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Máquinas agrícolas: exportações surpreendem
Entre
2001 e 2002, foi verdadeiramente espetacular o crescimento observado nas vendas
de máquinas agrícolas automotrizes tanto para o mercado interno quanto as
destinadas à exportação. Nesse período, o incremento de vendas no mercado
interno somou 7.045 máquinas, enquanto nas exportações esse indicador atingiu
2.197 equipamentos. No total, o incremento de vendas foi de 9.242 máquinas
(tabela 1). TABELA 1 - Produção, vendas e exportação de máquinas
agrícolas automotrizes, Brasil, 2001 e 2003, janeiro a abril de 2002 e 2003 *100 No
conjunto, o segmento de máquinas agrícolas obteve, entre janeiro e abril de
2003, aumento de 8,4% na produção (ou incremento líquido de 1.242 máquinas),
frente a igual período de 2002. A expansão do total das vendas (de 12,4%) foi
fortemente sustentada pelas exportações, que atingiram elevação de 84,4%
(incremento de 2.536 máquinas). FIGURA 1 – Vendas de máquinas agrícolas automotrizes, por Região, Brasil, 2002
No primeiro quadrimestre de 2003, o setor continua a apontar para outro período
de produção e vendas recordes. No segmento de tratores de rodas (o mais
importante dos itens da pauta da indústria de máquinas agrícolas), o crescimento
na produção foi de 12%. As exportações quase que dobraram, atingindo 94,2% .
Todavia, as vendas para o mercado interno apresentaram ligeiro recuo (de -
4,8%), em decorrência da curta interrupção das novas contratações via incentivos
do MODERFROTA.
As colhedoras tiveram expressiva queda nas vendas para o mercado interno
(declínio de 16,2%), em decorrência de seu maior valor unitário associado à
interrupção momentânea nas linhas da política de financiamento. Entretanto, as
exportações foram mais que suficientes para compensar tal queda (elevação de
186%). Assim, as vendas totais ainda foram positivas, tendo somado crescimento
de 19,5% no quadrimestre.
(em unidade)
1 Inclui cultivador motorizado,
trator de esteira, trator de roda, colhedora e retroescavadeiras. Item 2001 2002 Janeiro a abril (c/d-1) (a) (b) 2002 ( c ) 2003 (d) Trator
de roda Produção 34.781 40.352 10.924 12.238 12,0 Vendas no mercado
interno 28.203 33.217 8.254 7.861 -4,8 Exportação 5.814 7.945 2.035 3.952 94,2 Total das vendas 34.017 41.162 10.289 11.813 14,8 Colhedoras Produção 5.196 6.851 2.417 2.691 11,3 Vendas no mercado
interno 4.098 5.648 1.964 1.646 -16,2 Exportação 1.202 1.199 422 1.206 185,8 Total das vendas 5.300 6.847 2.386 2.852 19,5 Máquinas agrícolas1 Produção 44.339 52.010 14.862 16.104 8,4 Vendas no mercado
interno 35.523 42.568 11.295 10.529 -6,8 Exportação 8.246 10.443 3.005 5.541 84,4 Total das vendas 43.769 53.011 14.300 16.070 12,4
Fonte: Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos
Automotores (ANFAVEA)1
O aumento das exportações reflete principalmente o retorno das compras
argentinas, que se amparam no momento propício que presencia o agronegócio
daquele país. Ademais, alguns acordos comerciais têm favorecido as exportações
para mercados emergentes, como foram os casos das vendas para EUA, Venezuela,
Chile e África do Sul. São promissoras as negociações envolvendo a Índia e a
China.
As estatísticas de 2002 mostram que há concentração regional das vendas. No caso
dos tratores de rodas, as vendas são fundamentalmente absorvidas pelos mercados
do Sul e do Sudeste, enquanto para as colhedoras as regiões Sul e Centro-Oeste
formam a demanda majoritária. Estima-se, preliminarmente, que essa distribuição
das vendas no mercado interno não se tenha alterado substancialmente nesse
primeiro quadrimestre de 2003 (figura 1).
Fonte: Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (ANFAVEA)
Num
período mais longo, entre 1994 e 2002, é possível isolar os fenômenos que
induziram o estágio em que se encontra o desempenho do setor. No âmbito das
vendas no mercado interno, certamente a política de financiamento do Moderfrota
tem sido a fonte mais importante de alavancagem dos negócios, amparado, sem
dúvida, pelo ambiente promissor das transações envolvendo produtos conexos aos
agronegócios.
Pelo lado das exportações, os expressivos resultados são conseqüência do
processo de desvalorização da moeda brasileira, tornando o produto nacional
competitivo frente a outras origens, mesmo porque também possui padrão
tecnológico similar ao praticado nos países mais adiantados.
As hipóteses acima formuladas podem ser confirmadas por meio do cálculo da taxa
geométrica de crescimento anual para as vendas nos mercados interno e externo.
Naqueles subperíodos em que existiam os dois fenômenos mencionados (implantação
do Moderfrota e desvalorização da moeda), as taxas de crescimento para os
referidos mercados, antes sem tendência definida, passaram a ser fortemente
positivas, com alto grau de correlação. Isto indica que de fato o ambiente sob o
qual se moviam os negócios sofreu alterações inaugurando novo momento para as
transações do setor (tabela 2).
TABELA 2 – Taxas de crescimento para as vendas no mercado
interno e exportações, máquinas agrícolas automotrizes, 1994 a 2002
(em % ao ano)
Período e sub-período | Vendas merc. interno | Exportações |
1994-1998 | -12,93 | 19,50 |
1999-2002 | 20,31* | 37,37* |
1994-2002 | 4,55 | 4,21 |
Fonte: Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (ANFAVEA).
O
crescimento acentuado das exportações de máquinas agrícolas permite melhor
performance do saldo da balança comercial brasileira, aspecto decisivo no
equilíbrio macroeconômico do País, não surgindo qualquer polêmica em torno do
assunto. Todavia, surgiram criticas sobre a condução do Moderfrota e seu
potencial enquanto exemplo de política industrial a ser seguido para outros
segmentos da manufatura.
Análise do número de contratos e respectivo volume de financiamento liberado ao
longo de 2002 permite constatar que foram firmados mais de 50 mil contratos pelo
Moderfrota, com desembolso próximo dos R$ 2,83 bilhões (tabela 3).
TABELA 3 – Número de operações e desembolso do Moderfrota e do Finame, 2002, Brasil
Mês | Nº de Operações | Desembolsos em R$ mil | ||||
Moderfrota (A) | Finame Agrícola (B) | (A) / (B) % | Moderfrota (A) | Finame Agrícola (B) | (A) / (B) % | |
Jan | 3.227 | 3.590 | 89,89 | 160.947 | 174.748 | 92,10 |
Fev | 2.801 | 3.103 | 90,27 | 163.913 | 175.310 | 93,50 |
Mar | 2.599 | 3.124 | 83,19 | 189.961 | 206.727 | 91,89 |
Abr | 2.604 | 2.984 | 87,27 | 151.829 | 165.152 | 91,93 |
Mai | 2.980 | 3.330 | 89,49 | 148.849 | 164.532 | 90,47 |
Jun | 2.892 | 3.187 | 90,74 | 133.249 | 145.980 | 91,28 |
Jul | 5.357 | 5.906 | 90,70 | 198.429 | 217.587 | 91,20 |
Ago | 4.793 | 5.128 | 93,47 | 259.602 | 274.993 | 94,40 |
Set | 3.616 | 3.921 | 92,22 | 202.222 | 220.845 | 91,57 |
Out | 7.804 | 8.249 | 94,61 | 429.952 | 445.435 | 96,52 |
Nov | 1 | 412 | 0,24 | 0 | 9.938 | 0,00 |
Dez | 11.426 | 11.911 | 95,93 | 789.999 | 808.248 | 97,74 |
Total | 50.100 | 54.845 | 91,35 | 2.828.952 | 3.009.495 | 94,00 |
Pela
regra antiga, os juros fixos cobrados pelos empréstimos concedidos são
equalizados pelo Tesouro Nacional, implicando na necessidade de subsídios, uma
vez que o custo do dinheiro em muito excede as taxas praticadas pelo Moderfrota.
Assim, é importante, dentro de uma visão sistêmica da temática, também verificar
quanto desse valor incrementou a arrecadação de impostos. Embutido no preço de
uma máquina, cobra-se, em termos de impostos e contribuições diretas, 5% de IPI;
7% de ICMS e 4,29% de PIS/COFINS, totalizando 14,30% ou aproximadamente R$ 400
milhões sobre as vendas de R$ 2,83 bilhões.
Portanto, um juízo de valor justo sobre o Moderfrota deve considerar esse
desdobramento, dentre outros não mencionados, como a demanda agregada (aço,
motores, pneus, etc.) e o número de postos de trabalho gerados pelo setor que
eventualmente poderão formar o assunto para uma próxima análise.
1 ANFAVEA www.anfavea.com.br
2 BNDES www.bndes.gov.br
Data de Publicação: 18/06/2003
Autor(es):
Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
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