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Eucalipto E Pecuária Extensiva: Um Consorciamento Sustentável
Este
artigo relata o estudo de caso realizado na Destilaria Três Barras, situada no
município de Torrinhas. A empresa é especializada na produção de óleo essencial
de eucalipto citriodora e vem consorciando, com sucesso, povoamentos de
eucalipto citriodora com pastagens destinadas a exploração extensiva da pecuária
para corte.
Do ponto de vista da prática de uma agricultura sustentável, destacam-se os
seguintes aspectos positivos: a) o plantio de eucalipto no pasto como elemento
de auxílio no controle da erosão; b) o eucalipto como elemento indutor de
enriquecimento da fauna e da biodiversidade; c) o retorno de parte dos
nutrientes retirados, repostos tanto pela adubação natural feita pelo gado
durante o pastoreio, como pela reincorporação do bagaço resultante da extração
do óleo; d) a possibilidade de consorciamento para pequenas áreas e com baixa
aptidão ao uso agrícola, seja por restrição de fertilidade de solo seja por
declividade inadequada ao cultivo mecanizado, características usualmente
presentes nas áreas onde predominam propriedades familiares.
O consorciamento de eucalipto para a produção de óleo essencial com a pecuária extensiva é estabelecido através da implantação de uma floresta de eucaliptus, da espécie citriodora (Corymbia citriodora), onde as plantas devem ocupar 3m2 de área, em média. Este espaço por planta determina um delineamento de talhões com stand aproximado de
3.300 plantas por hectare, que pode ser conseguido tanto com um espaçamento de
0,75m na linha e 4,00m entre linhas, como com o espaçamento mais usual de 1m por
3m. Em ambos os casos, deve-se observar a necessidade de planejamento de acessos
e carreadores que permitam a retirada das folhas, após a colheita (corte), seja
por caminhão seja pelo conjunto trator e carreta. O manejo do corte dos
eucaliptos para a coleta de folhas para a extração do óleo é feito uma vez por
ano e conduzido seletivamente, de maneira a permitir a produção complementar de
lenha a cada 5 anos e de postes a cada 15 anos. Neste aspecto, há a recomendação
técnica da seleção e reserva de 5% das plantas a serem destinadas à produção de
postes e/ou de madeira para uso em serrarias.
A atividade de pecuária de corte extensiva tem sido conduzida apenas com o
objetivo da engorda de animais, ou seja, ininterruptamente são adquiridos
animais magros (com peso de carcaça ao redor de 12@), os quais, posteriormente,
são vendidos ao atingir peso ideal para abate (com peso de carcaça entre 16@ e
17@), após um período de engorda que pode durar entre 5 e 10 meses, dependendo
da época em que ocorreu a aquisição do animal magro. Não há uma recomendação de
gramínea específica para o sistema, sendo que nas pastagens dos povoamentos
formados pela Destilaria Três Barras a gramínea utilizada é a braquiária. São
desnecessárias qualquer atenção especial na condução da pastagem, resumindo-se
ao eventual controle de formigas e invasoras, e a manutenção de aceiros,
carreadores e cercas. Segundo informes obtidos junto à empresa, a capacidade de
suporte das pastagens neste sistema de consorciamento é de cerca de 3 cabeças
por alqueire, ou de 2 unidades-animal (UA) por hectare.
A receita bruta total da exploração do eucalipto, considerando-se um ciclo
completo de 15 anos para o consorciamento, é estimada em R$14.800,00. Este
resultado é fruto da soma das seguintes parcelas: a) cerca de R$200,00 por ano,
obtidos com a venda de 10 toneladas de folhas (estimado a R$20,00 por tonelada
de folha, com custos de corte, carregamento e transporte por conta da compradora
da matéria-prima); b) o montante de R$1.500,00, a cada 5 anos, pela
comercialização de cerca de 150 esteres de lenha (a R$10,00 o estere, livre de
carregamento e transporte); e c) 150 postes, comercializados à R$50,00 cada
poste, livre de carregamento e transporte, após 15 anos do plantio, quando se
considera o encerramento do ciclo da exploração consorciada. Estes valores,
quando conjugados às estimativas de R$650,00 para a implantação do povoamento de
eucalipto citriodora e de um custo anual de manutenção de R$50,00 (referentes à
manutenção de aceiros e carreadores e de controle de formigas), permitem obter
os seguintes indicadores analíticos: taxa interna de retorno de 51% e valor
atual da receita líquida de R$6.415,98, para uma taxa de desconto de 6% ao ano.
Estes indicadores apontam uma boa atratividade para o empreendimento.
Segundo o ANUALPEC 20012, a atividade de pecuária
de corte apresenta um lucro de US$10,1 por cabeça engordada em um sistema
extensivo, para propriedades consideradas familiares (com plantéis de até
500UA). Em uma comparação inicial com o intuito de se apurar uma possível
lucratividade do consorciamento, admita-se o valor de R$101,00 para a receita
líquida obtida em um hectare de pastagem utilizada no sistema extensivo,
considerando-se a taxa de câmbio de R$2,50 por dólar americano e a capacidade de
suporte de 4 cabeças por hectare (média das pastagens da Destilaria Três
Barras).
Como indicador da viabilidade econômica, adotou-se o valor presente do fluxo da
receita líquida, calculado com uma taxa de desconto de 6% ao ano para um
horizonte de projeto de 15 anos. Estimou-se o valor presente de R$980,94 para a
engorda extensiva e, como mencionado acima, de R$6.415,98 para a exploração do
eucalipto. Desta forma, tem-se que o consorciamento é economicamente atraente
tanto para o produtor de folhas de eucalipto, que poderá incrementar a receita
líquida, como para o pecuarista que poderá, em uma parcela de suas pastagens,
obter maior renda por hectare.
Portanto, o consorciamento de eucalipto para produção de folhas com a pecuária
de corte extensiva pode ser uma interessante opção de projeto de desenvolvimento
rural para áreas com menor aptidão agrícola e com estrutura fundiária de
pequenas propriedades. Dentre os aspectos favoráveis destacam-se a possibilidade
de agregação de valor ao produto agrícola, o sistema de ocupação agrícola
sustentável e a geração de emprego.
2 ANUÁRIO DA PECUÁRIA BRASILEIRA - ANUALPEC
2001. São Paulo: FNP Consultoria & Comércio,
2002. p.159-194.
Data de Publicação: 07/02/2002
Autor(es): Paulo Edgard Nascimento De Toledo (ptoledo@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor