Plano de Safra para a Agricultura Familiar 2016/17

Divulgado em 3 de maio de 2016, o Plano de Safra para a Agricultura Familiar 2016/17 foi apresentado com a antecedência sempre requerida pelos produtores.

Os três pontos básicos anunciados são: o estímulo à produção de alimentos que contribuam com o controle dos índices da inflação; a ampliação da produção de alimentos saudáveis em sistemas de produção de base agroecológica; e a ampliação da oferta de políticas públicas para a juventude rural na agricultura familiar. Este último destaca-se como a maior novidade do plano e deverá ocorrer segundo o Plano Nacional de Juventude e Sucessão Rural1.

O novo Plano de Safra aumentou o crédito rural voltado para os agricultores familiares e assentados da reforma agrária, pelo Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), de R$26 bilhões para R$30 bilhões, valor 15,4% superior ao programado na safra anterior, e acima do Índice de Preços ao Consumidor Ampliado (IPCA), que atingiu 9,28 % no período de 12 meses encerrado em abril.

Além disso, diante das dificuldades orçamentárias para equalização das taxas de juros e do objetivo de apoiar os pontos básicos anunciados, o governo da então presidente Dilma Roussef reduziu seletivamente de 5,5% a.a. para 2,5% a.a. a taxa de juros para o custeio de algumas culturas da cesta de alimentos que são componentes do índice de inflação, para a produção de base orgânica e agroecológica e os investimentos em práticas sustentáveis de manejo do solo e da água, para produção de energia renovável e para armazenagem para algumas finalidades do PRONAF Mais Alimentos2. Para os assentados da reforma agrária, a taxa de juros será mantida de 0,5% a 1,5% a.a.

Outras medidas importantes se referem à definição dos limites de crédito por produtor que foram substancialmente elevados, no custeio de R$100 mil para até R$250 mil e no investimento de R$150 mil para até R$330 mil. Estas medidas, segundo o plano, serão complementadas com o maior apoio às cooperativas de produção por meio da ampliação do número de agentes financeiros que operam os recursos PRONAF Cotas Parte3.

O seguro da agricultura familiar continuará contando com a cobertura de 80% da renda bruta esperada e com o limite de cobertura da renda líquida de até R$20 mil. As famílias de pequenos produtores que residem na área do semiárido e foram atingidas pela seca contarão com o benefício de R$850,004, como garantia de safra. Haverá, ainda, a ampliação da cobertura do seguro para estimular a produção de hortaliças, com contratação anual e calendário ajustado às culturas.

Prevê-se, ainda, a assinatura de decreto de regularização de territórios quilombolas para os povos e comunidades tradicionais, R$6 milhões para o apoio do desenvolvimento de cadeias produtivas do extrativismo em que estão presentes comunidades tradicionais e R$50 milhões para o Programa de Garantia de Preços Mínimos de Produtos da Sociobiodiversidade (PGPM Bio)5.

O apoio à comercialização continuará atendendo os agricultores familiares pelo Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e pelo Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). A expectativa é de compras de R$1,1 bilhão de alimentos da agricultura familiar para o primeiro, por meio de recurso transferidos pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), e de R$312 milhões para o segundo6. Estava previsto, na divulgação do plano, ainda pela presidente Dilma, que para os programas do PAA sejam alocados recursos de R$500 milhões para a compra de alimentos produzidos por cooperativas e associações da agricultura familiar, por meio do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), do Ministério de Desenvolvimento Agrário (MDA) e da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB)7.

No caso da Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER), estão previstos contratos com 10 mil famílias e a participação de 2 mil técnicos, assim como novas contratações de serviços com base em resultados. Haverá uma ATER específica para a agricultura familiar e reforma agrária com foco em 600 mil famílias voltadas para a agroecologia, e em 11.800 mil famílias com ATER para convivência com o semiárido8.

Para a área de cooperativismo, a novidade é o investimento na capacitação de dirigentes de cooperativas e associação e em cursos com enfoque em gestão de empreendimentos9, uma área que se mostra vulnerável na agricultura familiar e que merece atenção. A intenção é melhorar a gestão e garantir o assessoramento a esses empreendimentos, por meio da ATER Mais Gestão.

O Plano Nacional de Juventude e Sucessão Rural, que é contemplado do Plano 2016/17, é um dos pontos prioritários. Objetiva articular as políticas públicas atualmente existentes no governo federal e elaborar novas políticas que promovam qualidade de vida, acesso à terra, geração de trabalho e renda e efetivação dos direitos das juventudes do campo, das florestas e das águas, criando condições para a sua permanência no campo e sua emancipação socioeconômica e política10.

A sucessão rural não é um problema recente, mas tem se tornado cada vez mais importante, com a juventude migrando para os centros urbanos, atraídos por ofertas de trabalho, estudo e tudo o que as cidades oferecem. Apesar da diminuição das taxas de êxodo rural, a procura por um estilo de vida diferente, que dê condições de trabalho diferenciado das do meio rural, no caso da agricultura familiar e camponesa, implica diretamente sobre as condições de reprodução do modelo de desenvolvimento rural sustentável e solidário11.

Algumas políticas públicas do governo federal, como por exemplo, o PRONAF Jovem, Nossa Primeira Terra (Plano Nacional de Crédito Fundiário), Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego no Campo (PRONATEC) e a ATER para jovens, contribuíram ao fazer com que o jovem agricultor permanecesse na propriedade. Essas políticas públicas, porém, ainda eram insuficientes, e havia necessidade de inserir nelas outros investimentos em setores como cultura, lazer, esportes e garantia a acessibilidade à internet e telefonia móvel12. O plano proposto privilegia esses fatores e apresenta condições de ter sucesso ao oferecer tecnologia e modernidade similar às da cidade.

No que tange à reforma agrária, a proposta é aumentar as terras para esse fim com a disponibilização de imóveis rurais do Fundo Nacional Antidrogas para a Reforma Agrária, por meio de parceria com o Ministério da Justiça. Prevê, ainda, fazer a entrega de títulos de propriedade para 67 mil famílias, o que viabilizará o maior acesso às políticas públicas de incentivo à agricultura familiar13.

 

PLANO DE SAFRA EM NÚMEROS – CONTRATOS E VALORES EFETIVADOS NAS DUAS ÚLTIMAS SAFRAS

A avaliação da aplicação de recursos pelo PRONAF nas duas últimas safras, segundo dados do Banco Central14, mostra que houve um decréscimo, de um período para outro, no número de contratos tanto para a finalidades de crédito custeio como de investimento. No total, a quantidade caiu 24% para o Brasil e 32% para o Estado de São Paulo. No caso do valor, as reduções foram de 23% e 24,4% respectivamente. Cabe ressaltar que, apesar da maior queda no volume de contratos no Estado de São Paulo, o impacto no valor liberado foi menor, também indicando um aumento no valor médio do contrato (Tabela 1).

O Estado de São Paulo, nas duas últimas safras, recebeu respectivamente R$1.022 milhões e R$770 milhões para atender a agricultura familiar paulista. Esses valores representaram 4,3% e 4,2% do valor aplicado para o Brasil, mostrando manutenção da recente participação estadual. São Paulo possui 121.812 unidades produtivas familiares (37,5% do

Tabela 1 - Quantidade e Valor dos Contratos do PRONAF, Brasil e Estado de São Paulo, Safras Julho/2014-Junho/2015 e Julho/2015-Abril/2016

Plano

safra

Local

Finalidade

 

Total

 

Qtd.

custeio

(n.)

Valor custeio

(R$)

Qtd.

invest.

(n.)

Valor invest.

(R$)

 

Quantidade

(n.)

Valor

(R$)

Jul./2014-
Jun./2015

Brasil

614.905

10.692.512.144,00

1.269.723

13.168.670.409,00

1.884.628

23.861.182.552,00

SP

20.664

439.699.331,00

14.942

583.012.602,00

 

35.606

1.022.711.933,00

Jul./2015-
Abr./2016

Brasil

540.338

9.210.587.466,00

1.071.599

11.357.079.669,00

 

1.611.937

18.340.137.858,00

SP

17.366

364.351.336,00

13.422

513.860.102,00

 

30.788

770.401.970,00

Fonte: Elaborada pelas autoras com base nas informações da Matriz de dados do crédito rural (MDCR) BANCO CENTRAL DO BRASIL - BCB. Banco de dados. Brasília: BCB.  Disponível em: <http://www.bcb.gov.br/pt-br/#!/r/micrrural/?path=
conteudo%2FMDCR%2FReports%2FqvcRegiaoUF.rdl&nome=Quantidade%20e%20Valor%20dos%20Contratos%20por%20
Regi%C3%A3o%20e%20UF&exibeparametros=true&botoesExportar=true>. Acesso em: 6 maio 2016.


total), ocupando 13,1% da área agrícola do estado, segundo Fredo e Otani15, com base no Levantamento Censitário de Unidades de Produção Agrícola do Estado de São Paulo (LUPA), o que justifica o empenho em atender com crédito essa classe de produtores.

Segundo os dados do Banco Central16, para o Brasil, foram liberados até abril R$18,3 bilhões dos R$26 bilhões previstos inicialmente no Plano Safra 2015/16, que ainda está em execução, o que representa disponibilização de cerca de 70,5% (até abril) do valor total planejado. A participação de São Paulo até o momento está praticamente igual à da safra anterior. Frente ao cenário atual de crise e ao estabelecimento de um governo provisório, até a decisão do impeachment, a liberação do total dos recursos pode não ocorrer, seja por mudanças na política do atual governo, problemas de caixa do governo e dificuldades burocráticas na liberação dos recursos, seja pelo receio dos produtores em assumir dívidas. 

___________________________________________ 

1MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO - MDA. Cartilha plano safra da agricultura familiar 2016-2017: alimentos saudáveis para o campo e a cidade. Brasília: MDS. Disponível em: <http://www.mda.gov.br/sitemda
/sites/sitemda/files/cartilha_plano_safra_2016.pdf>. Acesso em: 4 maio 2016.

 

2Op. cit. nota 1.

 

3PORTAL BRASIL. Novo plano safra da agricultura familiar vai oferecer crédito recorde de R$ 30 bi. Brasília: Portal Brasil. Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/economia-e-emprego/2016/05/novo-plano-safra-da-agricultura-familiar-vai-oferecer-credito-recorde-de-r-30-bi>. Acesso em: 5 maio 2016.

 

4Op. cit. nota 3.

 

5Op. cit. nota 1.

 

6Op. cit. nota 1.

 

7Apresentação do ministro do Desenvolvimento Agrário, Patrus Ananias, durante o lançamento do Plano Safra da Agricultura Familiar 2016/17. Op. cit. nota 3.

 

8Op. cit. nota 1.

9Op. cit. nota 1.

 

10MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO - MDA. Plano nacional de juventude e sucessão rural. Brasília: MDA. Disponível em: <http://www.mda.gov.br/sitemda/sites/sitemda/files/PLANO_NACIONAL_DE_JUVENTUDE_RURAL.pdf>. Acesso em: 5 maio 2016.

 

11Op. cit. nota 10.

 

12EBERRHAD, A. O jovem e a sucessão familiar no meio rural. Santa Catarina: FETRAF-SUL, out. 2013. Disponível em: <http://www.fetrafsul.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=2695:o-jovem-e-a-sucessao-familiar-no-meio-rural&catid=1:ultimas-noticias&Itemid=104>. Acesso em: 5 maio 2016.

 

13Op. cit. nota 1.

 

14BANCO CENTRAL DO BRASIL - BCB. Banco de dados. Brasília: BCB.  Disponível em: <http://www.bcb.gov.
br/pt-br/#!/r/micrrural/?path=conteudo%2FMDCR%2FReports%2FqvcRegiaoUF.rdl&nome=Quantidade%20e
%20Valor%20dos%20Contratos%20por%20Regi%C3%A3o%20e%20UF&exibeparametros=true&botoesExportar=
true>. Acesso em: 6 maio 2016.

 

15FREDO, C. E.; OTANI, M. N. O levantamento das unidades de produção agropecuária (LUPA) e a agricultura familiar no Estado de São Paulo, 2007/2008. In: CONGRESSO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO E SOCIOLOGIA RURAL, 53., 2015, João Pessoa. Anais... João Pessoa: SOBER, 2015.

 

16Op. cit. nota 14.


Data de Publicação: 24/05/2016

Autor(es): Rosana de Oliveira Pithan e Silva (rosana.pithan@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Terezinha Joyce Fernandes Franca (terezinha.franca@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor