de contratação coletivo com o objetivo
de assegurar aos trabalhadores rurais direitos trabalhistas e previdenciários,
com menores custos de gestão do trabalho3, prática que tem sido
desenvolvida para algumas culturas e regiões do Estado de São
Paulo. Em
relação aos materiais utilizados, pode-se avaliar se, por exemplo, dosagens e
quantidades são as corretas, as regulagens dos implementos são aferidas com
frequência, prática determinante para a eficiência da aplicação e, no caso de
sementes, o stand correto das culturas, o que influi diretamente na
produtividade. Essas
são algumas das inúmeras avaliações que permitem o administrador a análise dos
custos de produção e influência na rentabilidade da atividade.
Ao
colocar na ponta do lápis seu custo, o produtor tem condições de visualizar onde
pode reduzi-lo, avaliar o que está dando resultado ou não, corrigir falhas,
evitar problemas, planejar e investir cada vez mais em sua empresa. Além de ser
um instrumento de tomada de decisão sobre a produção. ________________ 2MELLO, N. T. C. et al. Proposta de
nova metodologia de custo de produção do Instituto de Economia Agrícola. São
Paulo: IEA, 1978. 13p. (Relatório de Pesquisa, 14/88).
3BARRETO, G. R. Condomínios de
empregadores rurais e a produção canavieira no oeste do Estado de São Paulo.
São Paulo, 2009. Disponível em:
<http://www.fflch.usp.br/ds/pos-graduacao/simposio/m_6_Gilsa.pdf>. Acesso
em: 09 fev. 2012.
Palavras-chave: custo de produção, planejamento, gestão de
propriedade.
Figura 1 – Estrutura do Custo de Produção Utilizada pelo
IEA.
Fonte: Dados da pesquisa.
Fonte: Elaborada pelos autores com base na matriz de
coeficientes técnicos do Instituto de Economia Agrícola, não publicada.
Figura 2 - Exemplo de Gráfico de Participação Percentual
dos Custos de Produção para Análise do Impacto de Cada Item no Custo Operacional
Efetivo.
Fonte: OLIVEIRA, M. D. M. et
al. Custo de produção do feijoeiro. In: DIA DE CAMPO DE FEIJÃO, 25., 2010, Capão
Bonito. Anais... Capão Bonito: Polo Sudoeste Paulista/APTA, 2010.
1MATSUNAGA, M. et al.
Metodologia de custo utilizada pelo IEA. Agricultura em São Paulo, São
Paulo, v. 23, p.123-139, 1976.
Data de Publicação: 25/05/2012
Autor(es):
Katia Nachiluk (katia.nachiluk@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Marli Dias Mascarenhas Oliveira (marlimascarenhasoliveira@gmail.com) Consulte outros textos deste autor