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Deficit na Oferta de Robusta e Mercado do Clima Impulsionam as Cotações
Em julho de 2016, os investidores do mercado de
juros futuros na BM&F-Bovespa mantiveram sua expectativa de queda na taxa
básica de juros da economia, embora ainda apostem em manutenção da atual taxa
pelo menos até o início do próximo ano. As dificuldades encontradas pela equipe
econômica em conter a elevação do deficit
das contas públicas (estimado em R$170 bilhões), associadas à queda de
arrecadação no ano (4,5% menor frente ao ano anterior), obrigam o governo a
buscar refinanciamento de seus compromissos no mercado. Diante dessa
configuração, a taxa permanece alavancada no curto prazo, mantendo os contratos
de juros mais atraentes do que os papéis lastreados em commodities agrícolas (Figura 1). O mercado futuro de café arábica na Bolsa de Nova
York, em julho de 2016, exibiu movimentos contraditórios ao longo do mês. Após
salto das cotações entre a média das cotações da primeira semana e a da
segunda, o mercado reviu a posição alavancada para promover ajustes nos
patamares das médias de terceira e quarta semanas. Aparentemente, a previsão de
avanço de massa de ar polar com potencial de dano às lavouras de arábica nos
principais cinturões brasileiros foi o gatilho que produziu o salto nas
cotações. Passada a onda de frio e observados os danos efetivos ocasionado
(talhões implantados em baixadas e lavouras novas em formação), o mercado
voltou a pressionar as cotações (Figura 2). Tomando-se como referência a média das cotações da
segunda semana de dezembro de 2016, a posição sinalizava US$¢151,71/lbp, ou seja, US$200,71/sc.
Utilizando-se a taxa cambial futura de US$1,00 = R$3,45 para a média do mês de
dezembro negociada na BM&F- -Bovespa no último dia de julho, alcança-se o
valor de R$692,45/sc. Cotejando-se esse resultado ao preço médio recebido pelos
cafeicultores pertencentes ao EDR de Franca, que somou R$507,34/sc.2,
constata-se significativa diferença (de R$185,12/sc.), valor mais que
suficiente para cobrir o diferencial (entre 12% e 15% para o natural brasileiro
frente ao contrato C), os custos com a formalização dos contratos (café e
dólar), as despesas com o frete (na hipótese do contrato ser liquidado no
físico) e os impostos incidentes sobre a operação. No mercado futuro de café robusta, centralizado na
Bolsa de Londres, houve, em julho de 2016, significativa escalada na média das
cotações semanais. Na primeira semana de novembro, a média das cotações da
atingia US$¢80,78/lbp,
saltando na quarta semana no mesmo mês para US$84,01/lbp, ou seja, 4,00% de
incremento nas cotações no período (Figura 3). A variação entre a
primeira e segunda estimativas da safra 2006/17 de conilon, no Brasil,
elaborada pela Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB)3, foi de
24,78%, equivalendo a decréscimo de 2,33 milhões de sacas. Ademais, previsão
para produção no Vietnã, elaborada pelo Departamento de Agricultura
Estadunidense (USDA), indicou provável diminuição na quantidade colhida de
robusta nesse país, uma redução de 6,91%, ou seja, de 29,3 milhões de sacas na
safra passada para 27,28 milhões na atual temporada. Somados, esses fatores
foram responsáveis pela escalada nas cotações observadas em julho de 2016. Em consonância com a trajetória das cotações, o
volume de contratos de café arábica negociados pelos investidores, fundos de
índices e pequenas posições, atuantes na Bolsa de Nova York, pendeu para o lado
comprado, revelando expectativa de cotações alavancadas no curto prazo (Tabela
1). O consumo dos estoques
no Brasil e no mundo tensiona o mercado. Qualquer quantidade abaixo das 26
milhões de sacas (dois meses de consumo mundial) acende sinal de alerta entre
os investidores e empresas (traders –
exportadores e importadores -, torrefadoras e solubilizadoras). Encerrado o ciclo em
que o clima global foi dominado pelo fenômeno do El Niño, os climatologistas já
se preocupam com a possibilidade de que se fortaleça a La Niña, com esfriamento
anormal das águas do Pacífico equatorial. Para os cinturões cafeeiros no
Brasil, isso pode significar precipitações abaixo do previsto desde o norte do Paraná
até o sul do Pará, registrando-se inclusive períodos caracterizados por
veranicos entre janeiro e fevereiro de 2017. Se tais previsões vierem a se
confirmar, a formação de preços de café nas bolsas internacionais exibirá
relevantes impactos. __________________________________________________________ 1O autor agradece o trabalho de
sistematização do banco de dados econômicos conduzido pelo Agente de Apoio à
Pesquisa Científica e Tecnológica do IEA, o analista de sistemas Paulo Sérgio
Caldeira Franco. 2INSTITUTO DE
ECONOMIA AGRÍCOLA - IEA. Banco de dados.
São Paulo: IEA. Disponível em: <http://ciagri. 3COMPANHIA
NACIONAL DE ABASTECIMENTO - CONAB. Banco
de dados. Brasília: CONAB. Disponível em: <http://www.conab.gov.br/conteudos.php?a=1253&t=2&Pagina_objcmsconteudos=1#A_objcmsconteudos>.
Acesso em: ago. 2016.
iea.sp.gov.br/precosdiarios/precosdiariosrecebidos.aspx>. Acesso em: ago.
2016.
Data de Publicação: 05/08/2016
Autor(es): Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor