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Previsão De Tempo Em Projetos
O
cronograma de um projeto deve ser ao mesmo tempo factível e ótimo, no sentido de
consumir o menor tempo total possível, já que o tempo adicional em geral resulta
também em acréscimo de custo. Uma vez definidas as etapas do projeto e as
tarefas a serem realizadas em cada etapa, define-se a seqüência dessas a ser
obedecida, em cadeia ou em paralelo, conforme técnicas e gráficos já amplamente
conhecidos. Surge, então, uma das grandes dificuldades no planejamento de um
projeto, que é a previsão do tempo necessário para a realização de cada tarefa
e, portanto, de cada etapa do projeto. Não é incomum que essa operação seja
negligenciada, resultando em cronogramas irrealistas, para mais ou para menos.
Situação típica é aquela em que um projeto tem de ser elaborado apressadamente
porque o prazo para solicitação de recursos termina em poucos dias. Pretende-se
focalizar neste artigo algumas conseqüências de erros nessas previsões.
Sem perda de generalidade, considere-se apenas uma tarefa que deve ser executada, supondo-se como dado um conjunto de recursos necessários e suficientes à sua realização. Uma vez fixado o conjunto de recursos, representado por R, a quantidade e a qualidade de cada um deles acabam por determinar o tempo necessário à realização da tarefa, a ser representado por t0. Esse é o tempo mínimo para a realização da
tarefa com o conjunto de recursos dado, i.e.:
Conjetura-se aqui que, se for previsto um tempo maior ou menor do que t0 , então, o tempo efetivo de realização da tarefa, representado por y, será maior do que t0 . A situação pode ser representada por alguma curva semelhante a uma parábola, em que no eixo das abcissas (x) aparece o tempo previsto para a realização da tarefa, enquanto que no eixo das ordenadas (y) aparece o tempo efetivamente gasto. É fácil verificar que no ponto x = t0 tem-se y=x=t0 , i.e., no ponto t0 o tempo previsto
é igual ao tempo realizado, que no caso é mínimo (e que se considera o ponto
ótimo de realização da tarefa).
Considere-se um exemplo numérico para melhor compreensão (Figura 1). Para um dado conjunto de recursos R1, o tempo mínimo necessário para realizar uma dada tarefa é t0=7 (no ponto y=x=7). Se o tempo previsto for x1=9, maior do que t0=7, então, o tempo efetivo será y=11. Neste caso, é fácil perceber que
o tempo realizado correspondente é maior do que o tempo previsto (e que o tempo
mínimo). Isso acontece quando se reserva para uma tarefa um tempo superior ao
necessário, evidenciando desperdício. Essa situação é bem conhecida e costuma
ocorrer quando o gerente do projeto é negligente.
Figura 1 - Tempo efetivo em função do tempo previsto para a realização de uma tarefa.
Em
nível individual, isso costuma acontecer quando um elemento da equipe,
responsável por uma tarefa, começa a realizá-la no momento em que já a deveria
estar concluindo. Na vida prática, acontece quando um indivíduo, que agendou um
encontro para as 8:00h, do outro lado da cidade, sai de casa exatamente às
8:00h. Ou quando se deixa para 'a última hora', ou quando não se respeitam
prazos. É elementar, mas desconsiderado por muitas pessoas o fato de que, para
uma tarefa terminar num horário (ou data) previsto, é preciso iniciá-la pelo
menos tanto tempo antes quanto o tempo mínimo necessário para realizá-la. Embora
mais comum nas organizações governamentais, ocorrem também nas empresas
privadas. Dentro da Secretaria de Agricultura e Abastecimento (SAA), isso
ocorre, v.g., na realização de levantamentos estatísticos, principalmente nas
tarefas de levantamento de campo.
O erro oposto consiste em prever um tempo menor do que o mínimo necessário, sendo mais comum entre gerentes afobados. Considere-se que foi previsto o tempo x2=6 para a realização da tarefa, menor do que t0=7, resultando no tempo efetivo y=8. Neste caso, é fácil ver que o tempo realizado correspondente a x2
também é maior do que o tempo previsto e que o tempo mínimo. Em outras palavras,
perde-se tempo ao tentar economizar tempo. O trabalho sob pressão excessiva,
induzido pela previsão para menos do tempo necessário para realizar uma tarefa,
resulta em estresse desnecessário na equipe, aumentando consideravelmente o
número de erros, o que gera correções e repetições, aumentando o tempo
efetivamente utilizado. Embora mais comum nas empresas privadas, também aparece
nas organizações governamentais. Um exemplo aconteceu no Projeto LUPA, da SAA:
em outubro de 1996, a previsão de término do projeto, baseada no rendimento do
trabalho de campo, era para março de 1997; mas, sob a alegação de encurtar esse
tempo, algumas alterações foram feitas por superiores hierárquicos na condução
dos trabalhos, e o projeto só terminou em setembro de 1997.
A cultura da urgência e da emergência, mesmo quando elas não existem, é
contraproducente. Um exemplo é o do chefe inseguro que, não confiando no
trabalho de seu subordinado, solicita um trabalho com urgência. O funcionário,
querendo agradar o chefe, perde seu almoço ou sai mais tarde do serviço e
termina no prazo. Depois, vê o trabalho abandonado sobre a mesa do chefe durante
dias a fio. A perda de confiança do funcionário em seu chefe fará com que, no
pedido seguinte, mesmo que a urgência seja real, o trabalho acabe sendo feito
com atraso.
Se o tempo mínimo necessário para a tarefa for insatisfatório, a única maneira de diminuí-lo consistirá em alterar o conjunto de recursos de R1 para, digamos, R2. Neste caso, a curva deslocar-se-á para a esquerda e para baixo, diminuindo o tempo mínimo para t'0=5 (Figura 1). A passagem de R1 para R2 poderá significar um aumento geral nos recursos utilizados, mantendo-se suas proporções. Entretanto, é sabido que depois de certo ponto o aumento de recursos passa a diminuir a eficiência da tarefa. Por exemplo, se uma pessoa varrer uma sala num dado tempo, duas pessoas varrerão num tempo menor, mas não exatamente a metade. Se continuarmos a aumentar o número de pessoas varrendo aquela sala, o tempo para concluir a tarefa continuará a diminuir, até que num dado ponto ele começará a aumentar, porque cada nova pessoa introduzida na sala atrapalhará as demais ao invés de ajudá-las (lei dos rendimentos físicos marginais decrescentes). Portanto, o simples aumento dos recursos conseguirá diminuir o tempo de realização da tarefa somente até certo ponto. Outras formas de passar de R1 para R2 consistem em alterar
o método de execução da tarefa ou em melhorar a eficiência dos recursos
disponíveis, mediante a alteração de um deles ou a introdução de um novo
recurso. É o que acontece, por exemplo, quando se adota uma nova tecnologia que
poupa ou dinamiza os demais recursos.
Finalmente, há que se considerar o caso em que se conta com um dado conjunto de recursos e sobre ele se prevê corretamente o tempo necessário. Porém, pelas mais variadas causas, no momento de realização da tarefa os recursos não estão disponíveis. Neste caso, há que se reavaliar os tempos. No exemplo apresentado, equivaleria a percorrer o caminho contrário, passando de R2 para R1. Um caso desses
aconteceu no já citado projeto LUPA, em que o tempo previsto inicialmente para o
levantamento de campo foi de 6 meses, mas foi dilatado para 2 anos devido à
falta dos recursos necessários.
Em suma, ao planejar a execução de um projeto deve-se ter em mente que cada
tarefa tem um tempo mínimo necessário para sua realização, dados os recursos
disponíveis, e que o tempo previsto deve ser, tanto quanto possível, próximo
desse tempo mínimo, já que super ou subestimativas redundam em tempos maiores do
que os previstos. O mais importante dessa discussão é que os tempos
relacionam-se diretamente aos custos do projeto e mesmo à utilidade e
oportunidade de seus resultados.
Data de Publicação: 04/12/2001
Autor(es): Francisco Alberto Pino (drfapino@gmail.com ) Consulte outros textos deste autor