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Preços Agropecuários Fecham em Alta em Junho de 2020
O Índice de
Preços Recebidos pela Agropecuária Paulista (IqPR)1, 2 fechou o mês
de junho de 2020 com alta expressiva de 3,09%. Separado por grupos de produtos,
verifica--se que essa alta foi impulsionada pelo índice de preços dos produtos
de origem animal (IqPR-A), uma vez que o mesmo se elevou 8,01% frente a um
aumento de 1,24% no índice de preços de produtos vegetais de origem vegetal
(IqPR-V) (Tabela 1). A cana de açúcar
tem muita influência na formação do índice de preços recebidos pela
agropecuária paulista (em torno de 30%). Quando se observa apenas o grupo de
produtos de origem vegetal, esse peso sobe para 50% no IqPR-V. Observa-se que,
quando a cana de açúcar é excluída da ponderação dos produtos no cálculo do
índice dos preços recebidos pelo produtor paulista, o IqPR (sem cana) mantém a
mesma orientação positiva, num acréscimo de 2,92%. Já o IqPR-V, desconsiderando-se
a cana, apresenta tendência inversa, computando queda de 1,79% (Tabela 1), o
que demonstra que a queda de outros produtos de origem vegetal cultivados no
território paulista foi mais expressiva. No que se refere às
altas em junho/2020 (quarto mês sob o impacto do covid-19), destacam-se os seguintes produtos: carne de frango (26,86%), amendoim
(11,60%), carne suína (6,62%) e banana nanica (5,37%) (Tabela 2). Com o saldo positivo
nas exportações no primeiro semestre de 2020, as altas nas cotações de soja e
milho com a desvalorização do real frente ao dólar (base da ração animal), e a
maior demanda enquanto fonte alternativa de proteína em substituição à carne
bovina, foram fatores essenciais na alta verificada pela carne de frango no mês de junho. Para o amendoim, a alta de preços é
acompanhada do comportamento das exportações, especialmente, do produto em
grão. O mercado externo é um importante componente da dinâmica de
comercialização da cadeia de produção e, no momento, dada a retração da oferta
e demanda aquecida, apresenta cotações superiores às registradas em 20193.
Ao ser considerado o primeiro semestre de 2020, os volumes exportados do
amendoim descascado foram 27% superiores aos registrados no mesmo período de
2019, somando 125 mil toneladas. Para os valores, no primeiro semestre, foram
exportados US$153 milhões (FOB), 37% superior ao registrado no mesmo período do
ano anterior4. A configuração das cotações das exportações tem
reflexos no ambiente interno de comercialização acompanhando a alta de preços
das exportações e a redução dos estoques, mesmo frente à safra recorde de 2019/20. Com relação aos suínos, o fechamento de frigoríficos
na principal região produtora do país, devido ao novo coronavírus, associado ao
compromisso de cumprir os acordos firmados no mercado internacional, aumentaram
a procura pelo produto paulista, elevando os preços recebidos pelos
suinocultores (Tabela 2). A exportação favorável para o mercado asiático
(frente à suspeita da nova peste suína na região) tende a favorecer o
suinocultor que por meses sofreu com os altos preços dos insumos e as altas
taxas de câmbio. Já entre os produtos
que reduziram seus preços, tiveram maiores quedas tomate para mesa (-18,38%), café
(-16,14%), e feijão carioca (-14,84%). No caso do tomate para mesa, a estabilidade
climática (sem chuvas e com temperaturas que garantiram alta produtividade) foi
uma variável que aumentou a oferta do produto e, consequentemente, rebaixou os
preços recebidos pelos produtores. Enfatiza-
-se que as cotações atuais estão quase 50% mais baixas do que o mesmo
período do ano passado. A queda nas cotações
internacionais do café decorre da
súbita elevação das estimativas do USDA para os estoques finais no balanço da
oferta e procura de café na atual temporada, passando de pouco mais de 3,5 milhões
de sacas para mais de 9 milhões de sacas. Isso gerou uma pressão vendedora nas
bolsas internacionais. Ademais, ainda não se tem certeza sobre o desempenho do
consumo fora do lar duramente afetado pela pandemia quando se inicia a colheita
da próxima safra, que pode ser recorde no Brasil5. A estabilização da demanda de feijão carioca aliada à
fluidez da comercialização e à alteração do circuito de comercialização da
produção ao varejo, com a diminuição do consumo do produto preparado em
restaurantes, frente ao doméstico, podem auxiliar no entendimento da queda de
quase 15% dos preços de feijão no mês de junho. É importante ressaltar que,
ainda assim, os preços de junho de 2020 são 90% superiores ao mesmo mês de
2019, sendo que a alta de preços do produto em 2020 já era esperada devido à
concorrência com culturas como soja e milho. Do conjunto analisado, 10 produtos apresentaram
alta de preços (6 de origem vegetal e 4 de animal), e 7 tiveram queda (6 de
origem vegetal e 1 de origem animal). ACUMULADO DOS ÚLTIMOS 12 MESES PARA O IqPR No acumulado de junho/2019 a junho/2020, todos os índices apresentaram
reajustes positivos (Figura 1). Nesse intervalo, o IqPR variou positivamente em
9 meses (Figura 2). Nesse
intervalo de um ano, o IqPR (geral) subiu 20,25%, o
IqPR-V (vegetal) 18,35% e o IqPR-A (animal) 24,80% (Figura 2). Dentre os 17 produtos
levantados, 11 produtos tiveram variações positivas e 6 fecharam negativamente.
Destacaram-se nesse intervalo as altas de feijão carioca (90,06%), arroz
(50,22%), boi gordo (36,31%), soja (33,43%), milho (32,84%), amendoim (32,55%),
laranja para mesa (28,50%), café (20,48%) e ovos (17,87%). 1A fórmula de
cálculo do índice (IqPR) é a de Laspeyres modificada, ponderada pelo valor da
produção agropecuária paulista. As cotações diárias de preços são levantadas
pelo IEA e divulgadas no Boletim Diário de Preço. As variações são obtidas
comparando-se os preços médios das quatro últimas semanas (referência) com os
preços médios das quatro primeiras semanas (base), sendo a referência = 01/06/2020
a 30/06/2020 e base = 01/05/2020 a 31/05/2020. 2Artigo
completo com a metodologia: PINATTI, E. et al. Índice quadrissemanal de preços
recebidos pela agropecuária Paulista (IqPR) e seu comportamento em 2007. Informações Econômicas, São Paulo, v.
38, n. 9, p. 22-34, set. 2008. Disponível em:
http://www.iea.sp.gov.br/out/verTexto.php?codTexto=9573. Acesso em: jul. 2020. 3SAMPAIO, R. M. Amendoim:
acompanhamento das exportações em meio à pandemia. Análises e Indicadores do Agronegócio, São Paulo, v. 15, n. 6, p.
1-4, jun. 2020. Disponível em: http://www.iea.sp.gov.br/out/TerTexto.php?codTexto=14802.
Acesso em: 8 jul. 2020. 4MINISTÉRIO DA
INDÚSTRIA, COMÉRCIO EXTERIOR E SERVIÇOS. COMEXSTAT,
Brasília, 2020. Disponível em: http://comexstat.mdic.gov.br/pt/geral. Acesso em: 8 jul. 2020. 5A análise do café
nesse parágrafo foi enviada pelo pesquisador científico do Instituto de
Economia Agrícola, Celso Luis Rodrigues Vegro. Os autores agradecem sua
colaboração. Palavras-chave: IqPR, índice, preços recebidos, índices agrícolas,
variações, indicadores.
Data de Publicação: 24/07/2020
Autor(es):
Danton Leonel de Camargo Bini (danton.camargo@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Eder Pinatti (pinatti@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Silene Maria de Freitas (silene.freitas@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Renata Martins (rmsampaio@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Maximiliano Miura (maximiliano.miura@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Ana Victoria Vieira Martins Monteiro (ana.monteiro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor