Preços agropecuários encerram mês de junho com alta de 2,42%

            O Índice Quadrissemanal de Preços Recebidos pela Agropecuária Paulista (IqPR)1 encerrou o mês de junho de 2008 com alta de 2,42%. Os produtos de origem vegetal (IqPR-V) registraram baixa de 0,35% e os produtos de origem animal (IqPR-A) apresentaram alta de 9,31% (Tabela 1). Quando a cana-de-açúcar é excluída do cálculo do índice, a variação do IqPR fica mais alta e vai para 4,58%, influenciada pelas altas dos produtos de origem animal. O IqPR-V (cálculo somente dos produtos vegetais) fica com variação positiva de 0,08% (Tabela 2).

            Para o índice acumulado (com base 100 em dezembro/06), os resultados para o mês de junho são de 120,57% para o IqPR, de 102,40% para os produtos vegetais (IqPR-V), e de 165,40% para os produtos de origem animal (IqPR-A). Desconsiderando a cana-de-açúcar do cálculo do índice, os resultados sobem significativamente, o IqPR passa para 147,89% e o IqPR-V (origem vegetais) fica com 140,93%, que evidencia a forte valorização da maioria dos demais produtos de origem vegetal (Tabela 1).

Tabela 1 - Índice Quadrissemanal de Preços Recebidos pela Agropecuária Paulista, Maio e Junho de 2008.

Índice Acumulado*
São Paulo
São Paulo - sem cana
Maio
Junho
Variação 
Maio
Junho
Variação 
IqPR
 
117,72
120,57 
2,42% 
 
151,01
147,89 
4,58% 
IqPR-V
 
102,76
102,40 
– 0,35% 
 
147,17
140,93 
0,08% 
IqPR-A
 
151,32
165,40 
9,31% 
 
* Base 100 = Dezembro de 2006
Fonte: Instituto de Economia Agrícola

Tabela 2 - Variações das Cotações dos Produtos, Estado de São Paulo, Junho de 2008.

Origem
Produto
Preços (R$)
Variação

(%)

Maio
Junho
VEGETAL
Algodão
42,80
42,81
0,02 
Amendoim
35,26
35,21
- 0,13 
Arroz
39,93
40,33
1,02 
Banana nanica
12,25
11,40
- 6,90 
Batata
38,80
39,28
1,24 
Café
247,26
248,31
0,43 
Cana-de-açúcar 
253,80
252,10
- 0,67 
Feijão
130,00
132,50
1,92 
Laranja p/ Indústria
9,33
10,03
7,48 
Laranja p/ Mesa 
13,52
11,89
- 12,05 
Milho
23,56
22,44
- 4,76 
Soja
42,94
46,32
7,89 
Tomate p/ Mesa
34,69
39,96
15,18 
Trigo
46,67
44,45
- 4,74 
ANIMAL
Carne Bovina
78,38
88,10
12,40 
Carne de Frango
1,61
1,77
9,80 
Carne Suína
55,84
60,63
8,58 
Leite B
0,80
0,82
1,87 
Leite C
0,73
0,77
6,40 
Ovos
44,62
44,46
- 0,35 
Fonte: Instituto de Economia Agrícola

            Os produtos do IqPR que registraram maiores altas no mês de junho foram: tomate para mesa (15,18%), carne bovina (12,40%), carne de frango (9,80%), carne suína (8,58%), soja (7,89%) e laranja para indústria (7,48%) (Tabela 2).

            Para o tomate de mesa, a produção foi prejudica pelo clima (baixas temperaturas), o que reduziu sua oferta, elevando sua cotação.

            Para a carne bovina, a redução de oferta de animais por parte dos pecuaristas para o abate forçou os frigoríficos a pagarem mais pelo boi gordo. As demais carnes também apresentaram a mesma tendência, pois com as altas das três carnes, o consumidor não tem como exercer uma pressão baixista (com a diminuição de compra do produto que está em alta e migrando para o produto com preço mais baixo). O aumento das carnes está enquadrado em contexto mais amplo (que atinge todos os produtos, mas é mais evidente nos produtos de origem animal), que é apresentado a seguir.

            Ademais, há que se considerar ainda que todos os preços agropecuários estão sofrendo pressões de custos de produção frente às altas dos preços do petróleo e dos fertilizantes no mercado internacional. Recentemente foram reajustados os preços do diesel que têm efeito cascata em todo fluxo produção-consumo. Assim, a alta de preços agropecuários de forma alguma significa maiores rendas para os agropecuaristas.

            Outro ponto a se considerar, além dessa alta dos insumos, a pressão de custos pode ser ainda mais séria na medida em que a tendência de elevação da taxa de juros internos seja mantida por mais alguns meses. Como apenas parte do custeio da safra se dá com credito rural oficial a juros de 6,75% a.a., os recursos adicionais demandados pelos produtores terão custos financeiros mais altos. E como insumos mais caros implicam em custos totais por hectare mais elevados, os custos financeiros serão ainda maiores. Em suma, retro-alimentando a pressão sobre os preços agropecuários.

            Além disso há que se ter em mente que, numa realidade de sucessivos recordes de safras de grãos e fibras como nas duas últimas (2006/2007 e 2007/2008), os preços dos alimentos aumentam com oferta crescente exatamente porque a demanda não vem sendo impactada pelo mecanismo clássico de aumento de renda do consumidor em particular. Já que o crescimento da economia e a inclusão de parcela relevante da população das classes D e E que migraram para classe C por terem tido acesso ao emprego, o que aumentou de forma mais que proporcional foi o número de consumidores com acesso mais pleno aos alimentos.

            E tal pressão de demanda de forma alguma responde ao mecanismo clássico de política monetária consubstanciado no aumento da taxa de juros. Daí a continuidade da pressão dos preços agropecuários sobre a inflação, que com altos e baixos ainda persistirá por algum tempo. Isso até que a oferta se ajuste nos novos patamares de consumo mais elevado.

            Outro aspecto a observar está em que todos os produtos que tiveram as maiores elevações de preços têm forte inserção no mercado internacional, cujos preços nesses mercados também aumentaram. Como além do efeito de crescimento da demanda interna há a pressão da competição entre o abastecimento interno e as exportações, isso contribui para pressionar preços para cima, a despeito dos ganhos de produtividade na agropecuária.

            Os produtos que apresentaram maiores queda de preços no mês de junho foram: laranja para mesa (12,05%), banana nanica (6,90%), milho (4,76%) e trigo (4,74%).

            O efeito safra contribui para redução das cotações da laranja de mesa. Para a banana nanica a colheita nas regiões produtoras (em outros estados, principalmente Santa Catarina) elevou a oferta da fruta no Estado, acarretando assim a retração da cotação.

            No período analisado, 13 produtos apresentaram alta de preços (8 de origem vegetal e 5 produtos de origem animal), enquanto apenas 7 tiveram queda (6 de origem vegetal e apenas 1 produto de origem animal). Comparando o índice do mês (2,42%) com a terceira quadrissemana (2,60%), tem-se uma queda de 0,18 ponto percentual, reflexo das cotações de preços dos produtos que vinham apresentando alta, atenuarem esta tendência, apesar de todos os produtos de origem animal ainda apresentarem elevação das suas cotações.

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A fórmula de cálculo do índice (IqPR) é a de Laspeyres modificada, ponderada pelo valor da produção agropecuária paulista. As cotações diárias de preços são levantadas pelo IEA e divulgadas no Boletim Diário de Preço. As variações são obtidas comparando-se os preços médios das quatro últimas semanas (referência) com os preços médios das quatro primeiras semanas (base), sendo a referência = 01/06/2008 a 30/06/2008 e base = 01/05/2008 a 31/05/2008.

Data de Publicação: 04/07/2008

Autor(es): Eder Pinatti (pinatti@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Raquel Castelluci Caruso Sachs (raquelsachs@apta.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
José Alberto Angelo (jose.angelo@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
José Sidnei Gonçalves (sydy@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor