Artigos
Café: cotações com pequenas variações em agosto
O
mercado de café arábica apresentou cotações com pequenas variações nas médias de
agosto em relação às de julho, tanto em Nova Iorque quanto na Bolsa de
Mercadorias e Futuros (BM&F). O mesmo não aconteceu com o café robusta,
cujas cotações eram crescentes até junho, quando iniciaram expressiva queda que
se acelerou em agosto. Gráfico 1 - Cotações médias mensais do café em diferentes
mercados de futuros (segunda posição) e do OIC-Composto diário, 2003 a 2005
Na Bolsa de Nova Iorque, as cotações do arábica caíram 0,72% em agosto, em
relação à cotação média de julho (Contrato C, segunda posição). Na Bolsa de
Londres, o robusta registrou queda de 9,50% para a segunda posição, o dobro da
redução observada em julho. No mercado de futuros da BM&F, também para a
segunda posição, o preço do arábica subiu 0,87%. O indicador OIC-Composto diário
apresentou leve recuo de 3,56% em relação à média do índice de julho, devido à
maior retração nas cotações do robusta.
Em 2005, as cotações do café arábica nos diferentes mercados retornaram ao seu
nível médio de janeiro deste ano. Isto é, com o comportamento das cotações de
agosto, o produto perdeu praticamente todos os ganhos conquistados no período de
janeiro a março deste ano. Deve-se notar que as cotações médias de agosto ainda
refletem o verão no Hemisfério Norte, época que se consome menos café, tirando o
suporte dos preços (gráfico 1).
Fonte: Gazeta Mercantil
A
tendência de queda nas cotações manifestou-se menos intensamente na BM&F,
reduzindo o diferencial para US$11,42 a saca (60 kg), em relação às cotações da
Bolsa de Nova Iorque. Este resultado é cerca de 15,41% inferior ao observado no
mês de julho, indicando uma maior demanda da café brasileiro nos mercados
internacionais.
As cotações do arábica, contrato C, segunda posição, na Bolsa de Nova Iorque, exibiram expressiva instabilidade ao longo do mês, em função da divulgação da estimativa da safra brasileira em 12 de agosto. O mercado estava esperando redução de safra, mas a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB)1 apresentou neste dia previsão de aumento de 500 mil
sacas, para 33,33 milhões de sacas no ano-safra 2005/06, o que provocou queda no
preço de 7,8% no dia. A partir desta data, as cotações se mantiveram no novo
patamar, com leve tendência de queda. Mas, na cotação média mensal, apresentou
baixa de apenas 0,72% em relação à mesma cotação observada em julho (gráfico 2).
Gráfico 2 - Cotações diárias em agosto de 2005 na Bolsa de Nova Iorque, para café arábica, Contrato C, segunda posição
Fonte: Gazeta Mercantil
O contrário ocorreu no mercado de café robusta na Bolsa de Londres, cujas flutuações foram mais intensas devido à maior oferta do produto no mercado internacional. A cotação média mensal, que vinha crescendo no ano, iniciou trajetória de queda a partir de julho, aprofundando-se em agosto quando caiu cerca de 9,50% em relação ao mês anterior. O comportamento das cotações no mercado de Londres em agosto, segunda posição, pode ser verificado no gráfico 3.
Gráfico 3 - Cotações diárias para o café robusta, segunda posição, na Bolsa de Londres, no mês de agosto de 2005
Fonte: Gazeta Mercantil
Na
BM&F, a evolução dos preços do arábica, segunda posição, cotados em dólar
por saca em agosto de 2005, indica variação de 60,01% nos últimos doze meses. Em
2005, alcançou variação positiva acumulada de apenas 5,26%. No mercado de Nova
Iorque, os preços do arábica, contrato C, segunda posição, cresceram 45,92% nos
últimos doze meses e apenas 2,52%, em 2005.
Por fim, as cotações do robusta no mercado de Londres, segunda posição, tiveram
variação acumulada de 58,00%, nos últimos doze meses, e de 38,55% em 2005. A
estimativa do OIC-Composto apresentou crescimento acumulado de 49,79%, em doze
meses, e de 10,53% em 2005, fortemente influenciado pelos atuais preços
praticados para o robusta.
Assim, mesmo com a queda nos preços que se vem observando nos mercados de
futuros do café, as cotações médias ocorridas em 2005 são superiores às de 2004,
bem como às de 2000, o último ano de alta do último ciclo de alta do produto
(gráfico 4).
Gráfico 4 - Cotações médias anuais do café em diferentes mercados de futuros (segunda posição) e do OIC-Composto diário, 2000 a 2005
Fonte: Instituto de Economia Agrícola
Na cafeicultura paulista, as cotações médias em agosto recuaram 2,39% em relação à média de julho, em função da queda nas cotações internacionais e da volta da valorização do real. Mas a trajetória dos preços de café recebidos pelos produtores, em reais, nos últimos doze meses, aponta para alta acumulada de 28,31%. No ano de 2005, perdeu-se todo o ganho de preços que já apresentam uma redução de 0,65% (gráfico 5).
Gráfico 5 - Preços médios mensais recebidos pelos produtores de café arábica, Estado de São Paulo, 2002 a 2005
Fonte: Instituto de Economia Agrícola
Ao analisar os preços médios anuais recebidos pelos cafeicultores paulistas nos últimos cinco anos - deflacionados pelo IPCA (índice de preços ao consumidor ampliado) que é o índice que mede a inflação do país -, percebe-se que, no período de janeiro a agosto de 2005, foram cerca de 33% superiores ao preço médio de 2004. Na comparação com o preço médio de 2000, o preço real é de cerca de 19% a favor do preço de 2005. Isto indica os preços recebidos, apesar das quedas ocorridas nos últimos quatro meses, apresentam valor médio mais favorável ao setor (gráfico 6).
Gráfico 6 - Preços médios anuais do café recebido pelos produtores paulistas, 2000 a 2005
Fonte: Instituto de Economia AGrícola
Estabilidade nas exportações globais
Análise dos resultados consolidados das exportações mundiais de café - para o período de agosto de 2003 a julho de 2004 e agosto de 2004 a julho de 2005 - revela relativa estabilidade nos volumes embarcados. Todavia, ampliou a participação dos arábicas naturais brasileiros nos embarques totais globais, com incremento de cerca de 12% no share, enquanto os
outros suaves e robustas perderam participação relativa (tabela 1).
Esse resultado é bastante importante para o agronegócio café brasileiro. A cada
temporada que passa, confirma-se a previsão de que o incremento da qualidade de
nosso produto, agregado à competitividade que esboça, tende a fortalecer a
posição brasileira no cenário internacional.
Tabela 1 - Exportações Mundiais de Café, todos os tipos, agosto 2003 a julho 2005
Tipo | | | |
Colombiano | 11.764.750 | 11.923.938 | |
Outros suaves | 20.894.885 | 20.241.233 | |
Naturais brasileiros | 24.759.816 | 27.796.308 | |
Robusta | 31.003.265 | 29.895.130 | |
Total | 88.422.716 | 89.856.609 | |
Em
julho de 2005, particularmente, constatou-se forte declínio nas exportações
globais do produto, com queda acentuada dos tipos colombianos (-9,13%) e dos
outros suaves (-26,56%). O total exportado, frente a igual mês do ano anterior,
revelou queda de 10,22%.
Esse resultado deve se repetir nos próximos levantamentos da OIC. Está-se diante
de um ano de ciclo bienal de baixa para a colheita brasileira e para os
cafeicultores de tipo colombianos e de outros suaves. Muitos ainda não se
recuperaram economicamente da longa fase de queda das cotações, carecendo suas
lavouras de investimentos em insumos e manejo agronômico, com perspectivas de
curto prazo para baixos volumes colhidos.
Tabela 1 - Exportações de Café, todos os tipos, agosto 2003 a julho 2005
Tipo | | | |
Colombiano | 899.059 | 816.944 | |
Outros suaves | 2.133.127 | 1.566.516 | |
Naturais brasileiros | 2.070.529 | 1.952.157 | |
Robusta | 2.481.087 | 2.472.933 | |
Total | 7.583.802 | 6.808.550 | |
Exportações brasileiras em 2005
Dados preliminares do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (CECAFE)2, para o período janeiro a agosto de 2005, apontam
para a exportação de 17,42 milhões de sacas de café, das quais 14,33 milhões de
arábica e 2,29 milhões em equivalente verde de solúvel. Esse volume de embarques
supera em 7,8% o do mesmo período do ano anterior.
Entretanto, o resultado mais favorável é revelado pela receita cambial,
capturada pelas transações que totalizaram US$ 1,91 bilhão até agosto de 2005,
representando crescimento de 58,7% frente a igual período de 2004. Vigorosos têm
sido os embarques de café solúvel, robustecendo ainda mais os resultados
favoráveis do segmento. Estima-se que a meta de receita, de cerca de US$ 3
bilhões para o ano fiscal de 2005, seja bastante factível (tabela 2).
TABELA 2 - Exportações Brasileiras de Café, todos os tipos, janeiro a agosto de 2005
Mês | | | | | | |
Jan. | 16.512 | 1.969.856 | 3.887 | 1.990.255 | 265.038 | 2.255.293 |
Fev. | 31.376 | 1.527.251 | 3.642 | 1.562.269 | 248.243 | 1.810.512 |
Mar. | 45.539 | 2.442.926 | 4.912 | 2.493.377 | 315.361 | 2.808.738 |
Abr. | 43.184 | 1.720.512 | 3.894 | 1.767.590 | 267.173 | 2.034.763 |
Mai. | 95.422 | 1.793.941 | 5.528 | 1.894.891 | 362.515 | 2.257.406 |
Jun. | 162.060 | 1.618.377 | 4.582 | 1.785.019 | 255.218 | 2.040.237 |
Jul. | 212.131 | 1.425.949 | 6.451 | 1.644.531 | 311.142 | 1.955.673 |
Ago. | 152.908 | 1.837.078 | 2.201 | 1.992.187 | 267.579 | 2.259.766 |
Total | 759.132 | 14.335.890 | 35.097 | 15.130.119 | 2.292.269 | 17.422.388 |
CMN redireciona R$ 50 milhões
O
Conselho Monetário Nacional (CMN) votou, em 31/08/2005, favoravelmente à
aplicação de R$ 50 milhões do Fundo de Defesa da Economia Cafeeira (FUNCAFÉ) em
operações de custeio da lavoura, especialmente dos cafeicultores familiares. Tal
recurso estava anteriormente destinado a estocagem, que compunha os R$ 350
milhões liberados desde o início de agosto.
Nesse mesmo voto foi substituído o valor do preço mínimo do café pela cotação
vigente no mercado para fins de cálculo do financiamento de estocagem e da Linha
Especial de Crédito (LEC) para a cultura. O financiamento será de até 70% do
valor do produto dado em garantia pelos cafeicultores.
Produção Integrada de Café (PIC)
Está
praticamente concluído o documento-base da Produção Integrada de Café (PIC).
Trata-se de norma que estabelece parâmetros que conferem sustentabilidade à
exploração cafeeira. Os cafeicultores desejosos de certificar seu produto
poderão espontaneamente aderir a essa norma.
As autoridades governamentais acreditam que o PIC venha a convergir toda a
diversidade de certificações atualmente aplicadas na cafeicultura. E para isso
prevêem a absorção da norma no âmbito da Associação Brasileira de Normas
Técnicas (ABNT). 3
_____________________________
1 CONAB: www.conab.gov.br
2 CECAFE: www.cecafe.com.br
3 Artigo registrado na
CCTC-IEA sob número HP-81/2005
Data de Publicação: 12/09/2005
Autor(es):
Nelson Batista Martin (nbmartin@uol.com.br) Consulte outros textos deste autor
Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor