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Arroz e feijão seguem direções opostas no mercado atacadista de São Paulo – outubro de 2018
Este estudo apresenta e analisa a
variação dos preços médios do mercado atacadista da Região Metropolitana de São
Paulo² (RMSP) para o mês de outubro de 2018, discutindo comparações em relação
ao mês anterior e há um ano. Pontualmente, também são utilizados períodos
maiores para ampliar a discussão das causas e consequências das variações em
estudo. Tal esforço compõe uma série analítica divulgada mensalmente pelo
Instituto de Economia Agrícola (IEA) desde junho de 2018. O trabalho reúne
preços dos 22 produtos de maior importância no sistema de comercialização
paulista extraídos de um conjunto composto de 55 itens coletados diariamente,
sendo 27 produtos de origem animal e 28 de origem vegetal. Essa iniciativa
busca apresentar possibilidades de tratamento e análise das informações
coletadas e divulgadas pelo IEA No
mês de outubro, quando confrontados os preços com aqueles praticados em
setembro de 2018, observa-se que, dos 22 produtos relacionados, 13 apresentaram
alta de preços, como pode ser observado na tabela 1. Dois itens merecem
destaque, a batata e a cebola. A primeira sofreu reajustes de 27,55% para a
média das variedades escovadas e de 25,81% para as lavadas. Dentre as causas
dessa variação percebida no mês de outubro está o volume de chuvas acima da
média. Já a segunda foi o produto de maior aumento de preços em outubro, com
31,34%. Essa variação tem relação com o final da safra da cebola paulista, com
impacto na redução da oferta do produto no mercado. Em relação à redução de preços,
observa-se na mesma tabela 1 que dos nove produtos em queda, quatro deles: café
torrado e moído, carne bovina resfriada dianteiro com osso, farinha de mandioca
crua grossa e farinha de trigo especial, apresentaram reduções inferiores a 1%
no mês, causando pouco impacto na comercialização. Por outro lado, os produtos
feijão carioquinha tipo 1, leite longa vida e ovos apresentaram as quedas
expressivas de preços no mês. Ao se considerar os
produtos que registraram queda nas cotações, observa-se retração nos preços do
leite desde o mês de agosto. Esse cenário de queda está vinculado à crescente
captação5 do produto registrada nos últimos meses e à retração do
consumo6,7. Contudo, quando realizada a comparação anual, verifica-se
que o preço atual, em valores nominais, está valorizado em 22,83%. Outro produto entre
aqueles de maior queda nos preços, os ovos, apresentaram redução de 6,96% para
o branco e de 9,25% para o vermelho, ambos de tipo extra. A figura 1 mostra
que, em comparação aos dois anos anteriores, a queda de preços em outubro faz
parte do ciclo de produção e comercialização; entretanto, observa-se que em 2018 essa
redução de preços está mais acentuada, principalmente, em relação aos preços
médios de 2017. Também se observa que a partir de julho de 2018 ambos os tipos
apresentaram tendência de queda. A dinâmica de variação
dos preços praticados no mercado atacadista é permeada por comportamentos
distintos como o observado em dois produtos importantes no padrão alimentar do
brasileiro, o arroz e feijão. Para a observação de tendências, a partir do
componente de preços, é necessária a análise de uma série mensal de ao menos 36
meses. Dessa forma, conforme pode ser observado na figura 2, a evolução dos
preços mensais no mercado atacadista de São Paulo para os produtos feijão
carioquinha tipo 1 e arroz agulhinha tipo 1 compreende o período de janeiro de
2015 a outubro de 2018. Em termos de variação acumulada de preços desde janeiro
de 2015 a setembro de 2018, o arroz apresentou alta de 14,65%. Já para o
feijão, o mesmo período indica queda de 31,36% nos preços praticados. Esse
resultado também pode ser observado quando considerada apenas a variação dos
últimos 12 meses, induzindo a destacar-se que o arroz impulsiona o índice de
inflação nesse ano, dado que a variação mensal foi de +3,04% e há um ano é de
+8,11%, enquanto que o produto feijão “segura” o índice inflacionário, pois, a
variação mensal foi de -7,59% e há um ano foi negativa em 8,79% (Tabela 1). Entretanto, quando se
analisa a variação de ambos os produtos apenas no ano de 2018 (Figura 3) em
número índice com dezembro de 2017 como base 100, observa-se que os dois itens
estão com acumulados positivos, o arroz com 10,02% e o feijão que possui um
índice negativo quando a comparação é entre outubro de 2018 a outubro de 2017,
acumulou dentro do ano de 2018 uma variação positiva em 4,83%. Portanto, o
arroz está pressionado mais a inflação, mas o feijão também possui variação
superior ao IPCA de 2018 que está em 3,81%. Esses resultados indicam que ambos
os produtos sofreram no ano de 2018 reajustes que superam a inflação, com isso,
tanto o arroz como o feijão apresentaram aumentos reais, ou seja, mesmo
descontando a inflação os reajustes anuais destes produtos ainda são positivos. Em relação ao aumento desses itens neste ano, dois
fatores podem estar influenciando esse resultado: 1. o período entre maio a
julho de 2018 foi mais seco do que a média e prejudicou algumas culturas, entre
elas, o feijão, que, segundo dados do levantamento subjetivo da produção
paulista8, registrou queda de produtividade na safra da seca
(-6,1%); 2. o volume de arroz exportado pelo Brasil em 2018 (mesmo sem o
fechamento do ano) já é quase o dobro do embarcado em 2017, sendo que o destino
com maior crescimento no ano foi a Venezuela, passando de pouco mais de 25 mil
t para quase meio milhão de toneladas, enquanto as importações apresentam
redução de 36%9. Conclui-se este trabalho
apontando que em outubro de 2018 a maior parte dos produtos acompanhados (13 de
22) tiverem suas cotações valorizadas no mês e que os dois principais produtos
da cesta básica do brasileiro (arroz e feijão) apesar de seguirem caminhos
opostos na variação mensal e há um ano, acumulam índices acima da inflação
nesse ano de 2018. __________________________________________________________ 1Este é um trabalho mensal que visa acompanhar
as variações de preços do mercado atacadista de alimentos na Região
Metropolitana de São Paulo. Para viabilização desse estudo, os autores
agradecem o empenho dos técnicos Aldo Fernando de Lucca e Magali Aparecida
Schafer de Lucca, responsáveis pelo levantamento diário de preços, e dos
estagiários Beatriz Pontes Ruiz, Caio Daniel Pinto de Lima e Fernando Buzzo
Leite, que completam a equipe de coleta de dados. Também agradecem a
colaboração do assessor técnico Daniel Kiyoyudi Komesu na formatação de tabelas
e gráficos. 2Também conhecida por Grande São Paulo, foi
instituída em 1973 e reorganizada em 2011 pela Lei Complementar n. 1.139/2011,
e é composta por 39 municípios. Sendo, a norte: Caieiras, Cajamar, Francisco
Morato, Franco da Rocha e Mairiporã; a leste: Arujá, Biritiba-Mirim, Ferraz de
Vasconcelos, Guararema, Guarulhos, Itaquaquecetuba, Mogi das Cruzes, Poá,
Salesópolis, Santa Isabel e Suzano; a sudeste: Diadema, Mauá, Ribeirão Pires,
Rio Grande da Serra, Santo André, São Bernardo do Campo e São Caetano do Sul; a
sudoeste: Cotia, Embu das Artes, Embu-Guaçu, Itapecerica da Serra, Juquitiba,
São Lourenço da Serra, Taboão da Serra e Vargem Grande Paulista; e a oeste:
Barueri, Carapicuíba, Itapevi, Jandira, Osasco, Pirapora do Bom Jesus e Santana
de Parnaíba. Ver em: EMPRESA PAULISTA DE PLANEJAMENTO METROPOLITANO - EMPLASA. Sobre a RMSP. São Paulo: Emplasa.
Disponível em: <https://www.emplasa.sp.gov.br/RMSP>. Acesso em: jul.
2018. 3Entende-se por estabelecimento atacadista um
local físico separado onde se processam vendas no atacado, isto é, vendas em
grande quantidade para empresas (em oposição às vendas em pequena quantidade
para o consumidor final). Os compradores utilizam os bens adquiridos para: a)
revender almejando lucro (comércio atacadista ou varejista); b) produzir outros
bens (indústria); ou c) usar para fins institucionais (por exemplo,
restaurantes industriais). Conforme: PINO, F. A. et al. Levantamentos de preços
por amostragem: mercado atacadista de produtos agrícolas na cidade de São
Paulo. Agricultura em São Paulo, São
Paulo, n. 47, v. 2, p. 1-19, 2000. Disponível em:
<http://www.iea.sp.gov.br/OUT/verTexto.php?codTexto=416>. Acesso em: out.
2018. 4Os preços coletados referem-se ao pagamento à
vista, incluindo todos os gastos (beneficiamento, industrialização, preparo,
acondicionamento, transporte, comissões, impostos, etc.). 5CENTRO DE ESTUDOS AVANÇADOS EM ECONOMIA
APLICADA - CEPEA. Índice de captação de
leite Brasil. São Paulo: CEPEA/ESALQ/USP. Disponível em:
<https://www.cepea.esalq.usp.br/br/metodologia/icap-l-cepea-indice-de-captacao-de-leite-brasil.aspx>.
Acesso em nov. 2018. 6RIBEIRO, R. Queda no preço do leite ao
produtor. Scot Consultoria.
Disponível em: <https://www.scotconsultoria.com.br/noticias/todas-noticias/49306/queda-no-preco-do-leite-ao-produtor.htm>.
Acesso em: nov. 2018. 7CENTRO DE ESTUDOS AVANÇADOS EM ECONOMIA
APLICADA - CEPEA. Boletim do leite,
São Paulo, ano 24, n. 281, p. 1-8, out. 2018. Disponível em <https://www.cepea.esalq.usp.br/upload/revista/pdf/0725224001539884683.pdf>.
Acesso em: out. 2018. 8MARTINS, V. A. et al. Previsões e estimativas das safras agrícolas do Estado de São Paulo, ano
agrícola 2017/18, junho de 2018. Análises e Indicadores do Agronegócio,
São Paulo, v. 13, n. 8, p. 1-11, ago. 2018. Disponível em:
<http://www.iea.sp.gov.br/out/LerTexto.php?codTexto=14505>. Acesso em:
nov. 2018. 9MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO, INDÚSTRIA E
COMÉRCIO EXTERIOR. Secretaria de Comércio Exterior - MDIC/SECEX. Sistema
Comex Stat. Brasília: MDIC/SECEX. Disponível em:
<http://comexstat.mdic.gov.br>. Acesso em: nov. 2018. Palavras-chave: Mercado atacadista, alimentos, preços, São Paulo., desde meados da década de 1960. Dessa forma, aqui
são agrupados os preços médios mensais coletados diariamente obtidos pelo
levantamento em diversos estabelecimentos³ que comercializam produtos
alimentícios no nível de comercialização “atacado”. Com base nessa coleta, é
calculada a média simples mensal dos preços mínimos e máximos diários4
de venda dos produtos divulgados no boletim diário de preços.
Data de Publicação: 29/11/2018
Autor(es):
Vagner Azarias Martins (vagnermartins@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
José Alberto Angelo (jose.angelo@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor