Análise da Variação dos Preços Médios no Mercado Atacadista da Região Metropolitana de São Paulo – junho de 2018

Desde meados da década de 1960, o Instituto de Economia Agrícola coleta, analisa e divulga mensalmente os preços médios mensais coletados diariamente dos mais relevantes produtos agropecuários de origem animal e vegetal comercializados na Região Metropolitana de São Paulo2. A partir de novembro de 2000, iniciou-se também a divulgação por sistema informatizado dos preços diários neste nível de comercialização. Com isso, passaram a ser divulgados dois produtos: 1) as cotações diárias obtidas por meio de contatos nos principais estabelecimentos atacadistas 3; e 2) os preços médios mensais das cotações diárias.

As informações obtidas pelo levantamento dos preços médios dos produtos agrícolas no mercado atacadista da Região Metropolitana de São Paulo referem-se à média simples mensal dos preços diários mínimos e máximos de venda dos produtos divulgados no boletim diário de preços, com pagamento à vista, incluindo todos os gastos (beneficiamento, industrialização, preparo, acondicionamento, transporte, comissões, impostos, etc.) até a sua aquisição por outras empresas (atacadistas, varejistas, indústrias, etc.). Atualmente, são pesquisados diariamente 55 itens, sendo 27 de origem animal e 28 de origem vegetal.

O objetivo deste trabalho é apresentar sistematicamente (todo início de mês) as variações percentuais dos preços médios mensais para os principais produtos4 comercializados em um espaço temporal de 30 dias e de um ano, como também discutir os produtos que tiveram comportamento diferenciado no período.

O mês de junho vem imediatamente posterior à paralisação do transporte de cargas no Brasil, movimento iniciado no dia 21 de maio e que foi se intensificando até o último dia útil do mês, causando sérios transtornos à comercialização de alimentos no mercado atacadista da Grande São Paulo.

A tabela 1 apresenta os preços médios mensais de 24 dos principais produtos do mercado atacadista da Região Metropolitana de São Paulo, referentes ao mês vigente (junho de 2018), ao anterior (maio de 2018) e o de um ano atrás (junho de 2017). Também estão dispostas as variações mensal e anual dos períodos em estudo.



 

Nesse mês, destacam-se a queda de preços médios dos produtos batata e cebola, e o aumento das cotações da maioria dos produtos de origem animal, fortemente afetados pela paralisação dos caminhoneiros.

Verifica-se ainda que, em relação aos produtos de origem vegetal, houve redução de 20,23% nos preços médios da cebola nacional (Santa Catarina) e de 9,65% na importada (Argentina), enquanto a batata escovada teve seus preços reduzidos em 19,47% e a lavada em 32,84% quando comparadas a maio. Com o final da paralisação e o desbloqueio das rodovias, os produtos voltaram a ser entregues aos atacadistas e, com isso, houve queda nas cotações. A variação anual dos preços das cebolas (nacional e importada) foi superior a 120%, a maior dentre os produtos analisados. Esse preço valorizado do produto se deve a: previsão de safra nacional 6,0% menor em relação a 2017, segundo o IBGE5; redução da safra argentina devido à seca6; e aumento do dólar, cuja cotação nesse período (dólar compra) saiu de R$3,307 (em 30/06/2017) para R$3,815 (em 28/06/2018), variação de quase 16%. Essa variação da moeda americana se mostra relevante, dado que aproximadamente 13% da cebola comercializada no Brasil é proveniente da Argentina7.

Em relação aos produtos de origem animal, diversos itens apresentaram aumentos significativos nesse mês em relação ao anterior: ovos, com valorização de 17,58% para o branco extra e de 16,96% para o vermelho extra, e carne suína ½ carcaça, com 21,82%. Eles recuperaram perdas em relação à paralisação e à defasagem anual de preços, dado que ambos apresentam variação acumulada negativa no ano. Em termos percentuais, a maior variação positiva no mês foi a de frango resfriado (27,87%), a perda significativa de unidades devido à falta de ração explica em parte esse aumento (Tabela 1).

Na tabela 1 estão em destaque os produtos frango resfriado, ovo branco extra e ovo vermelho extra, e a figura 1 mostra a evolução das variações cotadas desses produtos ao longo de junho em relação ao preço médio de maio. Os ovos (branco e vermelho) seguiram, como esperado, o mesmo padrão de variação. No dia 4, os preços foram, respectivamente, 4,70% e 2,98% maiores que a média de maio e continuaram pressionados até o final da primeira quinzena, e a partir desse momento os preços começaram a cair. No dia 28, último dia de cotação de junho, os preços estavam pouco mais de 12,0% superiores a maio.

A cotação do frango resfriado no início do mês já apontava um aumento de 22,40% em relação ao valor médio de maio e, no dia 8 alcançou o pico de aumento no mês (44,26%). No último dia de coleta, a variação medida recuou para 20,77% em relação à média do mês anterior, o que indica o processo de normalização da oferta após a alta mortalidade das aves por falta de ração devido à greve dos caminhoneiros.

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1Os autores agradecem o empenho dos técnicos Aldo Fernando de Lucca e Magali Aparecida Schafer de Lucca, responsáveis pelo levantamento diário de preços, e dos estagiários Beatriz Pontes Ruiz, Caio Daniel Pinto de Lima e Elisandra Silva Santos, que completam a equipe de coleta de dados.

 

2Também conhecida por Grande São Paulo, foi instituída em 1973 e reorganizada em 2011 pela LC n. 1.139, e é composta por 39 municípios. Sendo, a norte: Caieiras, Cajamar, Francisco Morato, Franco da Rocha e Mairiporã; a leste: Arujá, Biritiba-Mirim, Ferraz de Vasconcelos, Guararema, Guarulhos, Itaquaquecetuba, Mogi das Cruzes, Poá, Salesópolis, Santa Isabel e Suzano; a sudeste: Diadema, Mauá, Ribeirão Pires, Rio Grande da Serra, Santo André, São Bernardo do Campo e São Caetano do Sul; a sudoeste: Cotia, Embu das Artes, Embu--Guaçu, Itapecerica da Serra, Juquitiba, São Lourenço da Serra, Taboão da Serra e Vargem Grande Paulista; e a oeste: Barueri, Carapicuíba, Itapevi, Jandira, Osasco, Pirapora do Bom Jesus e Santana de Parnaíba. Ver em: EMPRESA PAULISTA DE PLANEJAMENTO METROPOLITANO - EMPLASA. Sobre a RMSP. São Paulo: Emplasa. Disponível em <https://www.emplasa.sp.gov.br/RMSP>. Acesso em: jul. 2018.

 

3Entende-se por estabelecimento atacadista um local físico separado onde se processam vendas no atacado, isto é, vendas em grande quantidade para empresas (em oposição a vendas em pequena quantidade para o consumidor final). Os compradores utilizam os bens adquiridos para: a) revender almejando lucro (comércio atacadista ou varejista); b) produzir outros bens (indústria); ou c) usar para fins institucionais (por exemplo, restaurantes industriais). Conforme: PINO, F. A. et al. Levantamentos de preços por amostragem: mercado atacadista de produtos agrícolas na cidade de São Paulo. Agricultura em São Paulo, São Paulo, n. 47, v. 2, p. 1-19, 2000.

 

4O levantamento sistemático do mercado atacadista é formado por 55 itens. A lista de produtos em estudo foi determinada pelas variedades e tipos mais comercializados na Região Metropolitana de São Paulo. Ressalta-se, também, que a lista não inclui os cortes de carne bovina (acém, alcatra, contrafilé, coxão duro, coxão mole, lagarto e patinho), de carne suína (bisteca, lombo e pernil com osso) e de frango (coxa, peito sem osso e sobrecoxa).

 

5INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICAS - IBGE. Em janeiro, IBGE prevê safra 6,0% inferior à de 2017. Rio de Janeiro: Agência IBGE notícias, abr. 18. Disponível em: <https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2013-agencia-de-noticias/releases/19942-em-janeiro-ibge-preve-safra-6-0
-inferior-a-de-2017.html>. Acesso em: 2 jun. 2018.

 

6MOLINA, G. D. Argentina leva ‘olé’ do clima e caminha para quebra. Curitiba: Gazeta do povo, jan. 2018. Disponível em:  <https://www.gazetadopovo.com.br/agronegocio/expedicoes/expedicao-safra/2017-2018/
argentina-leva-ole-do-clima-e-caminha-para-quebra-2ykx74okm407jzmamp9h0pyh8>. Acesso em: jul. 2018.

 

7Percentual médio de participação da cebola argentina no mercado nacional conforme informações do MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO, INDÚSTRIA E COMÉRCIO EXTERIOR. Secretaria de Comércio Exterior - MDIC/SECEX. Portal único Siscomex. Brasília: MDIC/SECEX. Disponível em: <http://portal.siscomex.gov.br/servicos/estatisticas>. Acesso em: jul. 2018. 


Palavras-chave: mercado atacadista, alimentos, preços, São Paulo.


Data de Publicação: 12/07/2018

Autor(es): Vagner Azarias Martins (vagnermartins@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
José Alberto Angelo (jose.angelo@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor