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Evolução Dos Salários Rurais No Estado De São Paulo, 1990-2001
Os
salários rurais pagos à população trabalhadora na atualidade, bem como sua
evolução no tempo, são informações relevantes quando se avalia o mercado de
trabalho, que interessam tanto ao empregador quanto ao trabalhador. Estes dados
constituem importante subsídio para as negociações salariais entre sindicatos e
empresas rurais, bem como para avaliações efetuadas por instituições
governamentais, ou não, sobre a situação econômica dos trabalhadores. Diante
destas considerações, apresenta-se nesse artigo o panorama dos salários rurais
no período de 1990 a 2001. As informações foram obtidas por meio de levantamento
subjetivo, realizado junto aos técnicos das Casas de Agricultura de todos os
municípios do Estado de São Paulo, nos meses de abril e novembro. O levantamento
abrange seis categorias de trabalho: administrador, tratorista, mensalista,
capataz, diarista e volante. Os dados foram deflacionados pelo IGP- DI da
Fundação Getúlio Vargas e foram calculadas taxas de crescimento com base nas
médias anuais.
De modo geral, para todas as categorias de trabalho pesquisadas, constatou-se
evolução satisfatória dos salários rurais ao longo do período considerado. Entre
os trabalhadores com recebimento mensal, as maiores taxas de crescimento foram
observadas para mensalista (4,75 % ao ano) e tratorista (4,49% ao ano). Valores
um pouco menores foram obtidos para capataz (3,86% ao ano) e administrador
(3,42% ao ano). A observação gráfica das médias salariais evidenciou situações
distintas no decorrer do período 1990-2001, amplamente relacionadas com os
diferentes momentos econômicos vivenciados pelo país. No início da década de 90,
os níveis salariais mostraram oscilações, com uma perda real. Vale lembrar que
esse período foi marcado pela ocorrência de planos econômicos com arrocho
salarial e uma conjuntura de elevados índices inflacionários. A seguir ocorreu
uma recuperação salarial, com maior intensidade de 1994 para 1995, decorrente,
em grande parte, da situação de estabilidade econômica e do controle da
inflação, viabilizados pelo Plano Real. Em 1999, as novas diretrizes da política
cambial brasileira em curso e a desvalorização do real refletiram-se
negativamente no comportamento dos salários. Em 2001, há uma ligeira recuperação
dos vencimentos (tabela 1 e figura 1).
Tabela 1: Estimativas dos Paramêtros e da Taxa Anual de Crescimento
Variáveis | Estimativas dos Parâmetros | Valor de t | Taxa anual de crescimento |
Salários Rurais | |||
Administrador | 0,033675 | 3,23 | 3,42a |
Tratorista | 0,043928 | 3,95 | 4,49a |
Mensalista | 0,004640 | 4,37 | 4,75a |
Capataz | 0,037888 | 3,50 | 3,86a |
Diarista | 0,065266 | 4,00 | 6,74a |
Volante | 0,047433 | 2,77 | 4,86b |
Ocupação | |||
Residentes | 0,027129 | -6,07 | ´-2,68a |
Não residentes | 0,034360 | 5,,67 | 3,49a |
Volantes | -0,036386 | -3,21 | ´-3,57b |
Total | -0,012746 | -2,71 | `-1,27b |
a= significativo em nível de 1%
b= significativo em nível de 5%
Fonte: Elaborada com base nas médias salariais e de ocupação
Os
dissídios salariais entre a Federação dos Trabalhadores da Agricultura do Estado
de São Paulo (FETAESP) e o setor patronal são realizados com o intuito de
garantir o nível salarial adequado. Para isso, na safra 2000, foram
estabelecidos três tipos de acordo: para cana-de-açúcar, o piso foi definido em
R$ 235,22/mês (na colheita, para o corte de cana de 18 meses o valor é de R$
1,5004 por tonelada e para outros cortes, de R$ 1,4240/t); para laranja, o piso
foi de R$ 174,90 (para a diária do colhedor, de R$ 0,131798/caixa colhida); e
para culturas diversas e pecuária, o piso foi de R$ 182,00 até outubro de 2001.
Muitos sindicatos de trabalhadores e de empregadores acordam em suas respectivas
bases territoriais pisos salariais diferentes daqueles do acordo entre as
federações, geralmente com valores superiores. Caso haja um aumento do salário
mínimo, de maneira que supere o salário estabelecido entre as federações,
considera-se o novo salário mínimo vigente. Para a safra 2001, os valores ainda
não foram acordados entre a Fetaesp e o setor patronal, apesar do estágio
avançado das colheitas de cana e laranja.
Para as categorias de trabalhadores com recebimento diário (diaristas e
volantes), as taxas de crescimento foram significativas, com 6,74% ao ano e
4,86% ao ano, respectivamente. Para as diárias pagas a esses trabalhadores,
também ocorreram situações menos favoráveis. No início da década de 90, houve
perda real de salário devido ao aumento do desemprego, em conseqüência da
significativa redução das áreas plantadas de algumas culturas como algodão, café
e feijão, as quais empregam elevado número de volantes, o que provocou maior
oferta de braços disponíveis. Após o período de recuperação salarial iniciado
ainda em 1993, as perspectivas de evolução dos recebimentos passaram a ser menos
estimulantes já a partir de 1996 (tabela 1 e figura 2).
No
período 1990-99, ocorreu decréscimo no total de pessoas ocupadas na agricultura
paulista, estimando-se menos 200 mil pessoas ocupadas, não só em decorrência da
redução dos cultivos de culturas importantes na ocupação de mão-de-obra, como
também da mecanização da colheita, principal operação geradora de emprego. Neste
período, a taxa de crescimento da ocupação foi de –1,27% ao ano. Enquanto a
população trabalhadora residente nos imóveis rurais apresentou taxa de
crescimento de – 2,68% ao ano, para os não residentes (exceto volantes) a taxa
foi de 3,49% ao ano. A situação mais desfavorável foi a dos volantes com queda
de 3,57% ao ano.
As informações apresentadas revelam evolução favorável dos salários rurais
diante da queda na ocupação. As transformações estruturais do mercado de
trabalho estão atreladas à modernização nos processos produtivos, que por um
lado tem reduzido o trabalho penoso, mas por outro aumenta a capacidade de
produzir com menos pessoas. Assim, a mecanização progressiva da operação de
colheita libera o trabalhador de uma atividade difícil, ocasionando, porém,
queda na ocupação, como é o caso principalmente da cana-de-açúcar.
Avaliações recentes sobre as novas tendências das ocupações têm ressaltado a
importância da formação de trabalhadores capacitados para as alterações nos
processos produtivos. Se antes o argumento era no sentido de alocação de parcela
significativa dos trabalhadores de menor qualificação no setor da agricultura,
quando se observa o ritmo de modernização por que passa este setor, é difícil
sustentar este argumento na atualidade.
Data de Publicação: 31/10/2001
Autor(es): Maria Carlota Meloni Vicente (carlota@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor