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Características Mercadológicas da Banana: oferta e consumo na metrópole paulistana em 2019
Em 2018, a produção mundial de banana foi de 127,3
milhões de toneladas, das quais 24,0% foram cultivadas em território chinês. No
Brasil, foram produzidas 6,8 milhões de toneladas, montante que atribuiu ao
país a posição de quarto maior produtor mundial1. Predominantemente cultivado por pequenos produtores
e disperso em 49,1 mil hectares, o bananal paulista ocupou 11,0% da área
nacional da cultura em 2018, e respondeu por 15,7% da produção brasileira,
seguido da Bahia (12,2%), Minas Gerais (11,3%) e Santa Catarina (10,5%)2. A produção paulista de banana, em 2019, alcançou 1,1
milhão de toneladas e respondeu por 19,3% (R$1,6 bilhão) do valor da produção
frutícola do estado, sendo a fruta mais valorosa da agricultura de São Paulo3
e a 12ª maior no ranking do valor das
exportações paulista de frutas frescas (US$252,4 mil)4. A banana tem papel relevante na alimentação da
população brasileira. De acordo com a última Pesquisa de Orçamento Familiar,
realizada entre 2008 e 20095, a banana liderava a preferência
popular dentre as frutas tropicais, sendo que o consumo médio per capita foi estimado em
18,6 g/dia (aproximadamente 6,8 kg/ano). Um fato curioso com relação ao consumo
per capita de banana no Brasil é que
o mesmo aumenta conforme avançam as faixas etárias, ou seja, o estudo revelou
que os adolescentes consomem em média 15,6 g/dia, e as pessoas de idade chegam
a consumir, em média, 29,5 g/dia5. Mais recentemente, o relatório da
pesquisa VIGITEL6, elaborado pelo Ministério da Saúde em 2018,
reafirmou que o consumo brasileiro de frutas está, ainda hoje, bem aquém
da quantidade recomendada pela Organização Mundial de Saúde (5 porções ou 400 g/dia)7. O Ministério da Saúde8 ressalta que
existem vários cultivares de bananeiras destinados para o consumo in natura que são plantados e consumidos,
atendendo à preferência de cada consumidor local. A questão acima induz à seguinte curiosidade: qual
cultivar é o preferido do paulistano? Este paper
parte das seguintes premissas: a) a produção se ajusta à preferência da demanda; b) os principais fornecedores do entreposto
destacam-se na quantidade produzida; e c) a Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de
São Paulo da cidade (CEAGESP) é o principal setor de distribuição
hortifrutícola da capital paulista. Assim, foram utilizadas informações referentes à
comercialização da banana no entreposto da CEAGESP sediado na capital paulista para
identificar os cultivares preferidos do paulistano9, bem como os
principais municípios do estado que as fornecem. Em 2019, a banana foi o 15º produto mais
comercializado na CEAGESP, totalizando 58,8 mil toneladas (Tabela 1). Dentre os principais estados fornecedores, São Paulo
contribuiu com 53,5% da quantidade de banana ofertada pelo entreposto (31,4 mil
toneladas), seguido por Minas Gerais (24,1%) e Santa Catarina (9,1%) (Tabela
1), o que corrobora com a segunda premissa acima colocada. Percebe-se que, embora São Paulo seja o principal produtor
brasileiro de banana10, a quantidade produzida não é suficiente para
abastecer a metrópole, pois quase metade da banana distribuída pela central
paulistana é proveniente de outros importantes estados produtores, mencionados
no início deste trabalho. Com relação aos cultivares mais consumidos, foram
identificadas seis variedades de bananas vendidas no entreposto: figo, maçã,
nanica climatizada, ouro, prata e terra, que podem ser consumidas tanto in natura quanto industrializadas
(Tabela 1). Quanto ao consumo in natura, o Ministério da Saúde11 distingue a forma
mais propícia de consumo alimentar de cada variedade, a saber: a) bananas de mesa: maçã, ouro, prata e nanica; b) bananas para fritar: terra e figo; e c) bananas para cozinhar: terra. Nota-se que o Ministério da Saúde não mencionou nessa
qualificação a banana- -prata. No
entanto, de acordo com o SEBRAE, essa variedade é mais utilizada para
processamento industrial, ou seja, produção de chips de banana, farinha, licor, aguardente, doces e polpas, e,
sobretudo, de banana-passa12. As bananas também entram como ingrediente em grande
quantidade de pratos salgados típicos das culinárias regionais brasileiras13. No Rio de Janeiro e em
Pernambuco, é o famoso cozido, que, entre tantos componentes – carnes,
tubérculos, legumes e verduras –, inclui as variedades da terra e nanica. A especialidade do sul de Minas
Gerais é o virado de banana-nanica,
preparado com farinha de milho e queijo mineiro. No litoral norte de São Paulo,
o prato principal da culinária caiçara chama-se peixe azul-marinho: postas de
peixe cozidas com banana- -nanica verde sem casca,
acompanhadas de pirão feito com o caldo do peixe, banana cozida amassada e
farinha de mandioca14 (grifo nosso). Nessa publicação, embora o Ministério
da Saúde tenha num primeiro momento considerado a nanica como propícia para
mesa, a instituição destaca depois que o cultivar também pode ser cozido, como
nos tradicionais preparos carioca e pernambucano citados, ou consumido como
acompanhamento de pratos típicos, a exemplo da farofa de banana. Em outra parte
da publicação, comenta-se que os cultivares “cavendish (nanica, nanicão, grand naine
e williams) apresentam frutos com polpa muito doce, sendo bastante utilizadas
no processamento industrial”15. Devido talvez à diversidade de formas de como a
banana-nanica possa ser consumida, bem como a indicação da prata para
processamento industrial, verifica-se que, no Estado de São Paulo, as
principais variedades fornecidas no entreposto são a nanica climatizada (76,0%)
e a prata (21,4%), como demonstrado na tabela 2. De um modo geral, os principais municípios
fornecedores de banana para o entreposto são: Sete Barras, Jacupiranga,
Miracatu e Eldorado (Tabela 2). Os bananais de Sete Barras são bastante
diversificados. Lá, encontraram-se todos os cultivares comerciais (Tabela 2). O
município lidera a produção de nanica climatizada e da terra. Jacupiranga
lidera a produção de prata e é o terceiro mais importante na comercialização da
nanica, atrás de Sete Barbas e de Miracatu (Tabela 2). A banana-maçã está em terceiro lugar no ranking da preferência do paulistano (Tabela
1), sendo que o abastecimento dessa variedade para a capital paulista, além de
depender da disponibilidade da oferta de outros estados (Tabela 1), está
bastante concentrado em Penápolis, que também lidera a produção de banana-figo
(Tabela 2). No primeiro semestre, a banana-maçã encontra muita concorrência da
nanica, pois ambas têm o pico de comercialização entre março e maio (Quadro 1). Assim, com menor volume de produção, a banana-maçã
torna-se nesse perío- Normalmente, quando se trata de produtos de maior perecibilidade,
sobretudo frutas, legumes e verduras, o tempo entre a sazonalidade da
comercialização e a safra agrícola (picos de produção) é bastante curto. No
entanto, esse tipo de inferência deve ser feito com cautela, pois os avanços tecnológicos
tendem a distorcê-la. Sob o ponto de vista agrícola, as pesquisas têm aumentado
a produtividade de algumas culturas, ao mesmo tempo que têm também alterado
e/ou ampliado as áreas de cultivo, possibilitando o aumento de oferta em épocas
distintas do ano civil. 1FOOD AND AGRICULTURE
ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS. Crops. Roma: FAO, 2020. Disponível em: http://www.fao.org/faostat/en/#data/QC. Acesso em: set. 2020. 2INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE. Censo agropecuário. Rio de Janeiro: IBGE, 2020. Disponível em https://sidra.ibge.gov.br/tabela/5459. Acesso em: set. 2020. 3INSTITUTO DE ECONOMIA AGRÍCOLA - IEA. Banco de dados. São Paulo: IEA, 2020. Disponível em: http://www.iea.sp.gov.br.
Acesso em: set. 2020. 4MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO MAPA.
Agrostat. Brasília: MAPA, 2020. Disponível em: http://sistemasweb.agricultura.gov.br/pages/AGROSTAT.html.
Acesso em: 01 set. 2020. 5INSTITUTO BRASILEIRO
DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE. Pesquisa
de orçamentos familiares 2008-2009: análise do consumo alimentar pessoal no
Brasil. Rio de Janeiro: IBGE, 2011. 150 p. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv50063.pdf. Acesso em: set. 2020. 6MINISTÉRIO DA SAÚDE.
Vigitel Brasil 2019: vigilância de
fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico:
estimativas sobre frequência e distribuição sociodemográfica de fatores de
risco e proteção para doenças crônicas nas capitais dos 26 estados brasileiros
e no Distrito Federal em 2019. Brasília: Ministério da Saúde, 2020, 137 p. Disponível
em https://www.saude.gov.br/images/pdf/2020/ 7A pesquisa VIGITEL
estima número de porções de frutas e hortaliças consumidas habitualmente pelos
indivíduos baseada nas perguntas sobre a quantidade usual de frutas ou sucos de
frutas consumidas por dia. Consideram cada fruta ou cada suco de fruta como
equivalente a uma porção. No entanto, os resultados finais são apresentados de
forma agregada, ou seja, sem distinguir a fruta ou o suco registrado. 8MINISTÉRIO DA SAÚDE.
Alimentos regionais brasileiros. Brasília:
Ministério da Saúde, 2015, 486 p. Disponível em
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/alimentos_regionais_brasileiros_2ed.pdf. Acesso em: set.
2020. 9Foi excluída do cálculo a quantidade de banana que a central transfere
para o interior do estado. 10Op. cit. nota 2. 11Op. cit. nota 8. 12CONHEÇA o mercado da bananicultura. SEBRAE:
Mercados e Vendas, Brasília, [s. d.]. Disponível em: https://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/artigos/conheca-o-mercado-da-bananicultura,187b9e665b182410VgnVCM100000b272010aRCRD. Acesso em:
20 ago. 2020. 13Op. cit. nota 8. 14Op. cit. nota 8. 15Op. cit. nota 8. Palavras-chave: frutas,
banana, mercado de banana, frutas tropicais, cultivares de banana. COMO
CITAR ESTE ARTIGO
FREITAS,
S. M. de; GODAS, F. L.; MIURA, M. Características Mercadológicas da Banana:
oferta e consumo na metrópole paulistana em 2019. Análises e Indicadores do
Agronegócio, São Paulo, v. 15, n. 9, set. 2020. Disponível em: colocar o link do artigo. Acesso em: dd mmm. aaaa.
do mais cara que a nanica, cuja oferta é maior. Em junho e julho, a banana-maçã
puxa os preços no varejo, pois a entrega para a capital paulista das outras
variedades é baixa.
April/27/vigitel-brasil-2019-vigilancia-fatores-risco.pdf. Acesso em: set. 2020.
Data de Publicação: 29/09/2020
Autor(es):
Silene Maria de Freitas (silene.freitas@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Flávio Luis Godas Consulte outros textos deste autor
Maximiliano Miura (maximiliano.miura@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor