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Ligeira Recuperação das Commodities Alavanca a Curva Futura do Café
O combate ao processo
inflacionário estadunidense obrigou sua autoridade monetária a implementar, em
julho, elevação de sua taxa de juros básica, alcançando 2,5% a.a. Tal
determinação produziu uma espécie de efeito manada, atraindo investidores
posicionados em euros e outras moedas a realocarem suas aplicações no mercado
daquele país. Consequência imediata foi a valorização do dólar em âmbito
mundial, pressionando ainda mais a desvalorização do real. Na última semana do
mês, o Banco Central Europeu
(BCE) também sinalizou sua intenção de elevar a taxa no mercado europeu,
arrefecendo o interesse no dólar e permitindo que o real retornasse a patamares
similares aos praticados na média do mês anterior,
cotado a R$5,30/US$2 (Figura 1). A valorização do dólar
ao longo do mês trouxe repercussões sobre a formação dos preços do café arábica
na Bolsa de Nova York. O desfazimento de posições compradas de café em favor de
aplicações na moeda estadunidense pressionou as cotações do produto,
especialmente na primeira quinzena do mês. Todavia, a insegurança dos investidores
quanto ao fluxo de suprimentos mantém-se na construção dos cenários seguintes determinantes
para o movimento de compra e venda de contratos futuros. Em julho de 2022, as
médias semanais das cotações dos contratos futuros de café arábica negociados
na Bolsa de Nova York exibiram fortes oscilações e, comparando-se a primeira e a
segunda semanas com a terceira e a quarta, houve recuperação expressiva.
Considerando as cotações médias semanais em segunda posição (dez./2022), foram
registrados na primeira semana US$?216,78/lbp,
baixando para US$?202,21/lbp, ou seja, queda de -6,72%. Como
mencionado, a valorização do dólar associado à queda nos estoques3 foram
determinantes nessa queda da cotação média (Figura 2). Nas semanas
subsequentes,
a recuperação da média das cotações foi significativa. Fatores como a
acomodação do dólar e a sinalização de que tanto a colheita da safra 2021/22
(quebra no rendimento) como os indicativos preocupantes para a próxima safra
(2022/23 – altas temperaturas para período invernal com elevado deficit hídrico nos principais cinturões
brasileiros de arábica) tensionaram o movimento dos operadores de mercado,
alavancando novamente as cotações. Em segunda posição, na média da quarta
semana, as cotações atingiram US$?220,74/lbp. A perda de tração das exportações
colombianas (-9% entre julho/2021 e junho/2022) também resultaram em pressão
sobre as cotações4. Segundo dados
sistematizados pelo IEA/CATI para o Estado de São Paulo, na região de Franca,
em junho de 2022, a média dos preços recebidos pelos cafeicultores foi de
R$1.328,81/sc. para o tipo 6 bebida dura5. Considerando-se R$5,37/US$
(PTAX) como média para a cotação do dólar médio no mês, o preço recebido
equivale a US$247,45/sc. Para a média da segunda posição na última semana do
mês, a cotação atingiu US$¢220,74/lbp, ou seja, US$291,97/sc. Descontados
aproximadamente 20% relativos ao diferencial, taxas e emolumentos cobrados na
contratação de hedge, obtêm-se
US$233,57/sc., ou seja, R$1.254,30/sc. Esse montante foi insuficiente para
viabilizar a contratação do hedge, uma vez que se
situou abaixo do preço médio praticado no mercado físico. Na Bolsa de Londres, as
cotações médias semanais do robusta exibiram trajetória diferenciada das
observadas para o arábica em Nova York, observando-se médias da segunda semana em alta. Apesar da ligeira baixa registrada e tendo em conta
a relativa substitutibilidade entre arábica e robusta na composição dos blends, deve-se esperar que as cotações
em Londres voltem a se recuperar, como já se observa na média das cotações
futuras para a posição de setembro (Figura 3). A pressão sobre o
mercado de robusta a partir da disparada das cotações de arábica refletiu-se na
antecipação da comercialização do produto vietnamita, fenômeno que poderá esgotar suas reservas de produto
para o cumprimento de contratos. Tais incertezas deverão manter as cotações
em alta para o produto nos próximos meses. A negociação de
contratos em Nova York, conduzida por fundos e grandes investidores, manteve
saldo líquido aos comprados, embora tenha havido oscilações. Ao longo das
semanas, ainda que o movimento de venda de contratos não demonstre fuga do
produto, houve mais moderação entre os comprados, conduzindo a
uma baixa do saldo líquido das posições em café no mercado futuro (Tabela 1). As ondas de calor
extremo registradas nos continentes europeu e norte-america no restringem qualquer incremento do consumo de
café no curto prazo. Contudo, a médio e longo prazos, aparentemente, os
investidores continuam apreensivos quando à incerteza nos fluxos de
suprimentos. Os principais players
exibem contingências (distúrbios climáticos, moedas desvalorizadas, alta nos
custos de produção, mão de obra escassa etc.) que tornaram mais e mais difícil
celebrar safras abundantes. A possibilidade de o mundo ficar no limite
extremo do suprimento já se configura como cenário plausível para o mercado do
produto. A entressafra brasileira poderá ser um período de grande apreensão. 1O
autor agradece o trabalho de sistematização do banco de dados econômicos
conduzido por Paulo Sérgio Caldeira Franco, Agente de Apoio à Pesquisa Científica
e Tecnológica do IEA. 2BANCO
CENTRAL DO BRASIL. Banco de dados.
Brasília: BCB, 2022. Disponível em: www.bcb.gov.br. Acesso em: 04 ago. 2022. 3Os
estoques certificados registraram o menor nível em 23 anos, contabilizando
pouco mais de 700 mil sacas. Ver: AOUN, L.A. Com montanha-russa constante
nos preços, estoque de café certificado na ICE segue em queda com menor nível
dos últimos 23 anos. Disponível em:
http://www.redepeabirus.com.br/redes/form/post?topico_id=99227. Acesso em: 04 ago.
2022. 4Boletim Carvalhaes,
Santos. 25/Julho/2022. Disponível em: www.carvalhaes.com.br Acesso em 04/ago.
/22. 5INSTITUTO
DE ECONOMIA AGRÍCOLA. Preços médios
diários recebidos pelos produtores. São Paulo: IEA, 2022. Disponível em: http://ciagri.iea.sp.gov.br/precosdiarios/precosdiariosrecebidos.aspx?cod_sis=6.
Acesso em 04 ago. 2022. Palavras-chave: Bolsa de Valores, mercado futuro de café, cotações do
café. COMO
CITAR ESTE ARTIGO VEGRO,
C. L. R. Ligeira Recuperação das Commodities
Alavanca a Curva Futura do Café. Análises e Indicadores do Agronegócio,
São Paulo, v. 16, n. 8, ago. 2021, p. 1-5. Disponível em: colocar o link do artigo. Acesso em: dd mmm. aaaa.
Data de Publicação: 16/08/2022
Autor(es): Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor