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Elevada Liquidez Internacional Molda as Cotações
A acomodação da cotação do dólar futuro negociado na
BM&F-Bovespa frente ao real, em patamares sucessivamente menores nas médias
das cotações semanais, refletiu o posicionamento dos agentes de mercado quanto
à eventual virada neoliberalizante propugnada pelo provável futuro mandatário,
a qual apresenta diretrizes que convergem para suas expectativas (que
normalmente antecipam os fatos), sinalizando adoção de rol de políticas capazes
de reestabelecer o equilíbrio fiscal, aparentemente necessário para a reversão
da debacle das contas públicas e retomada do crescimento (Figura 1).
A variação cambial reverbera diretamente na cotação
das principais commodities. Movimento
de valorização do real, ocasiona, frequentemente, valorização dos ativos
agrícolas, pois os agentes de mercado, diante da desvalorização do dólar
(devido a ampliação de sua oferta)2, refugiam-se na aquisição de
papeis de commodities (metálicas e
agrícolas), alavancando a movimentação de suas cotações para estabelecer novo
equilíbrio. Elemento adicional na dinâmica de valorização das commodities foi o posicionamento dos
armadores internacionais para majorar suas tarifas para transporte de
contêineres. Com a queda acentuada das importações brasileiras, os armadores
trazem contêineres vazios para serem estufados nos portos do pais, encarecendo
sobremaneira o frete marítimo. Estima-se que os custos com o frete podem ser
elevados de US$300,00 a US$500,00 para TEU (contêiner de 20 pés) ou FEU (contêiner
de 40 pés), respectivamente3. No mercado de contratos futuros de café arábica na
Bolsa de Nova York, as cotações oscilaram positivamente ao longo do mês para
fecharem, na média da quarta semana, no mesmo patamar da registrada da primeira
(Figura 2). O início da colheita nos principais cinturões cafeeiros brasileiros
responde em parte por essa perda de fôlego das cotações. Segundo a Companhia
Nacional de Abastecimento (CONAB), a safra de arábica 2016/17 deve se aproximar
das 40 milhões de sacas, quantidade bastante expressiva, comparativamente, às
duas últimas colheitas. A aproximação do verão no Hemisfério Norte,
normalmente, arrefece as cotações praticadas no mercado em razão da menor
demanda por parte dos consumidores por café. Ademais, os embarques brasileiros
ao longo do primeiro trimestre do ano, totalizaram 7,63 milhões de sacas de
arábica, representando incremento de 6,1% frente a igual período do ano
anterior4. Tal evolução indica que os importadores interessados pelo
produto se encontram adequadamente abastecidos com matéria-prima, reforçando a
tendência de estagnação das cotações. Em abril de 2016, os cafeicultores francanos
receberam em média R$468,35/sc. de 60 kg de café beneficiado. Esse preço à
vista, quando comparado com o futuro de Nova York em segunda posição (setembro
de 2016) praticado para a média da quarta semana que atingiu US$¢124,42/lbp, efetuadas as devidas
transformações, revela que a saca valeria por US$162,12. Tomando-se como
referência a conversão de US$1,00 = R$3,705 para o dólar futuro de setembro
(cotação do mercado futuro em abril), isso equivaleria a R$600,65/sc.
Descontando-se o diferencial praticado pela bolsa nova-iorquina para o café
brasileiro (12%), acrescido das demais despesas (frete, taxas e emolumentos –
outros 8%), alcança-se preço local de R$480,52/sc., representando, portanto,
vantagem financeira de R$12,17/sc., caso o cafeicultor contrate hedge nas condições apresentadas. No mercado da Bolsa de Londres, a média dos
contratos futuros de café robusta, ao contrário da observada no arábica, saltou
de patamar a cada nova semana. A variação entre a média das cotações da
primeira semana e da quarta, para o vencimento em segunda posição (setembro de
2016), foi de 4,16% (Figura 3). Ocorrência de severa anomalia climática (a pior
registrada no último meio século) nos principais cinturões cafeeiros do Vietnã
obrigou o país a solicitar ajuda internacional de US$48,5 milhões, visando a
distribuição de água e alimentos as populações mais afetadas pelo fenômeno
(cerca de 1,75 milhão)5. Semelhante do que ocorreu no Brasil no
verão de 2014, a estiagem deve comprometer o enchimento dos frutos e promover
redução da expectativa de colheita da próxima safra, devido ao comprometimento
do desenvolvimento dos ramos produtivos. Associados, ambos os fatores deverão
impingir redução da oferta vietnamita. A reação das cotações reflete a
antecipação, por parte dos agentes de mercado, dessa desastrosa
ocorrência. Ao longo do mês de abril, o balanço de compra e
venda diária de contratos futuros de café arábica na Bolsa de Nova York foi
positiva entre fundos e grandes investidores (especuladores). Como mencionado
antes, o refúgio em commodities
sempre ocorre em situações de perda de valor relativo da moeda estadunidense
(Tabela 1). Aproximadamente 1/3 do
PIB mundial pratica juros negativos para os depósitos a prazo, ou seja, o
aplicador paga para guardar suas disponibilidades financeiras. Essa liquidez
constitui-se em forte atrativo para que os investidores em bolsas redirecionem
esse entesouramento para aplicações de risco, notadamente, mercado de commodities. Dependendo dos fundamentos
de cada mercado, esses recursos redirecionados podem ou não ali permanecer,
promovendo oscilações que incrementam a volatilidade das cotações. O mercado das commodities, mesmo que seus fundamentos
sinalizem momento de puxada em suas cotações, ressente-se da insegurança global
quanto à possibilidade das companhias
chinesas honrarem seus compromissos financeiros com os credores internacionais.
O retraimento dessa economia, com incremento continuado da capacidade ociosa
das indústrias, poderá elevar a inadimplência, manchando o balanço dos
principais bancos mundiais6. Uma repentina fuga de capitais da China
causará enorme contração da economia global. _____________________________________________________ 1O autor agradece o trabalho de
sistematização do banco de dados econômicos conduzido pelo Agente de Apoio à
Pesquisa Científica e Tecnológica do IEA, o analista de sistemas Paulo Sérgio
Caldeira Franco. 2No primeiro
quadrimestre de 2016, o acumulado das exportações atingiu US$55,95 bilhões,
representando recuo de -3,4% frente igual período do ano anterior, enquanto as
importações totalizaram US$42,70 bilhões, com recuo de -32,2%. Tal desempenho
permite projetar saldo da balança de aproximadamente US$50 bilhões,
representando recorde da série histórica desse indicador. Em abril de 2016,
porém, houve crescimento de 1,4% no valor das exportações (US$15,37 bilhões),
com avanço de 2,5% nos básicos e de 6,9% nos semimanufaturados, frente a igual
mês do ano anterior. Nota-se assim que há no Brasil razoável suprimento de
moeda americana em razão da dinâmica recente do comércio exportador. MEIBAK,
D.; PUPO, F. Saldo comercial pode chegar a U$50 bi no ano, prevê ministério. Valor Econômico, São Paulo, 3 maio 2016.
Disponível em:
<http://www.valor.com.br/brasil/4547179/saldo-comercial-pode-chegar-u-50-bi-no-ano-preve-ministerio>.
Acesso em: 3 maio 2016. 3PIRES, F.
Armadores reajustam frete para recuperar margem. Valor Econômico, São Paulo, 2 maio 2016. Disponível em:
<http://www.valor.com.br/empresas/4545535/armadores-reajustam-frete-para-recuperar-margem>.
Acesso em: 3 maio 2016. 4CONSELHO DOS
EXPORTADORES DE CAFÉ DO BRASIL - CECAFE. Relatório
mensal. São Paulo: CECAFE, mar. 2016. 5Notícia divulgada
privadamente pela Volcafe LTDA, braço brasileiro da EDF&MAN Coffee
Division, empresa líder no comércio internacional de café. 6GOUGH, N. Calotes
assombram economia chinesa. Jornal FSP - The New York Times Weekly, New York, 30 Apr. 2016. Palavras-chave: mercado futuro,
Bolsa de Valores, café.
Data de Publicação: 19/05/2016
Autor(es): Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor