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Café: transações no mercado futuro arrefecem no 1o semestre
Dentro do conjunto das commodities transacionadas na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F)1, para o primeiro semestre de 2005,
os contratos de café arábica representaram 49,6%, patamar aquém daquele já
alcançado em 2003, de 66,4% (tabela 1). Tabela 1 – Número de contratos de café arábica e total,
2000 a 2005 Essa
majoritária participação do arábica no número de contratos, no conjunto dos
celebrados nas transações realizadas, demonstra que o produto já alcançou o
ponto de maturidade em termos de grau de utilização (em futuros e em opções),
ultrapassando o patamar do mero aprendizado. A atuação da cadeia produtiva do
café no mercado de títulos financeiros, notadamente em futuros, representa
aspecto relevante, pois permite aos cafeicultores e demais agentes da cadeia
protegerem seu patrimônio, compartilhando parte dos riscos intrínsecos à
atividade. Gráfico 1 – Evolução das cotações médias mensais para
julho, café arábica, junho 2004 a julho 2005 Fonte: Dados elaborados pelo
IEA a partir de cotações diárias da BM&F Os
contratos, enquanto cambiais, possuem um valor de face que pode igualmente ser
acumulado ao longo do ano. Em 2004, por exemplo, o valor dos contratos de café
arábica totalizou US$ 5,50 bilhões, ou seja, mais que três vezes o saldo dos
embarques de café verde rumo ao exterior. A dimensão desse montante
transacionado na BM&F revela o interesse por esses (e a liquidez desses)
papéis. Tabela 2 – Volume e valor dos contratos de café arábica,
2000 até primeiro semestre de 2005 Ao
analisar o número de contratos negociados mensalmente, nos últimos quatro anos,
verifica-se que, em 2005, se tem um crescimento expressivo dos negócios
realizados em junho. Constata-se também que ocorreu menor volatilidade no número
de contratos celebrados frente a igual período de anos anteriores, sugerindo
relativo desinteresse na fixação de posição no futuro, enquanto a tendência de
mercado era altista, o que redundaria em menor número de transações
contabilizadas (gráfico 2). Gráfico 2 - Número mensal de contratos de café arábica
negociado na BM&F, 2002-05 Fonte: http://www.bmf.com.br/2004/pages/imprensa1/relatorios/RelMensal/RelatorioMensal_Junho2005.pdf
O
perfil dos participantes do mercado de contratos de café arábica é formado por
pessoas físicas e jurídicas, tanto nacionais como residentes no exterior. Dois
terços dos comprados em junho de 2005 pertenciam à categoria de investidor
não-residente-agro. As pessoas jurídicas não-financeiras, que representavam dois
terços até dezembro de 2004, vêm perdendo posição relativa. Tabela 3 - Distribuição dos Contratos de Café Arábica em
Aberto por Tipo de Participante, 2004-05 (1) Essas
informações indicam, no caso dos comprados, que existe grande importância dos
investidores pessoas jurídicas não-financeiras. Eles constituem as torrefadoras
de café torrado e moído e a indústria de solúvel, cujo objetivo é garantir um
determinado preço para a sua matéria prima, o café verde. ______________________________
(1) Referente ao primeiro semestre de 2005 e (2) Em relação
ao primeiro semestre de 2004 Ano
(%)
(%) 2000 2001 2002 2003 2004 2005(1)
Fonte: http://www.bmf.com.br/2004/pages/imprensa1/relatorios/RelMensal/RelatorioMensal_Junho2005.pdf
No primeiro semestre de 2005, o mercado de café viveu dois momentos: o primeiro
trimestre, com expressiva alta, foi seguido de perda no segundo trimestre do
ano. Na BM&F, a cotação da segunda posição para o café arábica cresceu
16,34% no semestre, o que pode explicar a redução de 28,81% no número de
contratos em relação ao mesmo período de 2004.
Os produtores, que acreditavam em alta contínua no mercado do produto e deixaram
de fixar seu preço até março, renunciaram à oportunidade de fechar posição no
mercado futuro para entrega em julho, quando em geral estão realizando parte das
vendas para dar suporte a colheita, com a conseqüente queda de preços. As
cotações para julho de 2005 confirmaram essa inferência, passando a exibir
declínio a partir de março desse ano (gráfico 1).
Caso todos os títulos fossem exercidos no mercado físico, seria preciso acumular
o volume colhido em duas safras para saldar os compromissos acertados em 2004,
quando cerca de 67,4 milhões de sacas foram negociadas. No primeiro semestre de
2005, em relação ao mesmo período do ano anterior, o volume negociado caiu
28,81%, enquanto o valor cresceu 28,76%, devido à favorável recuperação de
preços do produto.
Esse fenômeno representa maior liquidez para o ativo, neutralizando as entradas
e as saídas de agentes que podem eventualmente amplificar a volatilidade das
cotações (tabela 2).
(1) referente ao primeiro semestre de 2005 Ano 2000 2001 2002 2003 2004 2005(1)
Fonte: http://www.bmf.com.br/2004/pages/imprensa1/relatorios/RelMensal/RelatorioMensal_Junho2005.pdf
No caso dos vendidos, as pessoas jurídicas não-financeiras, que concentravam
mais de 50% dos negócios até dezembro de 2004, tiveram sua participação reduzida
para 37% em junho de 2004, enquanto os investidores não residentes-agro
aumentaram sua parcela. Ainda neste grupo de vendidos, aparecem os investidores
institucionais nacionais, cuja participação em 2005 tem se mantido em torno de
30%. Esses investidores, normalmente, recorrem aos títulos financeiros como
forma de se proteger contra riscos em relação a oscilações de preço em Nova
Iorque.
Tanto para compra quanto para venda, os investidores de perfil pessoa física
apresentam baixa participação no contexto das transações. Já os investidores
residentes no exterior praticamente não aparecem como compradores e mantêm-se
abaixo de 1% do total para o caso de vendedores (tabela 3).
(em
percentagem)
(1) Dados referentes ao último dia de pregão do mês
Item COMPRA P.
Jurídica Financeira Invest. Institucionais Invest. Instituc.
Nacional Invest. Instituc.
Estrangeiro Invest. Não Residente - Agro P.
Jurídica Não Financeira Pessoa
Física Total
(%) Total
(n.º de contratos) VENDA P.
Jurídica Financeira Invest. Institucionais Invest. Instituc.
Nacional Invest. Instituc.
Estrangeiro Invest. Não Residente - Agro P.
Jurídica Não Financeira Pessoa
Física Total
(%) Total
(n.º de contratos)
Fonte: http://www.bmf.com.br/2004/pages/imprensa1/relatorios/RelMensal/RelatorioMensal_Junho2005.pdf
Nos últimos 12 meses, é crescente a participação dessa categoria, embora ela
venha perdendo importância (68,40%) desde setembro de 2004, em relação aos
investidores não-residentes-agro, que apresentam participação crescente,
atingindo 45,94% em março de 2005 e voltando a crescer desde então para atingir
62,66% em junho.
Quanto à posição vendida, as pessoas jurídicas não-financeiras são os
investidores mais expressivos, representando, em junho de 2005, 36,71% do total
de investidores. Estes representam as cooperativas cujo objetivo é garantir um
determinado preço na venda de seu café verde. Logo em seguida, aparecem os
investidores institucionais nacionais, com 30,40% no mesmo mês, que representam
fundos que atuam no mercado com o objetivo de obter ganhos para os seus
clientes.
Alterações no perfil dos investidores são aguardadas, enquanto desdobramentos
das ações implementadas pela BM&F. Uma delas, que consiste na atração de
investidores tipo pessoa física tanto do país quanto do exterior, tem merecido
significativos esforços dos gestores da bolsa. Espera-se que disso resulte maior
expressão desse tipo de investidor.
Da parte governamental, a possibilidade de oferta de contratos de opções pode continuar tendo importante efeito na atração de industriais da torrefação e da solubilização, que, inclusive, perderam participação no último semestre.2
1 São elas: açúcar,
álcool anidro, algodão, bezerro, boi gordo, café arábica, café conillon, milho e
soja
2 Artigo
registrado no CCTC-IEA sob número HP-65/2005
Data de Publicação: 22/07/2005
Autor(es):
Nelson Batista Martin (nbmartin@uol.com.br) Consulte outros textos deste autor
Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor