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Mercado Mundial de Óleos Vegetais: panorama e perspectivas
Os óleos vegetais integram o rol dos mais
importantes derivados dos produtos provenientes da agricultura. De acordo com o
processo que recebem os óleos vegetais podem ser brutos destinados a fins
industriais ou refinados amplamente utilizados na alimentação humana, além de
proporcionarem gorduras solidificadas empregadas em larga escala pela indústria
alimentícia. As principais matérias-primas de óleos vegetais ao
redor do mundo compreendem: amendoim, azeitona (azeite de oliva), caroço de
algodão, coco, colza (óleo de canola), girassol, palma (azeite de dendê),
palmiste e soja. Os óleos de palma ou azeite de dendê, de soja, de colza ou
canola e o de girassol, em ordem de importância, representam 87,7% da produção
mundial a ser obtida na temporada 2022/231, conforme o United States
Department of Agriculture (USDA)2. Este artigo tem por objetivo analisar o mercado
mundial de óleos vegetais no período que compreende as temporadas 2020/21 a
2022/23 através da apresentação da dinâmica da oferta e demanda, e do
comportamento das cotações internacionais. Os dados utilizados são do United
States Department of Agriculture (USDA)3. A oferta mundial de óleos vegetais (estoque inicial
acrescido da produção) na temporada 2022/23 deve ser de 246,57 milhões de
toneladas com acréscimo de 4% em comparação a 2021/22. O consumo mundial de
óleos vegetais está previsto em 212,82 milhões de toneladas com um acréscimo
equivalente ao da oferta da ordem de 4,3% em relação a temporada passada. Por
sua vez, as transações comerciais com óleos vegetais no mundo devem ser
intensificadas através do aumento de 11,6% nas exportações, as quais devem
alcançar 88,23 milhões de toneladas no ano comercial corrente (Tabela 1). Atualmente, a produção e o consumo de óleo de palma
ou dendê são os mais significativos do mundo. Pesquisa realizada por Freitas,
Ferreira e Barbosa (1998)4 já verificava o potencial desse óleo, o qual
na ocasião ocupava a segunda colocação, depois da soja, em importância no
mercado mundial de óleos vegetais. Para a produção brasileira, as autoras
constataram que por ocorrer na entressafra mundial seria um fator favorável
para o atendimento da demanda doméstica e também para o mercado exterior. Na safra 2022/23, a produção de óleo de palma deve
ser de 77,56 milhões de toneladas, dos quais 58,7% proveniente da Indonésia e
24,7% da Malásia, perfazendo, assim, 83,4% do total mundial. Para este ano a
tendência é de crescimento de 5,1% na produção em função da perspectiva da
mesma variação nesses dois países produtores. Desse modo, a oferta global deve
totalizar 94,38 milhões de toneladas com aumento de 6,1% comparativamente ao
volume do ano passado. Nas transações internacionais o óleo de palma também
é o mais comercializado ao responder por 58,0% das exportações dentre todos os
óleos vegetais. Para 2022/23 as exportações devem crescer 16,9% em comparação
ao volume registrado no ano passado e alcançar 51,22 milhões de toneladas
(Tabela 1). A Indonésia é a maior exportadora, responsável por 55,5% seguida
pela Malásia com a participação de 32,9%. Cabe destacar que na Malásia a maior
parte da produção, 88%, é destinada às exportações enquanto na Indonésia essa
parcela é de 62,5%. Os principais países importadores de óleo de palma
compreendem Índia, China e União Europeia. No que se refere ao consumo, o óleo de palma também
é o de maior importância por responder por 35,7% da demanda mundial. Na safra
2022/23 o consumo desse óleo deve alcançar 75,97 milhões de toneladas, o volume
mais elevado dos últimos anos com aumento de 6,9% em comparação ao verificado
no ano passado. Os países maiores consumidores são a Indonésia, Índia e China
(Tabela 1). O Brasil integra o rol dos principais países
consumidores de óleo de palma, com evolução crescente nos últimos anos. Para a
temporada 2022/23 a previsão é de que o consumo brasileiro alcance 915 mil
toneladas com elevação 8,9% comparativamente a demanda verificada no ano
passado. Destaca-se que a quantidade a ser consumida no mercado brasileiro é a
maior registrada nos últimos anos. O óleo de soja ocupa a segunda colocação no ranking da produção e da oferta entre os
óleos vegetais no mercado mundial com participação de 27% do total. Para a
temporada 2022/23, a previsão é de que a produção alcance 60,21 milhões de
toneladas com crescimento de 2% em comparação ao verificado no ano passado. Com
isso a oferta deve alcançar 64,64 milhões de toneladas, patamar estável em
relação ao observado no ano anterior em virtude dos estoques decrescentes desse
derivado (Tabela 1). Na análise dos principais países produtores de óleo
de soja observa-se a liderança da China com 27,4% seguida pelos Estados Unidos
com 19,7% e o Brasil com 16,9%. Entretanto, cabe destacar que, quando se trata
da produção da matéria-prima, soja em grão, o ranking entre esses países tem outra configuração em razão da
liderança brasileira seguida pela estadunidense e pela argentina. Desse modo, a
produção chinesa de óleo é predominantemente proveniente da importação da soja
em grão. No que tange ao comércio
internacional de óleo de soja, a Argentina se destaca como a maior exportadora
com 40,2% do total. É seguida pelo Brasil com 19,9% e pela União Europeia com
9,1%, bloco esse que também é grande importador de soja em grão. Por sua vez,
os principais importadores desse derivado são a Índia, a China e Bangladesh. A participação relativa do óleo de soja no consumo
total de óleos vegetais deve ser de 27,8% ao totalizar 59,35 milhões de
toneladas em 2022/23. O óleo de soja é o segundo mais consumido no mundo.
China, Estados Unidos e Brasil respondem por 62% da demanda desse derivado.
Como mencionado, a produção de óleo de soja chinesa é predominantemente
proveniente de matéria-prima (soja em grão) importada. Já a produção de óleo
nos Estados Unidos e Brasil é originada a partir de produção própria de soja em
grão. Conforme citado, o Brasil, é o maior produtor de
soja em grão. No entanto, quanto ao óleo está em terceiro lugar no ranking mundial. Essa característica decorre
da exportação da maior parte da produção de soja em grão, o que resulta em
quantidades menores destinadas ao processamento para a fabricação de óleo no
país5. O óleo de colza ou de canola ocupa a terceira
colocação em produção e em consumo dentre os óleos vegetais no mundo. Segundo
Martin e Nogueira (1993)6 a canola resulta de pesquisas de
melhoramento de variedades de colza realizadas no Canadá nos anos 1960. O
potencial da oleaginosa no Brasil foi destacado pelos autores. O óleo de colza deve responder por 14,8% da produção
total de óleos vegetais em 2022/23. O derivado se destaca por apresentar a
perspectiva de crescimento mais acentuado na oferta dentre os principais óleos
vegetais, na ordem de 8,4%. Esse comportamento se justifica pelos expressivos
acréscimos nas produções de 11% na União Europeia, principal bloco produtor, e
de 21,7% no Canadá, terceiro maior produtor. A produção na China, que ocupa a
segunda colocação e deve crescer 3,7% na temporada 2022/23. As exportações mundiais de óleo
de colza devem ser de 6,64 milhões de toneladas em 2022/23, com acréscimo de
26% em comparação ao volume transacionado no ano anterior. Destaca-se que as
exportações de óleo de canola devem apresentar o aumento mais expressivo dentre
as transações realizadas com os óleos vegetais aqui analisados. Esse
crescimento se deve à recuperação da quantidade destinada ao mercado
internacional por parte do Canadá após retração nas vendas externas no ano
passado. O Canadá é o maior exportador de óleo de colza com participação de
48,9% no total, o que indica que a maior parte da produção canadense é voltada
ao mercado internacional. Quanto ao consumo mundial, o
óleo de colza representa 14,9% do total dos óleos vegetais. Para a temporada
2022/23 é previsto que o consumo deve alcançar 31,68 milhões de toneladas, com
crescimento de 8,2% em comparação ao verificado no ano passado. A União
Europeia é a principal demandante ao responder por 30,7% do consumo total. Na
atual temporada, o bloco deve consumir 9,72 milhões de toneladas, volume que
representa acréscimo de 5,4%. Ressalta-se que o consumo de óleo de colza é o
que apresenta o crescimento mais significativo, de 8,2%, dentre os óleos
analisados, em função, principalmente, da expansão de 10% na demanda chinesa,
maior importadora (Tabela 1). No Brasil, pesquisas para o melhoramento de
variedades com vistas à expansão da cultura da canola são desenvolvidas pela
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa)7 em virtude do
potencial da oleaginosa com base na possibilidade de cultivo como cultura de
inverno, no elevado teor de óleo e no emprego do farelo para alimentação
animal. A produção de canola apresenta expansão no país nos últimos três anos
com crescimento de 41,1% em área e de 75,9% em produção entre 2021 e 2023.
Atualmente a produção brasileira de canola, em sua maioria proveniente do Rio
Grande do Sul, deve alcançar 96,2 mil toneladas, conforme a Companhia Nacional
de Abastecimento (Conab)8. O óleo de girassol ocupa a quarta posição na
produção mundial de óleos vegetais com participação de 9,5% na produção e na
oferta total. Em 2022/23, a oferta deve alcançar 22,90 milhões de toneladas, o
que representa acréscimo de 5,5% comparativamente a verificada na temporada
anterior. A Rússia é a maior produtora ao responder por 30,3%
da produção mundial e em 2022/23 e deve produzir 6,24 milhões de toneladas com
aumento de 7,1% em relação à safra passada. É seguida pela União Europeia e
pela Ucrânia na produção desse derivado com, respectivamente, 22,4% e 21,3% do
total mundial na presente temporada. No triênio 2020/21 a 2022/23 observa-se
uma alternância na liderança da produção de óleo de girassol diante das
reduções na produção ucraniana e crescimento na produção russa. Em 2022/23, as exportações mundiais de óleo de
girassol devem alcançar 11,70 milhões de toneladas o que representa 13,3% do
total do comércio com óleos vegetais. Houve um crescimento de 5,9% nas vendas
externas em comparação às exportações no ano anterior. No triênio 2020/21 a 2022/23, a exemplo do observado
na produção, a Ucrânia diminuiu suas exportações enquanto crescem as vendas
externas de óleo de girassol por parte da Rússia. Desse modo, na temporada
atual 2022/23 as quantidades exportadas de óleo de girassol por parte desses
dois países devem ser praticamente as mesmas, de 4,0 milhões de toneladas por
parte da Rússia e de 3,95 milhões de toneladas da Ucrânia. Vale ressaltar a
crescente participação da Turquia e da União Europeia no comércio de óleo de
girassol, dada suas posições de terceiro e quarto maiores exportadores
mundiais. O consumo de óleo de girassol deve alcançar 18,87
milhões de toneladas em 2022/23, com crescimento de 5,6% em relação a
quantidade na safra passada. Esse derivado corresponde a 8,9% do total
demandado de óleos vegetais no mercado mundial. A União Europeia é a maior
demandante ao responder por 29,2% do consumo global seguida pela Rússia e
Turquia com 12,6% e 6,8%, respectivamente. No Brasil a produção do grão de girassol, cuja maior
parte é procedente do estado de Goiás, apresenta crescimento nos últimos anos
em decorrência do aumento da área plantada e da produtividade resultando em
produção de 64,1 mil toneladas em 2022/23 com crescimento de 55,9% comparativamente
a safra passada9. Ainda assim, a contribuição do óleo de girassol
para disponibilidade de óleos vegetais no Brasil está aquém da demanda uma vez
que conforme já observado por Freitas (2000)10 o país é importador
do óleo de girassol argentino, principalmente. No que tange ao comportamento das cotações
internacionais dos óleos vegetais analisados, cabe salientar que esses produtos
apresentam semelhança na tendência dada a estreita relação entre os seus preços
de modo a se moverem simultaneamente ao longo do tempo11. Neste
sentido, observa-se similaridade nos movimentos dos preços dos óleos vegetais
no período de outubro de 2020 a fevereiro de 2023 em especial à expressiva alta
verificada no início de 2022, o que pode ser atribuída ao início do conflito
entre a Ucrânia e a Rússia, ambos importantes produtores de óleo de girassol
(Figura1). Recentemente as cotações retornam aos patamares
anteriores a esse episódio com base na relativa estabilidade dos estoques
finais da temporada 2022/23 previstos em 29,56 milhões de toneladas pouco
superior aos 29,35 milhões de toneladas registrados no ano passado. Desse modo,
as perspectivas para esta temporada são de estabilidade nos preços de óleos
vegetais a exemplo do verificado nos últimos meses do período analisado. 1Refere-se ao ano
comercial de outubro a setembro. 2UNITED STATES DEPARTMENTO OF AGRICULTURE. Oilseeds:
World Markets and Trade. Mar 2023. Disponível em:
https://downloads.usda.library.cornell.edu/usda-esmis/files/tx31qh68h/8336jf16z/tq57q421z/oilseeds.pdf.
Acesso em: 29 mar. 2023. 3 Op. cit. nota 2. 4FREITAS, S. M.;
FERREIRA, C. R. R. P. T.; BARBOSA, M. Z. Oportunidades e entraves à expansão da
dendeicultura brasileira. Agricultura em
São Paulo, v.45, n. 2, p.1-16, 1998. Disponível em:
http://www.iea.sp.gov.br/ftpiea/ie/1998/ASPII98-1.pdf. Acesso em: 26 abr. 2023. 5Para informações
sobre a disponibilidade interna de soja em grão para a fabricação de óleo
comparativamente às exportações brasileiras (grão e óleo) e a influência da
estrutura tributária brasileira consultar BARBOSA, M. Z.; PEREZ, L. H. Evolução
das exportações brasileiras de óleo de soja por portos de embarque e estados de
origem, 1996 a 2004. Informações
Econômicas, v. 36, n. 2, p. 38-53, fev. 2006. Disponível em:
http://www.iea.sp.gov.br/out/%22/ftpiea/publicacoes/tec4-0206.pdf%22. Acesso
em: 24 abr. 2023. 6MARTIN, N. B.;
NOGUEIRA JUNIOR, S. Canola: uma nova alternativa agrícola de inverno para o
Centro-Sul Brasileiro. Informações
Econômicas, v. 23, n. 4, p. 9-25, abr. 1993. Disponível em:
http://www.iea.sp.gov.br/ftpiea/ie/1993/tec1-0493.pdf. Acesso em: 27 abr. 2023. 7EMPRESA
BRASILEIRA DA PESQUISA AGROPECUÁRIA. Canola:
tropicalização da canola. [2021]. Disponível em: https://d335luupugsy2.cloudfront.net/cms/files/59955/1607606660Inforgrafico_Potencial-da-Canola.jpg. Acesso em: 22 abr. 2021 8CONAB. Companhia
Nacional de Abastecimento. Acompanhamento da Safra Brasileira de Grãos.
Brasília, DF: Conab, v. 10, n. 7, abr. 2023. Disponível em:
https://www.conab.gov.br/info-agro/safras/graos/boletim-da-safra-de-graos.
Acesso em: 2 maio 2023. 9Op. cit. nota 8. 10FREITAS, S. M.
Girassol: expansão ou retração? Informações
Econômicas, v. 30, n. 9, p. 60-63, set. 2000. Disponível em:
http://www.iea.sp.gov.br/ftpiea/ie/2000/ana-seto2-0900.pdf. Acesso em: 11 abr.
2023. 11BASTIAN (1990)
citado por BARBOSA, M. Z.; ROCHA, M. Z.; FREITAS, S. M. Sazonalidade dos preços
dos principais óleos vegetais no mercado internacional. Informações Econômicas,
São Paulo, v. 25, n. 3, p. 9-18, mar. 1995. Disponível em:
http://www.iea.sp.gov.br/ftpiea/tec1-0395.pdf. Acesso em: 13 abr. 2023. Palavras-chave: óleo de palma,
óleo de soja, óleo de canola, óleo de girassol, oferta, demanda, preços. COMO
CITAR ESTE ARTIGO ZEFERINO, M; RAMOS, S. de F. Mercado Mundial de
Óleos Vegetais: panorama e perspectivas. Análises e Indicadores do
Agronegócio, São Paulo, v. 18, n. 5, p. 1-8, maio 2023. Disponível em: colocar o link do artigo. Acesso em: dd mmm. aaaa.
Data de Publicação: 16/05/2023
Autor(es):
Marisa Zeferino (marisa.zeferino@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Soraia de Fátima Ramos (sframos@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor