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Defensivos Agrícolas: câmbio, importações e clandestinidade impactam o segmento
Em 2015,
recuaram as quantidades comercializadas de defensivos agrícolas no Brasil, em
produto comercial, quando comparadas com aquelas observadas no ano anterior.
Foi transacionada quantidade de 887.872 toneladas, representando declínio de
2,9% em relação a 2014. Porém, em ingrediente ativo1, observou-se
acréscimo de 12,3%, no referido período, totalizando 395.646 t de acordo com
dados do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal
(SINDIVEG). Essa discrepância indica elevação na concentração de ingredientes
ativos nos produtos comerciais (Figura 1). Se por um lado constatou-se maior
concentração dos produtos comerciais, por outro não se registraram preços mais
elevados, mas, ao contrário, o valor das vendas em 2015 declinou 21,5% frente
ao ano anterior, contabilizando US$9,61 bilhões. Todas as classes exibiram
recuo nas vendas frente a 2014, mantendo, porém, a proporcionalidade entre
elas, pois os herbicidas, fungicidas e inseticidas comercializaram valores
próximos dos US$3 bilhões, enquanto os acaricidas e outros (principalmente os
reguladores de crescimento) somaram participações menos pujantes desse
negócio. No Brasil, de acordo com o 12º
levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), aparentemente, a
relativa estabilidade de área planta com grãos na safra 2015/16 (apenas 0,7% de
incremento frente a 2014/15), associada à forte diminuição da produção
(-10,3%), responde pela menor demanda de defensivos observada. A expansão na
área cultivada de soja (maior cultivo) não foi suficiente para compensar a
redução em outras lavouras grandes demandadoras de defensivos (algodão, feijão
e milho), prejudicando assim as vendas do segmento2. A lavoura de soja liderou a
comercialização de defensivos agrícolas em 2015, respondendo por 52% do total
das vendas (cerca de US$5 bilhões), seguida pela cana-de-açúcar e milho (10%) e
algodão (7%). Os demais cultivos, inclusive as pastagens, registraram
participação abaixo dos 5% nas vendas totais3. Mato Grosso continua
destacando-se como o principal mercado para a indústria de defensivos (23%),
seguido por São Paulo e Paraná (ambos com 13%) e Rio Grande do Sul (10%)4.
Em 2015, a classe de defensivos de
maior acréscimo relativo nas vendas, em termos de quantidade de produto
comercial, foi a dos acaricidas, registrando expansão de 13,6% (frente ao ano
anterior), seguida pelos fungicidas (expansão de 12,1%) e pelos herbicidas, com
incremento de apenas 4,4%, com os outros apresentando ligeiro crescimento. Por
sua vez, decresceram as vendas de inseticidas (-27,7%). As importações de produtos
sem registro e, por vezes de forma clandestina, têm afetado duramente a classe
dos inseticidas que, em 2016, deverá exibir nova baixa nas vendas5. Aparentemente, o
clima relativamente atípico nos cerrados (mais seco no período das águas) freou
a disseminação de pragas e doenças sobre as lavouras de grãos, reduzindo a
demanda por defensivos naquela região. A dependência da indústria nacional
das importações de produtos técnicos e formulados é bastante significativa por
parte do segmento, destacando-se os herbicidas. Em 2015, 392,5 t tiveram origem
no exterior, representando queda de 6,1% frente a 20146. Empresas de
agroquímicos com sede na China são os maiores fornecedores das importações
brasileiras (24,5%), seguidas pelas companhias estadunidenses (23,1%) e
argentinas (7,9%). Entre janeiro e
agosto de 2016, de acordo com levantamento
de 141 produtos realizado pelo Instituto de Economia Agrícola (IEA)7
nos principais cinturões agrícolas do estado, houve majoração de preços reais
em 77 deles, ou seja 54% do conjunto de produtos levantados (base de 141
produtos comerciais monitorados), enquanto outros 63 produtos apresentaram
queda em seus preços (apenas um permaneceu estável). Na comparação com o mesmo
mês do ano anterior, novamente considerando-se os preços corrigidos, 89
produtos tiveram aumento acima da inflação, representando 64% da lista de
produtos pesquisados (Figura 2). O índice calculado evidencia que
não houve, ao longo do período analisado, recuperação dos preços dos
defensivos, que permanecem com cotações, em termos reais, abaixo daquelas
contabilizadas em agosto de 2007. Os preços dos defensivos situam-se em
patamares abaixo da inflação geral da economia em razão dos seguintes fatores:
paridade cambial, aparecimento dos genéricos, aumento da escala da demanda e a
presença de produtos clandestinos no mercado. Na análise das relações de troca
(preços recebidos versus cesta de
defensivos da respectiva lavoura), constatou-se que, em agosto de 2016, as
lavouras de feijão das águas, milho, laranja para indústria e cana-de-açúcar
apresentaram relações de troca favoráveis para os agricultores, quando
comparadas com agosto de 2015, ou seja, houve ganho do poder de compra dos
produtores paulistas na aquisição da cesta de defensivos agrícolas, enquanto as
culturas da soja e café, ao contrário, apresentaram relações de troca mais
desfavoráveis, ainda que apenas na margem8 (Tabela 1). Tradicionalmente,
os defensivos são os últimos insumos adquiridos pelos agricultores. Informações
de representantes do segmento indicam que a quantidade de defensivos demandados
para o plantio da safra 2016/17 ficaram aquém de temporadas anteriores. Caso persista
tal fato, haverá, necessariamente, acúmulo de entregas no último trimestre do
ano, ocasionando problemas logísticos e eventuais elevação de preços dos
produtos comercias. A partir de
outubro, as informações sobre intenção de plantio se tornam mais consistentes e
permitem uma previsão de evolução para o segmento. Historicamente, ocorre
expansão abaixo 2% na área cultivada com grãos, permitindo projetar igual
incremento no segmento em 2016. ______________________________________________ 1Constitui-se em
um ingrediente/princípio ativo a molécula e/ou formulação química destinada a
debelar a praga ou doença. 2COMPANHIA NACIONAL
DE ABASTECIMENTO - CONAB. Acompanhamento da safra brasileira:
grãos. Brasília: CONAB, v. 3, n. 10, jul. 2016. Disponível
em: <http://www.conab.gov.br/OlalaCMS/uploads/ 3SINDICATO NACIONAL DA INDÚSTRIA DE
PRODUTOS PARA DEFESA VEGETAL - SINDIVEG. Balanço 2015: setor de agroquímicos confirma
queda de vendas. São Paulo: SINDIVEG. Disponível em:
<http://www.sindiveg.org.br/docs/ 4Op. cit. nota 3. 5______. Importações de defensivos
agrícolas têm aumento no primeiro semestre de 2016. 15. ed. São Paulo:
SINDIVEG, 2016. Disponível em: <http://sindiveg.org.br/importacoes-de-defensivos-agricolas-tem-aumento-no-primeiro-semestre-de-2016/>.
Acesso em: set. 2016. 7INSTITUTO DE
ECONOMIA AGRÍCOLA - IEA. Relação de troca. São Paulo: IEA, 2015.
(Projeto IEA/FUNDEPAG relatório de pesquisa). 8Op. cit. nota 7. Palavras-chave: mercado de
defensivos, indústria de defensivos, fitossanidade, pragas, doenças.
arquivos/16_07_29_15_12_51_boletim_graos_julho_2016.pdf>. Acesso
em: set. 2016.
balanco-2015.pdf >. Acesso em: set. 2016.6______.
Defensivos agrícolas: importação de produtos técnicos e formulados cai em 2015.
13. ed. São Paulo: SINDIVEG, 2016. Disponível em: <http://sindiveg.org.br/defensivos-agricolas-importacao-de-produtos-tecnicos-e-formulados-cai-em-2015/>.
Acesso em: set. 2016.
Data de Publicação: 06/10/2016
Autor(es): Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor