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Colapso Econômico do Segmento de Máquinas Agrícolas Automotrizes
Nenhum outro segmento industrial desse país
encontra-se, aparentemente, em maior crise que aquela que viceja entre as
empresas fabricantes e montadoras de máquinas agrícolas automotrizes. Após
celebrar recorde de produção em vendas em 2013 (próximo a 100 mil máquinas), o
segmento vem exibindo, ano após ano, resultados menos promissores, para não
dizer catastróficos. Em 2015, a produção total foi de pouco mais de 55 mil
máquinas (incluindo tratores – rodas e esteiras, colheitadeiras, cultivadores
motorizados, retroescavadeiras), ou seja, redução de 44,9% no triênio (Figura
1). Considerando as unidades produzidas e
comercializadas, a maior queda ocorreu nos tratores de rodas. Em 2013, foram
produzidas 77.570 unidades, declinando para 44.368 em 2015, ou seja,
impressionantes -42,8% no período. Tomando-se as vendas, a queda foi ainda
maior, contabilizando 41,5% entre 2013 e 2015 (Tabela 1). São esses os reais
números do pujante agronegócio brasileiro. O crash
econômico decorrente da insolvência/corrupção do Estado brasileiro (em todos os
níveis de governo) refletiu-se, diretamente, no investimento público e privado
em obras de infraestrutura, levando ladeira abaixo as vendas de tratores de
esteiras e retroescavadeiras. Entre 2013 e 2015, a produção dessas máquinas
caiu 39,5% e 50,3%, respectivamente. Tampouco as exportações puderam compensar as perdas
observadas, mesmo sob efeito da tremenda desvalorização cambial em que incorreu
o real. Considerando o total apurado em transações internacionais
contabilizadas pelos embarques de máquinas agrícolas, entre 2013 a 2015, a
queda em termos de unidades foi de -36,0% no período, enquanto em valor apurado
foi de -52,2%. Nos
primeiros cinco meses de 2016, todos os tipos de máquinas (tratores de rodas,
colhedoras, tratores de esteiras) mantiveram trajetória de queda dos
indicadores (produção, vendas para o mercado interno – nacionais/importadas e
exportações), excetuando- -se as importações de tratores de esteira
(internalizadas 13 máquinas desse tipo). Entre janeiro e maio de 2016, a queda
na produção já contabilizava -43,5% e, nas vendas, -33,2%. Exportações
caíram 20,0% e receita cambial, -3,2%. Considerando que a produção agrícola brasileira tem
crescido tanto em produção quanto em área, e que a maior parte dos sistemas
produtivos já atua com pelo menos duas safras no ano, a brutal queda nas vendas
de máquinas agrícolas indica que nossa frota envelhece e que acumulará maiores
problemas mecânicos pois, ano a ano, estão sempre sob intensa exigência. A regionalização das vendas indica que
o Estado de São Paulo voltou ao topo das vendas de máquinas agrícolas
automotrizes, abarcando 17,3% desse mercado, embora a região meridional do pais
tenha concentrado 36,9% das vendas. As boas perspectivas para o mercado de
etanol (preços e quantidade), associadas aos elevados preços praticados pelo
açúcar, constituem motores na dinamização do ramo sucroenergético e,
consequentemente, na procura por novas máquinas agrícolas (Figura 2). O
mercado de máquinas agrícolas automotrizes exibe sazonalidade com maiores
vendas no segundo semestre. Todavia, em 2015 tal tipicidade não foi observada,
tendo sido postergadas as vendas para os primeiros meses de 2016 (Figura 3).
Caso esse desempenho inicial das vendas seja mantido nos próximos meses, há
tendência de recuperação do mercado, mas que, porém, dificilmente superará as
vendas contabilizadas em 2015. O Plano Agrícola Pecuário 2016/17 prevê recursos da
ordem de R$5,05 bilhões para o MODERFROTA e de R$4,24 bilhões para o Programa
de Apoio ao Médio Produtor Rural (PRONAMP). Esse montante, somado, aproxima-se
daquele disponibilizado em 2015/16 apenas no MODERFROTA. Consulta no relatório
do Ministério de Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA) informa que, até
fevereiro de 2016, do total provisionado, apenas R$2,168 bilhões haviam sido
executados para o MODERFROTA e R$942 milhões do PRONAMP, ou seja, montantes
muito abaixo da disponibilidade total de ambos programas2, 3. Pelo segundo ano consecutivo, a economia brasileira
padece sob forte recessão, excetuando-se nessa constatação apenas o
agronegócio. Mas como se pode verificar pela análise desenvolvida, em se
tratando das montadoras de máquinas agrícolas automotrizes, o desempenho, nos
dois últimos anos, foi desastroso. Esse fato, certamente, acarretará menor
crescimento da produção agropecuária brasileira. _____________________________________________ 1O autor agradece à
Talita Tavares Ferreira, Técnica de Apoio à
Pesquisa Científica, o apoio na sistematização dos dados e preparação das
figuras e tabela. 2ANUÁRIO DA
INDÚSTRIA AUTOMOBILÍSTICA BRASILEIRA. São Paulo: ANFAVEA, 2016. Disponível em:
<http://www.virapagina.com.br/anfavea2016/>. Acesso em: jul. 2016; CARTA
ANFAVEA. São Paulo: ANFAVEA, 2016. Disponível em:
<http://www.anfavea.com.br/cartas/carta356.pdf>. Acesso em: jun. 2016. 3ARAÚJO, W. V. de.
Desempenho do plano agrícola e pecuário 2015/16 e perspectivas para 2016/17.
In: REUNIÃO DA CÂMARA SETORIAL DE FLORES E PLANTAS ORNAMENTAIS, 49., 2016,
Brasília. Anais eletrônicos...
Brasília: MAPA, 2016. Disponível em:
<http://www.agricultura.gov.br/arq_editor/file/camaras_setoriais/
Flores_e_plantas_ornamentais/49RO/PAP%202016-17.pdf >. Acesso em: jul. 2016.
Data de Publicação: 05/08/2016
Autor(es): Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor