Dimensão da Safra Brasileira de Café Molda as Expectativas para os Preços Futuros


 

O primeiro semestre de 2023 evidencia um relativo êxito da política macroeconômica brasileira conduzida pelo governo federal: inflação seguindo em baixa, ajuste fiscal com direcionamento satisfatório do ponto de vista do equilíbrio das contas públicas, taxa de desemprego decrescente, produto interno bruto em patamar acima dos 2,0%, reforma tributária em discussão e de desenho que trará enorme simplificação no recolhimento de impostos, programa de renegociação de dívidas das famílias com fundo público garantidor etc. Tal contexto tem propiciado apreciação do real frente ao dólar, o que, em geral, favorece a cotação das commodities agropecuárias negociadas em bolsas internacionais. Na média das cotações na terceira semana do mês (PTAX/BACEN), o dólar americano foi negociado abaixo de R$4,95/US$. O movimento de alta posterior não se manteve com retorno das cotações em junho para patamares abaixo dos R$4,95/US$ (Figura 1).

Na Bolsa de Nova York em que são negociados os contratos futuros de café arábica, as cotações médias semanais das posições futuras assumiram tendência de ligeira baixa. A média das cotações na primeira semana do mês para a posição de setembro de 2023 negociou contratos a US$¢183,23/lbp, declinando para a mesma posição na média da última semana do mês para US$177,64/lbp, ou seja, queda de -3,05% no período. Fundamentalmente, foi avanço da colheita no Brasil, associado às previsões de safras de entidades privadas (contabilizando quantidade colhida acima das 65 milhões de sacas para o país) que produziram o sentimento de regularização do suprimento global e, consequentemente, pressionando as cotações (Figura2).

 

Se na safra 2023/24 houve efetivamente recuperação na produção e produtividade de arábica, o mesmo não ocorreu na produção de conilon e robusta. As informações vindas dos cinturões de produção de conilon indicam quebras significativas na produtividade em decorrência de distúrbios climáticos ocorridos na época de florescimento e pegamento dos frutos. A se confirmar essa mais baixa produtividade, dificilmente a safra brasileira superará 60 milhões de sacas, o que poderá configurar uma terceira temporada em que a oferta é inferior à demanda.

No principal cinturão de lavoura cafeeira do estado de São Paulo - CATI Regional de Franca -, o preço médio recebido pelos cafeicultores no mercado físico foi de R$1.068,18/sc. para o tipo 6 bebida dura2. Esse preço convertido pelo câmbio médio do mês (R$4,98/US$) representa US$214,49/sc. 60kg. Cotejando-se esse preço com a cotação futura para segunda posição na quinta semana do mês de US$¢177,64/lbp ou de US$234,96/sc., constata-se diferença de US$20,47/sc. entre preço recebido e cotação em Nova York. Considerando-se as despesas para contratação do hedge parametrizadas, arbitrariamente, em 20% o resíduo restante estimula sua contratação.

No mercado futuro da Bolsa de Londres, as médias semanais das cotações em maio de 2023 para as posições futuras seguiram o que se observou com as do arábica com redução ao longo do período. Apesar dos percalços dos embarques vietnamitas e do declínio das exportações de conilon brasileiro, os investidores do mercado de contratos futuros de café permaneceram céticos quanto à potencial escassez de produto a curto prazo (Figura 3).

 

A quantidade de contratos negociados em Nova York é um termômetro para a formação de tendências para os preços. No desenrolar das semanas, houve maior número de comprados do que vendidos entre os fundos e grandes investidores, sinalizando que há expectativa de ganhos marginais na especulação com contratos futuros de café (Tabela 1). Com a aproximação do inverno no Hemisfério Sul, a volatilidade da formação dos preços ganha novo ingrediente que são o avanço das massas polares e sua capacidade de impactar os cinturões de arábica no Brasil causando geadas. Todavia, devido ao aumento das chances de surgimento de um El Niño no Pacífico peruano, prevê-se um inverno mais quente, o que não elimina as possibilidades de uma massa polar intensa ganhar o Centro-Sul do país.

 

Os embarques brasileiros de café vêm ao longo do primeiro semestre de 2023 registrando, sistematicamente, menores quantidades enviadas ao exterior frente a igual período do ano anterior. Tal fato deve se repetir com os registros de junho de 2023, denotando, sem margem para dúvidas, que a safra anterior foi muito aquém da contabilizada pelas consultorias.

O prognóstico de formação do El Niño pode trazer maior volatilidade à formação dos preços. Ainda que não ocasione efeitos muito acentuados nos cinturões de arábica (talvez um atraso no início da estação chuvosa), pode ser pernicioso para a produção de conilon sequeiro em Rondônia, pois a expectativa para a zona equatorial é de prolongada estiagem, como também para as produções no Vietnã e na Indonésia.

No terceiro trimestre do ano, os resultados da safra brasileira já serão plenamente conhecidos. Caso se concretizem as previsões menos otimistas, o mercado tenderá a se manter pressionado. Apesar disso, não se deve abrir mão do planejamento da comercialização, pois a cada nova temporada situações inusitadas se apresentam criando fatos que antes não se haviam experimentado.


1O autor agradece pelo trabalho de sistematização do banco de dados econômicos conduzido pelo agente de apoio à pesquisa científica e tecnológica do IEA, o analista de sistemas Paulo Sérgio Caldeira Franco.

 

2INSTITUTO DE ECONOMIA AGRÍCOLA. Preços médios diários recebidos pelos produtores. São Paulo: IEA, 2023. Disponível em: http://ciagri.iea.sp.gov.br/precosdiarios/precosdiariosrecebidos.aspx?cod_sis=6. Acesso em: 5 jun. 2023.

 

Palavras-chave: cotações futuras, Bolsa de Valores, mercado de café.


 

COMO CITAR ESTE ARTIGO

VEGRO, C. L. R. Dimensão da Safra Brasileira de Café Molda as Expectativas para os Preços Futuros. Análises e Indicadores do Agronegócio, São Paulo, v. 18, n. 6, jun. 2023, p. 1-5. Disponível em: colocar o link do artigo. Acesso em: dd mmm. aaaa.

Data de Publicação: 21/06/2023

Autor(es): Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor