Estimativas de custos e receitas de uma produção familiar de atemóia em SP

            A inserção da atemóia nas pesquisas de economia da produção do Instituto de Economia Agrícola (IEA) reveste-se de importância, uma vez que a oferta e a demanda por essa fruta têm mostrado crescimento no Estado e suscitado interesse dos agentes do agronegócio de frutas. Esses estudos incluem levantamentos de coeficientes técnicos de uso de insumos e fatores, referentes a sistemas produtivos; estimativas de custos de produção; e cálculo de rentabilidade que evidenciam padrões tecnológicos da agropecuária estadual.
            A atemóia também vem merecendo esforços de pesquisa por parte do Instituto Agronômico de Campinas (IAC) e da Coordenaria de Assistência Técnica Integral (CATI) da SAA/SP, principalmente na adaptação de porta-enxertos de mudas às condições de clima das regiões paulistas e nos manejos de poda, espaçamento e polinização, o que permite a adoção de sistemas produtivos mais adequados para a fruta no Estado.
            Esse artigo trata de um estudo de caso de estimativas de custos e receita de uma produção comercial de base familiar do município de Pilar do Sul, região Sudoeste do Estado de São Paulo. As informações servem de referência aos fruticultores que queiram iniciar o plantio de atemóia e aos que já estão na atividade, para auxiliá-los em sua gestão empresarial. Para os cálculos, adotou-se como metodologia as referências do IEA.
            A propriedade agrícola, base das informações, possui uma área de cerca de 2,8 hectares com atemóia, com espaçamento de 6,5mx3,5m, o que corresponde a 440 pés por hectare; a produtividade média adotada é de 150 frutos por pé, no pomar de 7 anos e para o padrão de tamanho de fruto de 0,450 kg.
            Para a formação do pomar de atemóia, consideram-se os insumos e custos envolvidos nos três (3) primeiros anos, período de investimento, sem contar o tempo de preparo das mudas - geralmente produzidas por viveiristas especializados. O custo de produção propriamente dito corresponde às operações agrícolas e respectivos custos referentes a um ano de manutenção do pomar, adicionado à quota parte de custos da formação da fruteira.
            No sistema produtivo sob análise, a formação do pomar corresponde ao plantio das mudas já enxertadas. São realizadas irrigações, podas e operações para o controle do mato, pragas e doenças, durante todo o período de formação do pomar (3 anos). Esse período corresponde a um volume extraordinário de gastos, com fluxos financeiros negativos, uma vez que não tem contrapartida em receitas (exceto no 3o ano, quando o pomar de atemóia começa produzir em pequena quantidade). Entretanto, é essencial que nesses anos o produtor invista na adoção de tecnologia, com mudas enxertadas de boa procedência e com todas as técnicas disponibilizadas, para garantir a formação de plantas sadias, capazes de se sustentarem por toda vida útil (estimada em 20 anos).
            Na condução da planta adulta, são realizadas as operações de desbrota de verão, poda de inverno para sua arquitetura e raleio dos frutos. A irrigação, quando necessária, se faz por aspersão. Para a manutenção do pomar, são usados adubos orgânicos e químico. No controle do mato, realizam-se capinas químicas e roçadas manuais, enquanto no combate às pragas e doenças são feitas, preventivamente de 15 em 15 dias (por 9 meses), aplicações de fungicidas e inseticidas. No caso da propriedade em estudo, a colheita de todo o pomar é realizada no período de 2 meses, maio e junho, passando os frutos por seleção, classificação e embalagem no próprio estabelecimento agrícola, que possui paking house.
            A atemóia, assim como outras frutíferas, é grande absorvedora de mão-de-obra, requer cuidados agronômicos sistemáticos e é indicada para propriedades familiares, onde o produtor possa contar com membros de sua família na condução da cultura. Ao se comparar o uso de mão-de-obra comum (1.153 horas/ha) com o de culturas anuais em sistemas de produção de alta tecnologia (que varia de 2 a 40 horas/ha), reforça-se que a fruticultura é opção impar no que se refere à geração de empregos na agropecuária.

Estimativa de custos de produção

            Os coeficientes técnicos de utilização de insumos permitem o cálculo dos custos de produção, que representam os desembolsos efetivos do produtor mais despesas indiretas (depreciação), de acordo com a metodologia do IEA (tabela 1).

Tabela 1- Estimativa de custo de produção de atemóia* (em R$/ha)

Formação e Manutenção do Pomar
Mão-de-Obra/
Máquinas e Equipamentos. 
Insumos
Total
1o. ANO 1.908,60 5.398,40 7.307,00
2O.ANO 2.456,60 1.994,70 4.451,30
3O. ANO 3.012,10 1.803,60 4.815,70
FORMAÇÃO 7.377,30 9.196,70 16.574,00
FORMAÇÃO/ANO (1)** 368,90 459,80 828,70
% 44,5 55,5 100,0
MANUTENÇÃO (2) 8.141,80 16.827,90 24.969,70
% 32,6 67,4 100,0
TOTAL (1+2) 8.510,70 17.287,70 25.798,40
% 33,0 67,0 100,0
*Corresponde a 1 ha = 440 pés e 6.600 cx. de 4,5 kg. Os preços dos insumos, horas máquina/implementos e salário da mão-de-obra comum foram fornecidos pelo produtor entrevistado e referem-se aos meses de abril/maio de 2004.
** Corresponde à quota anual do custo de formação = Valor da formação/20 anos
FONTE: Dados da pesquisa.

            Há necessidade, portanto, de um elevado montante de recursos financeiros, tanto para o período de formação do pomar quanto para a sua manutenção anual. A participação dos gastos com mão-de-obra e máquinas mostra-se relativamente maior no período da formação do pomar (44,5%) contra 32,6% na fase produtiva da planta. Mas o maior peso em termos de gastos, tanto na formação quanto em sua manutenção, é com os insumos, respectivamente de 55,5% e 67,4%. Adubos, defensivos e herbicidas têm grande participação nos custos de produção.
            A estimativa de custos para o pomar em produção (R$25.798,40 por ha) corresponde a todos os desembolsos de um ano agrícola do pomar adulto, adicionados de uma parcela proveniente dos desembolsos incorridos no período de formação, que no caso da atemóia foi considerado 1/20 do seu custo total. Isto representa um custo de R$ 3,90 por caixa (de aproximadamente 4,5 kg).
            Em regiões que necessitam da polinização artificial, o custo de mão-de-obra para a sua realização foi estimado em R$ 236,00 por hectare, de acordo com informações de produtores e técnicos das regiões onde se adota a técnica.

Estimativas de receita e rentabilidade

            Para os cálculos da receita bruta auferida pelo produtor, utilizou-se a produtividade de 6.600 caixas por hectare, que corresponde a uma produção de 150 frutos (de 0,450 kg) por pé de atemóia (que são em número de 440 pés), refletindo o adensamento do pomar. O preço recebido é o declarado pelo produtor sob análise, de R$ 9,70/caixa (vigente nos meses de abril/maio de 2004). Estes valores permitem estimar uma receita de R$ 64.020,00 por hectare.
            Deduzido o custo de produção dessa receita, obtém-se uma receita líquida de R$ 38.221,56/ha ou de R$5,80/caixa. Deve-se lembrar que este montante tem a função de remunerar os fatores fixos de produção (não contemplados pela metodologia de custos adotada neste estudo) e, portanto, essa remuneração deverá ser considerada pelo produtor, de acordo com a taxa referencial de juro que cada um achar adequada. Além disso, a receita líquida pode ser necessária, ainda, para cobrir despesas 'fora da porteira' como as de comercialização, que incluem o transporte até às prateleiras.
            Mesmo considerados todos esses outros itens de custo enunciados, pode se inferir que a rentabilidade da fruta é um referencial de estímulo àqueles que querem se iniciar na atividade. Deve se levar em conta, todavia, que para se atingir o nível de produtividade considerada na análise faz-se necessário um pomar muito bem conduzido, de modo a garantir frutas de qualidade e bons preços no mercado.

Data de Publicação: 06/10/2004

Autor(es): Nilda Tereza Cardoso De Mello (nilmello@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Elizabeth Alves e Nogueira (enogueira@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Maria Lucia Maia (mlmaia@iac.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor