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Impacto Coronavírus sobre o Consumo Potencial de Café
Ao final de 2019, as autoridades governamentais,
assim como a população mundial, foram surpreendidas, pelo anúncio por parte do
governo chinês, do surgimento de nova epidemia2 de rápida progressão
e acentuado grau de morbidez. O coronavírus (nome científico: 2019-nCoV),
oriundo aproximadamente de animal silvestre e que após mutação passou a
contaminar humanos, trouxe severas preocupações para a dinâmica econômica. As
medidas sanitárias, visando à contenção da disseminação do surto e tomadas
pelas autoridades chinesas, produzirão baixa na taxa de crescimento econômico
do país. Na atualidade, a economia chinesa é mais dependente da prestação de
serviços e do consumo doméstico, sendo que as restrições à mobilidade impostas
terão efeitos arrasadores sobre a economia doméstica do gigante oriental.
Dependendo da duração de vigência das medidas restritivas, o PIB chinês pode
perder mais de 1 ponto percentual frente ao obtido em 2019 (6,1%) e ainda
causar baixa de 0,5% no PIB mundial devido aos efeitos multiplicadores
exercidos pela economia chinesa3. A
presunção de menor crescimento mundial provocou abruptas quedas nas bolsas de
valores, com investidores alarmados quanto às possíveis consequências que o
surto pode trazer ao ambiente de negócios. Principais commodities negociadas em bolsas de valores (petróleo, minério de
ferro, soja e milho em grão) esboçam também significativas baixas nas cotações
internacionais. Desde
2000, o crescimento do consumo de café no mundo avança positivamente, exibindo
taxa geométrica de crescimento anual de 2,25% a.a. O ajuste da regressão sobre
os dados consolidados demonstra que o mundo, no período considerado (20 anos),
demanda 3,37 milhões de sacas de incremento no consumo global ao ano (Figura
1). As estimativas de consumo em 2019 apontam para uma demanda de 167,90
milhões de sacas. Portanto, empregando-se o resultado da regressão, pode-se
estimar que o consumo de café em 2020 atinja 171,27 milhões de sacas de café. No
período considerado houve ao menos duas manifestações importantes de propagação
de epidemias: síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS) e H1N1 (subtipo de influenza
A) (Tabela 1). Ainda que existam especificidades relevantes entre as duas
doenças respiratórias, a análise desses episódios pode consubstanciar
perspectivas para o consumo de café, em 2020, a partir do alerta de nova
epidemia global (coronavírus). Autoridades
sanitárias da Organização Mundial da Saúde estimam que a epidemia de coronavírus
atinja seu pico em fevereiro de 2020. A progressão da doença até 30/01/2020, em
território chinês, havia vitimado 213 e contaminado cerca de 8 mil pessoas4. Ao se
correlacionar os surtos anteriores com o consumo de café, pode-se constatar que
houve expressiva elevação da demanda nos anos em que os surtos foram
considerados extintos. Entre 2002 e 2003, na epidemia de SARS, o consumo de
café incrementou-se em 2,54 milhões de sacas, representando variação de 2,28%
frente a 2002 (Tabela 2). Entre 2009 e 2010, período de auge do colapso
financeiro iniciado com a quebra do Lehman Brothers em outubro de 2008, houve
impacto significativo na demanda de café, com diminuição do consumo em 2009. Em
março desse ano, surge a influenza H1N1, que se prolonga até agosto de 2010.
Entretanto, o consumo de café exibe portentosa recuperação com variação anual
de 3,58% frente a 2009. Portanto, em ambas as ocorrências, o ano em que a epidemia
foi controlada foi também de relevante incremento no consumo de café. Assumindo
que a atual epidemia mantenha padrões similares aos observados nas emergências
anteriores, pode-se esperar que em 2020 o surto esteja debelado. Inúmeros
laboratórios e centros de pesquisa se dedicam em obter uma vacina, ainda
desrespeitando os prazos essenciais para validação em humanos5, visando
produzir imunidade frente ao vírus. Enfim, são fatos e fenômenos que não são
passíveis de previsão ex-ante. De
qualquer modo, trabalhando-se com a hipótese de término da epidemia, as chances
de que o consumo de café cresça acima do esperado são elevadas, repetindo o
ocorrido nas duas ocasiões passadas. Uma provável explicação para esse fenômeno
(crescimento do consumo frente ao ano anterior após uma epidemia) decorra do
maior tempo em que as famílias permanecem em suas residências. É conhecido o
fato de que, confinado no ambiente doméstico, o consumo de café tende a ser
maior do que na situação em que a vida transcorre sem anomalias. Enfim,
trata-se de um prognóstico que somente ao encerramento do ano corrente poderá ser
confirmada ou refutada. 1O autor agradece
a colaboração de Eduardo Heron dos Santos, bacharel em Ciências da Computação e
responsável pelo banco de dados do CECAFÉ. 2Epidemia, endemia
e pandemia são conceitos de diferentes significados. A epidemia caracteriza-se
pela incidência de doença por curto prazo e elevado número de acometidos,
enquanto endemia mostra um menor número de casos por um período mais elástico.
Já a pandemia é uma epidemia de grandes proporções, espalhando-se por diversos
países e continentes. 3ECONOMIA chinesa
tende a parar com nova epidemia. Valor
Econômico, São Paulo, 29 jan. 2020. Disponível em: https://valor.globo.com/opiniao/noticia/2020/01/29/economia-chinesa-tende-a-parar-com-nova-epidemia.ghtml. Acesso em: jan.
2020. 5A humanidade se
encontra diante de um dilema. Obtida uma possível vacina, seria ético
desencadear vacinação em massa desconhecendo os efeitos secundários que possa
causar. Ou segue-se o protocolo e, após longo período e milhares de óbitos
devido ao coronavírus, partir-se-ia para uma campanha de vacinação. Palavras-chave: coronavírus,
epidemia, consumo de café. 4OMS declara emergência de saúde
pública global por surto de coronavírus. Estado
de São Paulo, São Paulo, 30 jan.
2020. Disponível em: https://saude.estadao.com.br/noticias/geral,oms-declara-emergencia-de-saude-publica-global-por-surto-de-coronavirus,70003178909. Acesso em: jan. 2020.
Data de Publicação: 06/02/2020
Autor(es): Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor