Rentabilidade Da Cultura Do Algodão No Estado De São Paulo, Safra 2000/01

            Apresentam-se estimativas de custo de produção da cultura do algodão para três regiões (Escritórios de Desenvolvimento Rural - EDRs) do Estado de São Paulo: Presidente Venceslau, com produtividade esperada de 145 arrobas por hectare de algodão em caroço, São João da Boa Vista (184 arrobas/ha) e Orlândia (204 arrobas/ha).
            As diferenças entre os custos e as participações relativas de cada item que os compõem variam em função das características físicas de cada região e do sistema de produção adotado em cada uma delas, com reflexos diretos sobre a produtividade.
            O custo operacional efetivo (COE), a preços de março de 2001, em Presidente Venceslau é estimado em R$1.128,78/ha, equivalente a R$7,78/@; em São João da Boa Vista, em R$1.111,09/ha ou R$6,04/@; e em Orlândia, em R$1.361,48/ha ou R$6,67/@. Os itens mais onerosos são as operações de máquinas em Presidente Venceslau; adubos e corretivos em São João da Boa Vista; e defensivos em Orlândia.
            Observe-se que a cultura do algodão em Presidente Venceslau, mesmo apresentando um custo operacional por área menor, tem um custo por unidade maior do que o de Orlândia, o que demonstra o efeito da produtividade na redução dos custos de produção (Tabela 1).

TABELA 1 - Estimativa de Custo Operacional da Cultura de Algodão, Regiões de Presidente Venceslau,
São João da Boa Vista e Orlândia, Estado de São Paulo, Safra 2000/01
(em R$ de março de 2001)

Item Presidente Venceslau São João da Boa Vista Orlândia
R$/ha % R$/ha % R$/ha %
Mão-de-obra 92,83 6,37 81,91 6,05 85,08 5,31
Sementes  38,01 2,61 50,40 3,72 66,96 4,18
Adubos e corretivo 191,18 13,11 354,60 26,19 280,87 17,52
Defensivos 245,65 16,85 279,14 20,62 363,52 22,67
Operações de máquinas 307,36 21,08 345,03 25,48 259,05 16,16
Colheita por empreita1 253,75 17,40 - - 306,00 19,08
Custo operacional efetivo (COE) 1.128,78 77,42 1.111,09 82,07 1.361,48 84,91
Depreciação de máquinas 81,67 5,60 100,94 7,46 63,96 3,99
Encargos sociais diretos2 30,63 2,10 27,03 2,00 28,08 1,75
CESSR3 30,31 2,08 38,46 2,84 42,64 2,66
Seguro4 112,88 7,74 44,44 3,28 68,07 4,25
Encargos financeiros5 32,46 2,23 31,95 2,36 39,16 2,44
Arrendamento 41,32 2,83 - - - -
Custo operacional total (COT) 1.458,05 100,00 1.353,91 100,00 1.603,39 100,00
Custo operacional por unidade (R$/@) 10,06   7,36  . 7,86 . 
Produtividade (@/ha) 145   184  . 204 . 
Preço esperado (R$/@) 9,50   9,50  . 9,50 . 
Receita bruta (RB) (R$/ha) 1.377,50   1.748,00  . 1.938,00 . 
Receita líquida (RB-COT) (R$/ha) -80,55   394,09  . 334,61 . 
Margem bruta (RL/COT) (%) -5,52   29,11  . 20,87 . 
Ponto de nivelamento6 (@/ha) 153,5   142,5  . 168,8 . 

1 Referem-se à manual em Presidente Venceslau e à mecânica em Orlândia. Em São João da Boa Vista, a colheita é realizada mecanicamente, com colhedora do produtor, estando embutida nos custos com operações de máquinas.
2Refere-se à mão-de-obra comum e tratorista (33%).
3 Refere-se à contribuição de securidade social de 2,2% sobre a renda bruta.
4 Refere-se ao seguro da COSESP.
5 Taxa de juros de 8,75% a.a. sobre 50% do COE durante o ciclo de produção.
6 Produção mínima que cobre o custo operacional total.
Fonte: Instituto de Economia Agrícola.

            O custo operacional total (COT) atinge R$1.458,05/ha (R$10,06/@) em Presidente Venceslau; R$1.353,91/ha (R$7,36/@), em São João da Boa Vista; e R$1.603,39/ha (R$7,86/@), em Orlândia. Neste caso, as diferenças regionais de custo unitário acentuam-se, visto que, em São João da Boa Vista e em Orlândia, o prêmio do seguro agrícola é relativamente menor e inexiste o custo de arrendamento, este último comum no oeste do Estado.
            Considerando-se os preços médios de algodão em caroço recebidos pelos produtores paulistas, em março de 2001, de R$9,50/@, obtêm-se receitas líquidas por hectare de R$394,09, em São João da Boa Vista, e de R$334,61 em Orlândia, mas prejuízo de R$80,55 em Presidente Venceslau. Note-se que, nas duas regiões com rentabilidade positiva, a produtividade obtida é bastante superior ao ponto de nivelamento - produção mínima necessária para cobrir o COT -, diferentemente do observado em Presidente Venceslau, onde a produção por área encontra-se abaixo desse indicador. Deve ser mencionado que a colheita de algodão no Estado de São Paulo se encontra ainda em andamento, de modo que o atual nível de preços pode sofrer algum tipo de variação. Entretanto, este preço encontra-se em patamar 12% abaixo do mesmo mês do ano passado, em termos reais, considerando-se o Índice Geral de Preços Disponibilidade Interna (IGP-DI), da Fundação Getúlio Vargas. Os estoques iniciais desta temporada encontram-se em níveis bastante elevados (100,2 mil toneladas de algodão em pluma) em comparação com os da anterior (38,5 mil toneladas), segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB). Este fato, aliado às aquisições industriais 'da mão para boca', vem inibindo a alta nos preços ao produtor paulista, a exemplo do verificado no mercado de algodão em pluma.
            Na presente safra 2000/01, o Estado de São Paulo deve produzir 166,63 mil toneladas de algodão em caroço, volume 12,4% superior ao da passada, resultante de expansão de 6% tanto na área cultivada quanto na produtividade, segundo o Instituto de Economia Agrícola (IEA) e a Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI). O comprometimento da rentabilidade da cultura no extremo oeste do Estado (EDRs de Presidente Venceslau e de Presidente Prudente) pode acentuar a tendência já verificada em anos anteriores de redução da participação dessas regiões no cultivo da fibra, que atualmente é de 9,5% na área e de 7,1% na produção, inferior, portanto, aos 17,2% e aos 10,6%, respectivamente, da verificada no triênio 1996/97-1998/99.
 



 

Data de Publicação: 20/04/2001

Autor(es): Marisa Zeferino (marisa.zeferino@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor