Artigos
Mercado futuro de boi gordo: o maior crescimento entre os derivativos agropecuários
Gráfico 1. Evolução anual dos contratos negociados de Boi Gordo na BM&F,
2000-05 (1)
(1) cada contrato equivale a 330 arrobas Fonte:http://www.bmf.com.br/2004/pages/imprensa1/relatorios/RelMensal/RelatorioMensal_Abril2005.pdf
Mesmo
com tal crescimento, o total de negócios na Bolsa representou, em 2004, 4,52
milhões de cabeças prontas para o abate, o equivalente a 18% dos machos abatidos
no ano ou 10% do total anual de abate de bovinos no Brasil. Essa pequena
participação indica o potencial de crescimento deste mercado no futuro (gráfico
2).
Ao analisar o número de contratos negociados mensalmente, nos últimos três anos,
verifica-se que, em 2005, se tem um crescimento mais expressivo dos negócios
realizados (gráfico 3).
O desempenho de contratos negociados teve também importante influência da evolução no número de animais acabados em confinamento e em semiconfinamento, cuja quantidade de cabeças terminadas aumentou 18% em 2004, com a expectativa de que cresça 12% em 20051.
Gráfico 2. Evolução anual dos contratos negociados de Boi Gordo na BM&F em equivalente ao número de cabeças para o abate, 2000-05 (1)
(1) cada contrato equivale a
330 arrobas
Fonte:http://www.bmf.com.br/2004/pages/imprensa1/relatorios/RelMensal/RelatorioMensal_Abril2005.pdf
Gráfico 3. Evolução mensal dos contratos negociados de Boi Gordo na BM&F, 2003-05 (1)
(1) cada contrato equivale a
330 arrobas
Fonte:http://www.bmf.com.br/2004/pages/imprensa1/relatorios/RelMensal/RelatorioMensal_Abril2005.pdf
O comportamento do mercado de boi gordo em 2004 na BM&F, para a segunda posição, mostra queda de 10,20% no ano. Nos últimos seis meses, até abril, essa queda foi de 13,90%, sinalizando excesso de oferta, derivado das incertezas geradas pela saída do mercado de frigoríficos importantes e da seca que ocorreu no início do ano, afetando a produção pecuária de parte do Centro Oeste, do Sudeste e de toda a região Sul. Isto obrigou os produtores a antecipar suas vendas e a descartar matrizes e novilhas, gerando uma oferta que não está sendo absorvida pelas exportações e por um fraco mercado de consumo interno. O resultado é a ocorrência de fortes quedas de preços aos produtores. Neste contexto, apenas os pecuaristas que fizeram hedge, no final de 2004, estão conseguindo maior remuneração para o boi (gráfico 4).
Gráfico 4. Preços médios mensais recebidos pelos produtores de boi gordo no Estado de São Paulo, 2002-05
Fonte: Instituto de Economia Agrícola.
Assim,
inúmeros produtores que fixaram em novembro preço de R$ 65,00 a arroba, na
BM&F, receberam esse preço em abril, ao contrário dos demais que tiveram de
se contentar, nas diferentes praças paulistas, com preços da ordem de R$ 54,00 a
arroba. Portanto, neste mercado baixista e incerto do boi gordo, apenas os
pecuaristas que fizeram posições na BM&F, no final de 2004, estão
conseguindo uma remuneração mais favorável para o seu produto.
Além disso, o agravamento do ambiente de incerteza provocada pela desvalorização do dólar - o real valorizou-se em cerca de 14% nos últimos seis meses, afetando a receita dos exportadores de carne bovina - favoreceu, por um lado, a necessidade de hedge da
moeda americana pelos exportadores e, por outro, a entrada desses agentes na
BM&F, em busca de garantia da matéria-prima por um dado preço de mercado.
O ano de 2004 constituiu-se num período de aprendizado em relação ao mercado
futuro, sobretudo para muitos frigoríficos, com o objetivo de gerenciamento de
riscos por meio dos instrumentos do mercado futuro. Para o exportador, não basta
apenas prevenir-se na ponta da compra do boi gordo, mas é preciso também se
assegurar na venda de dólar, de maneira a evitar prejuízos causados pela
volatilidade do câmbio. Com isso, avançou-se no conceito de que, mais importante
do que o valor final do produto em si, interessa trabalhar com a margem de lucro
planejada. Para isso, mais empresas e pecuaristas montaram mesa de operações e
contrataram profissionais para atuar nesta área. Tanto que, no caso das empresas
exportadoras, se organizaram departamentos financeiros responsáveis por essas
operações.
Ao analisar a distribuição dos contratos em aberto por tipo de participante,
verifica-se que, na posição de comprado (COMPRA), se destacam os investidores
pessoa jurídica não-financeira, caracterizados por frigoríficos e indústria de
processamento de carnes, principalmente os exportadores, que procuram fixar
antecipadamente o preço de referência para sua matéria prima, no caso o boi
gordo e/ou seus produtos. Em janeiro de 2004, cerca de 80,12% dos contratos
estavam concentrados nesses participantes. Nesta mesma posição, cabe destacar a
partir de julho a participação de pessoas físicas atuando como comprados,
constituindo-se em investidores cujo objetivo é obter maior retorno que o
oferecido por outras aplicações financeiras (tabela 1).
Tabela 1.- Distribuição dos Contratos de Boi Gordo em Aberto
por Tipo de Participante, 2004-05 (1) (em percentagem)
Item | | | | | | | | | | | | | | | | |
COMPRA | ||||||||||||||||
P. Jurídica Financeira | 0,08 | 0,00 | 0,00 | 0,81 | 1,73 | 2,64 | 2,47 | 4,05 | 1,64 | 0,03 | 0,01 | 0,00 | 0,22 | 1,50 | 1,13 | 0,62 |
Invest. Institucionais | ||||||||||||||||
Invest. Instituc. Nacional | 3,19 | 7,95 | 6,08 | 5,61 | 0,12 | 0,57 | 1,07 | 3,20 | 3,00 | 2,70 | 1,42 | 2,24 | 12,44 | 13,16 | 12,24 | 12,87 |
Invest. Instituc. Estrangeiro | 0,70 | 2,57 | 2,22 | 1,64 | 0,00 | 0,00 | 0,00 | 0,00 | 0,00 | 0,00 | 0,00 | 0,00 | 4,75 | 4,88 | 4,48 | 4,64 |
Invest. Não Residente - Agro | 0,21 | 0,15 | 0,18 | 0,00 | 0,00 | 1,86 | 0,00 | 0,34 | 8,36 | 5,86 | 6,45 | 12,51 | 5,94 | 4,27 | 1,97 | 2,65 |
P. Jurídica Não Financeira | 80,12 | 74,62 | 73,05 | 61,19 | 69,51 | 73,04 | 58,36 | 55,34 | 55,21 | 57,77 | 60,22 | 34,83 | 34,84 | 51,58 | 55,43 | 48,41 |
Pessoa Física | 15,70 | 14,71 | 18,47 | 30,75 | 28,64 | 21,89 | 38,10 | 37,07 | 31,79 | 33,64 | 31,90 | 50,42 | 41,81 | 24,61 | 24,75 | 30,81 |
Total (%) | 100,00 | 100,00 | 100,00 | 100,00 | 100,00 | 100,00 | 100,00 | 100,00 | 100,00 | 100,00 | 100,00 | 100,00 | 100,00 | 100,00 | 100,00 | 100,00 |
Total (n.º de contratos) | 5.137 | 7.513 | 11.421 | 13.088 | 9.100 | 8.043 | 7.543 | 7.658 | 11.730 | 11.711 | 12.492 | 8.391 | 2.235 | 10.254 | 11.362 | 10.963 |
VENDA | ||||||||||||||||
P. Jurídica Financeira | 0,00 | 0,13 | 0,09 | 0,08 | 1,38 | 2,83 | 4,30 | 3,43 | 2,34 | 0,50 | 0,15 | 0,18 | 0,72 | 0,04 | 0,80 | 0,30 |
Invest. Institucionais | ||||||||||||||||
Invest. Instituc. Nacional | 4,93 | 5,63 | 3,67 | 5,24 | 3,25 | 3,43 | 4,19 | 6,23 | 5,03 | 3,27 | 2,46 | 2,50 | 3,28 | 2,10 | 2,56 | 1,59 |
Invest. Não Residente - Agro | 1,73 | 1,32 | 0,08 | 2,13 | 10,74 | 2,18 | 0,00 | 0,09 | 7,85 | 8,90 | 7,55 | 12,53 | 2,12 | 4,26 | 2,00 | 2,23 |
P. Jurídica Não Financeira | 30,76 | 24,12 | 28,10 | 24,77 | 34,90 | 29,80 | 25,63 | 33,18 | 32,96 | 34,80 | 38,38 | 28,13 | 44,06 | 38,88 | 31,01 | 61,54 |
Pessoa Física | 62,58 | 68,80 | 68,06 | 67,78 | 49,73 | 61,76 | 65,88 | 57,07 | 51,82 | 52,53 | 51,46 | 56,66 | 49,82 | 54,72 | 63,63 | 34,34 |
Total (%) | 100,00 | 100,00 | 100,00 | 100,00 | 100,00 | 100,00 | 100,00 | 100,00 | 100,00 | 100,00 | 100,00 | 100,00 | 100,00 | 100,00 | 100,00 | 100,00 |
Total (n.º de contratos) | 5.137 | 7.513 | 11.421 | 13.088 | 9.100 | 8.043 | 7.543 | 7.658 | 11.730 | 11.711 | 12.492 | 8.391 | 2.235 | 10.254 | 11.362 | 10.963 |
(1)Dados referentes ao
último dia de pregão do mês
Fonte: http://www.bmf.com.br/2004/pages/imprensa1/relatorios/RelMensal/RelatorioMensal_Abril2005.pdf
Quanto
à posição de vendido (VENDA), o destaque é o de participantes pessoas físicas -
os produtores de boi gordo, especialmente os confinadores e semiconfinadores -
que, por conhecer com maior precisão os seus custos, procuram fixar um preço de
venda quando iniciam o fechamento do gado nos meses de abril, maio e junho,
garantindo uma margem de lucro prefixada, envolvendo pelo menos 50% dos animais
em engorda. Assim, nesta categoria de pessoa física, na posição de vendido, em
geral concentram mais de 50 % dos contratos em aberto, com exceção de abril de
2005, provavelmente devido à forte tendência de queda das cotações do boi gordo
no mercado do físico e de futuros. A segunda categoria que se destaca são as
pessoas jurídicas não-financeiras, constituídas por frigoríficos e indústria de
processamento, que atuam principalmente nas mudanças de posição, de acordo com o
comportamento das cotações manifestadas no mercado futuro, com o objetivo de
otimizar seus retornos, em função da evolução das cotações verificas no mercado
futuro do boi gordo (tabela 1).
A solidificação e a ampliação da condição brasileira de liderança mundial no mercado de carne bovina, em termos de volume exportado, correspondem à necessidade de ensejar esforço crescente para diferenciar seus produtos visando incorporar maior valor agregado aos produtos e processos. A continuidade da expansão das exportações de carne bovina brasileira vai exigir a melhoria de eficiência e profissionalização, não apenas da indústria exportadora como também de toda cadeia de produção de carne bovina . Nesse caso, os exportadores e os produtores mais tecnificados deverão utilizar, de forma crescente, as ferramentas financeiras do mercado futuro - como instrumento de proteção patrimonial e de suporte à procura de maior estabilidade de renda na atividade-, bem como de diferentes inovações tecnológicas na concretização de maior competitividade da carne bovina brasileira no mercado interno e internacional. 2
_________________________
1Instituto FNP, Boletim Pecuário Semanal, n.o 606 de 5 de maio de 2005. São Paulo - SP
2 Artigo registrado no CCTC-IEA sob número HP-40/2005.
Data de Publicação: 31/05/2005
Autor(es):
Nelson Batista Martin (nbmartin@uol.com.br) Consulte outros textos deste autor
Luiza Maria Capanema Bezerra (luizamcb@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor