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Citricultura: uma simulação de receita bruta do setor em 2000/04
Entre 1980 e 2003, foram publicados 672 artigos em 40 volumes da Revista Laranja, do Instituto Agronômico (IAC/APTA), vinculado à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo. Como seria praticamente impossível tratar de cada tema abrangido pela pesquisa em citros, procurou-se quantificá-los em 10 grandes grupos.1 Impactos da pesquisa Parece que não existe, até o momento, maneira objetiva, satisfatória e suficiente para se avaliar quantitativa e qualitativamente os resultados de pesquisas agrícolas. Assim, faz-se uma tentativa de examinar um pouco mais detidamente os benefícios advindos das pesquisas e da difusão desses conhecimentos na citricultura brasileira. Procurou-se organizar algumas das contribuições no sentido econômico e social, tendo
se observado uma convergência de resultados entre os indicadores considerados.
Tabela 1 - Média quinquenal de área cultivada e em produção, produtividade aparente e efetiva da cultura de laranja, Estado de São Paulo, 1930 a 2004 1 A
partir do qüinqüênio 1955-59, a produtividade média por hectare foi nitidamente
ascendente, ou seja, de desenvolvimento e de expansão da citricultura em
resposta aos plantios de clones novos, melhoria de tratos culturais e aumentos
de densidade de plantio em São Paulo, onde a valorização das terras se tornou
elemento mais importante que apenas a produção por planta. Tabela 2 - Receita bruta do setor citrícola, estimada e
simulada, Estado de São Paulo, 2000/04 Ao se
estimar os valores da produção com preços da laranja posta-fábrica, em
contraposição aos preços da fruta no pé, conclui-se que 72% dos ganhos, que
teriam sido auferidos por safra, seriam apropriados pelos agricultores, enquanto
o restante seria distribuído entre colhedores e transporte da fruta dos pomares
até as fábricas. Em outras palavras, os benefícios se espalhariam pelos demais
elos da cadeia produtiva. 1 Mais detalhes podem ser vistos em: a)
Palestra 'Ganhos proporcionados pela pesquisa citrícola,
1930 a 2004', apresentada em 21/10/2004 em Bebedouro (SP) ; e b) CASER, D.V. e AMARO, A.A. 'Evolução da Produtividade na
Citricultura Paulista' – Informações Econômicas', v.34, n.10, outubro de 2004,
p.7 a 12 .
O maior número de artigos foi classificado nas áreas de Fitopatologia e Entomologia (233), o que se pode atribuir aos sérios problemas enfrentados pela citricultura (tristeza, cancro cítrico, gomose, declínio, Clorose Variegada dos Citros-CVC e Morte Súbita dos Citros-MSC). Tais ocorrências atingem diretamente a sobrevivência das plantas, a
produtividade e, consequentemente, a lucratividade do pomar, afetando as
vantagens comparativas da produção de laranja em São Paulo.
Na área de Administração e Economia, foram apresentados 162 trabalhos referentes a custos de produção, preços e relações comerciais entre produtores e indústria, bem como à evolução setorial e à
política da agroindústria cítrica brasileira, refletindo-se por vezes na adoção
de resultados fitotécnicos gerados pela pesquisa.
Cabe citar que nos 17 congressos brasileiros de fruticultura, promovidos pela
Sociedade Brasileira de Fruticultura desde em 1971, os títulos de trabalhos
referentes especificamente à citricultura (786) representaram 18% de um total de
4.484 relatos.
Uma série longa de produção e de produtividade da terra – um dos indicadores do impacto da pesquisa - mostra
tendência ascendente em quase todo o período de 1930 a 2004. Evidentemente, a
produtividade é função de fatores fixos, mais difíceis de serem mudados nas
plantações já estabelecidas, e de fatores variáveis que podem ser modificados a
custos razoáveis em comparação com as receitas auferidas.
Deixou-se de analisar tão somente resultados de ensaios em pomares conduzidos em
estações experimentais e preferiu-se considerar a produtividade média (efetiva e
aparente) estimada para as áreas plantadas com laranja, no Estado de São Paulo.
Dessa forma, admitiu-se que todos os fatores de influência estariam sendo
captados, alguns aleatórios, mas a grande maioria como reflexo da adoção de
progresso tecnológico por parte dos citricultores paulistas (estimados ao redor
de 20 mil) e, sem dúvida, embasados em geração e difusão de pesquisas.
Para a laranja2, o IEA dispõe de uma série de
dados de área e produção desde 1930. Assim, foi possível calcular as
produtividades médias, aparente e efetiva, dividindo esse longo período em 15
qüinqüênios de modo a evitar resultados influenciados por condições espúrias em
determinado(s) ano(s) (tabela 1).
1Densidade de
plantio: a) até 1984, 'stand' de 200 plantas/ha em geral; b) plantas novas (até
3 anos) por hectare) >1985 a 1989 = 237; >1990 a 1994 = 253; >1995 a
1997 = 270; > 1997 a 1999 = 297; > 2000 = 300; > 2001 a 2003 = 350; c)
plantas em produção por hectare > 1985 a 1989 = 212; >1990 = 225; >1995
a 1999 = 260; > 2000 a 2003 = 300. Quinquênio
(1.000ha)
(1.000ha)
(caixa/ha)
(caixa/ha) 1930-34 1935-39 1940-44 1945-49 1950-54 1955-59 1960-64 1965-69 1970-74 1975-79 1980-84 1985-89 1990-94 1995-99 2000-04
Fonte: Dados do
autor, a partir de dados do IEA/CATI (Estimativas e Previsões de Safra, Estado
de São Paulo).
Em plantios adensados, haverá necessidade de mais água, mais fertilizantes e
defensivos por unidade de área. Todavia, a irrigação não só diminui o risco de a
produtividade ser afetada, mas permite dilatação do período de colheita.
Uma forma de evidenciar a contribuição de variação da produtividade em termos
econômicos é simular o cálculo do valor da produção que se obtém com e sem
resultados de pesquisa. Para tanto, deve-se considerar que a produtividade da
cultura aumenta, porque são adotados novos padrões de tecnologia e de gestão
empresarial.
A pesquisa em citricultura foi direcionada, quase sempre, a problemas que
afetaram a produtividade (surgimento de pragas e doenças; queda de fertilidade
da terra, etc.). Então, pode-se contrastar o valor real da produção (calculado
em dólares) com um valor simulado caso não houvesse aumento da produtividade
proporcionada pela pesquisa.
A diferença entre o valor da produção estimado para o período 2000 a 2004 e o valor simulado, que seria obtido
nesse mesmo período ao se admitir a produtividade média por hectare registrada
no quinquênio 1995-99, foi calculada em US$237,7 milhões, ou seja, algo em torno
de US$47,5 milhões por safra.
Da mesma forma, se a diferença fosse calculada para o quinquênio 1995-99 ao se
adotar simuladamente a produtividade média observada no quinquênio imediatamente
anterior (1990-94), esse valor poderia chegar a cerca de US$80,1 milhões por
safra (tabela 2).
1 Simulada: fator 0,95
(510/537 cx/ha). Ano
(milhão)
(US$1.000)
(milhão)
(US$1.000) 2000 2001 2002 2003 2004 2 Total
2Dados preliminares (junho 2004).
3 Ajuste na produção.
4 Preço por caixa (40,8kg) posta fábrica.
Fonte: Dados do IEA, refinados pelo autor.
A análise dos preços pagos pelos consumidores na cidade de São Paulo evidenciou taxas anuais de redução de preços bastante expressivas para uma cesta de alimentos, no período de 1975 a 2000, dentre os quais a laranja (-2,65%a.a.).3 Assim, 'é certo que uma redução de preços de tamanha magnitude é resultado de um conjunto de fatores. Entretanto, sem uma forte elevação da produtividade4, como a ocorrida no período, seria impossível aos
agricultores absorverem tais reduções de preços sem uma ruptura na oferta'.
Em outra perspectiva, o poder de compra médio anual de laranja5, pelos consumidores, na cidade de São Paulo, tendo como referencial o salário mínimo no período de 1985 a 2003, mostrou pouca variação a partir do Plano Real (1994). A exceção foi 2002 devido à situação momentânea de mercado
(incluindo a taxa de câmbio) que provocou forte alta no preço médio recebido
pelos citricultores para fruta ainda nos pomares.
Em geral no segundo semestre, em média, esse poder de compra é 8% maior do que
no primeiro semestre, o que pode ser interpretado, de um lado, pela erosão do
valor do salário mínimo de janeiro a abril de cada ano e, por outro lado, pela
elevação dos preços da laranja ao consumidor devido, principalmente, à redução
das quantidades ofertadas (fruta temporona) justamente numa época de clima mais
quente.
Outro efeito benéfico dos resultados da pesquisa agrícola pode ser entendido em
função do processo de seleção e de desenvolvimento de variedades (precoces,
medianas e tardias). Isto permite estender o período de disponibilidade das
frutas cítricas no mercado, reduzindo a variabilidade dos preços dentro do ano e
entre anos, ou seja, sem crises de suprimento. Da mesma forma, as técnicas de
irrigação não só tornam menor o risco de a produtividade ser afetada, como
também permitem maior produção por unidade de área.
A maior profissionalização do produtor e o incentivo à pesquisa, com formação de
recursos humanos pelos setores tanto público quanto privado, contando com o
apoio das agências de fomento, tendem a mostrar que, apesar dos desafios, o
agronegócio citrícola não será somente mais um ciclo na agricultura e no
desenvolvimento do Brasil.
2 Para
limão e tangerina ponkan, acessar a palestra 'Ganhos proporcionados pela pesquisa citrícola, 1930 a
2004' .
3 Barros, José R.M.; Rizzieri, Juarez e Barros,
Alexandre M. de – 'A Pesquisa Agrícola e os Benefícios do Consumidor' – São
Paulo: Valor Econômico, 24/01/2002
4 Para maiores detalhes ver: Preços Agrícolas e
Benefício para os Consumidores' – Indicadores de Ciência, Tecnologia e Inovação
em São Paulo, 2001 – FAPESP.
5 No caso da tangerina Ponkan calcula-se que em 2003
o poder de compra do salário mínimo era 45% maior que em 1994 (103 dúzias contra
71 dúzias), o que é consistente com o significativo aumento da produção e a
disponibilidade mais ampla da fruta em outubro (tardias) e durante os meses de
safra (maio a setembro).
Data de Publicação: 03/11/2004
Autor(es): Antonio Ambrósio Amaro (amaro.pingo@gmail.com) Consulte outros textos deste autor