Perspectivas Para A Safra De Feijão Da Seca 2001/02

            No estado de São Paulo, a safra de feijão das águas termina em janeiro e ao mesmo tempo se inicia a safra de feijão da seca. O fator climático está, no momento, afetando seriamente a produção e o preço de feijão em termos nacionais. De um lado, há excesso de chuvas em algumas regiões produtoras, na fase de colheita (como nos Estados de São Paulo e Paraná), e de outro lado ocorre severa estiagem em áreas com culturas em desenvolvimento (como nos estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina).
            Os dados de precipitação e anomalia de precipitação do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC) para dezembro de 2001 permitem uma análise do que ocorreu em termos nacionais. Nos estados produtores de feijão mais atingidos pela escassez de chuvas (Rio Grande do Sul e Santa Catarina), choveu no máximo apenas 100 mm na maior parte da área, em dezembro de 2001 (Figura 1). Já no sudoeste paulista, principal região produtora, as chuvas foram normais ou acima do normal (até +100 mm) e em Santa Catarina choveu menos que o normal (até –50mm). No estado gaúcho, a metade leste do território teve precipitação de até 50 mm acima do normal, enquanto na metade oeste foi de até 100 mm abaixo da média histórica (Figura 2). Para agravar a situação, em janeiro de 2002 o panorama mudou muito pouco para estes estados da federação, que continuaram com poucas chuvas, segundo os dados parciais do CPTEC.

Figura 1 
 
 

Figura 2

            As estimativas de área, produção e produtividade da primeira safra de feijão 2001/02, divulgadas pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab)1 em dezembro passado, já indicavam queda na produtividade, tanto em Santa Catarina como no Rio Grande do Sul, na faixa de 8% em relação à safra anterior. Hoje, a magnitude da quebra é maior em função da gravidade da anomalia climática, sabendo-se de notícias de quebra de 25% no Rio Grande do Sul. A estimativa da Conab, para a primeira safra de feijão 2001/02, é de produção de 1,43 milhão de toneladas, com aumento de 23% em relação à safra anterior de 1,16 milhão de toneladas, estimativa que certamente será revista para baixo (Tabela 1).

Tabela 1 - Comparativo de Área, Produção e Produtividade da Primeira Safra
de Feijão 2000/01 e 2001/02

Estado
Área (1000 ha) 
Produção (1000 t) 
Produtividade (kg/ha) 
Região 2000/01  2001/02  Var.(%) 2000/01  2001/02  Var.(%) 2000/01  2001/02  Var.(%)
Tocantins 2,0  2,0  - 0,7  1,0  42,9 360  500  38,9
Norte 2,0  2,0  - 0,7  1,0  42,9 350  500  42,9
Bahia 368,5  423,8  15,0 129,7  254,3  96,1 352  600  70,5
Nordeste 368,5  423,8  15,0 129,7  254,3  96,1 352  600  70,5
Paraná 334,0  394,1  18,0 344,7  453,2  31,5 1.032  1.150  11,4
Santa Catarina 124,4  130,6  5,0 149,3  143,7  -3,8 1.200  1.100  -8,3
Rio Grande do Sul 117,9  123,8  5,0 119,1  113,9  -4,4 1.010  920  -8,9
Sul 576,3  648,5  12,5 613,1  710,8  15,9 1.064  1.096  3,0
Minas Gerais 203,1  223,4  10,0 211,2  245,7  16,3 1.040  1.100  5,8
Espírito Santo 11,0  11,6  5,0 8,3  8,6  3,6 750  745  -0,7
Rio de Janeiro 3,4  3,6  5,0 2,5  2,6  4,0 735  735  -
São Paulo 78,0  80,3  3,0 89,7  102,0  13,7 1.150  1.270  10,4
Sudeste 295,5  318,9  7,9 311,7  358,9  15,1 1.055  1.125  6,6
Mato Grosso 5,0  5,3  5,0 3,0  3,2  6,7 600  600  -
Mato Gr. do Sul 1,5  2,0  33,3 1,7  2,3  35,3 1.150  1.150  -
Goiás 45,3  47,1  4,0 83,8  82,0  -2,1 1.850  1.740  -5,9
Distrito Federal 8,7  9,1  5,0 18,8  19,7  4,8 2.161  2.161  -
Centro Oeste 60,5  63,5  5,0 107,3  107,2  -0,1 1.774  1.688  -4,8
Norte/Nordeste 370,5  425,8  14,9 130,4  255,3  95,8 352  600  70,5
Centro/Sul 932,3  1.030,9  10,6 1.032,1  1.176,9  14,0 1.107  1.142  3,2
Total 1.302,8  1.456,7  11,8 1.162,5  1.432,2  23,2 892  983  10,2

Fonte: Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

            Os preços médios mensais recebidos pelos produtores do estado de São Paulo, calculados em valores de dezembro de 2001, no ano passado variaram de R$50,17 a saca de 60 quilos (em dezembro) a R$74,71/sc (em março), bem acima dos níveis de preços de 2000, que apresentaram intervalo de R$31,92/sc (em fevereiro) a R$60,30/sc (em agosto). No entanto, os níveis de preços mensais em 1998 são ainda imbatíveis por vários meses, devido ao El Niño 1997/98, que acarretou severa estiagem na região nordeste, principalmente no estado da Bahia, nos primeiros meses de 1998 (Figura 3).

            Em 1997/98, em função da quebra na produção, o País consumiu apenas 2,5 milhões de toneladas de feijão contra 3,2 milhões do ano anterior. Nos últimos três anos, o consumo está estagnado em torno de 2,9 milhões de toneladas. Uma análise da evolução do preço recebido pelos produtores (considerando a média anual do estado de São Paulo), e da evolução da safra total anual, em termos de quantidade produzida mostra um comportamento típico de oferta e demanda previsto na teoria econômica, isto é, os preços sobem quando a quantidade ofertada diminui e vice-versa. A análise considerando apenas a produção total tem consistência econômica, embora no mercado de feijão a produção não constitua oferta, pois devem ser considerados ainda importação, exportação e estoque inicial, pelo fato de estes componentes representarem uma pequena parcela da quantidade ofertada.
            A safra 2001/02 pode não chegar às 3,2 milhões de toneladas estimadas pela Conab, mas, no caso de chegar a 3,1 milhões, o preço médio anual poderá ficar em torno de R$45,00 a saca, se a preferência dos consumidores não mudar significativamente (Figura 4).

            Neste panorama, a perspectiva para o plantio de feijão da seca 2001/02 no estado de São Paulo é de aumento na de área de 5% a 10%, devido aos seguintes fatores:

a) Preços favoráveis para os produtores em todos os meses de 2001, conforme o acima mencionado.

b) Em janeiro de 2002, o preço médio mensal (até dia 24) ficou em R$58,00/sc, tendo chegado à média diária de R$65,00/sc no Escritório de Desenvolvimento Regional (EDR) de Itapeva, importante região produtora.

c) No sudoeste paulista, principal região produtora de feijão da seca, choveu entre 200 e 250 mm em dezembro de 2001, segundo dados do CPTEC. Entre 14 e 23 de janeiro de 2002, ou seja, em 10 dias, nessa região choveu em torno de 75 mm, um bom índice de precipitação. Isto é, os produtores dessa região tiveram condições climáticas favoráveis para o plantio da safra da seca.

            Quanto ao El Niño 2002/03, já anunciado pela mídia, o Climate Prediction Center, disponibiliza os resultados do fórum mensal que analisa a evolução do fenômeno climático El Niño-Oscilação Sul no seu site1 . O boletim de janeiro anuncia como provável a evolução do El Niño nos próximos 3-6 meses.
            As conseqüências do El Niño sobre os preços no mercado de feijão do estado de São Paulo foram pesquisadas recentemente2 . Concluíram que o fenômeno climático afetou significativamente a cultura de feijão no estado, em diversos anos de sua ocorrência, chegando a refletir indiretamente nos preços da cadeia produtiva (produtor, atacado e varejo).
 
 

1 http://www.cpc.ncep.noaa.gov/products/analysis_monitoring/bulletin/forecast.html
2 KIYUNA, Ikuyo; ASSUMPÇÃO, Roberto. Os fenômenos climáticos El Niño e La Niña e os preços de feijão no Estado de São Paulo. Informações Econômicas, São Paulo, v. 31, n. 6, p. 25-44, jun. 2001.

Data de Publicação: 30/01/2002

Autor(es): Ikuyo Kiyuna Consulte outros textos deste autor
Humberto Sebastiao Alves (hsalves@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor