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Fundamentos Regulam a Formação das Cotações Futuras Do Café
Os investidores no mercado de contratos de dólar
futuro negociados na BM&F-Bovespa mantiveram, em agosto de 2016, sua
expectativa de valorização das cotações do dólar frente ao real, mesmo
considerando que houve ligeira alteração baixista no patamar das médias
semanais, uma vez que a primeira semana se situava na mais elevada delas
(Figura 1). Aparentemente, os investidores nos contratos futuros
de dólar da BM&F-Bovespa avaliam como ainda provável a elevação de juros
por parte do Federal Reserve System (FED), o banco central estadunidense, em Sob cenário de valorização do real em decorrência da
retomada do fluxo de capitais para o país, poderão ocorrer desdobramentos no
que diz respeito aos preços recebidos pelos cafeicultores pelo produto. Em
geral, sob esse contexto, as oscilações nas cotações nas bolsas internacionais
tendem a ser suavizadas no mercado doméstico, indicando uma possibilidade de
cotações mais comportadas para o café nos próximos meses, incluindo-se nisso o
característico intervalo de entressafra. Na corrente safra comercial (2016/17), embora fossem
emitidos significativos sinais sobre a situação de escassez (quase colapso) de
oferta de conilon no Brasil, os investidores internacionais mantiveram-se
céticos quanto a essa realidade. Assim, ao longo das três primeiras semanas de
agosto, os patamares das médias das cotações do arábica, em Nova York, entraram
em descenso, vindo a se recuperar apenas do nas duas últimas semanas do mês
(Figura 2). Em função do grau de entrelaçamento entre os
mercados de arábica e conilon no Brasil, assim como na maior parte dos países
consumidores da bebida, a escassez ou abundância de qualquer um tem
repercussões imediatas sobre as cotações do outro. É provável que, nas duas
últimas semanas do mês, quando as médias das cotações passaram a exibir
patamares ascendentes, o temor entre os investidores de que o mercado
enfrentaria dificuldades com o fluxo do suprimento tenha se firmado. Em segunda
posição (março de 2017), enquanto a média das cotações futuras na primeira
semana alcançava US$¢148,47/lbp, na quinta semana esse valor incrementou-se em
3,37%, saltando para US$¢153,20/lbp. Considerando a cotação média da quinta semana do mês
ainda na segunda posição e efetuando-se as convencionais conversões, tem-se
US$202,65/sc. ou R$699,15/sc. (tomando-se a cotação do dólar futuro para março
2017 em R$3,45/US$). Imputando-se 20% de deságio sobre essa cotação futura
(diferencial frente o contrato C, frete, taxas e custo de intermediação
financeira), alcança-se R$559,32/sc. Esse patamar, quando comparado com o preço
médio recebido pelos cafeicultores francanos de R$475,12/sc.2, em
agosto de 2016, exibe resíduo de R$84,20/sc., montante significativo e atraente
para aqueles que optaram por vender a futuro nas condições especificadas. Em agosto de
2016, o mercado futuro de robusta na Bolsa de Londres, a média das cotações
semanais exibiu oscilações nos patamares nas mesmas direções que as constatadas
para o arábica. Nas três primeiras semanas, tendência descendente e, nas duas
últimas, ascendente. Entretanto, enquanto no arábica a variação foi positiva, a
recuperação das cotações médias no robusta, nas duas últimas semanas do mês,
praticamente mantiveram as cotações estáveis (-0,64%) (Figura 3). No mercado interno, dois fatores impediram que as
cotações do robusta evoluíssem no sentido de maior valorização: a) substituição
do produto por arábicas de qualidade inferior na composição dos blends das torrefadoras; e b) leilões
quinzenais de aproximadamente 70 mil sacas de café arábica dos estoques
públicos. A posição líquida dos contratos transacionados na
Bolsa de Nova York exibiu duas situações diferenciadas. Enquanto os fundos e
grandes investidores reduziram o número de contratos líquidos, os fundos de
índice evoluíram na direção contrária com ampliação na quantidade líquida de
contratos (Tabela 1). Essa divergência pode estar relacionada às dificuldades
que os fundos enfrentam na especulação com as moedas, pois cerca de um terço do
PIB mundial oferece rendimento negativo para os depósitos, afastando esse tipo
de item de dentro da carteira dos fundos. Ainda que a primeira
florada das lavouras brasileiras ainda não permita a estimação do potencial da
safra 2017/18, acredita-se que, devido à grande safra de arábica e o estresse
hídrico sobre as lavouras de conilon capixabas, o potencial produtivo será
reduzido. Essa perspectiva acrescentará maior insegurança ao mercado com
possibilidade de incremento na volatilidade das cotações. ____________________________________________________ 1O autor agradece o trabalho de
sistematização do banco de dados econômicos conduzido pelo Agente de Apoio à
Pesquisa Científica e Tecnológica do IEA, o analista de sistemas Paulo Sérgio
Caldeira Franco. 2INSTITUTO DE
ECONOMIA AGRÍCOLA - IEA. Banco de dados.
São Paulo: IEA. Disponível em: <http://ciagri.iea.
sp.gov.br/precosdiarios/precosdiariosrecebidos.aspx>. Acesso em: set. 2016.
Data de Publicação: 15/09/2016
Autor(es): Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor