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Máquinas agrícolas: expectativa de melhor performance
Os analistas da economia brasileira foram definitivamente convencidos de que o agronegócio se constitui num dos mercados mais dinâmicos da atualidade. Entretanto, poucos foram aqueles que já se aperceberam do papel fundamental exercido nessa performance pela exitosa política industrial de crédito para investimento na renovação da frota de máquinas agrícolas automotrizes em atividade no país1. TABELA 1 - Produção, vendas e exportação de máquinas
agrícolas automotrizes, Brasil, 2001, 2002 e 2003
Estimativas apontam a necessidade de cerca de R$ 375 milhões ao mês para manter
o fluxo de comercialização condizente com a demanda. Porém, a postura de
empedernida austeridade fiscal do grupo político que democraticamente assumiu o
poder induziu algumas dificuldades operacionais na condução do MODERFROTA,
ocasionando atrasos na liberação dos recursos e no aporte de valores adicionais
ao programa. Esses fatos emperraram os novos negócios, sendo, em parte,
responsáveis pela sensível redução observada nas vendas em 2003. 1 Colaborou com este artigo a estagiária Talita
Tavares Ferreira, do IEA/FUNDAP
Em 2003, por exemplo, as montadoras de máquinas agrícolas instaladas no Brasil
conseguiram superar a quantidade produzida frente ao ano anterior em 13% (58.759
máquinas produzidas), enquanto a economia mostrou pífio resultado em termos de
crescimento do Produto Interno Bruto (abaixo de 0,5%). Esse excelente desempenho
deve ser creditado essencialmente às exportações (com expansão de 105,5%), uma
vez que os resultados das vendas para o mercado interno mostraram substancial
declínio (da ordem de 10,7%) em relação a 2002 (vendas de 37.994 máquinas). A
exceção foi a venda de cultivadores mecanizados (tratores de rabiças), cujo
incremento nos negócios foi de 51% com 1.585 unidades comercializadas (tabela
1).
Desde 2000, as vendas de máquinas agrícolas no mercado interno eram crescentes.
Os dados evidenciam que a queda das vendas em 2003 foi muito forte para o
segmento de tratores de rodas (11,3%) e de menor monta para as colhedoras de
cereais (3,7%). Apenas para repetir o volume de vendas de tratores observado em
2002, o mercado teria de ter absorvido 3,7 mil novas máquinas.
Embora tenha sido lamentável o declínio nas vendas de tratores, compete
ressaltar que o perfil majoritário das máquinas atualmente comercializadas é de
maior porte (100 cv), permitindo sua utilização em espectro amplo de atividades
operacionais rurais com alto rendimento e baixo custo unitário (hora-máquina).
Por fim, a atração de investimentos para o país associado, com a consolidação
definitiva da indústria de máquinas agrícolas, pautada principalmente pela
dimensão e pelo dinamismo do mercado interno, permitiu fantástica projeção
internacional desse segmento. Com padrões tecnológicos similares aos mais
adiantados em vigor, as montadoras brasileiras têm sido capazes de conquistar
novos mercados e substanciais parcelas dos mercados tradicionais para seus
produtos.
Como resultado disso, em 2003, as exportações atingiram patamar próximo ao
bilhão de dólares. Foram vendidas 21,4 mil máquinas para o exterior, conferindo
a este segmento papel destacado no esforço nacional pela geração de expressivo
saldo na balança comercial. Ademais, tem sido crescente o número de ocupados
pelo setor, papel que se reveste da maior importância quando o contexto
macroeconômico indica recorde de desemprego nas regiões metropolitanas.
(em unidade)
Fonte: Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos
Automotores (ANFAVEA). Item Trator
de roda Produção Vendas no Mercado
Interno Nacionais Importados Exportação Total das Vendas Colheitadeiras Produção Vendas no Mercado
Interno Nacionais Importados Exportação Total das Vendas Máquinas Agrícolas Total Produção Vendas no Mercado
Interno Nacionais Importados Exportação Total das vendas Número de Empregos Receita Cambial
Outra notícia alvissareira para as montadoras de máquinas é a decisão do governo
de efetuar pesados investimentos em infra-estrutura. Tal alocação de recursos
permitirá que as empresas ligadas à construção pesada e de saneamento básico
venham a retomar suas aquisições de máquinas, notadamente os tratores de esteira
e as retroescavadeiras, robustecendo ainda mais o faturamento das montadoras.
A expectativa para 2004, partindo da premissa de que as autoridades monetárias
estejam mais propensas a liberar os recursos destinados à equalização dos juros
do MODERFROTA, é de que se consiga superar o patamar recorde de produção
observado em 2002, quando foram comercializadas 42.568 máquinas agrícolas.
Para além do ajustamento da mencionada política pública, a concretização da
promissora expectativa para 2004 depende, ainda, do equacionamento de dois
aspectos cruciais: a) calibre do impacto da nova COFINS e b) negociação de
preços com os fornecedores de insumos para as montadoras, especialmente os de
aço e das ligas metálicas, cujos reajustes têm superado em muito os mais altos
índices inflacionários.
A política de preços das aciarias tem sido ponto de conflito nessa cadeia e
inclusive já alcançou a administração pública federal. Antes que ocorra algum
tipo de intervenção, é prudente que os empresários encontrem mecanismos
consensuais para suas políticas de preços.
Data de Publicação: 13/02/2004
Autor(es): Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor